terça-feira, 26 de junho de 2012

Vasco Ricardo - A Trama da Estrela [Opinião]

Vasco Ricardo é o mais recente promissor autor lusófono de thrillers (venham mais daí!), tendo publicado o seu livro de estreia na também recente editora Pastelaria Studios.
Antes de tecer algumas considerações sobre a obra, agradeço ao autor, a sua disponibilidade no envio deste livro que proporcionou um agradável momento de leitura.

O livro compreende duas subtramas num contexto futurista (ano de 2014): uma referente a um grupo organizado, denominado ENDIVADAL que planeia e executa actos terroristas por diversas cidades europeias. A outra respeitante a um grupo de três jovens de diferentes nacionalidades: Dana, inglesa; Rohan, indiano e Mark, alemão. Desde logo estas duas subtramas suscitam no autor a dúvida de como poderão estar correlacionadas.

Sendo duas tramas, aparentemente sem ligação e de cariz diferente, denota-se imediatamente a versatilidade da escrita do autor. Desde os informais e até divertidos diálogos dos adolescentes na internet (muito mordaz a alusão à cantora Rita RedShoes) até aos equacionados planos da organização, que despertam tensão e suspense. Penso que há um equilíbrio nas duas tramas, que permite ao leitor descomprimir e, dado que os capítulos são pequenos, num súbito instante indignar-se.
Achei aprimorada a descrição dos cenários das várias cidades europeias faz com que o leitor viaje até às mesmas, uma sensação nem sempre conseguida quando as tramas se passam em países estrangeiros.
As subtramas desenvolvem-se paralelamente, de forma a que acompanhemos detalhadamente o planeamento/execução das acções da ENDIVADAL, sem que inicialmente se conheçam as motivações e por outro lado conheçamos os protagonistas.

Assim há por parte de Vasco Ricardo, uma escrita fluída, sem registos de violência explicita e até bastante ligeira e mordaz, o que direcciona o livro para um sem número de público. Penso que os mais jovens reconhecerão e identificar-se-ão com os adolescentes da trama, o restante publico respeitará a audácia dos investigadores.
São estas as personagens que são mais empáticas com o leitor: a curiosidade pelos vários atentados e o debate num chat da internet sobre os mesmos, gera uma forte relação entre eles que faz-nos lembrar o quão forte é o poder da amizade sem que obedeça a qualquer fronteira geográfica.
As passagens sobre os vários atentados estão muitíssimo bem conseguidas, são tensas e a cada acto está associado um simbolismo que o autor, faz questão de relacionar coerentemente no final, de forma a que o leitor fique simplesmente incrédulo.
E no fim percebo o porquê do título e o quão este assenta na história que terminei de ler.

O aspecto menos positivo que gostaria de comentar, intrínseco à edição do livro, é o seguinte: pessoalmente achei que o espaço entre linhas é muito reduzido, o que pode tornar a leitura um pouco cansativa.

Em suma, A Trama da Estrela é um bom livro de estreia. Junta em doses harmoniosas o humor, a acção, a aventura, a tensão e o suspense, sendo um livro que pode ser lido por um público de qualquer idade. Se gosta de teorias da conspiração este é o livro que recomendo. Gostei e aguardo com interesse a segunda obra do autor!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Divulgação Editorial Planeta Manuscrito: Donna Leon - Quem Sofre São as Crianças


Sinopse: A tranquilidade da noite veneziana é perturbada quando um bando de homens armados força a entrada no apartamento do Doutor Gustavo Pedrolli, fraturando-lhe o crânio e levando o bebé de dezoito meses.
Quando o Comissário Guido Brunetti, arrancado da cama pela notícia, chega ao hospital para investigar, ninguém sabe o porquê de tão violenta agressão ao eminente pediatra.
Mas Brunetti em breve começa a descortinar uma história de infertilidade e desespero, e um submundo onde os bebés podem ser comprados com dinheiro, entre um esquema fraudulento com farmácias e médicos da cidade. O conhecimento pode ser tão destrutivo como a ganância, certas informações acerca de um vizinho podem levar a todos os tipos de corrupção e diversas formas de dor.

Nas livrarias a 28 de Junho.

Divulgação Editorial Dom Quixote: Robert Wilson - Pena Capital

Sinopse: Alyshia D’Cruz, filha do magnata indiano Francisco «Frank» D’Cruz, cresceu entre Londres e Mumbai, num meio privilegiado. Mas uma noite, depois de uma festa com muito álcool, Alyshia entra no táxi errado... Charles Boxer, ex-militar e ex-polícia, encontrou a sua vocação na segurança privada. A sua especialidade: raptos e resgates. Mas é uma vida sem raízes, que não impressiona a filha adolescente, Amy, nem a mãe desta, a sargento-detetive Mercy Danquah.
Quando D’Cruz contrata Boxer para encontrar Alyshia, este percebe que o complicado império empresarial de Frank lhe valeu muitos inimigos. Apesar da imensa fortuna de D’Cruz, os raptores não querem dinheiro - preferem um jogo cruel e letal. Mas o governo do Reino Unido não quer que o seu novo grande investidor perca a filha no centro da capital. Agentes do MI6 na Índia seguem as pistas de Boxer e, quando o rasto se cruza com uma conspiração terrorista em Londres, depressa se torna aparente que não é apenas a vida de Alyshia que está em causa. Para salvar Alyshia, Boxer tem de fintar fanáticos religiosos, mafiosos indianos e senhores do crime londrinos.
Pena Capital é uma viagem arrepiante ao lado negro de pessoas e lugares que estão escondidos, à espera do momento certo para destruir uma vida.

Nas livrarias a 9 de Julho.

domingo, 24 de junho de 2012

David Safier - Jesus Ama-me [Opinião]

E já que estou na onda dos não policiais, falo-vos do segundo livro do autor David Safier, lido imediatamente a seguir ao Maldito Karma, numa leitura igualmente compulsiva.

Marie é uma moça trintona, com um especial talento para se apaixonar pelos homens errados. Ainda assim, Marie deixa pendurado o seu namorado Sven no altar e em seguida conhece Joshua que revela ser Jesus Cristo! Marie apaixona-se pelo Messias, o que para Marie, é o início de uma louca mas destrambelhada aventura.

Comprova-se! David Safier sabe como divertir uma pessoa. Desta feita ele pega numa temática mais religiosa que se insere numa história divertidíssima e surreal. As morais e lições de vida estão lá, embora num contexto que contém vários ensinamentos bíblicos. Como sabem, predomina na Alemanha, o cristianismo protestante, o que terá talvez influenciado a aceitação da obra. Isto porque achei que este livro poderá ser susceptível para pessoas com maior fervor religioso. Mas adiante...

Safier mantém o registo da escrita fluída e irónico, em capítulos bastante curtos, o que acelera a leitura do livro. E à semelhança do livro anterior, a protagonista Marie é extremamente empática com o leitor. O autor inclui várias observações hilariantes nas relações de Marie com a irmã Kata e os divorciados pais com as suas aventuras. Estão a ver a a Bridget Jones? É qualquer coisa do género mas sem Mark Darcy, e tendo lá o próprio do Jesus, que se avista algo como ingénuo, tem uma série de trocadilhos hilariantes.
Pelo que é deveras interessante a forma como o autor mune todas as personagens com algum humor, mesmo aquelas consideradas divinas: o anjo Gabriel é dotado de um antropomorfismo afim de comprovar a felicidade de um amor carnal; o próprio do Satanás que aparece como George Clooney ou Alicia Keys e claro, o protagonista Jesus. O Apocalipse está eminente mas a mestria e o humor de Safier amenizam o tema num culminar espirituoso.

O autor pega em temas sérios como o cancro, o estigma do oportunismo de uma relação amorosa entre um emigrante e um natural da região e as próprias relações familiares que podem ser conturbadas dissertando sobre os mesmos num contexto mais ligeiro e que se inserem harmoniosamente no cenário mais descontraído.
E afinal de contas, a dificuldade de encontrar um amor correspondido pode não ser necessariamente um drama.

Em suma, Jesus Ama-me é um excelente livro, divertidíssimo, uma segunda lufada de ar fresco para desanuviar de leituras pesadas. Fico na expectativa com o terceiro livro do autor! Anseio que a publicação não tarde por parte da Planeta Manuscrito. Adorei!

sábado, 23 de junho de 2012

David Safier - Maldito Karma [Opinião]

Este livro vai destoar completamente aqui (dada a natureza do blogue) mas já que o li, numa tentativa de desanuviar a cabeça e o estado de espírito, não posso deixar de tecer algumas considerações sobre o mesmo.
Maldito Karma é um livro humorístico. Não escondo que aprecio as cadernetas de cromos do Nuno Markl, ou Os Homens Precisam de Mimo de João Miguel Tavares, livros de autores lusófonos que ajudam a aliviar o stress.

Kim Lange é uma apresentadora de tv e morre. Este acontecimento está no ranking das piores coisas que lhe poderiam ter acontecido! Durante uma sucessiva linha de reencarnações que passam pelos mais variados animais, Kim tenta atingir o Nirvana, o que corresponde a uma elavação espiritual. Mas para Kim, este percurso não será nada fácil...

David Safier é, na minha opinião, um brilhante humorista. Pega no tema das reencarnações para contar uma história surreal que além de divertida aufere inúmeras morais e lições de vida. Tudo isto, desmistificando alguns aspectos que conhecia sobre a religião budista, mais concretamente a crença no karma,
Numa escrita bastante fluída e mordaz, arranjada em capítulos curtos, o autor inclui observações sarcásticas em quase cada frase dos diálogos de Kim, fazendo com que esta seja uma personagem extremamente empática com o leitor.
A apresentadora passa por inúmeras provações afim de acumular bom karma. Estas passam sobretudo em reencarnações sucessivas em animais menos significativos sob o ponto de vista humano. Até os consecutivos óbitos de Kim são hilariantes e surreais.
Por isso esta personagem, que inicialmente era muito mesquinha, sem valorizar a filha até trair o marido, denota uma grande evolução à medida que desfolhamos as páginas de Maldito Karma.
A acção desenrolava-se na minha mente como se de um filme cómico se tratasse, tornando uma leitura extremamente compulsiva. Li o livro em duas noites!

Um grande romance de estreia que me levou a ler de seguida a segunda obra do autor, Jesus Ama-me, da qual vos falarei num post posterior.
Hilariante, Maldito Karma é o livro que recomendo para fugir dos policiais e quem procura de uma leitura diferente, para aliviar o stress. Um livro que promete despregar umas valentes gargalhadas, um remédio bem preciso dadas as conjunturas actuais do nosso país. Adorei!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Novidade Editorial Dom Quixote: Camilla Lackberg - Os Diários Secretos

Sinopse: O verão está a chegar ao fim e a escritora Erica Falk regressa ao trabalho depois de gozar a licença de maternidade. Agora cabe ao marido, o inspetor Patrik Hedstr¿m, tratar da pequena Maja. Mas o crime não dá tréguas, nem sequer na tranquila cidade de Fjällbacka e, quando dois adolescentes descobrem o cadáver de Erik Frankel, Patrik terá de conciliar os cuidados à filha com a investigação do homicídio deste historiador especializado na Segunda Guerra Mundial.
Recentemente, Erica fez uma surpreendente descoberta: encontrou os diários da mãe, com quem teve um relacionamento difícil, junto a uma antiga medalha nazi. Mas o mais inquietante é que, pouco antes da morte do historiador, Erica tinha ido a casa dele para obter informações sobre a medalha. Será que a sua visita desencadeou os acontecimentos que levaram à sua morte? E estará Erica preparada para conhecer os segredos dos diários da mãe? Camilla Läckberg combina com mestria uma história contemporânea com a vida de uma jovem na Suécia dos anos 1940. Com recurso a numerosos flashbacks, a autora leva-nos a descobrir o obscuro passado da família de Erica Falk.


Nas livrarias a 16 de Julho.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Steve Mosby - O Assassino 50/50 [Opinião]


Já alguma vez pensou se ama a sua esposa/marido a ponto de morrer por ela/ele? E se esta fosse uma escolha forçada num jogo mórbido?
Este é o mote do livro O Assassino 50/50, um homem que quando começa os seus ataques, já conhece muito bem as suas vítimas: jovens casais, que são submetidos a uma noite de tortura e manipulação, tendo como objectivo a escolha da morte de um dos dois ao amanhecer.

É então uma trama violenta, assim um pouco do estilo do filme Saw mas mais básica, são infligidos vários níveis de tortura às vitimas, o que potencia uma escrita gráfica e violenta por parte do autor (embora não chegue aos calcanhares de Pierre Lemaître ou Mo Hayder).
Há um jogo psicológico muito intenso como pano de fundo deste quase "gore literário" que se debruça sobretudo no casal Scott/Jodie e nos casais que anteriormente estiveram sob esta provação por parte do Assassino 50/50.
Mas o cenário psicológico vai além das vítimas e acaba por pairar sobre o detective John Mercer e a esposa Eileen e o detective Mark Nelson, recém chegado para colaborar na investigação sobre este temido homicida.

Scott e Jodie são o casal chave: pretende-se resgatar um deles, a vítima menos afortunada do jogo do diabo (como é apelidado por várias vezes, o Assassino 50/50), enquadrando-se a acção no espaço daquela noite. O timeline é o amanhecer. Enquanto isso, somos confrontados com uma série de provações e paralelamente acompanhamos a investigação por parte da polícia.
Esta noção temporal é quase como claustrofóbica: o leitor percorre página após página com o coração na boca, torcendo que a pessoa saia imune do cativeiro tortuoso mantido pelo assassino.

Enquanto isso há uma sucessão de remorso, e sentimentos mal resolvidos por parte do outro membro do casal, permitindo o leitor conhecer um pouco da vida de Jodie e Scott e ficar surpreso com as várias revelações dos jovens.

Posto isto, há um interesse por parte de Mosby em intensificar a componente psicológica e assim introduzir o traumatizado detective John Mercer e o seu desleixo para com a esposa Eileen e mais importante ainda, apresentar o novo detective Mark Nelson, ele próprio com um trauma, ainda que aparentemente superado. A narrativa é feita sob a primeira pessoa quando se trata de Nelson, mas a cada intervalo temporal, há quase como um subcapítulo focado para uma dada personagem, garantindo que estas são desenvolvidas quase com a mesma profundidade e respeitando a ordem cronológica dos acontecimentos. Acabam por ser personagens bastante credíveis dada a fragilidade e autenticidade dos sentimentos que conseguem facilmente chegar até nós.

Nada é tomado como garantido quando chegamos ao desfecho, genial na minha opinião, onde os factos empíricos são destronados, revelando um final emocionante e surpreendente numa trama bastante inteligente. O jogo esquematizado pelo assassino é algo mórbido, e dentro dos moldes, acaba por ser original os testes e a contextualização a que o serial killer submete os jovens casais. No entanto, estava à espera de testes mais elaborados tipo Saw, em que as atrocidades derivam de armadilhas complexas. Como disse, estas provações são mais básicas, consistindo apenas em tortura e violência gratuita na namorada ou no namorado, sendo apenas factor decisivo salvar a sua vida ou a da pessoa amada.

Este é portanto um livro que lida muito com a temática do sacrifício, os limites são justamente a renúncia de uma vida em prole da pessoa que mais amamos. Não é de todo vulgar, e claro que tema tão polémico quanto este pode ser uma profunda reflexão sobre a auto estima e outros valores que tais. Gostei e fiquei bastante curiosa em ler os restantes livros do autor!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Mari Jungstedt - Ninguém Quis Saber [Opinião]


Ninguém Quis Saber é a sequela do livro Ninguém Viu de Mari Jungstedt, protagonizado pelo detective Anders Knutas tendo como cenário a ilha de Gotland na Suécia.
Apesar de ser impensável à primeira vista, que corridas de cavalos ocorram em Novembro (sabendo que em pleno Inverno as temperaturas são frequentemente negativas na Suécia), o leitor depara-se com uma boa história em Ninguém Quis Saber.
Confesso que parte do meu fascínio pela Escandinávia deriva das gélidas mas atraentes paisagens invernais típicas da Suécia, tornando-as apelativas para boas tramas criminais como esta.

Este livro e tal como uma sequela, pega em aspectos que foram deixados pelas personagens, requerendo a leitura prévia de Ninguém Viu. Uma delas é a história pessoal de Johan e a situação deste com Emma. Inicialmente não me lembrava desta história até porque li o Ninguém Viu há sensivelmente dois anos, mas depois de rapidamente ter folheado o livro anterior, consegui recordar o contexto onde estas personagens se inseriam.
No entanto, Ninguém Quis Saber distancia-se do outro pela natureza das investigações criminais aqui retratada: por um lado temos o caso do homicídio de Henry Dahlstrom, um fotógrafo em decadência apoderado pelo vício do jogo e do álcool, por outro o desaparecimento de Fanny Jannson, uma menina de apenas catorze anos e que se vê envolvida num caso de pedofilia. Os dois casos que aparentemente são independentes, começam por convergir na mesma linha de acção.

A acção tem lugar no espaço de sensivelmente um mês e meio, nos quais são relatados inúmeros flashbacks que remotam a meses antes, de forma a que o leitor acompanhe a evolução de Fanny com um homem cuja identidade se desconhece. De tenra idade, Fanny é talvez uma das personagens mais empáticas que desfilam em Ninguém Quis Saber. Com traços fisionómicos não comuns na Suécia (dada a natureza estrangeira paterna), a rapariga não tem grandes amizades e é constantemente negligenciada pela mãe que recorre cada vez mais ao álcool.
Penso que a autora deixa passar ao leitor, todo o sentimento respeitante ao isolamento e à necessidade forçada que a personagem teve em crescer mentalmente. Digo isto porque até eu sofri com Fanny. Por outro lado faz-me duvidar sobre as minhas convicções sobre o mundo laboral da Escandinávia, ainda que numa terreola, uma vez que estamos perante uma situação de trabalho infantil não renumerado, esperando que seja mera ficção.
Esta é Fanny, a personagem com a qual mais me identifiquei. Mas os protagonistas são mesmo os nossos já conhecidos Anders Knutas, Johan e Emma, personagens completamente bem descritas e dotadas de características tais que é impossível não nos identificarmos com as mesmas. Estas têm um background que remota a Ninguém Viu, e embora inseridas num contexto cultural tão diferente do nosso, retratam muitos problemas facilmente familiarizados.

Ninguém Quis Saber é uma trama sinistra no que diz respeito à temática da pedofilia e crianças negligenciadas não sendo um livro fácil de ler apesar de ser tão interessante como o livro de estreia da autora. A descrição dos homicídios não é de todo chocante apesar do grafismo das passagens, mas não consegue perturbar tanto quanto o subenredo referente a Fanny.
Confesso que me surpreendeu a resolução do crime. Esta encerrou o ciclo de ansiedade e mistério que a trama esbanjava em redor das investigações. Ora no plano pessoal, não é bem assim: afinal de contas Jungstedt deixa um final em aberto para os nossos Johan e Emma, deixando-me ansiar que a Contraponto publique o mais depressa possível o terceiro livro da autora.

Este é um típico policial intrigante com uma boa dose de mistério que enfatiza toda uma componente humana das personagens. Disseca até ao âmago da questão as problemáticas do alcoolismo e pedofilia, abordando igualmente temáticas como problemas dentro do matrimónio e negligência parental. É portanto um livro tão inquietante como comovente. Acresce o facto de ter como cenário um país, que no meu ponto de vista, é fascinante. Um livro simplesmente imperdível.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Novidade Editorial Bertrand: Kate Colquhoun - O Chapéu do Sr. Briggs


Sinopse: Um crime numa carruagem de comboio que ninguém viu mas de que todos são suspeitos. Um cadáver desaparecido e um chapéu misterioso. Uma investigação levada a cabo por um detetive brilhante.
São estes os elementos do crime que chocou a Londres do século XIX.
Dia 9 de julho de 1864. Após um serão com familiares, Thomas Briggs chega à estação ferroviária e entra na carruagem 69 do comboio das 21:45 com destino a Hackney. Sem saber que a sua viagem haveria de ficar para a história…
Alguns minutos mais tarde, dois funcionários bancários entram no compartimento. Quando se sentam, um deles repara no sangue que se acumulara junto dos botões dos estofos. Depois vê sangue no chão e nas janelas da carruagem, assim como a marca de uma mão ensanguentada na porta. As senhoras na carruagem adjacente queixam-se de que têm os vestidos salpicados de sangue que entrou pela janela quando o comboio estava em movimento.
Mas não há sinal de Thomas Briggs. Na carruagem está apenas uma bengala com castão de marfim, uma mala de pele vazia — e um chapéu que, estranhamente, não pertence ao senhor Briggs…
Assim começa a história vertiginosa, fascinante e verídica de um crime que mudou para sempre a maneira como viajamos. Com formidável mestria narrativa, Kate Colquhoun evoca as imagens, os sons e os cheiros da viagem ferroviária vitoriana e revela segredos há muito enterrados de uma das mais apaixonantes investigações de homicídio daquela época.

Nas livrarias a 15 de Junho.

Colleen McCullough - Crueldade a Nu [Opinião]

Colleen McCullough é já uma consagrada autora de romances, entre os quais consta o seu best seller Pássaros Feridos. No entanto a autora envereda por outros géneros como o romance histórico (incidindo sobre a história de Roma Antiga) e no policial através de uma saga protagonizada por Carmine Delmonico.

Estamos em 1968 e Maggie Drummond é brutalmente violada. Apesar dos avisos de Didus ineptus (o primeiro nome do extinto Dodo, autodenominação do violador), Maggie apresenta queixa à polícia, o que altera o esquema do Dodo e este irá silenciar as suas vítimas doravante...

Nos capítulos iniciais, é introduzido um número esmagador de personagens. Este é o terceiro livro de Carmine Delmonico e nem sei se estas terão tido um papel importante em Um Passo à Frente e o Dia de Todos os Pecados (pelo menos as entidades policiais deduzo que sim). No entanto, julgo que a apresentação das personagens foi muito impetuosa (eu pessoalmente teria feito de uma forma mais faseada).

Pela forma como o enredo está organizado, nunca senti que este será um policial de época (passado nos finais dos anos 60). A acção parece ser contemporânea até porque aborda aspectos ainda preocupantes na sociedade actual: um violador em série não é muito comum mas que pode acontecer, sim lá isso pode.
Além deste pormenor, existe outros crimes: um rapto, a descoberta de armas numa escola e vários actos de vandalismo são frequentemente usados, quer-me fazer parecer, para desviar as atenções do violador. Penso que é um prisma bastante interessante: a autora aufere um grau de multiplicidade do crime que se ordena em vários graus de gravidade.

A autora mergulha o leitor no cenário da investigação destas ocorrências, tendo sempre como pano de fundo, os dramas pessoais de Carmine, Desdemona e um policia chamado Morty.
O capitão Carmine Delmonico (quando li este nome pela primeira vez achei que fosse uma mulher) tem alguns problemas familiares. Só me apercebi dos dramas da sua esposa Desdemona que é uma recém mamã mas algo me diz que o seu background consta de dificuldades acrescidas. Terei que ler os anteriores para confirmar as minhas suspeitas. E a minha dúvida é: como terá sido a relação de Ava e Morty até este livro?
A autora enfatiza estes dramas pessoais a ponto de tornar o enredo igualmente preocupado com o realismo das personagens. No fundo, nós sentimo-las como pessoas próximas de nós, com os problemas comuns, acrescentando o clima de insegurança sentido pelas mulheres face às ameaças do Dodo. Quanto a muitas outras personagens, a autora aufere-lhes um carácter bastante duvidoso, ainda que estas pertençam ao mundo policial.

A cena inicial da violação foi bastante gráfica e chocou-me muito. Aliás, muitas das passagens são verdadeiramente angustiantes mas McCullough ameniza actos de violência através da sua escrita bastante fluída, tornando o livro de fácil leitura apesar de abordar uma temática que é bastante constrangedora.

Nunca houve muitos suspeitos que pudessem vestir a pele do Dodo por isso, não constituiu grande surpresa para mim, quando este foi devidamente identificado, embora embebido num clima de suspense e muita adrenalina. No entanto, penso que pela forma como termina, as tramas de Delmonico, podem ser extensíveis a mais livros e igualmente emocionantes.

É um livro que recomendo sem reservas. Surpreendeu-me agradavelmente por abordar um enredo muito mais rico do que consta na sinopse.
Pode ler-se independentemente de não se ter lido Um Passo à Frente e O Dia de Todos os Pecados (até porque estes, publicados pela extinta Difel, são livros extremamente difíceis de se encontrar). A dificuldade irá residir, pois claro, na restrição de conhecimento das personagens principais. O certo é que irei ler estes quanto antes!
Não deixo de felicitar a editora Bertrand pela edição dos livros da autora, a avaliar por Crueldade a Nu, Colleen McCullough será uma referência que irei acompanhar, sem qualquer dúvida!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

John Connolly - Os Amantes [Opinião]


Os Amantes é o mais recente livro a integrar a colecção Alta Tensão da Porto Editora, exclusivamente dedicada ao género policial e thriller. Ao iniciar a minha leitura deste livro, constatei no Goodreads que este é o oitavo de uma saga protagonizada por Charlie Parker.
Para os mais curiosos, o primeiro está publicado sob o título de O Viajante Assassino, no entanto, sob a chancela da Presença.

Charlie Parker perdeu a licença e a arma como detective particular (provavelmente consequência de acções expressas no livro anterior). Assim, ele irá ocupar-se da investigação sobre o suicídio do pai, que terá ocorrido muitos anos anos em circunstâncias um tanto ou quanto estranhas: depois de ter morto um casal de namorados sem que estes, aparentemente, tenham mostrado ameaças.
Este é o mote para um enredo cheio de mistério, acção, simbologia e um toque de sobrenatural.

Embora tenha gostado da personagem principal, Charlie Parker, pensando nela como um justiceiro (afinal de contas ele terá vingado a morte da esposa e filha) sinto que muito me escapou sobre a mesma. Tive necessidade de perceber porquê terem morto a sua família e como fez ele para punir os culpados (do contexto da narrativa, o leitor apercebe-se que isto terá acontecido).
Neste livro é importante a colaboração do antigo amigo do pai de Charlie, Jimmy Gallagher, que será o mensageiro das revelações de Charlie, provavelmente também terá tido algum destaque nas anteriores narrativas.

Connolly constrói desta forma, personagens complexas e enigmáticas mas altamente realistas, reflectindo instintos tão naturais como o desejo de vingança ou sentimentos que circundam a capacidade de perdoar.

No entanto, este livro foca-se na descodificação de segredos mantidos por parte do pai, desencadeando uma série de revelações importantes não só sobre o progenitor de Charlie como também da sua mãe. Pode dizer-se que este livro, neste aspecto, distancia-se do que terão sido os casos anteriores de Charlie Parker, tornando-se pouco importante a leitura prévia dos livros anteriores.
A justificação de um acto tão vil por parte do pai e a quase negligência da mãe são explorados num contexto dramático intenso, num cenário sombrio apropriado de um filme de terror, provando que o passado nem sempre é tão linear quanto se julga.

Embora esta seja uma trama rica em homicídios, o autor utiliza uma linguagem que, embora seja altamente descritiva, não se encaixa dentro do chocante e do gráfico. Todos os pormenores que poderiam ser mais violentos são suavizados.

Dentro do género do thriller, e sendo este o livro com quem me estreei no autor, posso desde já dizer que John Connolly acaba por distinguir-se no género dada esta inclusão pouco vulgar, dos já referidos elementos sobrenaturais. A meu ver, estes os laivos de sobrenatural retiram um pouco do realismo da trama, mas estão muito bem conseguidos, tornando a intriga ainda mais assustadora. A intriga criminal existe e coaduna-se harmoniosamente com a vida pessoal de Charlie e as revelações tecidas sobre ele.

Os Amantes pode ser lido independentemente de se conhecer a prévia obra de Connolly (não interferindo a apreciação do livro) até porque este enredo visa dissecar os segredos do passado do pai de Charlie. No entanto, ao findar esta leitura, gerou-se uma vontade natural em ler os restantes livros do autor. O problema é que estes não estão publicados em português. Esta é, inevitavelmente, a minha maior crítica, mas também um incentivo à Porto Editora para continuar a publicar obras deste autor.

Atenção curiosos pelo sobrenatural, seitas e simbologia, este é o livro ideal para si!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Pierre Lemaître - Alex [Opinião]

A recente colecção Sextante TOP aposta na qualidade dos thrillers, estando a destacar-se na literatura do género. Depois de Síndrome E de Franck Thilliez, a Sextante publica Alex do autor francês que desconhecia até hoje, Pierre Lemaître.

Esta é a história tensa de uma mulher extremamente atraente e que é raptada. O detective Camille Verhoeven (o próprio com os seus fantasmas também devido a uma situação de rapto) fica responsável pelo caso. Tudo se complica quando, descoberto o local do sequestro, Alex simplesmente desapareceu.

Esta é a premissa de um livro simplesmente arrebatador. Mas vamos por partes, sim?
O livro estrutura-se em três grandes capítulos: a primeira parte não adianta muito mais do que já vos contei e que consta da sinopse. As coisas mudam a partir da segunda parte e a situação toma contornos nada usuais neste tipo de histórias, tendo um sôfrego culminar (que deixará o leitor a pensar no que aí virá pois aparentemente não há mais história). Pois aí é que se enganam!
A última parte está rica em revelações, daquelas que deixarão de boca aberta. É portanto, o trecho onde impera mais racionalidade embora na linha que o autor nos habituou deste início. Sim, pois Lemaître esmera-se em sordidez e pormenores macabros nas descrições mais violentas de mortes e mutilações, pormenores estes que abundam em todo o livro. Na primeira parte, destaca-se o realismo e crueldade das passagens sobre o cativeiro de Alex, verdadeiramente angustiantes.
Especialmente nesta fase há várias passagens que tornam-se desconfortáveis ao serem lidas.

Dentro de cada parte, os capítulos são curtos, intercalando entre o cativeiro de Alex (e felicito o autor pela autenticidade das cenas, extremamente cruas e violentas) e a vida privada de Verhoeven versus a sua prestação na investigação do caso.
A inclusão de um detective com os seus fantasmas pessoais é quase um cliché mas este Verhoeven acaba por ser especial: apenas com um metro e meio é um homem com uma grande determinação (esta não é de todo proporcional ao seu tamanho...). Destaca-se pela forma como não se deixa abater pela investigação do paradeiro de Alex, tendo em conta a semelhança do sequestro com um com que ele tem más recordações, conduzindo o caso com racionalidade e inteligência.
E a antítese: existe um psicopata. Dos mais perigosos que me lembro nestas lides, não só pela forma como mata como a complexidade dos requintes de malvadez, recorrendo ao uso de ácido sulfúrico (e aqui poderão uma vez mais constatar o nível de violência empregue por Lemaître) e a falta de remorso. Mata e não se arrepende... Uma personagem complexa que nos dá asco, mas que no final do livro os sentimentos sobre esta vão mudar, pois há toda uma análise da história de vida desta mente perturbada, quase desumana, e uma sede de vingança que motiva todos os homicídios brutais que foram ocorrendo na trama.

O desfecho do livro, este cada um interpreta à sua maneira. Não é totalmente claro uma vez que o narrado contraria as hipóteses levantadas por Verhoeven e a sua equipa, mas cada leitor fará a sua leitura e decifrará consoante o que depreendeu no livro. Se é mau? Não! A trama nada deixa por explicar.

Um livro que me chocou genuinamente pelos requintes maquiavélicos não só da personagem como das bárbaras descrições de violência, é uma profunda reflexão sobre a vingança. É dos livros que mais me surpreendeu até hoje, pois não esperava a enorme reviravolta de 180º que ocorreu na segunda parte do livro e a forma como brilhantemente conduziu a uma história tão arrepiante, tão viciante, tão surpreendente...! Um verdadeiro sui generis dentro do thriller, Alex é um dos melhores livros que li até hoje.
Não deixo de recomendar aos leitores com um estômago mais forte, pois como disse a violência é abundante. Como prometeu a Sextante Top, este é um livro que é um verdadeiro punch. Felicito a editora por esta publicação pois Alex é um livro que nunca esquecerei! Uma obra magistral que recomendo!
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