O Boneco de Neve é o mais recente trabalho de Tomas Alfredson, o realizador sueco responsável pela adaptação cinematográfica dos livros "Deixa-me Entrar" de John Ajvide Lindqvist e "A Toupeira" de John Le Carré. Confesso que, uma vez que não aprecio o subgénero de Espionagem, nem espreitei este último filme.
The Snowman era, provavelmente, o filme mais aguardado deste ano. À medida que ia sendo construindo um marketing em torno deste livro, multiplicando-se a partilha de teasers e posteriormente trailers, mais impaciente eu ficava em ver esta obra. Consegui um lugar na antestreia e cá estou eu para vos contar tudo.
Antes de mais, achei a adaptação cinematográfica muito mediana e vou fundamentá-la para que percebam porquê. Vou, claro, evitar fazer spoilers. Porém, vou ter que comentar uma cena ou outra.
Para quem é fã desta estrondosa série protagonizada por Harry Hole, como eu, é fácil apercebermo-nos da complexidade do detective e da sua história pessoal que é o único aspecto que acaba por ter um desenvolvimento em todos os livros. E O Boneco de Neve é o 7º. Já aconteceu tanto ao Harry até então...
Acontece que o meu acompanhante na antestreia pouco sabia do universo de Harry Hole, pelo que foi difícil interiorizar o contexto pessoal do detective. A título de exemplo: não se sabe, até ao final do filme, que a personagem feminina se chama Rakel. Menciono outro aspecto, este ainda mais flagrante, no livro há uma cena fortíssima protagonizada por esta e Hole que foi descurada no filme. E toda a acção referente a este par, reforça a ideia de que estas personagens são quase como dependentes uma da outra. E o último livro da série, Polícia, intensifica mais esta minha percepção. Tenho para mim que faltou alguma química ao casal no filme.
Falando deste aspecto que foi um pouco alterado, posso mencionar uns quantos outros e algumas cenas que não fazem qualquer sentido, de todo. Como a inicial em que Harry surpreende um homem que fazia a desinfestação do seu apartamento com um tiro. O diálogo que se seguiu foi, no mínimo, surreal. Já nem falo da (geral) amputação de dedos. Pelo que me lembro, exceptuando as vítimas de homicídio, outras personagens saíram fisicamente incólumes das situações. Ou o filho do casal Britte. Sim, era o Jonas no livro. Aqui, por alguma razão que não consigo explicar, é uma menina.
E aligeiraram em muito o drama daquele casal, em particular o do pai.
De facto, consigo aperceber-me da dificuldade em adaptar rigorosamente a história de O Boneco de Neve, tão rica em pormenores. Ainda assim, o filme revestiu-se de um ritmo algo moroso até culminar num desfecho que, para mim, foi francamente anti-climático e diferente, uma vez mais, do livro.
Também a caracterização de O Boneco de Neve está, a meu ver, subdesenvolvida. Mal cheguei a casa ontem, reli as últimas páginas do livro e, de facto, o vilão é dotado de uma maior frieza. Posso afiançar que a cena final é bem mais intensa do que no filme.
Por último a minha maior crítica. Já que o filme foi totalmente filmado na Noruega, não consigo entender porque é que o elenco era, quase na íntegra, americano. A ideia seria tornar o filme mais comercial?
Não desgosto do trabalho de Michael Fassbender mas, para mim, não me convenceu como Harry Hole. Para quem 10 livros protagonizados por este detective, imaginou uma personagem fisicamente diferente. Contudo, a maior desilusão foi Val Kilmer. Aqui entre nós, eu tive um crush por ele há uns 20 anos. Mas isto fica só entre nós, ok? ;) Está irreconhecível!
O melhor do filme foi, para mim, as maravilhosas paisagens norueguesas. Os planos são, de facto, apaixonantes. Lembraram-me a razão deste meu fascínio pela Escandinávia.
Em suma, pelas razões que mencionei anteriormente, o livro que é espectacular (e ao qual atribuí 5 estrelas no Goodreads) originou uma adaptação cinematográfica medíocre. Esperava muito mais!