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terça-feira, 14 de junho de 2011

Minette Walters - A Máscara de Desonra [Opinião]

Há algum tempo li um livro desta autora, Fantasmas do Passado, e fiquei extasiada, principalmente com a forma como a autora formula enredos engenhosos e pela própria escrita envolvente. Ora a tendência verifica-se no decorrer desta narrativa.

Este livro constitui o 2º volume da Colecção O Fio da Navalha, da Editorial Presença, sendo portanto um dos livros mais antigos de uma das melhores colecções a nível de literatura policial/thriller.

Uma idosa velha e amarga de seu nome Mathilda Gillespie é encontrada morta na banheira, com os pulsos cortados e com uma máscara de desonra colocada (um engenho colocado em mulheres nos séculos XVI-XIX, sendo um objecto de tortura) em adorno de flores. Terá sido suicídio? Ou um homicídio dissimulado?
Com o desenvolver da narrativa, o leitor vai conhecendo a personagem Mathilda, através da investigação por parte da sua médica, Sarah Blakeney, a única pessoa que realmente se importou com a idosa em conjunto com o polícia Cooper.

Mais do que uma investigação do crime, o enredo trará a lume, uma perspectiva dura e crítica sobre os segredos de família, os desejos e mal entendidos que pairam sobre Mathilda. É portanto uma história onde a componente policial é tão forte como a dramática. A autora ganha pontos ao recorrer a uma parcela considerável de psicologia sádica e maliciosa.

Mais uma vez, Walters preocupa-se em dotar as personagens com um certo grau de realismo. Assim, temos a detestada velhota Mathilda, uma personagem que se dará a conhecer pelas conclusões da investigação do seu homicídio, e pelos testemunhos que antecedem cada capítulo, através da presença das páginas do seu diário. A sua filha e neta, que não escondem a avareza pelo dinheiro da idosa, a médica Sarah (com os seus conflitos matrimoniais) e o próprio polícia. São personagens que acabam por cativar e convencer o leitor.

Torna-se muito evidente, praticamente desde os primórdios do livro, que a morte da velhota não terá sido um suicídio. Simultaneamente são apresentadas as diversas personagens que têm, ainda que indirectamente, relacionamentos com a defunta. Este ponto é fundamental para estabelecer um clima de desconfiança em relação aos intervenientes da narrativa. Os personagens, naturalmente, não são o que aparentam. Depois os diálogos entre eles são bastante envolventes.

A própria evolução do enredo é intrincada. À medida que vamos lendo, não sabemos o que esperar daí para a frente. Interessante foram as várias intervenções sobre Shakespeare, fazendo uma espécie de simbolismo na própria história (o que inicialmente para mim não foi imediato dado que, infelizmente, não estou familiarizada com a sua obra).

No meio de tanta imprevisibilidade, o desfecho não poderia fugir à regra. Não esperava de todo! Nem vou tecer aqui mais comentários a fim de estragar a surpresa!

Um pequeno reparo: notei que este livro (datado de 1998), tem algumas gralhas a nível da escrita das palavras, o que me leva a concluir que a revisão a cargo da Editorial Presença está cada vez mais rigorosa.

Por ter ganho o prémio Gold Dagger Award como o melhor livro policial de 1994, um título atribuído com todo o mérito, recomendo sem reservas esta leitura! É um livro duro e inesperado que fará as delícias dos amantes do policial.


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