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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Karin Fossum - A Ilusão de Eva [Opinião]

Ainda antes do blog estar no activo (na altura do descobrimento dos autores nórdicos) vi um livro chamado "A Noiva Indiana", cuja capa roxa, com uma indiana, nada me indicava para o riquíssimo conteúdo do mesmo. A norueguesa Karin Fossum tornou-se assim como uma das autoras obrigatórias a acompanhar.

Na realidade, A Ilusão de Eva, escrito em 1995, antecede a acção em A Noiva Indiana. Aliás, este livro foi o romance de estreia de Fossum. Tendo lido primeiro A Noiva Indiana, já há uns quantos meses, familiarizei-me desde logo com as personagens. O inspector Konrad Sejer e a sua família integram as narrativas de Fossum, como se de uma saga se tratasse.

Sejer é um homem bastante pacífico e tem como parceiro fiel, o cão Kollberg. Esta personagem está provida de sentimentos associados à tristeza e solidão, dadas as conjunturas do seu estado civil, embora tenha uma relação excelente com a filha e o neto. É impossível deixar de sentir afecto e alguma compaixão por este inspector. Outras personagens, de um foro mais complexo, roçam os limites da cobiça e da luxúria ou atendem a alguns sacrifícios em prol dos filhos.

Eva Magnus, uma mãe solteira, estava com a sua filha Ema, quando vê um cadáver a boiar no rio. Egil Einarsson esteve desaparecido seis meses e afinal estava morto! Ao contrário do que era esperado, Eva não alertou a policia para a presença do cadáver. Mas esta não terá sido a única morte a destacar. Alguns dias antes, Maria Durban, a melhor amiga de Eva, foi encontrada morta. Eva reencontra Maria na véspera da sua morte (e no próprio dia), depois de muitos anos sem se verem. Estarão os dois crimes relacionados?

É com esta premissa que a história do livro se desenrola. Explorando algumas incoerências por parte de Eva relativamente aos crimes, a acção desenvolve-se num ritmo acelerado e misterioso. A autora sabe manter o suspense enquanto o leitor está na expectativa, a acompanhar a investigação de Sejer, durante a qual se descobrem alguns factos sobre o falecido Egil Einarsson, díspares do estilo de vida de Durban, mas que ao fim e ao cabo, acabam por ter um ponto em comum, nada óbvio à primeira vista.

Como já se torna habitual, e sendo eu uma aficionada pela Escandinávia, o cenário norueguês onde tem lugar a acção fascinou-me logo de imediato!
Extremamente fácil de ler, senti que as folhas iam deslizando e eu perdi a noção do tempo. Mergulhei naquela cultura, bastante diferente da nossa, encarando com uma naturalidade além do comum, aspectos como o estado de viuvez. Por norma as relações pessoais são menos calorosas do que as mediterrânicas. A linguagem de Fossum é acessível e desprovida de elementos gráficos, caracterizadores de violência. Neste livro, considero que são inexistentes as típicas dificuldades com os nomes nórdicos, uma vez que o número de personagens é bastante limitado. O reduzido número de páginas foca-se na narrativa, de forma objectiva e directa, sem dar azo a pormenores secundários.

O livro apresenta uma estrutura faseada. Em primeiro lugar é relatado o descobrimento do cadáver de Einarsson, e a policia estabelece uma possível ligação entre este, Durban e Eva. A segunda fase do livro, e a que considero mais intensa, expõe o que aconteceu, 6 meses antes, desenvolvendo as duas linhas de acção: a morte de Durban e posteriormente, a de Einarsson. Por último, a terceira fase volta à actualidade e descrevem os ajustes finais da investigação. Também é apresentado o caso explanado no livro O Olhar de um Desconhecido, que se debruça sobre o desaparecimento de uma menina, Ragnhild Elise (talvez seja uma estratégia de marketing da autora para se comprar o livro seguinte).

Posto isto, avaliar este livro torna-se complicado: se por um lado adorei a forma como a história evolui, por outro, à medida em que nos aproximamos do desfecho, tornou-se óbvia a identidade do assassino de Einarsson. O pequeno efeito surpresa residiu sobretudo no outro homicídio.
Apesar da ausência do grande efeito surpresa chocante, já usual nestas andanças de literatura policial, considero que a história está simples, mas original e convincente. Portanto, não deixo de recomendar esta leitura, um livro antigo da colecção O Fio da Navalha e como tal, podem encontra-lo no site da Editorial Presença, a um preço apetecível!


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