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terça-feira, 1 de novembro de 2011

John Verdon - Pensa num Número [Opinião]


Pensa num Número é o romance de estreia do norte-americano John Verdon. Após largos anos a trabalhar em publicidade, Verdon, numa fase mais tardia da sua vida, (mais concretamente aos 68 anos) escreveu um livro que se tornou um best seller, tendo sido traduzido em vários idiomas. Qual terá sido a fórmula adoptada por Verdon para o sucesso deste livro?

A acção gira em torno do reformado polícia, Dave Gurney que volta às investigações criminais quando um antigo colega lhe pede ajuda. Mark Mellery, administrador de um retiro espiritual, está a receber cartas anónimas e de cariz perturbador. Nestas, o remetente adverte Mark que o conhece tão bem a ponto de adivinhar o primeiro número que lhe vem à cabeça. E de facto, assim é. Por duas ocasiões, o estranho serial killer adivinha os números em que pensa Mellery. E estas previsões terão um custo demasiado elevado... O invulgar acontece quando a ameaça se estende a outras pessoas.

Um dos aspectos importantes a ser comentado é a versatilidade da escrita do autor. Relembremos que este é o romance de estreia de Verdon. E de facto ele tem a proeza de, relatar a história de forma coerente e interessante, deixando qualquer leitor a ansiar por mais. Mas Verdon vai além disso: ele expõe as mensagens do homicida, em prosa ou em verso. Os sádicos poemas que ele escreve, além de apresentar uma métrica perfeita (e aqui dou os parabéns ao responsável pela tradução portuguesa do livro que conseguiu traduzir do inglês um poema e adapta-lo na língua portuguesa com a mesma mensagem subjacente) estão munidos de um misto entre os requintes de malvadez e a ironia/sarcasmo que impressionam o leitor sem grande esforço. Ainda assim, ficou a curiosidade de ler estas mesmas mensagens na versão original em inglês. Talvez a minha sugestão para a Porto Editora seria que, neste tipo de situação, mantivessem as mensagens originais e, em nota de rodapé, apresentassem as mesmas traduzidas, ou vice versa.

Antecedendo a história propriamente dita, o leitor depara-se com uma estranho prólogo. Durante o desenvolvimento da trama, o leitor tenta contextualizar este capítulo introdutório com a história mas dificilmente consegue assegurar uma ligação entre o prólogo tão distinto do enredo.

As personagens são expressivas, resultado da escrita envolvente de Verdon, em que recorre ao detalhe e pormenor para enriquecer cenários, acções e as ditas personagens. Consegue a proeza de revestir uma personagem que não é, num estado inicial da trama, directamente mencionada (falo portanto do remetente das cartas anónimas) num carácter maléfico e aterrador. Conhecido inicialmente apenas por Charybdis, inteligentemente ele vai deixando pistas, que ameaçam até a segurança dos próprios polícias. É seguramente, um dos serial killers mais brilhantes e ameaçadores descritos em literatura.

Em relação a Dave Gurney, constatei na contracapa que é comparado a Poirot ou a Sherlock Holmes, eu não concordaria assim tanto com esta paralelismo. É certo que Gurney é perspicaz e recorre à lógica e dedução para relacionar algumas pistas. Mas achei esta personagem mais afável e humana. Nem Sherlock Holmes nem Poirot deixam antever esse lado tão pessoal das suas vidas.
Talvez porque Dave Gurney seja casado, é realçado um episódio trágico da sua vida e toda esta ênfase na vida pessoal faz com que sintamos mais afinidade com ele. Isto para não falar da vulnerabilidade das relações que ele mantém com o filho mais velho, Kyle e de certa forma com a esposa Madeleine. E se Sherlock Holmes tem um Dr Watson e Poirot o seu amigo, Hastings, assim associado à personagem de Gurney há uma parceria simbiótica com Madeleine. Não posso deixar de comentar a importância da esposa de Gurney, cuja argúcia é fundamental para associar as várias pistas deixadas pelo assassino. Os seus "bitaites", têm um certo peso na formulação de teorias para conhecer afinal a identidade do estranho Charybdis.

É um livro desafiante, estimulante e deveras intrigante. Um verdadeiro quebra cabeças sob a forma literária! Desde o primeiro momento, o leitor depara-se com a constante dúvida: Como adivinha ele os números? Haverá explicação lógica ou estaremos num momento de pura clarividência de uma das personagens? Reparem que há uma larga margem de manobra, uma vez que o vilão dá a escolher um número desde 0 a 1000. Intrigante, não acham? E depois este homem arquitecta inúmeros puzzles, aparentemente sem soluções lógicas.

Por isso não se limite a pensar num número! Pense em comprar este livro e a lê-lo! Garanto que não se arrependerá! Recomendo vivamente!

11 comentários:

  1. Estava curiosa sobre o livro, desde que o mencionaste na tua página do FB..e parece que vale a pena:) Outro que anota na minha lista!

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  2. Fantástica crítica aqui nos deixas, Vera. Parabéns!
    Teresa Carvalho

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  3. Obrigado! Fico mesmo muito contente com as vossas palavras! Um grande beijinho

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  4. Oi!

    Comprei este livro esta semana e estou desejosa por começar a lê-lo!

    Infelizmente, o tempo não tem sido muito e ainda tenho que acabar o Dexter is Delicious!

    See U Soon!

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  5. Uma crítica destas é, por si só, uma excelente obra literária! Muito bem feita, muito bem escrita, parabéns.
    O livro está na minha "mira" e foi surpreendentemente oportuno eu ter aqui chegado hoje, a conselho da sua amiga Inês.
    Este é, sem dúvida, um blog a seguir!

    Manuela

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  6. Este já cá canta, pena o falta de tempo para leituras!

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  7. Estou muito curioso ;) Será um dos muitos que irei comprar quando regressar a Portugal ;)

    Continua com o bom trabalho :)

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  8. Obrigado pelas vossas palavras, espero sempre que este blog seja uma inspiração para ler mais thrillers e policiais. Um grande beijinho a todos e mais uma vez, o meu muito obrigado :))

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  9. Olá, Vera.
    Acabei há pouco de ler este livro e achei-o fabuloso. Muito interessante, rico bem escrito.
    E saber que este é o primeiro livro deste autor... Que começo brilhante!
    Boas leituras!

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    1. Ainda bem que gostaste! De facto este livro é muito bom, eu também adorei :)

      Continuação de boas leituras! Beijinhos

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