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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

P.D. James - A Paciente Misteriosa [Opinião]


A minha estreia com a autora P.D. James revelou-se extremamente frutífera! Este é daqueles livros que, a partir da primeira frase, directamente revela o desfecho da personagem principal, Rhoda Gradwyn, sem qualquer rodeios. Estragará a surpresa perguntam vocês. Bem, penso que além de estar explícito na sinopse, queremos sobretudo saber as razões que motivaram tal destino para esta personagem.

Assim, a trama inicia-se quando esta decide procurar o cirurgião George Chandler-Powell a fim de remover uma cicatriz que tem na cara. O estranho é que Rhoda Gradwyn tem esta cicatriz há mais de 30 anos e só agora é que decidiu tomar esta atitude.
De facto, o esforço da autora na descrição desta personagem, revendo a sua história de vida, faz com que nos sintamos próximos da mesma. É-nos revelado sobretudo as maiores tragédias da vida de Rhoda Gradwyn, tendo originado aquela cicatriz. Embora Gradwyn tenha uma profissão um tanto ou pouco ingrata, descrevendo segredos obscuros de outrem, o que se chama de jornalismo cor de rosa dá alento a que esta personagem, seja um pouco detestada, alargando assim o leque de personagens com intenções de a matar. A personagem não tem grande estrutura familiar mas conta fundamentalmente com o apoio do seu amigo Robin Boyton.

À medida que a jornalista se sente mais confortável no solar, antes da operação, são descritas as personagens intervenientes do livro, e surge uma sensação de que todas escondem algum segredo. A autora, apresenta assim uma série de personagens, com uma participação mais ou menos directa no cenário e que tiveram contacto com Rhoda Gradwyn. E surge então a dúvida: terão os fazendeiros e ajudantes do cirurgião algum contacto prévio com Rhoda? Ou o crime terá sido meramente aleatório?

Decididamente este não é um livro com um nível desmesurado de acção, antes pelo contrário, é um livro bem misterioso que vai relatando a trama com um ritmo bem mais lento. No entanto, apresenta uma história interessante que faz lembrar as famigeradas aventuras de Poirot, em que a resolução dos crimes assentava essencialmente, em pressupostos de lógica. Também os detectives Kate Miskin e Adam Dalgliesh usam o interrogatório, corroborado pelos relatórios de autópsia, para chegar a revelações arrebatadoras não só sobre a morte de Rhoda bem como um outro evento que, surpreendentemente, se interpõe na trama. Ora vejamos, o que pensam vocês seguidores, quando Dalgliesh se reúne com a restante força policial na biblioteca para discutir os progressos do caso? Claramente Poirot, não vos parece?

Embora haja uma descrição até algo morosa sobre as forças policiais que protagonizam A Paciente Misteriosa, não deixei de reparar que esta é já a décima quarta aventura de uma saga levada a cabo pelo Adam Dalgliesh. Enquanto decorria a leitura, perguntava-me constantemente se não teria feito melhor se tivesse começado pelo primeiro livro. Talvez sim...embora tenha sentido empatia com estas personagens, e a sua descrição me permitisse conhece-las relativamente bem.
Embora conhecemos o desfecho de Dalgliesh com Emma, a sua noiva, questiono-me se não teria acompanhado o seu romance ao longo dos treze livros precursores a este. E sim, acho que seria interessante conhecer este lado mais pessoal e íntimo do detective, pois gosto de ver realçada toda uma componente mais humana dos investigadores face aos desenvolvimentos respeitantes ao crime propriamente dito.

P.D. James descreve com mestria toda a arquitectura e pormenores dos chalets, fazendo-me sonhar em deslocar-me às terras de sua majestade e eu própria passear naqueles jardins e pomares. E depois, o que haverá de tão misterioso e empolgante num agregado de pedra, onde outrora servia quase como um local de inquisição, tal era a quantidade de bruxas queimadas nesse local quase pré-histórico.

Com uma estrutura que subdivide a trama em cinco livros, em que o culminar de intriga aumenta de livro para livro.
Em geral, esta obra de P.D. James lê-se muito bem. Um desfecho que explica, pelas palavras do próprio assassino, toda a motivação dos crimes, complementando com pormenores, o que o leitor sabia de antemão sobre a investigação. E como os anglo-saxónicos nos têm já habituado, trata-se de uma investigação policial, em que os crimes são descritos de uma forma muito "polite", muito subtil, recorrendo a uma linguagem clara, simples e desprovida de conteúdos explícitos de violência. Claramente um romance policial que se adequa a qualquer público alvo, satisfazendo os fãs de Agatha Christie e Stephen Booth. Recomendo vivamente! Irei certamente acompanhar esta autora!

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