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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Paul Sussman - Oásis Escondido [Opinião]


Quem me conhece sabe que se há algo que me fascina ler, além de literatura policial e thriller, são narrativas referentes ao Antigo Egipto. Então um livro que abarque esta civilização e o mistério, torna-se imediatamente alvo da minha curiosidade. Oásis Escondido de Paul Sussman é claramente um exemplo e é o livro a que dedico este post.

2153 A.C.: Estamos no final do império antigo, no reinado de Pepi II. Alguns sacerdotes transportavam um objecto misterioso e ao chegar ao destino, são degolados. 1986 D.C.: um estranho acidente de avião vitima os tripulantes exceptuando um, cujo destino terá sido incerto. Egipto dos dias de hoje: Freya Hannan chega ao país para o funeral da sua irmã, que supostamente terá cometido suicídio.

Acho que para se apreciar devidamente este livro, o leitor terá que ter alguma afinidade com o Antigo Egipto, dadas as inúmeras referências sobre esta temática. Não é que o leitor se sinta perdido, o facto é que frequentemente surgem termos de natureza árabe ou palavras egípcias que são desmistificadas no glossário no final do livro. Ávida que sou por esta civilização, achei o glossário vago e muitas foram as vezes que recorri à internet ou a longos debates com o Ricardo, afim de pesquisar sobre um ou outro aspecto mencionado no livro. Este pormenor acabou por naturalmente atrasar a minha leitura, em contrapartida, foi fulcral para que aprendesse mais umas coisas sobre o Antigo Egipto.

O autor apresenta logo no início, um mapa do país, para que possamos percepcionar o cenário das diferentes acções, desde os vários oásis às cidades. Sim, diferentes acções, uma vez que Sussman descreve simultaneamente os subenredos em que de divide a trama. O aspecto que se torna mais confuso nesta estrutura, é o facto do autor relatar os acontecimentos diferentes no mesmo capítulo. Portanto cada capítulo pode tornar-se algo cansativo, de tanta informação que o leitor tem a reter.

O autor não enumera os capítulos, distinguindo-os por um hieróglifo, neste caso um pardal. Curiosamente este símbolo é um determinativo referente a algo maligno. Portanto coincidência ou não, enveredamos numa narrativa que mergulhará nas profundezas do mal. E de facto, faz sentido quando nos apercebemos qual a natureza dos objectos encontrados no oásis e determinaram a morte de Alex Hannen.
De facto existem passagens mais difíceis de digerir como as acções de um personagem verdadeiramente desprezável, Romani Gorgis, no início do livro. No entanto, esta é uma trama de fácil leitura embora cansativa não só devido ao já mencionado capítulo extenso com muita informação a reter como pela nomenclatura árabe de expressões e/ou personagens, as quais não estamos devidamente familiarizados.
Mas a trama teria que contar com dois fortes protagonistas: Freya e o egiptólogo Flin Brodie, que coitado, vê o seu estatuto profissional pouco valorizado por parte da personagem feminina. Em contrapartida esta foi muito sacana para a irmã e é precisamente a sua morte que provoca o remorso, a dor e a vontade de descobrir a verdade sobre ela.
Muitas outras personagens, uns egípcios que de início julguei ser meramente irrisórios, contudo, à medida que o enredo avançava, a importância que estas personagens tinham de facto, viria ao de cima.

Outro aspecto curioso que gostaria de destacar é que os hieróglifos abaixo do título significam realmente wehat seshtat que é, nada mais nada menos, Oásis Escondido.

A acção é inicialmente parada e difunde-se um pouco com as descrições de várias cidades actuais como o Cairo e Alexandria ou os vários oásis como Al-Dakhla.
Este facto não constitui um aspecto negativo, antes pelo contrário, nunca estive no Egipto e é muita a minha curiosidade sobre o país, de forma a que o livro desmistifica a vida quotidiana egípcia. Sabendo eu que o autor de facto viveu no país, tendo constituído uma equipa de escavação, acredito que tais descrições sejam reais.
Por isso, tal mítico país é apropriado para um thriller recheado de perseguições e segredos a desvendar: Freya irá embarcar numa viagem deveras alucinante em busca do Oásis perdido de Zerzura. Em relação a este, o autor inclui uma nota de autor, explicando devidamente o mito deste Oásis, que muito sinceramente desconhecia.
A simbologia é fulcral na trama e confunde-se com a maravilhosa mitologia do país, que creio que terá influenciado várias crenças por parte do povo egípcio. É portanto um livro que abarca géneros tão diferentes como a acção, o thriller, o dramático e a mitologia, sendo uma história riquíssima.

A tradução pode confundir inicialmente os fãs do Antigo Egipto como eu: afinal de contas a tradutora manteve as expressões originais (portanto, em inglês) dos nomes de divindades ou faraós. Na verdade tive um grande dilema para descobrir se a serpente Apep teria de facto esse nome ou se seria Apopis, e penso que tal dúvida seja apenas a nível de tradução e/ou nomenclaturas utilizadas pelos egiptólogos.
Um livro que recomendo, além dos fãs do thriller, aos aficionados por civilizações pré clássicas: Oásis Escondido é mais do que uma mera leitura de entretenimento ao estilo de Indiana Jones, é uma obra didáctica. E decididamente, é a forma mais económica em visitar o Egipto sem sair do seu sofá!
Ao recomendar este livro, resta um enorme pesar, uma vez que o autor faleceu em Maio deste ano, tendo deixado apenas quatro obras do domínio da ficção, as quais gostaria de ler em breve.







Mais informações sobre este livro aqui.

3 comentários:

  1. Eu sou fascinada pelo Antigo Egipto e quando vi no GoodReads que estavas a ler este livro adicionei-o logo à minha wishlist :)

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  2. Não sou muito amante de policiais, mas gostei muito do teu blog :)

    Já estou a seguir :)

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  3. Olá addle, eu também sou fascinada :D temos que trocar aí umas impressões. Sobre a temática, resta-me ler a Tetralogia da Pedra da Luz, que me parece ter uns laivos de "policial". Espero que consigas ler este!

    Olá Ines, eu espero que leias um ou outro policial e que troquemos muitas sugestões de leitura (volta e meia eu fujo do género). Obrigado, fico muito contente que gostes!

    Boas leituras às duas, um grande beijinho para vós

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