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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Pedro Garcia Rosado - A Cidade do Medo [Opinião]

A Cidade do Medo é o cartão de apresentação da colecção Não Matarás, uma colectânea de thrillers passados em Portugal, tendo como protagonista o inspector da Polícia Judiciária, Joel Franco. Todos os volumes desta colecção são escritos pelo autor Pedro Garcia Rosado e embora tenha conhecimento que o escritor conte com algumas obras antecessoras, esta foi a minha estreia.

É chamado de Sanitizador, aquele que limpa as ruas de Lisboa, eliminando vários sem abrigo. Mas os alvos dispersam-se sendo depois mortas prostitutas e até um estudante. O inspector da Polícia Judiciária Joel Franco é chamado a intervir num caso que parece relacionar Maçonaria, o Presidente da Câmara de Lisboa e um projecto da Ota.

É este o mote para uma trama deveras interessante. Não referenciei a totalidade da sinopse do livro contém pois acho que desvenda demasiada informação, atenuando o efeito surpresa contemplado na história.

Inicialmente há duas subtramas diferentes, uma passada no Brasil à cinco anos atrás que se cruza com a subtrama actual do Sanitizador. Os capítulos são muito pequenos não abordando mais do que a investigação da PJ, no lindíssimo cenário lisboeta e um pouco da vida pessoal de Joel Franco.
Cada capitulo é um dia de investigação, com o aparecimento de mais cadáveres e a forma como a PJ actua face aos homicídios. Antes de se iniciar cada dia, há um pequeno flashback sobre o enigmático William Alenquer, incidindo nas vivências da personagem no Brasil e posteriormente na Inglaterra e Portugal.

Nunca tendo lido nenhuma obra de Rosado, achei que o autor utiliza uma escrita fluída e envolvente com um registo intenso no que concerne à excelente caracterização dos homicídios na bela cidade de Lisboa. O romance policial que nos apresenta é de rápida e cativante leitura não só devido à veemência dos factos anteriormente mencionados, como a forma em que a trama se consegue aproximar da realidade.

Devo dizer que denotei uma certa analogia para o mundo real, nomeadamente com duas personagens: o Presidente da Câmara que outrora esteve encarregue de outros Ministérios e os media sensacionalistas representados pela jornalista Eunice Neves, encarregada pelo programa Crime Nosso de Cada Dia, bem à semelhança da rubrica "Crime Diz Ele" de Hernâni Carvalho. E é neste contexto que são exploradas temáticas até bastante actuais mas que não deixam de ser controversas, incidindo sobretudo no problema social dos sem abrigo e na corrupção no seio político.

As personagens são apresentadas com a maior simplicidade possível, cingindo-se mais ao papel da trama do que propriamente do seu carácter. Exceptuando claro, para Joel e para o homem que encarna o Sanitizador.
Joel é aquele inspector aparentemente bem resolvido com ele próprio, partilhando a casa com a namorada Lia e a cadelinha Alice. Mas eis que há um senão: ele tem um trauma de infância, brevemente narrado logo no início do livro. Contudo não é em A Cidade do Medo que este será devidamente deslindado, querendo-me parecer que o autor se irá debruçar sobre este num livro posterior.

Sendo esta uma acção que tem lugar em Lisboa, constatei que a cidade é um excelente cenário de um policial. Foi portanto com muita familiaridade que percorri com Joel Franco as várias ruas da baixa pombalina, incluindo a minha esplanada favorita, o café Martinho da Arcada, a avenida 24 de Julho ou Campo de Ourique em busca deste homem perturbado.

Em suma, A Cidade do Medo é um livro intenso e que inicia uma colecção promissora no mundo da literatura policial lusófona. Não Matarás será doravante uma colecção que irei acompanhar e em breve irei ler Vermelho da Cor do Sangue e Triângulo, este último lançado esta segunda feira.
Pedro Garcia Rosado é a prova que se faz boa ficção policial em Portugal. Recomendo!


3 comentários:

  1. Também gostei bastante deste. E encontrei-o por mero acaso, mal arrumado numa Bertrand. O "Vermelho da Cor do Sangue" e o "Triângulo" ainda não li, mas tenho curiosidade.

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  2. Verinha, adivinha quem vai escrever uma adaptação disto?

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  3. Não sei... ainda não ouvi nada sobre isso? Quem é Joel?

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