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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

John Katzenbach - O Psicanalista [Opinião]

Terminei ontem este livro brilhante que me cativou verdadeiramente de uma forma que poucos o fizeram. E passo desde já a explicar porquê neste post.

No seu 53º aniversário, o psicanalista Frederick Starks recebe uma missiva: se em duas semanas, este não adivinhar a identidade de Rumplestiltskin, um a um, dos seus entes queridos familiares morre e no limite, Ricky é obrigado a cometer suicídio. Ricky é obrigado então, a incorrer numa verdadeira luta contra o tempo e rever o seu passado para se manter vivo neste jogo macabro.

Este é o mote de um livro com um rápido arranque que desde cedo desperta curiosidade e ânsia em percorrer as várias páginas do livro. E mais, este é de facto, um livro extremamente inteligente. Desde os enigmas que Rumplestiltskin lança a Ricky mesmo na fantástica tradução para português (e com isto congratulo a Editora Esfera dos Livros, que manteve o texto em verso, não perdendo contudo, a essência da mensagem que Rumplestiltskin quis transmitir). E desta forma, toda a acção tem um encadeamento muito inesperado, ágil, cheio de acção e muitas, mas muitas reviravoltas e como não podia deixar de ser, muito enigmático.

Ricky, o nosso protagonista, conhece melhor que ninguém todos os mecanismos complexos da mente humana, tais eram os incontáveis pacientes que se deitavam no divã diante si, terá ele próprio que lidar com a pressão e a destruição faseada da sua própria vida. Um personagem que sem dúvida, alcança uma brilhante evolução e à medida que o jogo avança. ele próprio confude-se quase como um vilão, ripostando contra Rumplestiltskin. E este é sem dúvida, um dos melhores vilões que encontrei na literatura: extremamente inteligente, vingativo, complexo. As provações a que submete Ricky assim o demonstram. 
E mais, é desafiante descodificar as mensagens de texto que Rumplestiltskin deixa, associando-as à realidade num requintado registo freudiano. E claro, uma personagem tão forte como ele (e de nome tão simbólico, uma vez que Rumplestiltskin é uma personagem criada pelos irmãos Grimm nos seus famigerados contos) cuja identidade deixará o leitor simplesmente rendido.
A trama conta ainda com uma participação activa de Merlin e Virgil, aliados de Rumplestiltskin, cujas motivações serão também um enigma.

Se por um lado, a história assenta numa base psicológica muito intensa, então diria que esta entrelaça-se sobretudo no poder da vingança, que pode ser, em alguns casos, verdadeiramente exacerbado, acarretando consequências que poderão mudar todo o rumo de uma vida. E ao falar de sentimentos tão fortes, muita da história assenta na base da psicanálise, um dos ramos da psicologia, uma ciência que acho deveras interessante.

Por isso, o autor insiste muito em pormenores, detalhes estes que se focam muito em sentimentos. E conseguimos sentir o pânico, a confusão e moldagem da personalidade de Ricky face aos desafios de Rumplestiltskin, trespassando talvez este turbilhão de emoções para o leitor que avidamente lê página após página, de forma a responder às mesmas perguntas que são colocadas a Ricky.

O único senão que encontro é o facto de O Psicanalista ser um livro de capa dura, com o tamanho standard, não sendo muito fácil de transportar para quem, como eu, lê muito fora de casa. E por experiência própria, quem opta por ler este em casa e um outro no exterior, o Psicanalista, história desafiante como é, leva a sua avante, e torna-se a leitura número 1.

Com isto, gostaria que sublinhar que John Katzenbach é um grande contador de histórias. O autor acaba de ter mais um livro publicado em português, com o nome O Professor, sob a chancela da editora Edições Esgotadas, o qual muito me desperta vontade em ler.

Em suma, O Psicanalista é um excelente thriller que junta a acção de uma história intrincada aos já complexos mecanismos da psicologia e comportamentos humanos num plano literalmente perverso. Um livro que recomendo. Decididamente, um dos melhores e mais desafiantes que li em 2012.



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Sophie Hannah - Intimidade Perigosa [Opinião]

Intimidade Perigosa é o segundo livro publicado em português da britânica Sophie Hannah. Sucede a O Pesadelo de Alice, que tive oportunidade de ler à uns anos (ainda o blog não existia), tendo sido uma leitura até bastante agradável no que concerne ao género de thriller psicológico.

Intimidade Perigosa é a história de Naomi Jenkins. Ela tem como actividade profissional, a criação de relógios de sol mas no campo pessoal é menos sucedida. Afinal de contas, Naomi tem um amante, Robert Haworth, um homem casado que se encontra com ela apenas às quintas feiras, três horas.
Uma certa quinta feira, Robert não aparece e Naomi fica apoquentada, recorrendo à polícia, dizendo que algo de mal aconteceu ao amante. Afinal de contas, na pior das hipóteses, este terá sido morto... pela própria mulher.

Este é um típico pesado thriller psicológico, onde é debatido uma temática difícil de digerir: a violação. E se por si, a violação já é algo traumático, a autora intensifica o acontecimento com pormenores macabros quase como a tão conhecida cena do filme Eyes Wide Shut, focando-se em violações em grupo, homens com mascarilha, cenários incomuns. E como dar um toque ainda mais dramático? Através da dupla narração do livro, em que há um narrador directamente participante, a própria da Naomi, em contraponto com um narrador na terceira pessoa.
Mas Intimidade Perigosa vai além disso. É uma verdadeira reflexão sobre as várias relações humanas e a dissecação da complexidade das mesmas.

Particularmente gostei da história mas a autora prende-se com pormenores que pouco adiantam ao enredo, explicando as extensas 400 e poucas páginas do romance psicológico. Salvam-se as constantes reviravoltas e a brilhante caracterização das personagens, embora claramente Naomi não tenha um perfil de quem tenha sido violada. É demasiado forte e resiliente face ao meio que se encontra, o que se torna invulgar. 
Logo por aí desconfio. Aliás, não seja este um thriller psicológico, onde cada segredo é dissecado com algumas revelações surpreendentes à mistura num timing adequado. 

Devo confessar que o primeiro contacto que tive com este livro não foi o melhor. Achei o início do livro demasiado parado e só após algumas recomendações é que voltei a insistir no mesmo.
Embora tenha achado que o livro tem muitos momentos mortos, não desgostei da história de todo. É uma história com potencial e tem todos os ingredientes necessários para que o leitor se deixe levar, nomeadamente mistério e revelações surpreendentes. E claro, a carga emocional das personagens. Afinal de contas, estamos assombrados com algumas dúvidas: estará Naomi a mentir? O que terá de facto acontecido a Robert? E porque Juliet, a esposa de Robert, conhece tão bem Naomi se ninguém sabia do caso? E todas as pontas soltas são explicadas num desfecho lógico. Sim, lógico. Não diria surpreendente pois à medida que a narrativa toma forma, é quase expectável o que acontece nas páginas finais do livro.

Por ter lido o romance anterior da autora à uns tempos, também não me recordo exactamente se tem algum fio condutor, nomeadamente nas personagens das entidades policiais. No Goodreads, Intimidade Perigosa é catalogado como o segundo da saga Spilling CID, o que remete para a grande probabilidade de haver um encadeamento (pelo menos das personagens).
É certo que a autora elabora um grande perfil, com grande foco em Charlie Zalier. Esta mostra uma preocupação desmesurada com Olivia, a sua irmã, sentimento que terá quase certamente explicação em O Pesadelo de Alice.
Ainda assim, as histórias são perfeitamente independentes, podendo-se ler Intimidade Perigosa sem se ter lido previamente O Pesadelo de Alice.

Para me certificar se gosto realmente da autora precisaria possivelmente de ler um terceiro livro da autora, o que infelizmente, penso que não será possível, pelo menos a curto prazo. É que Sophie Hannah é mais uma das publicadas pela extinta GÓTICA e até à data desconheço se as actuais editoras apostarão na autora.
Apesar de não me ter enchido as medidas por completo, Intimidade Perigosa é um livro interessante que recomendo aos fãs do género.

Van Curtt - Tabuleiro [Divulgação de autor]

Do Brasil, vem este thriller psicológico que me parece ser extremamente interessante... ora espreitem lá a sinopse. Fico à espera que seja publicado em Portugal.

Sinopse: Denso, ágil, profundo e ético, o Tabuleiro é um thriller psicológico muito além da criminologia: também é uma fábula romântica. Óbvio acusar um cidadão albino, adotivo e disposto ao suicídio de ter assassinado uma mulher que o chacoteou, ainda pelo encontrar de uma luva idêntica a que ele calçava quando clicado por uma jornalista, enquanto discutia com a vítima. Mas, e sobre aquela que ele dizia ter apreço? Sua primeira confidente fora encontrada sem os globos oculares, acompanhada por outro cadáver masculino, enunciando sua autoria. A mídia não dizia tudo sobre os atos, e os submissos da imprensa se dividiam em dois grupos pelo período eleitoral: os que acusavam o governo de descaso, e outros que apoiavam a reeleição de Hermes com matérias floreadas, mas a ABIN ainda exigia explicações. Quando o jornalista da CN se une a estatística de nove assassinados no Tabuleiro, trás consigo a evidência de uma rede de conspiração política, que pode mudar o rumo da corrida à prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Resta agora, apenas o êxtase pela vitória e o desejo de manter-se vivo. 

Podem ler o primeiro capítulo aqui.
 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Lisa Gardner - Minha Até à Morte [Opinião]

Ter lido Diz Adeus de Lisa Gardner no mês passado deu-me a certeza que iria continuar a ler as restantes obras da autora. Desta forma, foi com muitas expectativas que escolhi Minha Até à Morte, o primeiro da saga protagonizada pelo agente especial do FBI Pierce Quincy e Rainie Connor, uma agente da polícia.

Tess é muito jovem quando se casa com o polícia Jim Beckett, descobrindo que este é na realidade um controlador, maníaco, abusivo, psicopata (só qualidades, portanto!). Mas esta é uma faceta que apenas Tess conhece, sendo um policia socialmente bem aceite na comunidade onde vive. Mas Tess consegue denunciar o role de abusos e Jim é preso. Quatro anos depois, consegue evadir-se da prisão, com um enorme desejo de vingança. É então que Tess, sob uma entidade falsa, pede ajuda a um ex mercenário solitário, J.T. Este tem vários problemas associados ao álcool que derivam da sua condição social e da vida quase eremita que este leva.

Esta é, à semelhança de Diz Adeus e O Vizinho, uma história extremamente envolvente. A autora prima pela descrição dura dos vários maus tratos a que Tess é submetida, ultrapassando a barreira da ficção/realidade. Afinal de contas, Jim é uma personagem deveras bem caracterizada e acima de tudo credível, pois infelizmente violência doméstica é uma temática controversa mas até frequente na sociedade actual.

Apesar de suscitar uma história de amor entre uma personagem tão fragilizada como Tess e outra tão carente e isolada como J.T., a relação remete sobretudo para a aprendizagem da confiança e da auto estima que tão bem é retratada ao percorrer as páginas do livro. Contudo, esta relação é igualmente munida por uma carga sexual e uma sensualidade muito fincadas. Existem algumas passagens mais sexuais, que talvez se enquadram mais num género de romance sensual, subtilmente narradas, dentro de uma voluptuosidade que eu própria desconhecia da autora. Afinal de contas, O Vizinho e Diz Adeus, são livros que integralmente pertencem ao género de thriller.
A par, J.T. tenta estabelecer laços mais fortes com a sua irmã. Estes estão fragilizados devido a fantasmas do passado e que, a pouco e pouco, voltam para desorientar Marion. Daí que este livro tenha uma carga emocional particularmente forte, debatendo não só questões do foro romântico como fraternal.

Apesar de ser, como já referi anteriormente, o primeiro livro da saga de Rainie & Quincy, a primeira personagem não participa no livro. Sei de antemão que irá relacionar-se com Quincy num livro posterior. Resta-me portanto ler o resto da saga e os livros de Lisa Gardner estão todos na estante a aguardar a sua vez, que será para breve. 
Já Quincy tem um papel muito ligeiro na investigação e na caça ao homem a Jim Beckett. Afinal de contas, passa a ser este o enfoque de toda a acção, tendo como pano de fundo os planos e o treino a que se submete Tess para se defender do ex-marido. Portanto, em relação ao enredo, achei-o bastante simples e até algo básico. A envolvência da história dá-se através da forma como são apresentadas as personagens bem como os sentimentos que elas transmitem ao leitor. E claro, à adrenalina que se faz sentir através da sede de vingança de Jim e o sentimento de posse não só em relação a Tess mas sobretudo para com a filha de ambos, Samantha. E claro, tal sentimento tão poderoso vem provocar um número de homicídios, que não sendo propriamente dentro do chocante, as suas descrições estão dignas e repletas de emoções fortes.

Inquestionavelmente Lisa Gardner tornou-se uma das minhas autoras de eleição, prometendo tramas bem arquitectadas e emocionantes, fazendo com que cada livro seja um momento de leitura compulsiva e impressionante. Minha até à Morte está longe de ser o meu favorito da autora (e tendo em conta que com este livro, perfazem três os que li de Gardner), mas que, por tudo que anteriormente referi, proporcionou um bom momento de leitura. Gostei e recomendo!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

John Katzenbach - O Professor [Divulgação Editorial Edições Esgotadas]

Sob a chancela das Edições Esgotadas, o Professor promete ser um excelente thriller.

Sinopse:
O Professor é o último bestseller de um dos maiores escritores de suspense da atualidade, John Katzenbach, autor que conta, no seu currículo, com quase 1 milhão de livros vendidos em todo o mundo. Passado numa pequena cidade universitária a oeste de Massachusetts, o impressionante e emocionante thriller de John Katzenbach - O Professor - aborda temas como a demência, as angústias dos adolescentes, as redes de pedofilia, a perversidade sexual e o voyeurismo na Internet. Depois de receber um diagnóstico de demência degenerativa, uma sentença de morte lenta, mas inevitável, Adrian Thomas, um professor reformado de psicologia, testemunha o rapto de uma jovem de 16 anos.

Conheçam a página do Facebook alusiva a este livro aqui.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Spencer Quinn - O Estranho Caso da Rapariga Raptada [Opinião]

É inovadora a forma como Spencer Quinn narra aquela que é a minha estreia nas obras do autor. Afinal de contas, esta história é narrada por um cão, Chet, companheiro do detective privado Bernie Little. O Estranho Caso da Rapariga Raptada é a primeira aventura da série e conta a história da investigação de Bernie e Chet do desaparecimento de Madison, uma jovem aparentemente não problemática.

Sendo narrada por Chet, é abordada uma série de comportamentos caninos. Até porque roubar um pedaço de comida é normal bem como alçar a perna para fazer xixi nos mais diversos locais... e é com base nestas pequenas reflexões que o texto se enriquece de humor. São de facto hilariantes as considerações sobre os vários comportamentos caninos, que Chet facilmente apresenta, distinguindo a raça humana dos demais animais, menos complexos mas igualmente inteligentes e instintivos.
Contudo, as passagens em que Chet ou Bernie estão efectivamente em perigo, prendem-se mais com o suspense propriamente dito. Este factor é potenciado pela presença da máfia russa e dos actos a que se propõem para alcançar um determinado objectivo.
E claro, o próprio desaparecimento da rapariga representa o mistério, que subtilmente se adensa até ao final.
Evidentemente que o leitor está consciencializado que tanto Chet como Bernie sobrevivem em qualquer situação mais arriscada, afinal de contas este é o primeiro livro da série.

Não querendo subestimar o papel de um animal, foi bem conseguida a forma como o autor relaciona Chet a Bernie. Como tal, tanto o cão como o detective deparam-se com várias provações demonstrando o laço afectivo que caracteriza a relação entre cão e dono. Daí que achei extremamente bem conseguida a personagem de Bernie, enfatizando a dedicação para com Chet. E em relação a este, bem... as suas observações são mordazes mas que fazem todo o sentido tendo em consideração os instintos caninos. É portanto um livro, cujo narrador tem uma relação deveras empática para com o leitor, sentimento este que abrange o próprio do Bernie muito devido à já referida relação entre ambos.

Em relação à história, esta é relativamente simples, com algum mistério é certo, mas cedo se avizinha o possível destino de Madison dadas as conjunturas das personagens. Esta trama mais rapidamente se adequa num género de aventura do que propriamente um policial, não deixando de oferecer, como já anteriormente referi, a sua dose de mistério e acção.

Original e divertido, O Estranho Caso da Rapariga Raptada adequa-se perfeitamente para quem busca uma leitura rápida mas descontraída, ainda que dentro do género de um policial mais leve. Sobretudo aos amantes dos animais, adoptantes de cães ou não, irão render-se à astúcia e dedicação de Chet. É uma história típica do cão Rex ou do nosso português Max inserida contudo, num contexto mais espirituoso.
Fico curiosa em ler o restante da série.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Dean Koontz - O Marido [Opinião]

Dean Koontz é um autor muito falado hoje em dia devido à sua saga sobre Frankenstein. Embora tenha lido o primeiro livro da trilogia, gostei mas para ser sincera, o género não me fascina. Com O Marido, o autor foge do género da fantasia e incorre num thriller cheio de adrenalina que se lê num ápice. Eu por exemplo li este livro avidamente em duas tardes.

Um dos aspectos que me chamou a atenção foi a iniciativa da (extinta) editora, HF Books: os custos do livro revertiam a favor da Associação Sol. Com muita pena, não pude contribuir para este gesto tão solidário, pois este livro veio com um outro do autor, Contra o Tempo, num pack modestamente barato.

Ora posto isto, vamos então o que interessa: a capa engana sobre o conteúdo do livro, aparentando ser um romance. Estamos muito longe disso. Este é um bom thriller, onde nada é o que parece.
A única coisa que temos garantida é a forma como Mitch, um modesto jardineiro de poucos recursos, ama Holly e o que ele irá fazer quando a esposa é raptada e lhe é pedido um resgate de um valor exorbitante. Claro que Mitch não dispõe dessa quantia e fará de tudo para salvar Holly, até por a sua própria vida em risco.

Aquilo que poderia à partida ser uma história simples, sobre um rapto, complica-se quando a pouco e pouco vamos descobrindo as motivações, o que desencadeiam em várias mortes. Portanto é um livro com muita acção, muito mistério e pouquíssimos são os momentos parados. Posso dizer que a história tem uma única reviravolta, que condiciona tudo o que vem a seguir. De facto, inicialmente o autor mantem-nos na ignorância sobre este urdido rapto quando desvenda subitamente quem magistrou o plano. E aí é ler página, após página compulsivamente!

Embora seja a favor de finais felizes, este livro claramente estaria à altura de um final mais adequado pois é subtilmente sugerido que apesar de umas quantas contraordenações e outras acções desrespeituosas à lei, é possível sair-se imune. E claro, ainda que seja ficção, obviamente que não concordo.

Uma trama repleta de adrenalina cujas ilações se resumem essencialmente ao poder do amor. Esta trama dará que pensar sobretudo na forma como um ambiente disfuncional é preponderante na formação de um indivíduo, não sendo este o único factor para desvios mentais. Adorei este livro e recomendo. Dean Koontz veio mostrar-se pertinente na escrita de bons thrillers emocionantes e anseio ler mais três que tenho cá nas estantes: Contra O Tempo, Intensidade e O Olhar Oblíquo do Mal. Irei lê-los quanto antes, é certo!
Atenção fãs de Harlan Coben, encontrarão em Dean Koontz a adrenalina que vos encherá as medidas!

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Marcello Simoni - O Mercador de Livros Malditos [Divulgação Editorial Clube do Autor]


Sinopse: O Mercador de Livros Malditos é uma história envolvente, marcada por intrigas, segredos ocultos durante séculos e mistérios que vão para lá do conhecimento de sábios e de alquimistas.
Ao longo das suas páginas o leitor viaja por Itália, França e Espanha no rasto do Uter Ventorum, um livro raro, desmembrado em quatro partes e protegido por intrincados enigmas que, uma vez resolvidos, permitem evocar os anjos e a sua divina sabedoria.
Armaros ensinou-lhes os feitiços; Temel, a astrologia; Kobabel, a leitura dos astros; Amezarak, as virtudes das raízes. E leva-o a questionar-se o que há de verdade, lenda, mitologia e superstição nas diferentes teorias sobre os anjos, a ousar possuir as suas capacidades, a procurar resolver as mensagens codificadas que completam o livro sagrado, a mergulhar em pleno ano de 1218 e a querer dividir com Ignazio de Toledo esta fantástica aventura medieval.

Nas livrarias a 13 de Setembro.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Don Winslow - Selvagens [Opinião]

Selvagens de Don Winslow é o novíssimo livro a integrar a colecção Alta Tensão da Porto Editora. A sua adaptação cinematográfica estreia agora dia 6 de Setembro nas salas de cinema portuguesas.

Mais uma vez o livro alia-se ao marketing alusivo ao filme e "veste" a capa com o cartaz do mesmo. Apesar de ser grande fã do actor Benicio Del Toro, e consequentemente estar satisfeita que este esteja presente na capa, não posso deixar de confessar que, ao tirar a sobrecapa, encontrei uma muito mais apelativa!

Esta foi a minha estreia nos romances de Don Winslow e se há algo que estes devem ter é realismo. Winslow foi um detective e há de ter astúcia e conhecimento sobre o submundo do tráfico de droga. Daí que esta trama, embora fictícia, poderá ser similar à realidade que circunscrita o mundo dos cartéis de droga, onde impera a ilegalidade e imoralidade.

A trama gira sobre as personagens Ben e Chon, dois amigos que dirigem um negócio de plantação de marijuana, e Ophelia, mais conhecida por O, amante dos dois. Dada a rentabilidade deste negócio, Ben e Chon são chantageados pelo Cartel de droga de Baja, o núcleo do narcotráfico mexicano e para os pressionar, os responsáveis do Cartel raptam O. Caberá aos amigos a decisão de ceder à chantagem resgatar O ou pagar vinte milhões de dólares.

Embora me dedique à leitura de policiais mais convencionais estou consciente que a gama deste estilo ainda é extensa e vai desde as tramas com investigações criminais, até às de conspiração, não deixando de abordar aquelas que são mais originais incidindo em temáticas de substâncias ilícitas que culminam nos mais vários crimes, desde a rapto até à agravante de homicídio.
É precisamente sobre esta última a que o livro se insere.

Penso que a apresentação das personagens está um pouco confusa, desrespeitando qualquer linha cronológica. O autor menciona episódios aleatórios, incidindo sobre aqueles em que as personagens tiveram uma prestação pouco ética. Diga-se episódios relacionados maioritariamente com sexo, experiências com droga ou relações com os demais.
Uma dos assuntos que o autor explora é a relação de O com a mãe, fora dos contornos usuais. Para terem uma noção, a senhora tem uma alcunha, Paqu (cujo sinónimo podeis encontrar no livro) e tem uma relação distante com a filha, assimilando-se a uma relação de amigas talvez na idade da adolescência. A própria da O também é uma personagem invulgar. Ninfomaníaca e viciada em compras, nutre um amor muito próprio por Chon e por Ben, apoiando a ideia de promiscuidade, ainda que dentro de um triângulo amoroso.

Em relação a Ben (ambientalista) e a Chon (ex marcenário), dois personagens de carácter quase oposto, têm como paixão a menina O, bem como as suas plantinhas.
Penso que neste ponto o autor esteve muito bem, pois capta a essência de personagens que enveredam pela toxicodependência, embora de um modo pouco assumido (acima de tudo estas dedicam-se à plantação de marijuana, consumindo de vez em quando pois claro, para efeitos de teste do produto).
Por outro lado, para melhor descrever a atitude destas, a narrativa torna-se muito morosa, sendo que começa a surtir efeitos mais emocionantes lá para a página 120 (altura em que O é raptada).

Se existe uma abordagem a temas tão polémicos, o autor adaptou a linguagem para tal. Há um sobre-uso de calão, aliado a um humor negro ou uma ironia muito acentuada, que se reflectem nos episódios sarcásticos sobre a sociedade americana (achei brilhante a forma como o autor encara talkshows como o da Oprah, Ellen deGeneres ou Dr Phil).
Posto isto, há quem se possa sentir desconfortável pelo teor descrito em certas passagens. Quase que me sinto à vontade para dar um requisito fundamental para esta leitura: seja open-minded e não censure as sensações do amor livre entre Chon, Ben e O sob o efeito de drogas ou não.

No entanto os capítulos são muito pequenos, e para dar o exemplo, o primeiro é apenas uma frase. Há desta forma uma dicotomia: a dificuldade em assimilar a temática e a rudeza da linguagem face à facilidade de leitura dado a extensão dos capítulos.

Em suma, Selvagens é uma trama que recomendo aos amantes de temáticas pesadas. É um livro, acima de tudo diferente.
Apesar de Selvagens não se inserir no meu género favorito, não posso deixar de reconhecer o talento do autor face à escrita e a produção de uma trama obscura dentro de um mote até bastante simples. No entanto, estou curiosa em saber como Oliver Stone adaptou este enredo à tela cinematográfica.



terça-feira, 4 de setembro de 2012

Eric Giacometti & Jacques Ravenne - O Ritual da Sombra [Divulgação Editorial Publicações Europa América]

Título: O Ritual da Sombra
Autores: Eric Giacometti, Jacques Ravenne
Colecção: Contemporânea
Preço: 20.90€
Pp.: 384

Um thriller cheio de suspense que introduz os leitores nos meandros da maçonaria e estabelece um paralelo histórico com as mais modernas investigações.

Roma. Um arquivista do Grande Oriente é assassinado na altura de uma festa na embaixada francesa, cumprindo um ritual que evoca a morte de Hiram, o lendário fundador da Maçonaria.
Em Jerusalém, um arqueólogo que tem na sua posse uma enigmática pedra gravada tem uma morte semelhante.
O comissário Antoine Marcas, mestre mação, e a sua parceira, Jade Zewinski, são confrontados com assassinos de uma irmandade nazi, a Sociedade Thule, oponente ancestral da Maçonaria.
Sessenta anos após a queda do Terceiro Reich, os arquivos dos mações, que haviam sido roubados pelos alemães em 1940, continuam a fazer o sangue correr…
Mas que segredo intemporal estará escondido entre aquelas folhas amarelecidas?

«[…] uma eficácia incontestável e um perfume de autenticidade […]» Hubert Prolongeau — Première

Livro já publicado em França, Inglaterra, Bulgária, República Checa, Dinamarca, Alemanhã, Hungria, Itália, Holanda, Noruega, Portugal, Espanha, Rússia, Polónia, Turquia, Brasil e Japão.


domingo, 2 de setembro de 2012

John Bingham - Casamentos e Infidelidades [Opinião]

Casamentos e Infidelidades é um clássico policial de John Bingham que data de 1953.
Tendo a capa alusiva ao filme baseado na obra homónima, não creio que tenha sido a escolha mais correcta, uma vez que à primeira vista, ninguém associa este livro como pertencente à já nossa conhecida colecção O Fio da Navalha da Editorial Presença.

Com passagens narradas por Peter Harding, esta é a história do seu melhor amigo Philip Bartels.
Casado com Beatrice, Philip apaixona-se por Lorna Dickinson, uma mulher mais nova e vibrante. Mas Philip está com um dilema: ele não quer deixar a mulher nem tão pouco dar-lhe um desgosto. Depressa pensamentos sombrios assaltam a sua cabeça e Philip pensa em assassinar a sua esposa.
Mas Philip apresenta Lorna ao seu melhor amigo e este apaixona-se por ela, criando um outro dilema: impedir que Bartel siga avante com o seu plano, de forma a ficar com a esposa e Peter com Lorna.

Este é um clássico, como tal não esperem grandes passagens violentas ou grafismo. A história gira em torno do planeamento da morte de Beatrice por envenenamento. Apenas isto. Daí que seja um policial, embora de leitura exigente, mas extensível a todos os públicos. E exigente porquê? A escrita de Bingham é aprimorada, e penso que seria assim nos anos 50, com grandes descrições e reparem que o livro tem pouco menos de 190 páginas. Dados estes pormenores, a acção tem um ritmo mais vagaroso.
Há todo um retrato da sociedade dos anos 50, que se debruça essencialmente sobre o jogo de aparências dentro de um matrimónio. Um outro aspecto que denotei curioso é a moda do fumar, como uma forma social de estar, que caiu em detrimento na literatura actual, face aos já conhecidos malefícios do tabaco.

Premeditação de um crime é um acto vil, em Portugal com pena agravada face a um crime a queima roupa. Planear, limpar as provas, não deixar testemunhas e no fim executar, há que ter estômago, convém dizer. E é nisto que pensa Bartels. De facto ele vive obcecado com a ideia, afim de poder partilhar a sua vida com Lorna, sem terceiros.
Esta história é em parte narrada por Peter, mas também, noutras passagens, narrada pela terceira pessoa. Daí que haja uma caracterização mais directa do protagonista, por parte do seu melhor amigo mas grande parte do perfil psicológico da personagem é deduzido pelo leitor, com base no que é exposto sobre Bartels. E devo dizer que esta é uma personagem bastante sombria. Embora com intenções tão abomináveis, a personagem mostra um lado mais consciencioso, mostrando-o através de várias páginas com inúmeras e extensas suposições e remorsos face ao seu plano. Estas, no entanto, conseguem ser um pouco maçudas e em nada acrescentam à trama a não ser a estranha psicose pelos detalhes ou pormenores de cariz mais mórbido.
De igual forma, achei muito simplista a forma como ele diz amar Lorna, sem o demonstrar devidamente. Desconheço que será apenas frieza, característica da época.
Mas a história, embora de trama aparentemente linear, é constituída por quatro personagens principais e embora dado o número reduzido de intervenientes, é complexa a teia de relação entre os mesmos, justificando a tradução portuguesa do título da obra.

Terminei a leitura deste livro na noite de sexta feira e aproveitando o fim de semana que se avizinhava, aproveitei para ver o filme baseado no livro. Fiquei muito desiludida. Embora a maior parte seja fiel à obra, alteraram por completo o desfecho e muito sinceramente, o final do livro é muito mais surpreendente do que o filme. Mais uma vez, recomendo o livro ao invés da sua adaptação cinematográfica.

Em suma, Casamentos e Infidelidades é um conto pequeno com um grande revivalismo dos anos 50, excelente para uma tarde de ócio. É uma profunda reflexão sobre os complexos comportamentos humanos perante as relações amorosas. Gostei!