Páginas

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

John Katzenbach - O Psicanalista [Opinião]

Terminei ontem este livro brilhante que me cativou verdadeiramente de uma forma que poucos o fizeram. E passo desde já a explicar porquê neste post.

No seu 53º aniversário, o psicanalista Frederick Starks recebe uma missiva: se em duas semanas, este não adivinhar a identidade de Rumplestiltskin, um a um, dos seus entes queridos familiares morre e no limite, Ricky é obrigado a cometer suicídio. Ricky é obrigado então, a incorrer numa verdadeira luta contra o tempo e rever o seu passado para se manter vivo neste jogo macabro.

Este é o mote de um livro com um rápido arranque que desde cedo desperta curiosidade e ânsia em percorrer as várias páginas do livro. E mais, este é de facto, um livro extremamente inteligente. Desde os enigmas que Rumplestiltskin lança a Ricky mesmo na fantástica tradução para português (e com isto congratulo a Editora Esfera dos Livros, que manteve o texto em verso, não perdendo contudo, a essência da mensagem que Rumplestiltskin quis transmitir). E desta forma, toda a acção tem um encadeamento muito inesperado, ágil, cheio de acção e muitas, mas muitas reviravoltas e como não podia deixar de ser, muito enigmático.

Ricky, o nosso protagonista, conhece melhor que ninguém todos os mecanismos complexos da mente humana, tais eram os incontáveis pacientes que se deitavam no divã diante si, terá ele próprio que lidar com a pressão e a destruição faseada da sua própria vida. Um personagem que sem dúvida, alcança uma brilhante evolução e à medida que o jogo avança. ele próprio confude-se quase como um vilão, ripostando contra Rumplestiltskin. E este é sem dúvida, um dos melhores vilões que encontrei na literatura: extremamente inteligente, vingativo, complexo. As provações a que submete Ricky assim o demonstram. 
E mais, é desafiante descodificar as mensagens de texto que Rumplestiltskin deixa, associando-as à realidade num requintado registo freudiano. E claro, uma personagem tão forte como ele (e de nome tão simbólico, uma vez que Rumplestiltskin é uma personagem criada pelos irmãos Grimm nos seus famigerados contos) cuja identidade deixará o leitor simplesmente rendido.
A trama conta ainda com uma participação activa de Merlin e Virgil, aliados de Rumplestiltskin, cujas motivações serão também um enigma.

Se por um lado, a história assenta numa base psicológica muito intensa, então diria que esta entrelaça-se sobretudo no poder da vingança, que pode ser, em alguns casos, verdadeiramente exacerbado, acarretando consequências que poderão mudar todo o rumo de uma vida. E ao falar de sentimentos tão fortes, muita da história assenta na base da psicanálise, um dos ramos da psicologia, uma ciência que acho deveras interessante.

Por isso, o autor insiste muito em pormenores, detalhes estes que se focam muito em sentimentos. E conseguimos sentir o pânico, a confusão e moldagem da personalidade de Ricky face aos desafios de Rumplestiltskin, trespassando talvez este turbilhão de emoções para o leitor que avidamente lê página após página, de forma a responder às mesmas perguntas que são colocadas a Ricky.

O único senão que encontro é o facto de O Psicanalista ser um livro de capa dura, com o tamanho standard, não sendo muito fácil de transportar para quem, como eu, lê muito fora de casa. E por experiência própria, quem opta por ler este em casa e um outro no exterior, o Psicanalista, história desafiante como é, leva a sua avante, e torna-se a leitura número 1.

Com isto, gostaria que sublinhar que John Katzenbach é um grande contador de histórias. O autor acaba de ter mais um livro publicado em português, com o nome O Professor, sob a chancela da editora Edições Esgotadas, o qual muito me desperta vontade em ler.

Em suma, O Psicanalista é um excelente thriller que junta a acção de uma história intrincada aos já complexos mecanismos da psicologia e comportamentos humanos num plano literalmente perverso. Um livro que recomendo. Decididamente, um dos melhores e mais desafiantes que li em 2012.



4 comentários:

  1. É Katzenbach e nao Katzenberg :) Na lista das leituras e nas etiquetas está bem, no post está errado.

    ResponderEliminar
  2. Olá Vera: se vc soubesse o quanto é maravilhoso ler suas resenhas, fechar os olhos e imaginar o enredo - seus textos são dignos de roteiristas de filmes! Compro livros, além da estória, tb pela capa. Tenho certeza que um bom texto mesclado com uma bela capa é fundamental. Aqui no Brasil, este livro foi lançado com o nome de "O Analista" - mas, a capa é tão sem sal, sem açúcar que não tive vontade de ler. Mas, seu texto está tão bom que abrirei uma exceção: comprarei mesmo por aqui em terras brasileiras. Abraços e parabéns. Lembre-se: seu blog é um dos melhores da internet!

    ResponderEliminar
  3. rsl nem me lembres, passado um pouco de ter publicado o post vi que me tinha enganado no nome do homemzinho ehehe

    ResponderEliminar
  4. Valter, muito mas muito obrigado! Ainda ontem estava com dúvidas existenciais em relação ao blog. Hoje então dissiparam-se! Muito obrigado! Um grande abraço para os seguidores brasileiros e obrigado por todo o carinho. Um grande beijinho para ti, boas leituras :)

    ResponderEliminar