Sob a chancela da Editorial Presença, chega-nos o título mais recente da série Wallander do famigerado autor sueco Henning Mankell, intitulado Um Homem Inquieto. Um título que se adequa perfeitamente ao conteúdo narrado. Afinal de contas, esta trama relata o súbito desaparecimento de Håkan von Enke, um homem algo agitado quando revela alguns factos passados no dia do seu 75º aniversário. A conversa, em jeito de uma subtil confissão não formulada, fica pendente até que o homem subitamente desaparece.
Este é um livro que se fundamenta num aspecto que eu normalmente não costumo procurar nos livros (e daí nunca ter lido nada de John Le Carré, por exemplo): conspiração a nível político. Há um flashback que remota à quase duas décadas, incidindo no assassinato do primeiro ministro sueco Olof Palme, reflectindo o panorama político na Suécia nos anos 80. A temática é complexa quando se reúnem factos sobre Guerra Fria, associando espionagem e a tensão entre países nesta época.
É portanto uma história bastante interessante, nomeadamente para os apreciadores de História Contemporânea.
Para equilibrar uma temática de foro tão pesado como a referida acima, a narrativa baseia-se muito na vida de pessoal de Wallander. Como li apenas os dois primeiros livros, Assassino sem Rosto e Cães de Riga, tive a sensação que muito se passou entretanto e senti-me completamente alheia a uma série de aspectos da vivência do detective protagonista. Quando o "conheci" ele estaria na casa dos quarenta, separado de Mona, com sérias divergências com o pai senil e a filha adolescente. Aliás, Linda Wallander, a sua filha, tem um papel muito activo na presente trama, se tiver em conta a minha (reduzida) experiência nas obras do autor.
Com 60 anos e cada vez mais perto da morte, este é um Wallander que eu
desconhecia completamente: um homem nostálgico e sistematicamente confrontado
na trama com as várias experiências que enriqueceram a sua vida. Sim, refiro-me à vida pessoal com Mona e depois mais tarde em Riga com Bieba Liepa. Magistrais lições de vida advêm desta personagem, através de muitas reflexões em conjunto com Wallander.
Há muitos flashbacks decorrentes desta altura o que causam um despertar de sentimentos já muito adormecidos num revivalismo do passado. O que contradiz com os episódios pontuais de amnésia, inexplicáveis à partida, que Wallander tem ao longo da história.
É portanto uma trama com uma carga dramática muito intensa, oscilando entre o término: a morte, e os ensinamentos da vida no que concerne a relações pessoais que balança um lado de espionagem ao mais alto nível.
O desfecho foi para mim muito emocionante, mas ao mesmo tempo deixou-me tão nostálgica quanto o próprio Wallander nesta história. Desconheço se a intenção de Mankell é fechar definitivamente a saga da personagem, mas tudo leva-me a crer que doravante, as tramas policiais do autor terão principal enfoque na sua filha, Linda, que enveredou pela carreira de polícia à semelhança do seu pai. Mankell será sempre uma personagem chave no mundo da investigação policial nórdica, e como tal irei voltar em breve às suas obras.
Gostei bastante da tua opinião.... irei dar uma espreitadela nesta série!
ResponderEliminarJá agora qual o primeiro livro da Série?
Não gostei por aí além de Sapatos Italianos, embora saiba que nada tem a ver com esta série. Darei o benefício da dúvida ao autor.
Nuno, o primeiro é o Assassino sem Rosto. Vais gostar desse ;)
ResponderEliminarEu até fiquei curiosa com os Sapatos Italianos...
Beijinho grande e boas leituras