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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Patricia MacDonald - Um Estranho em Casa [Opinião]

Sinopse: Há onze anos, a vida idílica de Anna Lange ficou destroçada quando Paul, o seu filho de quatro anos, desapareceu sem deixar rasto. Anna nunca deixou de acreditar que ele estava vivo e, quando o rapaz reaparece por fim, todos pareciam achar que o pesadelo terminara. Contudo, a alegria do reencontro dura pouco tempo. Nervoso e retraído, Paul começa a comporta-se de modo estranho. Anna pensa que o filho continua a recuperar do terrível trauma vivido na noite em que desapareceu —embora o jovem afirme não se recordar do que aconteceu. Mas será verdade que Paul não se lembra? Bom, há alguém que se lembra e que está disposto a tudo para impedir que a verdade venha ao de cima...

Opinião: Já há muito que Patricia MacDonald me suscitava alguma curiosidade e que este livro aguardava a sua vez na estante. Chegou a sua hora. Estava em busca de um livro, mais do género thriller, com grande carga psicológica. Penso que não poderia ter decidido melhor!

Um Estranho em Casa é dos livros que mais facilmente despertou em mim, uma genuína angústia logo nas primeiras páginas. A acção inicial é muito rápida, aquando o desaparecimento da criança e as primeiras reacções em resposta a esta. Ao longo da leitura, senti-me várias vezes revoltada e intrigada com as razões por trás do desaparecimento do menino.
Embora date de 1983, é um livro ainda bastante actual. Afinal de contas e infelizmente, o desaparecimento de crianças ainda acontece, decorrendo muitas vezes de situações de rapto e a polícia só pode agir após algumas (largas) horas, o que nem sempre avizinha um desfecho feliz.
Neste caso em particular, a história configura-se dentro de parâmetros pouco usuais, (e à partida, isento de um possível desfecho trágico) uma vez que Paul retorna a casa, onze anos depois. Como aleguei anteriormente, o papel de investigação por parte das entidades policiais é quase ínfimo, debruçando-se a história num pesado desencadeamento de acções dentro do núcleo familiar de Paul.

Sem querer levantar spoilers, até porque a minha intenção é fazer com que o leitor se sinta cativado pela opinião e motivado para ler o livro, há um aspecto que tenho mesmo que falar, relativamente à história, temendo eu que desvende um pouco mais do que pretendia.
Eu penso que existe uma incongruência na trama. Ora vejamos, Paul tem quatro anos quando desaparece e segundo consta, a sua irmã Tracy, seria ainda bebé. Ela chora, balbucia algumas palavras... bem, diria que seria um bebé talvez, no máximo com dois anos.
Quando Paul volta a aparecer, onze anos depois, Tracy terá certamente uma idade que ronda os treze anos. No entanto, a autora reveste a personagem já com um carácter afincado, tendo algumas quezílias com a mãe (perfeitamente rotineiro), tem já experiência com drogas (acho demasiado precoce) e mais... a rapariga trabalha já numa clínica veterinária. Ou seja, a caracterização de Tracy, deixa muito a desejar por ser pouco realista. 

No entanto, as demais personagens estão muito plausíveis. Anna é uma personagem forte mas no fundo, também fragilizada com o desaparecimento do filho e muito esperançosa ainda que decorram largos anos até o voltar a ver. O pai de Paul, é mais céptico, convencido que o filho não irá voltar mais. Antagonismo e formas de ver a situação completamente contraditórias, portanto. E Tracy... enfim, apesar de não ter efectivamente gostado como esta personagem é, nos primórdios da adolescência, tendo sido habituada a ser filha única, claramente é visível e realista a sua negação face ao reaparecimento do irmão do qual ela mal se lembra.

A caracterização de Tracy assume-se como um pormenor que nada afecta a leitura e a qualidade da história, porque de facto esta é muito boa. Mais do que um thriller, a trama aborda muito a estrutura familiar que se vê fragilizada primeiro, com o desaparecimento de Paul, revestindo o casal com as únicas formas de encarar este drama. Depois a sobreprotecção da mãe aquando o reaparecimento de Paul, quando este é um adolescente, descurando um pouco, as personagens em seu redor. Com a vivência longe dos pais, e condicionado pela natureza intrínseca desta faixa etária, Paul acaba por ser um estranho. 
Anna e o marido terão que perceber o que terá de facto acontecido à onze anos atrás e que segredos encerram a comunidade onde vivem.

A autora não se rege pelos habituais clichés de desfecho inesperado. Sensivelmente a meio da trama, a autora privilegia o leitor, dando a conhecer aquele que eventualmente terá tido relação com o desaparecimento de Paul. Rapidamente o leitor deduz a hipótese certeira que justifica a estranha situação do jovem. O final é sim, de cortar a respiração. Uma verdadeira contra corrida à sobrevivência, ocorrendo então aquele que será o único registo de homicídio, desprovido de violência mas contrabalançado em emoções fortes.
Sem margem para dúvidas, um livro muito bom! Irei certamente ler mais obras de Patricia MacDonald.

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