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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Martin Suter - Cinzas do Passado [Opinião]


Sinopse: Aos sessenta e cinco anos, Konrad Lang ainda vive às custas da abastada família Koch. Durante anos, foi um parasita tolerável, inicialmente enquanto companheiro de brincadeiras de Thomas Koch, o herdeiro da fortuna da família, mais tarde enquanto zelador da mansão de férias em Corfu, embora sempre sujeito aos caprichos da família. Certa noite, porém, Konrad pega acidentalmente fogo à mansão, reduzindo-a a cinzas. A princípio, atribui-se a causa desse incidente ao seu alcoolismo, mas os esquecimentos de Konrad sucedem-se.
São os primeiros sintomas de um mal misterioso, que trará consigo consequências perturbadoras. No entanto, à medida que a memória recente de Konrad se vai esvaindo, as recordações que muitos esperavam estar soterradas vão ressurgindo pouco a pouco... A doença de Alzheimer instala-se, ameaçando pôr a descoberto segredos guardados a sete chaves.

Opinião: Terminei às tantas da manhã este grande livro, que embora date de 1997, só agora foi publicado pela Porto Editora. Pura e simplesmente, não consegui parar de ler, até desvendar o enigme que se impõe, embora de uma forma subtil.
Embora a capa deixe antever um pesado thriller, penso que o género do livro se enquadre mais no tipo dramático, embora a componente mistério esteja bem presente. Efectivamente as recordações que eventualmente possam assolar o protagonista, Konrad Lang, são indesejáveis para Elvira Koch, e a razão desconhece-se até ao final da história.

A trama é muito pesada, se tivermos em conta a temática fulcral: a doença de Alzheimer que contribui para o esquecimento de tantas recordações. Konrad conta com sessenta e cinco anos, ainda jovem para cair nesta doença, mas consta que o seu vício da bebida antecipou o estado da sua sanidade mental.
O autor não se coíbe em acções derivadas a este esquecimento constante e perante situações tão tristes que exigem um respeito para com a doença, o leitor sente uma compaixão genuína por Koni.

Daí que as personagens estão longe das estereotipadas na literatura: não há de facto um herói, e o protagonista tem empatia com o leitor, devido apenas ao seu estado mental.
Este é filho de uma antiga criada de Elvira, que ao fugir com um homem, deixa Koni aos seus cuidados. A infância deste é passada com Thomas, o filho de Elvira. À medida que os anos passam, existe um afastamento entre a família e Konrad, que é compensado a nível monetário.
Entretanto agora, Thomas e o seu filho Urs são tão empertigados quanto a própria Elvira, embora apenas esta detenha a verdade. Resta apenas a infeliz esposa de Urs, Simone, ajudar Konrad na busca das suas recordações mais básicas.

Cinzas do Passado prima pela originalidade ao ser uma história de mistério que aborda uma doença como o Alzheimer, pouco comum em literatura do género. É uma trama com um ritmo pausado, em que se debruça essencialmente sobre as acções de Konrad, antes do diagnóstico, quando se pensavam que os esquecimentos não tinham a dimensão do Alzheimer até à sua confirmação e tratamentos inovadores como forma de ensaio.
É explorada a forma como os doentes percepcionam as pessoas que outrora eram familiares, agora, incapacitadas de se lembrarem, são estranhos.
A forma com que o autor faz chegar estes sentimentos ao leitor está extremamente bem conseguida, levando-me a crer que o autor conhece bem o Alzheimer, desconhecendo se terá sido uma boa pesquisa ou se por infortúnios do destino, terá conhecido esta realidade.

A parte dita thriller psicológico, a meu ver, apenas se discrimina no final, altura da revelação por parte de Elvira. Eu, que tinha equacionado uma série de hipóteses possíveis, falhei redondamente. O autor conseguiu-me surpreender com a explicação, perfeitamente plausível, dos passados de Konrad e o da família.
Ainda assim, Cinzas do Passado foi um livro cuja leitura foi muito apreciada, de vários pontos de vista: aprendi um pouco mais sobre o Alzheimer, a forma como a doença se manifesta e as consequências que esta traz ao ser humano. Emocionei-me com a personagem de Koni e a forma como a família Koch lida com ele e acima de tudo, comovi-me com a solidariedade de Simone.

Em suma, Cinzas do Passado é um livro com uma carga psicológica muito intensa que não deixará ninguém indiferente. Para mim, um livro inesquecível.



1 comentário:

  1. Eu adorei a capa deste livro! Foi sem dúvida uma capa que me captou imenso e agora ao ler que tem uma enorme carga psicológica *como eu gosto* ainda fiquei com mais curiosidade!!

    Tens um selinho no meu blog :D
    http://blocodedevaneios.blogspot.pt/2013/02/selo-novo-selinho-que-anda-passear-nos.html

    bjs*

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