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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Joe Hill - Cornos [Opinião]


Sinopse: Ignatius Perrish passou a noite embriagado e a fazer coisas terríveis. Na manhã seguinte acordou com uma ressaca tremenda, uma dor de cabeça violenta... e um par de cornos a sair-lhe das têmporas.No início Ig pensou que os cornos eram uma alucinação, fruto de uma mente danificada pela fúria e pelo desgosto. Passara um ano inteiro num purgatório solitário e privado depois da morte da sua amada, Merrin Williams, violada e assassinada em circunstâncias inexplicáveis. Um colapso mental teria sido a coisa mais natural do mundo. Mas nada havia de natural nos cornos, que eram bem reais.Em tempos, o íntegro Ig usufruíra da vida dos bem-aventurados, Ig tinha estabilidade, dinheiro e um lugar na comunidade. O único suspeito do crime, Ig nunca foi acusado ou julgado. Mas também nunca foi ilibado. No tribunal da opinião pública de Gideon, New Hampshire, Ig é e será sempre culpado. Nada que ele possa dizer ou fazer importa. Todos o abandonaram e parece que o próprio Deus também. Todos com excepção do demónio que está dentro de si... E, agora, Ig está possuído por um poder novo e terrível que condiz com o seu novo look assustador - um talento macabro que tenciona usar para descobrir o monstro que matou Merrin e que destruiu a sua vida.

Opinião: Joe Hill é filho do mestre de terror Stephen King. E filho de peixe sabe nadar. 
Inicialmente fiquei presa na história do livro. Inexplicavelmente nascem uns cornos ao pobre do Ig, que ressacado nem sequer se lembra da noite anterior. Associado ao par de cornos, manifesta-se um poder sobrenatural quase demoníaco em sentir todas os desejos e pecados de cada pessoa que toque desencadeando um punhado de situações rocambolescas, dotadas de um particular humor negro. No entanto, a situação complica-se quando Ig se depara com este dom na sua própria família. Joe Hill explora assim um dos medos mais profundos do ser humano: imagine caro(a) leitor(a) que as pessoas que mais amamos nos viram as costas e por detrás dos falsos sorrisos, nutrem sentimentos assombrosos por nós. Por isso posso afirmar que este conto de terror tem implicações mais profundas que eu imaginava, dissecando o pior que pode existir em cada um de nós.

Sem sombra de dúvidas, o que me atraiu imediatamente em Cornos foi a forma como a estranha metamorfose de Ig retrata um peculiar e sombrio humor.
A estrutura do livro é maioritariamente por flashbacks e rapidamente aquela que era a situação actual, regride até à infância de Ig, explorando os primórdios das relações deste com o estranho e maldoso Lee Tourneau e Merrin Wiliams, aquela que viria a ser mais tarde a sua namorada. Hill disseca as relações complexas infanto-juvenis que em certos casos são caracterizadas pela mais pura das crueldades.

Para mim, a par da justificação de ter nascido os cornos ao protagonista, o principal mistério que se afigura é a identidade do assassino de Merrin. Este facto é revelado precocemente mas Hill, ousadamente envereda pelo explorar das inúmeras situações que caracterizaram o crescimento de Ig e as relações com as demais personagens, permitindo conhecê-las melhor.
Apesar da metamorfose que lhe confere um ar demoníaco, Ig é bem intencionado ainda que debilitado devido à violação e morte de Merrin, refugiando-se na bebida. E acabamos por simpatizar com o pobre diabo (literalmente), devido à profundidade da sua dor e dos seus sentimentos que facilmente são transponíveis ao leitor.
No entanto, as personagens são muito supérfluas e caracterizadas pela ruindade embora mostrem algum sinceridade e audácia na demonstração forçada dos seus sentimentos.

Desde o início que coexiste a componente religiosa (e por consequente moralista) por intermédio de vários símbolos religiosos que contrastam assim com a componente sobrenatural associada à presença de Lúcifer reforçando a ideia subtil que é a constante luta entre o bem e o mal.

Embora globalmente ache que a história é muito boa, infelizmente certas passagens não me cativaram. Digamos que esta leitura oscilou entre momentos de leitura ávida e outros de mais desinteresse. O autor perde-se nos demais pormenores que assombram o crescimento de Ig, alguns que pouco contribuem para a história. Não obstante, à medida que desfolhei o livro, notei um crescendo de emoções e algumas reviravoltas, fazendo-me admitir que estamos perante uma trama de grande qualidade embora falhe pois o ritmo é quebrado pela informação contida em alguns dos flashbacks.

Embora com contornos moralistas, é uma história onde a fantasia contemporânea, o humor e o crime andam harmoniosamente de mãos dadas. Possivelmente, Cornos foi, que me lembre, o único livro até hoje que me fez encarar algo tão ruim como pensamentos nefastos e atitudes grotescas com um sorriso e tudo graças à escrita de Hill. Gostei bastante do estilo do autor e quero ler quanto antes o seu livro de estreia. Na fase final está o filme baseado no livro pelas mãos de Alexandre Aja, o realizador de Haute Tension, um dos meus filmes preferidos. Vejam então o booktrailer:




5 comentários:

  1. Olá Vera: vc já leu A estrada da Noite do Joe Hill? (aqui no Brasil saiu com esse titulo - e nos Estados Unidos: Heart-Shaped Box). Recomendo esse livro tb. Sua resenha de Cornos ficou ótima. Abaixo um resumo do livro a Estrada da Noite: Uma lenda do rock pesado, o cinqüentão Judas Coyne coleciona objetos macabros: um livro de receitas para canibais, uma confissão de uma bruxa de 300 anos atrás, um laço usado num enforcamento, uma fita com cenas reais de assassinato. Por isso, quando fica sabendo de um estranho leilão na internet, ele não pensa duas vezes antes de fazer uma oferta.
    "Vou ´vender´ o fantasma do meu padrasto pelo lance mais alto..."
    Por 1.000 dólares, o roqueiro se torna o feliz proprietário do paletó de um morto, supostamente assombrado pelo espírito do antigo dono. Sempre às voltas com seus próprios fantasmas - o pai violento, as mulheres que usou e descartou, os colegas de banda que traiu -, Jude não tem medo de encarar mais um.
    Mas tudo muda quando o paletó finalmente é entregue na sua casa, numa caixa preta em forma de coração. Desta vez, não se trata de uma curiosidade inofensiva nem de um fantasma imaginário. Sua presença é real e ameaçadora.
    O espírito parece estar em todos os lugares, à espreita, balançando na mão cadavérica uma lâmina reluzente - verdadeira sentença de morte. O roqueiro logo descobre que o fantasma não entrou na sua vida por acaso e só sairá dela depois de se vingar. O morto é Craddock McDermott, o padrasto de uma fã que cometeu suicídio depois de ser abandonada por Jude.
    Numa corrida desesperada para salvar sua vida, Jude faz as malas e cai na estrada com sua jovem namorada gótica. Durante a perseguição implacável do fantasma, o astro do rock é obrigado a enfrentar seu passado em busca de uma saída para o futuro. As verdadeiras motivações de vivos e mortos vão se revelando pouco a pouco em A estrada da noite - e nada é exatamente o que parece.
    Ancorando o sobrenatural na realidade psicológica de personagens complexos e verossímeis, Joe Hill consegue um feito raro: em seu romance de estréia, já é considerado um novo mestre do suspense e do terror.

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    1. Olá Valter! Como estás? :)

      Ahhh esse livro, tu já leste? Gostaste? Tenho cá para ler, em Portugal chama-se A Caixa em Forma de Coração. Achas que ainda é melhor que Cornos? Tenho que ler, fiquei muito curiosa :D

      Um beijinho grande, boas leituras!

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  2. Olá Vera, A Estrada da Noite é também ótimo. Quando li, gostei muito. Provavelmente, vc tb gostará quando lê-lo (A Caixa em Forma de Coração). Em relação ao livro Cornos (no Brasil, O Pacto)... nossa que confusão de nomes - risos - penso que se tornará um filme bem bacana de se assistir. Um bj e continue com as suas resenhas, pois tem um talento enorme para a escrita.

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  3. Olá Vera, A Estrada da Noite também é ótimo. Acredito que vc gostará de lê-lo (A Caixa em Forma de Coração). Em relação ao livro Cornos (no Brasil, O Pacto) - nossa, que confusão de nomes... - risos - acredito que será um excelente filme. Um bj e continue com as suas resenhas, pois tem uma visão aguçada e escrita concisa, além de argumentos inteligentes.

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    1. Muito obrigada pelo teu elogio, fico muito contente! Está decidido, este ano ainda leio A Caixa em Forma de Coração/ A Estrada da Noite (até prefiro este nome...) :D
      Em relação ao filme baseado do Cornos, estou à espera que saia! Vi que ainda só no Canadá. Parece ainda tão refundido :( Lá teremos que aguardar...

      Beijinho enorme Valter!

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