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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Leila Slimani - Canção Doce [Opinião]

Sinopse: AQUI

Opinião: A obra Canção Doce é marcada pela primeira frase: "O bebé morreu". Poder-se-ia, desde logo, pensar que sabendo de antemão o desfecho da história, a mesma seria previsível e, por conseguinte, desinteressante. Antes pelo contrário. Devo dizer que tentar desvendar uma trama que originou um infanticídio, bem como ferimentos graves numa criança mais velha, sabendo atempadamente o clímax, afigura-se como uma leitura desafiante. Como de facto, Canção Doce, livro que venceu o prémio Concourt em 2016, se revelou.

Começo por realçar o ínfimo número de páginas da obra em apreço que acaba por ser inversamente proporcional à tensão criada pela história, que se desenvolve a partir da necessidade de Myriam e Paul contratarem uma ama para os seus filhos, uma situação tão banal nos tempos actuais. Pegando nessa mesma premissa como ponto de partida da presente recensão, é notório que Canção Doce questiona alguns aspectos referentes à sociedade moderna, mais concretamente à maternidade, adiantando que a autora não mostrou apenas o lado idílico desse estágio da vida, optando por traçar um retrato mais cru e realista da dicotomia entre os progenitores e a sua prole. Conjugar a maternidade com a necessidade de uma realização profissional parece um exercício hercúleo com as pressões da sociedade actual. 
Assim, um dos elementos que apreciei na obra foi, portanto, a reflexão sobre o tema, algo que somos impelidos a fazer pelo presente título. 
Registei igualmente, se bem que de forma mais secundária, uma subtil crítica à comunidade parisiense, na forma como esta lida com o racismo, um fenómeno que, deduzo eu, surja em resposta ao número cada vez maior de emigrantes na capital francesa.

Ainda que, na minha opinião, Canção Doce não seja uma trama completamente original (reconheci algumas similaridades com o filme A Mão Que Embala O Berço realizado por Curtis Hanson em 1992), é impossível não nos rendermos a esta obra, ainda para mais, quando encontrarmos também semelhanças com episódios verídicos entre amas e os seus alegados protegidos. Talvez seja este o factor mais chocante da narrativa, quando observamos que a figura que devia cuidar, acarinhar e guardar as crianças torna-se simultaneamente a vilã da obra. Acima da exímia construção das personagens, fascinaram-me as interacções da ama com o núcleo familiar, conduzindo a leitura a um crescendo de emoções. 
Ao contrário da grande maioria dos títulos do mesmo género, constatei que Canção Doce  não apresenta um grande twist final. Todavia não me importei com tal facto pois, afinal de contas, todo o desenvolvimento da trama é muito intenso.

Em suma, Canção Doce é um livro intenso e que espicaça algumas questões actuais relativas à sociedade moderna, conduzindo-me a um exercício de introspecção. Ainda hoje penso nos contornos desta obra visceral. Gostei mesmo muito!


4 comentários:

  1. Também gostei muito! Um livro que nos prende à sua história, levando-nos a "engolir" compulsivamente as suas páginas para saber como aconteceu o que aconteceu (a morte dos irmãos). O próprio início do livro nos empurra para a narrativa que não desilude, mas que nos deixa a pensar sobre muita coisa... Boas leituras!

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    1. Tal e qual, babe! Não diria melhor! Grande beijinho e boas leituras!

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  2. Bem actual, fiquei impressionada!
    O curioso é que tinha acabado de ler um artigo sobre a Feira do Livro do Porto onde foi confirmada a presença da escritora Leila Slimani, premiada com o Goncourt em 2016 por "Canção Doce" (editado em Portugal pela Alfaguara).

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    1. Sim, sim! Ela vai à feira do livro do Porto :D dia 21 de Setembro :) Maravilha!

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