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sábado, 28 de dezembro de 2019

Mattias Edvardsson - Uma Família Quase Normal [Opinião]


Sinopse: AQUI

Opinião: Como ter-se-ão certamente apercebido, grande parte dos meus livros preferidos são oriundos da Escandinávia e tenho frequentemente constatado que existe um denominador comum entre todos eles: o crime e posterior investigação. Contudo, este título que será lançado já em Janeiro pela editora Suma de Letras afigura-se como extremamente original.
Mais do que um thriller psicológico, este título é, acima de tudo, um poderoso drama familiar.
Já sabem que me encontro numa fase de algum desinteresse pelos livros e, por conseguinte, parca em leituras mas devo dizer que li esta obra praticamente toda hoje e não consigo parar de pensar na história desde que terminei. Vou já explicar-vos, sem desvendar nada sobre a trama, para que percebam este meu entusiasmo.

Uma Família Quase Normal relata a história da família Sandall. Adam, o pai, é pastor numa igreja em Lund. É casado com Ulrika e têm uma filha, Stella, que é acusada de homicídio, abalando desta maneira, toda a estrutura familiar.

O que mais me agradou, numa primeira análise, foi a forma como o autor me embrenhou na narrativa. Rapidamente tive uma sensação de estar em Lund, e acompanhar a história da família Sandall. A obra é estruturada em três partes, sob três pontos de vista: o pai, a filha e a mãe. 

A subtrama principal alicerça-se na possibilidade de Stella ter cometido um homicídio, contudo, a mesma vai alternando com flashbacks do passado nos quais o pai relata alguns episódios do quotidiano ou divergências fortuitas com a filha adolescente, fazendo-nos analisar o que seria a sua família até então.
Na qualidade de pastor da igreja protestante, a referida personagem do pai tece algumas introspecções de cariz religioso com as quais confesso não me identificar mas tenho para mim que estas se revestiram de alguma importância para dar um cunho mais pessoal à personagem de Adam. A angústia, assim como a vontade de ajudar a filha, ainda que para isso ele tenha que mentir, contradizendo os seus princípios e preceitos religiosos, acabam por consubstanciar sentimentos palpáveis para o leitor. 

Após muito interesse em ler a perspectiva do pai, é a vez da filha, a qual, numa linguagem e registo muito diferentes das do progenitor, intensifica a caracterização da personagem mais jovem e, por conseguinte, mais rebelde e sem filtros. A mesma história é relatada sob o ponto de vista da adolescente, aludindo a certos pormenores que me fizeram sentir deveras desconfortável. Embora não seja inteiramente explícita, a trama aborda situações intensas que certamente não deixarão os leitores indiferentes. 

A terceira e última parte é narrada pela mãe, uma advogada criminal e, nesta fase terminal, a trama desenrola-se como se de um thriller jurídico se tratasse. Também esta personagem materna apresenta alguns segredos e partilha algumas considerações com as quais não concordei uma vez que, pessoalmente, tenho uma visão diferente sobre o papel de mãe de acordo com os nossos padrões mais ibéricos ou latinos. Contudo, tive sempre presente que a educação escandinava difere consideravelmente da que é praticada por cá. 
Só nas páginas finais, no epílogo, é que é desvendado o verdadeiro mistério que a trama propõe: terá mesmo sido Stella a assassina? Todavia, já eu estava rendida à história em virtude desta me ter envolvido tanto com aquela família ao ponto de a revelação final já não configurar propriamente um clímax, mas tão somente um ponto final na narrativa.

Em suma, estamos perante um lançamento que será, certamente, um sucesso! Não promete ser um thriller convencional, alicerçado em serial killers, porém o que mais aterroriza é, certamente, um acontecimento que pode comprometer a paz do seio familiar algo que acaba por nos trasmitir algum incómodo ou desconforto visto que a família, nas suas mais variadas vertentes, continua a ser um dos pilares fundamentais da nossa sociedade.
Envolvente e intrigante, Uma Família Quase Normal vai convidar-vos a uma profunda reflexão sobre onde iriam para proteger um filho. 
Imperdível! É o tipo de história que, garantidamente, ficar-vos-á na retina por muito tempo.


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