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segunda-feira, 4 de julho de 2022

Gregg Olsen - Não Contes a Ninguém [Opinião]

Sinopse: AQUI

Opinião: Esta obra suscitou-me imediata atenção por se tratar de um true crime. Não conhecia, porém, a protagonista, pelo que segui para a leitura sem saber com o que me iria deparar ao certo. Foi muito duro. Fiquei muito angustiada com esta narrativa sobretudo porque fui recentemente mãe (eis a razão do meu súbito desaparecimento) e muitos dos detalhes aqui são punições/agressões a crianças, o que me toca de uma forma muito particular. Mas a violência contra crianças não é a única situação digna de ser realçada aqui: também há, a dois adultos, o que torna todo este caso um pouco surreal. Porém debruçar-me-ei sobre esta questão mais adiante.

Como sempre, não quero levantar muitas pontas do véu sobre a história, no entanto, é muito fácil saber pormenores sobre a mesma - estava tão curiosa com esta antagonista que fui ver alguns documentários sobre este caso, tendo ficado a saber antecipadamente os contornos de toda esta trama - e, mais uma vez, fiquei incrédula com esta "pessoa". Recomendo então que se coíbam de pesquisar sobre Michelle/Shelley Knotek no decorrer da leitura para evitar qualquer spoiler e que, deste modo, consigam ser mais impressionados pelos factos que estão a ler. No meu caso, tal não aconteceu. Já sabia até o desfecho do caso pelo que percorria as páginas, já a aguardar pelo último acto da narrativa.

Basicamente, esta obra acaba por ser um sucedâneo de relatos de tortura às personagens que privaram com Shelley. Impressiona e é muito difícil ler este livro. Recordo-me que comecei a lê-lo, estava a minha filha doente em casa e, enquanto a supervisionava a brincar com os seus brinquedos, ia lendo uma página aqui, outra acolá, tendo suspendido a leitura muitas, muitas vezes por conter passagens bastante duras. E abracei a minha bebé muitas mais por achar inconcebível uma mãe fazer este tipo de barbárie aos seus filhos - sempre fui contra a violência e neste momento sou-o mais ainda. Acompanhamos também a evolução das filhas, a relação delas entre elas e com um sobrinho que também foi acolhido no lar de Shelly. Há aqui bastantes situações de difícil compreensão e esta minha sensação intensificou-se aquando a melhor amiga de Shelly, Kathy, vai também viver para o lar dos Knotek para ajudar na lida da casa e com a logística das crianças. 

Foi nesta altura que comecei a pensar no comportamento das pessoas que lidavam com Shelly e pareceu-me que era muito standard, muito padronizado e semelhante entre todos mesmo sendo pessoas diferentes. Acabei por investigar sobre isto - seria também facto verídico ou ficcionado para parecer ainda mais chocante? Foi então que encontrei no Youtube alguns documentários true crime dedicados a Knotek e, caramba, realmente tenho que aceitar que a senhora exercia um poder de persuasão tão intenso que tornou todos ao seu redor meros joguetes nas suas mãos - eu sou, por norma, uma pessoa muito contestatária e há situações com as quais lido mal. Creio que todos nós, em alguma fase da sua vida, terão conhecido pessoas com as quais não querem estar. E acaba por ser inevitável afastar-se. Ou, se forem como eu, fazem uma tempestade seguido por um ponto final nessa relação. Atitude esta que nenhum, sublinho, nenhum teve. Toda a gente continuou a lidar com Shelly, que, de personalidade altamente manipuladora, é mais do que uma pessoa tóxica, entrando já no quadro de psicopatia. Falo dela como pessoa e não como personagem pois, volto a ressalvar, isto é verídico e ela continua viva.

Tudo isto é-nos relatado pelas filhas da vilã ao escritor Gregg Olsen. A minha segunda crítica prende-se com a forma como o livro é narrado. Sim, senti-me impelida a lê-lo em poucos dias, é certo, mas creio que a obra traria ainda maior profundidade caso fosse narrada directamente pelas irmãs. Tenho a sensação que a informação transmitida em discurso indirecto pode perder algum conteúdo. A meu ver, a narrativa também teria sido enriquecida caso tivesse algumas alusões temporais. Por vezes tive a sensação que eram episódios chocantes aleatoriamente narrados sem ordem cronológica, sensação essa que se intensificou quando nasceu a irmã mais nova, Tori, parecendo que o tempo estagnara e ela era bebé por um tempo indefinido. 

Nesta altura, fala-se de Ron e, mais uma vez, volta a haver descrições de todo um comportamento submisso e vulnerável - já observado em personagens anteriores e estava, ainda, a tentar aceitar - o que, creio não se coadunar com a idade adulta e, em especial este homem, que mostrava uma inteligência acima da média. Mas, mais uma vez, através do documentário fiquei a perceber que tudo se passou dessa forma, o que me deixa ainda mais perplexa sobre todo este caso. Apesar de me questionar sobre o comportamento destas pessoas - não sou da área da Psicologia nem possuo ferramentas que justifiquem todas as atitudes de alienação - creio que é inquestionável que esta trama será demasiado forte por aludir a situações de violência deveras chocantes e marcantes. É um livro que dificilmente sairá da minha retina, por esse motivo.

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Tarryn Fisher - Três Mulheres [Opinião]

 

Sou assumidamente fã de Margo, a protagonista do primeiro livro publicado em Portugal por Tarryn Fisher, razão que explica o meu entusiasmo inicial assim que vi que iria ser editada esta obra no nosso país. Não tardou muito para que as minhas expectativas fossem defraudadas. 

O mote da história é uma relação polígama que poderia dar azo às maiores narrativas de thriller, não obstante considerar que a opção de história sugerida por Fisher não foi a mais inteligente. Note-se que é uma perspectiva altamente pessoal. Creio que há inúmeros fãs da obra mas sinto-me compelida a dar a minha opinião mais sincera quanto possível.

Thursday é casada com Seth que tem outras duas esposas: Monday e Tuesday. Ela sabe muito pouco sobre estas mas um dia, ao descobrir um papel, sente-se impelida a conhecer as outras duas mulheres mais em detalhe. E tudo parte daqui: da curiosidade desta esposa em saber mais sobre as outras duas. Uma mulher que, até então, até era bastante passiva neste assunto, aceitando a condição em que vivia e tentando ser a melhor no dia que lhe era destinado estar com o marido. Nos outros dias da semana ora o marido estava com as outras mulheres ora estava em viagem. Basicamente parece-me que a protagonista estava feliz com uma relação a part-time (ou melhor a 1/7 do tempo) e não vou tecer considerações sobre isto, são altamente pessoais. Contudo esta personagem esforçava-se por ser a melhor esposa a nível sexual (estou a revirar os olhos enquanto penso nisto porque nem sequer acredito que bom sexo unicamente seja sinónimo de um casamento pleno e feliz). Mas vá, sou open minded e aceito as mais variadas suposições que a autora me apresenta.

Apesar da narrativa apresentar um ritmo bastante viciante - senti-me extremamente curiosa sobre o desenrolar da história e a obra até se lê muito bem em pouco tempo - no meu íntimo já considerava tonta a premissa pelo que o desenrolar acaba por ser um sucedâneo de situações também estas pouco néscias. Até que, sensivelmente a meio do livro, a autora nos presenteia com um twist. Uma reviravolta pouco verosímil, diria eu, porque quem abraça esta leitura e é como eu que desata a lançar teorias, esta é uma delas. Até percebo que a autora queira investir no plano de thriller psicológico, mas infelizmente acho que este volte-face não foi completamente satisfatório/convincente.

A partir daqui continua a saga da Thursday a consolidar informações sobre as outras mulheres - às páginas tantas esta personagem pareceu-me mesmo uma bola de ping pong, desorientada que está aqui e acolá e torna-se tudo tão inepto que senti que acabara de ler qualquer coisa menos um thriller, ainda para mais da autora do Margo. Note-se que tive sempre esta obra na retina, um livro negro, pesado que me fez sentir desconfortável no decorrer da leitura - creio que as maiores sensações que o género nos traz - mas o presente título... não sei. Nada me convenceu: nem as personagens - até sinto um fascínio por personagens não confáveis mas estas, honestamente, primam pelas mais duvidosas acções e formas de pensar - nem a própria trama que poderia ter dado um thriller de excelência. No seu cômputo, é um livro que fica muito aquém. Estava, sinceramente, com grandes expectativas de encontrar uma história que me tirasse o chão. E infelizmente, isso não aconteceu.

Por aqui alguém já leu? Gostaram? Fico apreensiva por me ter escapado a magia deste livro mas isto é sempre assim. Partilhem comigo nos comentários as vossas opiniões.

terça-feira, 28 de junho de 2022

Horror novellas em inglês

A minha busca incessante por literatura que seja, realmente, perturbadora e que me deixe estupefacta, conduziu-me a algumas obras e escolhi ler duas. São novellas, o que são mais curtas e merecem ser mencionadas por aqui: 

Things Have Gotten Worse Since We Last Spoke tem uma capa fascinante (foi o que captou a minha atenção de imediato). Soube também que este livro foi sensação na rede social TikTok e fiquei mesmo muito curiosa com o mesmo. Não querendo entregar muito sobre a história, esta é sobre duas mulheres que se encontram num chat e desenvolvem uma relação que vai assumindo contornos sombrios e obsessivos. Este tipo de tramas, alicerçadas sobre relacionamentos disfuncionais, interessam-me muito apesar de, regra geral, não ser a maior entusiasta do estilo epistolar, forma como a história se desenrola. Como foi um livro lido em inglês, estranhamente a narrativa em forma de entradas de um chat ou variados e-mails trocados pelas protagonistas, tornou-se mais dinâmica e, juntando ao reduzido número de páginas, fez com que tivesse lido esta obra em cerca de 24 horas. 
Considero que o autor conduziu esta trama de forma intrigante: nas páginas iniciais menciona que o leitor irá ler informações da polícia que está a investigar a morte de uma das personagens. OK, parece-me que estamos perante um spoiler logo no início, porém, este warning torna a narrativa muito viciante e quase como apanha o leitor para, ele próprio, participar nesta investigação policial. A relação entre as duas personagens tornou-se muito intensa em poucas páginas, parecendo-me a mim, que Eric LaRocca se quis precipitar para "aquecer" os acontecimentos - o que também compreendo se tiver em atenção que estamos perante uma novella. Muito honestamente há ali uma ou outra situação que considero tola como um contrato semelhante ao que Anastacia Steele assinou em firmar a relação com o afamado sr. Grey. À medida que a história se encaminha para o final, a situação começa a ser desconfortável. E sim, incomodou-me a última provação apesar do autor desvendar imediatamente qual seria o desfecho de uma personagem. Se é um bom conto de terror? Sem dúvida, mas indicado àqueles que apreciam um bom body horror. Contudo, esta história carecia de menor cadência. Creio que daria um melhor livro do que é em conto. Agora que penso nisto, não sei se gostei da obra mas o certo é que não me sai da retina.
 
Num registo completamente diferente, Comfort Me With Apples estava também em listas de novellas de terror. Contudo, para mim, não é uma obra que satisfaça em pleno os fãs do género. Atentei muito no título quando iniciei a leitura e as primeiras alusões ao local onde ocorre a narrativa, Arcadia, tiraram-me as dúvidas para o que aí viria. Portanto não tive qualquer factor surpresa: o afamado twist está já no título do conto. Não há qualquer dúvida que o estilo de escrita deste seja mais elaborada, parecendo que estamos perante um conto de fadas, porém, não me cativou. Não creio que estivesse perto de um thriller ou um terror. Temos a personagem principal, Sophia, que vive num sítio lindíssimo e paradisíaco. É casada e tem como mantra dizer a si mesma que foi feita para o seu marido e que é muito feliz. O local onde habita é muito à Stepford Wives e poderia mesmo ter potencial mas, lá está, creio que a autora quis, acima de tudo, recontar um episódio bíblico. A meu ver, acresce uma dificuldade em colocar elementos de terror que sejam convincentes e que seja sinónimo de algo verdadeiramente assustador. Apesar de ter gostado imenso da escrita da autora, esta história, lamentavelmente, não me cativou.