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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Robin Cook - Mutação [Opinião]

Depois de ter ficado literalmente hipocondríaca com os livros Anjo da Morte e Epidemia de Robin Cook, resolvi pegar neste Mutação que há muito aguardava a sua vez de ser lido.

O dr. Victor Frank e a esposa Marsha recorrem a uma barriga de aluguer para dar à luz o segundo filho, Victor Jr, mais conhecido por VJ. E o bebé vai para casa onde o espera David, o filho mais velho do casal e a ama Janice. Passado uns anos estes morrem, com uma forma rara de um cancro do fígado. E este é apenas o início de um pesadelo...

Se há algo que mais deve afligir a um casal que deseja ter filhos, é sem dúvida o problema da infertilidade. Esta é uma trama claramente fantasiosa (pelo menos assim o espero!) mas igualmente aterradora. Afinal de contas, a narrativa centra-se num homem que faz experiências genéticas aquando a fertilização in vitro, tornando as crianças muito "diferentes".
Na narrativa de Cook, a acção estabelece-se nos anos 80 e como tal, há a noção que estas experiências são de facto mutações. E é neste pressuposto que a presente trama de Robin Cook se desenvolve, mais concretamente, na manipulação genética de fetos, centrando-se num anormal desenvolvimento intelectual das crianças passado três anos e num caso muito concreto, o de VJ aos dez anos de idade.
Desconheço se a manipulação genética pode influenciar factores como inteligência infantil, a ponto de torná-la precoce bem ao nível de um Einstein.

Esta história é quase o conto de Frankenstein do final dos anos 80 (e reparem na analogia dos nomes das personagens criadas por Robin Cook e por Mary Shelley: Victor Frank/Victor Frankenstein). Tudo leva-me a crer que o autor terá baseado na personagem criada por Shelley para recriar um perfil semelhante no protagonista.
Por isso o dr Victor Frank vive no mundo da ciência, em vez de dar ouvidos à sua racional esposa Marsha que começa a investigar se as mortes de David e Janice terão sido meramente coincidência. E nisto depara-se com uma rede de revelações e mais homicídios que têm uma explicação, numa fase adiantada do livro.
Mas até a aparente dócil criança de dez anos VJ tem um papel de destaque na narrativa. VJ é interessado em ler calhamaços de matemática, deduzindo várias equações que só aprendi na faculdade e, tal como o pai, é um rato de laboratório, manejando todas as técnicas laboratoriais com grande perícia e astúcia. E dado este nível de inteligência e cultura, é criado um papel sociopata que dificulta a relação com outras crianças da mesma idade de VJ.

Dado que o próprio sr Robin Cook é médico, há umas passagens directamente relacionadas com engenharia genética, os papéis do DNA e RNA, constituindo quase uma aula desta temática. Não muito maçuda, claro. Afinal de contas o autor quer é contar esta narrativa, tornando-a mais realista possível, tendo como base estes pressupostos.

À medida que a história caminha para o final, ganha contornos cada vez mais previsíveis mas não deixa de perder a sua piada. O autor descreve os acontecimentos com uma veemência tal, que o leitor só descansa enquanto terminar o livro. E quando isso acontece, há um vazio, afinal poderia haver mais... Desconheço se a personagem Marsha Frank será protagonista em mais novelas de Cook, até porque o autor termina Mutação em aberto, podendo cada leitor tirar a sua própria ilação.

Num conto que mistura o thriller médico a que Cook nos habituou com o terror, este é quase uma fábula bem ao jeito de Omen, exceptuando claro, as crenças no Diabo e no Anticristo, substituindo-as por consequências mal medidas do uso indevido da engenharia genética.
Juntamente com Anjo da Morte, este Mutação consagra-se como um dos meus favoritos do autor até à data. Foi com muita ansiedade que li este livro, reconheço.
É um livro arrepiante que não deve deixar de ler! Recomendo sem reservas!


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Pedro Garcia Rosado - A Cidade do Medo [Opinião]

A Cidade do Medo é o cartão de apresentação da colecção Não Matarás, uma colectânea de thrillers passados em Portugal, tendo como protagonista o inspector da Polícia Judiciária, Joel Franco. Todos os volumes desta colecção são escritos pelo autor Pedro Garcia Rosado e embora tenha conhecimento que o escritor conte com algumas obras antecessoras, esta foi a minha estreia.

É chamado de Sanitizador, aquele que limpa as ruas de Lisboa, eliminando vários sem abrigo. Mas os alvos dispersam-se sendo depois mortas prostitutas e até um estudante. O inspector da Polícia Judiciária Joel Franco é chamado a intervir num caso que parece relacionar Maçonaria, o Presidente da Câmara de Lisboa e um projecto da Ota.

É este o mote para uma trama deveras interessante. Não referenciei a totalidade da sinopse do livro contém pois acho que desvenda demasiada informação, atenuando o efeito surpresa contemplado na história.

Inicialmente há duas subtramas diferentes, uma passada no Brasil à cinco anos atrás que se cruza com a subtrama actual do Sanitizador. Os capítulos são muito pequenos não abordando mais do que a investigação da PJ, no lindíssimo cenário lisboeta e um pouco da vida pessoal de Joel Franco.
Cada capitulo é um dia de investigação, com o aparecimento de mais cadáveres e a forma como a PJ actua face aos homicídios. Antes de se iniciar cada dia, há um pequeno flashback sobre o enigmático William Alenquer, incidindo nas vivências da personagem no Brasil e posteriormente na Inglaterra e Portugal.

Nunca tendo lido nenhuma obra de Rosado, achei que o autor utiliza uma escrita fluída e envolvente com um registo intenso no que concerne à excelente caracterização dos homicídios na bela cidade de Lisboa. O romance policial que nos apresenta é de rápida e cativante leitura não só devido à veemência dos factos anteriormente mencionados, como a forma em que a trama se consegue aproximar da realidade.

Devo dizer que denotei uma certa analogia para o mundo real, nomeadamente com duas personagens: o Presidente da Câmara que outrora esteve encarregue de outros Ministérios e os media sensacionalistas representados pela jornalista Eunice Neves, encarregada pelo programa Crime Nosso de Cada Dia, bem à semelhança da rubrica "Crime Diz Ele" de Hernâni Carvalho. E é neste contexto que são exploradas temáticas até bastante actuais mas que não deixam de ser controversas, incidindo sobretudo no problema social dos sem abrigo e na corrupção no seio político.

As personagens são apresentadas com a maior simplicidade possível, cingindo-se mais ao papel da trama do que propriamente do seu carácter. Exceptuando claro, para Joel e para o homem que encarna o Sanitizador.
Joel é aquele inspector aparentemente bem resolvido com ele próprio, partilhando a casa com a namorada Lia e a cadelinha Alice. Mas eis que há um senão: ele tem um trauma de infância, brevemente narrado logo no início do livro. Contudo não é em A Cidade do Medo que este será devidamente deslindado, querendo-me parecer que o autor se irá debruçar sobre este num livro posterior.

Sendo esta uma acção que tem lugar em Lisboa, constatei que a cidade é um excelente cenário de um policial. Foi portanto com muita familiaridade que percorri com Joel Franco as várias ruas da baixa pombalina, incluindo a minha esplanada favorita, o café Martinho da Arcada, a avenida 24 de Julho ou Campo de Ourique em busca deste homem perturbado.

Em suma, A Cidade do Medo é um livro intenso e que inicia uma colecção promissora no mundo da literatura policial lusófona. Não Matarás será doravante uma colecção que irei acompanhar e em breve irei ler Vermelho da Cor do Sangue e Triângulo, este último lançado esta segunda feira.
Pedro Garcia Rosado é a prova que se faz boa ficção policial em Portugal. Recomendo!


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Camilla Lackberg - Os Diários Secretos [Opinião]


Camilla Lackberg: um nome que dispensa já apresentações no fenómeno da literatura policial nórdica. Este é o quinto livro protagonizado pelo casal Erika Falk e Patrik Hedstrom e por mais sequelas que a autora nos apresente, ponho as mãos no fogo em que a qualidade se manterá.

Neste livro, Patrik está em licença de paternidade e é Erica que volta ao trabalho, como quem diz, de volta à escrita que requer um ambiente de sossego e acolhedor. Ou seja, sem crianças envolvidas. E entre as várias dúvidas e dilemas que vão tomando conta de Patrik, Erica distancia-se da tarefa de escrita do seu livro, para investigar os diários de Elsy, a sua mãe, com quem teve uma relação fria e quase isenta de carinho.
Neste cenário morre o historiador Erik Frankel, a quem Erica tinha pedido que analisasse a medalha de cariz nazi. Desta forma, Erica conclui que a descoberta do passado da sua mãe está directamente relacionada com o caso contemporâneo.

Desta forma é expectável que o livro englobe duas subtramas: uma referente à investigação do assassino do historiador, que nem é muito pesada e habilmente conduzida por equipa policial empática com o leitor. Cada oficial da polícia cativa à sua própria forma: a nova recruta Paula, de origem hispânica, e a sua adaptação na Suécia; Mellberg que está visivelmente mais feliz tendo em conta que a sua vida pessoal em Ave de Mau Agoiro, esteve profundamente abalada e Martin Molin, ansioso pelo dia em que será pai. Isto para não falar de Patrik que acompanha mais de perto o desenvolvimento da sua filha, Maja.
O segundo enredo tem lugar em 1943 a 1945 e é apresentado em pequenos capítulos dispersos ao longo do livro, tendo como protagonistas os jovens Erik, Axel, Frans, Britta e Elsy. Os primeiros quatro entram na narrativa contemporânea, e o leitor facilmente deduz que a solução para os crimes actuais reside no passado, sendo que a natureza da ligação entre as personagens é praticamente oculta quase até ao final do livro. De forma a enriquecer a narrativa, e de acordo com a fórmula usada pela autora, Lackberg incide igualmente sobre a vida familiar das personagens.

Lackberg apresenta então uma trama policial tendo como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial. Apesar de não ser grande fã de História, como já referi diversas, nem sequer me interessar por guerras, achei extremamente interessante a subtrama dos anos 40, dando por mim a pesquisar o papel da Suécia face à Segunda Guerra. O curioso é que já li um livro de semelhante género, também de origem escandinava (O Pássaro de Peito Vermelho de Jo Nesbo).

Em Os Diários Secretos, a Segunda Guerra serve para explicar aquilo que foi deixado em aberto no livro antecessor, Ave de Mau Agoiro, que como se recordam, era uma medalha com elementos nazis e uma camisa com sangue, num baú de pertences de Elsy. Talvez tal marco histórico seja igualmente uma inspiração da figura histórica Raoul Wallenberg, para criar aquela que será talvez a personagem mais enigmática de toda a trama, Hans Olavsen.

Um livro em que a complexidade reside, como já é habitual, nas teias de interligações entre as várias personagens. Em particular neste livro, o crime foi de mais fácil resolução dado o número mais restrito de suspeitos que se poderiam contemplar. Claro que a autora recorre às habituais reviravoltas, surpreendendo mais uma vez o leitor naquele que é o desvendar da teia de relacionamentos entre as personagens secundárias.

No entanto, dado que leio esta saga desde o início, nutro já um carinho pelas personagens principais, e é sempre com ansiedade que conheço melhor a dinâmica das mesmas. Por isso, a autora continua a investir grande parte da trama na vida pessoal destas, contemplando não só a inexperiência de um pai nas lides domésticas, como o stress da escrita ou o desenvolvimento precoce da doce criança Maja, que agora conta com um ano de idade.

E mais um vez o confronto entre as culturas nórdica e mediterrânica, onde são levantadas uma série de questões sociais, onde são frisadas a homossexualidade que aparentemente não representa tanto preconceito e é bem aceite (especialmente em Estocolmo) e por antítese, o aumento de grupos neo-nazis na Suécia actual, explorando as consequências dos limites extremos do racismo.
A autora aborda também problemáticas como o alcoolismo ou famílias destruturadas, mencionando um caso de um relacionamento entre um ex casal que corre às mil maravilhas.

Em suma, Camilla Lackberg é para mim, um completo e envolvente registo de um excelente livro, contemplando personagens complexas mas que dotadas de uma panóplia de características e problemáticas comuns, um crime bem articulado e um núcleo familiar extremamente querido. Recomendo, além deste livro, a leitura da saga. Muito bom! Fico ansiosa que a Dom Quixote publique o próximo livro da autora!



quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Divulgação Editorial Porto Editora: Don Winslow - Selvagens

No dia 31 de Agosto, a Porto Editora publica Selvagens, um policial de Don Winslow que dá o mote ao novo filme de Oliver Stone, a estrear nas salas de cinema no dia 6 de Setembro.
Don Winslow é um dos maiores escritores do thriller policial da actualidade e domina com mestria o suspense, a violência e o humor que envolvem a acção desta história sobre cartéis de droga, corrupção e chantagem.
O filme, produzido pela Universal Pictures, conta com um verdadeiro elenco de estrelas como John Travolta, Blake Lively, Salma Hayek, Taylor Kitsch e Benicio del Toro.

Sinopse: Ben, filantropo e ambientalista em part-time, e o seu amigo Chon, ex-mercenário, dirigem um negócio bastante rentável de plantação de marijuana em Laguna Beach.
Chon sempre se encarregou de eliminar qualquer ameaça ao seu território, mas agora os dois amigos deparam-se com um problema que os ultrapassa – o Cartel de Baja, o núcleo do narcotráfico mexicano, quer uma parte do negócio e não está disposto a aceitar um «não».
Quando Ophelia, amiga e amante de ambos, é raptada, eles terão de tomar uma decisão: ceder à chantagem, resgatar Ophelia, ou pagar vinte milhões de dólares…
Selvagens é uma combinação hábil de adrenalina e suspense, numa visita guiada ao mundo do crime e da guerra contra o narcotráfico pela mão de um dos mestres do thriller.

Sobre o autor: Don Winslow, nascido em Nova Iorque e ex-detetive privado, é autor de quinze romances policiais, publicados em vários países.
Selvagens, considerado pelo The New York Times, Entertainment Weekly e The Los Angeles Times um dos melhores livros de 2010, foi adaptado ao cinema por Oliver Stone.
A Porto Editora publicará em breve The Winter of Frankie Machine.

Imprensa
Uma revelação… Butch Cassidy encontra Sundance Kid.
Stephen King

Selvagens eleva Don Winslow a outro nível […] O seu humor é tão perspicaz, as personagens tão geniais e a escrita tão desapiedada que vale a pena arriscar.
The New York Times

Um tour de force inacreditável absolutamente impossível de largar.
Christopher Reich

A escrita de Winslow é magnífica, inflexível e rica em detalhes… uma lição para todos aqueles que não consideram o romance policial verdadeira literatura.
The Huffington Post

Selvagens é também um olhar profundo sobre a cultura americana contemporânea.
Los Angeles Times

domingo, 19 de agosto de 2012

Divulgação Editorial ASA: Spencer Quinn - O Estranho Caso da Rapariga Raptada


Sinopse: Chet nunca percebeu muito bem porque chumbou na escola de cães polícias. De resto, há muitas coisas que ele não entende. Como o facto de os seres humanos verterem água dos olhos quando estão perturbados ("especialmente as mulheres"). Ou de sentir um vento pelas costas sempre que abana a cauda. Mas Chet sabe que o dono é um detetive chamado Bernie. E percebe que os dois vão embarcar numa nova missão quando uma loura lhes bate à porta e pede para lhe encontrarem a filha - que pode ou não ter sido raptada. Rapidamente se veem envolvidos num caso muito mais complicado do que poderia parecer, e têm um perigoso grupo de gangsters russos à perna.

O Estranho Caso da Rapariga Raptada apresenta-nos uma das mais originais duplas de detetives do romance contemporâneo. Bernie é o anti-herói, divorciado, sem um tostão no bolso e que se bate pela custódia do filho. Chet é o narrador canino, que tenta sem muito sucesso compreender os bizarros costumes humanos. Juntos oferecem-nos uma história onde não falta nada: humor, ritmo, uma intriga inteligente e um suspense arrepiante. E, sobretudo, uma visão tocante da relação ancestral entre o homem e o seu cão.

Críticas de imprensa
«Spencer Quinn fala duas línguas fluentemente – a dos cães e a do suspense. Por vezes revela-se hilariante, noutras tocante e aqui e ali chega a ser assustador. O meu sincero conselho é que corram para a livraria mais próxima e agarrem este romance único.»
Stephen King

Nas livrarias a 27 de Agosto.






sábado, 18 de agosto de 2012

Lisa Gardner - Diz Adeus [Opinião]

Este é o segundo livro de Lisa Gardner que leio e achei absolutamente fantástico! Depois de ter lido O Vizinho, acumulei alguns livros da autora que certamente irei ler, mais convicta anda depois da experiência com Diz Adeus.

Ginny Jones desaparece sem deixar rasto...
Kimberly Quincy está grávida de cinco meses e é agente especial do FBI. Certa noite, Kimberly recebe um telefonema estranho de um polícia local, pedindo-lhe para vir falar com uma prostituta. Esta diz a Kimberly que outras prostitutas estão a ser assassinadas por um homem que se chama Dinchara, um tipo sombrio obcecado com aranhas.

Confesso que normalmente não leio muitos livros editados pela Círculo de Leitores, apesar da editora publicar uma das minhas autoras preferidas (e uma das primeiras que li em matéria de thriller), Tami Hoag. Penso que os livros, de capa dura (e como tal mais resistentes), são igualmente mais pesados, o que dificulta o seu transporte, para quem lê muito fora de casa (como é o meu caso) o que no presente caso não achei. Também a referir, o CL tem livros muitíssimo bons mas restritos apenas aos sócios do Círculo de Leitores.

Fortemente desaconselhado a aracnofóbicos, a trama contém vários factos sobre aracnídeos, arrepiantes. Aliás. para ser mais específica, cada capítulo começa com uma frase alusiva às aranhas.
Por um lado felicito a autora pelo extenso trabalho de pesquisa sobre inúmeros factos sobre biologia aracnídea, por outro, Lisa Gardner fez com que eu ficasse arrepiada com estes bichos, coisa que nem me passaria pela cabeça pois sempre fui indiferente aos artrópodes. E por isso devo dizer que aprendi uma série de coisas sobre aranhas e claro, acho que passei a ter mais respeito e até algum medo destas...

Aranhas são portanto um fetiche numa história aterradora, onde a autora constrói o perfil psicológico de um serial killer, abordando uma série de maus tratos inconcebíveis passando por práticas de pedofilia. São portanto relatos difíceis de digerir mas que fazem todo o sentido se consciencializarmos que possivelmente os psicopatas terão tido uma infância conturbada.
Esta descrição de uma infância roubada é feita em primeira mão, por um menino que cresce sob as paredes do temível Homem dos Hambúrgueres.
O perturbador do livro reside também na forma como a degradação social é ilustrada, nomeadamente como este homem trata e manipula as prostitutas. A maneira como é retratada a evolução de vítima a predador é igualmente estonteante, deixando antever que vilões há possivelmente mais do que um, partilhando do mesmo perfil doentio.
Basicamente são estes os aspectos que me deixaram horrorizada mas extremamente embrenhada nesta leitura compulsiva que durou dois dias apenas. Achei a trama muito boa, com alguns e inesperados twists, com muita acção e suspense. Por outro lado, o facto da protagonista estar grávida faz com que haja uma ternura muito natural relacionada com Kimberly.

Apesar de Diz Adeus ser o sexto livro protagonizado por Quincy e Rainie, senti-me confortável com as personagens, por isso encorajo quem desconhece os livros de Lisa Gardner e se sinta curioso em ler este, que o faça pois entenderá e desfrutará de uma história mórbida e horripilante.
Quincy é o pai da protagonista Kimberly e Rainie a madrasta. Certamente que terão tido a evolução da sua relação retratada nos livros anteriores, o que aguçou a minha curiosidade em ler os demais livros.

Em suma, Diz Adeus é um livro que recomendo fortemente... se não for aracnofóbico, claro!







Mais informações sobre o livro aqui.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Asa Larsson - A Senda Obscura [Opinião]

A Senda Obscura é o terceiro livro protagonizado pela dupla advogada Rebecka Martinsson e inspectora da polícia Anna Maria Mella. Recordo que os livros anteriores são Aurora Boreal e Sangue Derramado. Devo confessar que tenho uma relação quase oscilatória com esta autora uma vez que fiquei rendida com o primeiro livro mas o segundo achei-o menos emocionante.
Pois bem, gostei imenso d´A Senda Obscura e passo já a explicar porquê.

Numa cabana é encontrado o corpo de Inna Wattrang, uma executiva de uma empresa mineira. As duas protagonistas, incluindo o solitário inspector Sven Erik Stalnacke, iniciam uma investigação cujos contornos levam à descoberta de uma aterradora verdade sobre a relação entre Inna, o meio empresarial e o próprio dono da empresa, Mauri Kallis.

A trama inicia-se com a recuperação de Rebecka, que passou por uma experiência traumática em Sangue Derramado. Lembrava-me vagamente, mas esta edição d´A Senda Obscura inicia-se com algumas frases em jeito de resumo, de forma a contextualizar o leitor da acção que agora se segue. Contudo, penso que o resumo não altera o que para mim é importante: ler os livros anteriores de forma a que conheçamos bem as personagens principais.

Quem segue a autora, deve certamente lembrar-se que a temática usada nos dois livros anteriores prendia-se com a religião e o crime ocorria no seio de uma comunidade religiosa. Pois eis que a presente trama desenvolve-se sob outros contornos, que serão conhecidos sensivelmente a meio do livro.
A autora narra a história no presente, recorrendo frequentemente a analepses, que na minha opinião, poderiam estar devidamente identificadas no tempo. Tal facto não acontece e Larsson conta episódios de várias personagens incluindo a evolução da relação da vítima com Mauri sem antes contextualizar o papel do irmão de Inna, Diddi Wattrang na trama, focando igualmente o seu passado. A autora apresenta ainda uma personagem que terá alguma importância na trama, de seu nome Ester, embora aparente distar da acção central propriamente dita.

Tais analepses poderiam ser mais sintetizadas, factor que justifica o maior número de páginas deste romance policial (cerca de 400), explicando a par e passo o crescimento de personagens ou a sua relação, incluindo também episódios da infância de Rebecka, que passavam mais despercebidos nos livros anteriores mas que justificam a sua personalidade ou falta de confiança em si própria actualmente.
Em relação à outra protagonista Anna Maria Mella, já sentia afinidade por ela que aumentou e respeito-a por ser inspectora da polícia, mulher e mãe, que intensifica seguramente um lado muito humano e terno. Adoro a forma como a autora retrata pequenos episódios da sua rotina com Robert e com os filhos, alguns destes com algum humor.

Além da investigação do crime, a vida doméstica de Anna, os dilemas emocionais de Rebecka, são incorporadas na trama, temáticas como o capitalismo sueco, corrupção e suborno ou a arte, que geram profundas reflexões sobre os efeitos da prosperidade financeira ou obsessões para alcançar certas finalidades. Deparamo-nos portanto, com uma trama mais morosa mas muito interessante e que abrange uma diversidade de temas. A própria investigação do crime leva a pistas que investigadas, rumam por outros caminhos, permitindo descobrir vários segredos e revelações sobre a vítima e a empresa Kallis Mining.

Um outro aspecto que achei interessante no livro foi a referência da cultura sami e a conjugação desta com a sueca. Kiruna é de facto, a maior cidade da Lapónia Sueca, mas nas obras anteriores, a autora não se esmerou com estes detalhes etnográficos, que na minha opinião (fascinada que sou com a cultura escandinava), só enriqueceu a narrativa no presente livro.

O livro acaba muitíssimo bem, depois de uma intensa sucessão de acontecimentos. Ao contrário de Sangue Derramado, cujo desfecho não foi abonatório para Rebecka, neste livro a personagem é finalmente poupada (aleluia!) de mais colapsos emocionais e eis que por ela sorrimos. No entanto sofremos por Erik Sven. Estas duas personagens fazem com que sintamos curiosidade em ler imediatamente o próximo livro de Asa Larsson e por mim falo, fá-lo-ei assim que seja publicado pela Planeta. Recomendadíssimo!






Mais informações sobre este livro aqui.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Steve Mosby - Mar de Sangue [Opinião]

Steve Mosby é um promissor autor de romances policiais que me impressionou com o romance policial, O Assassino 50/50 e após a leitura de Mar de Sangue, consagra-se num autor obrigatório.

Mar de Sangue é uma história complexa sobre dois homens que procuram o paradeiro de duas mulheres: Alex Connor viu a sua mulher suicidar-se e desde então que se isolou dos seus amigos, incluindo a sua melhor amiga Sarah Pepper. Esta desaparece e depois de notícias sobre um cadáver encontrado, pensa-se que o autor do crime terá sido James Connor, o irmão de Alex.
Por outro lado temos o detective Paul Kearney que investiga o desaparecimento de Rebecca Wingate, pensando-se que esta terá sido a mais recente vítima de um assassino que mata as suas vítimas, fazendo-as sangrar até à morte. Inevitavelmente estas personagens cruzam-se e terão de se embrenhar num mundo sinistro.

O autor mantém a fórmula de narrativa, já usada no Assassino 50/50: a narrativa alterna entre os dois enredos, tendo a particularidade de, na subtrama protagonizada por Alex Connor, esta esteja na primeira pessoa, dando um especial envolvimento do leitor na acção. Em relação à trama referente ao detective Paul Kearney, esta é narrada sob a perspectiva de um narrador não participante directo na história. Esta estrutura, na minha opinião, acaba por fugir ao convencional, ofertando picos de adrenalina, sobretudo na narrativa de Connor, mas mantendo sempre sob um fundo de mistério, revelações e reviravoltas surpreendentes.

Se o livro que li anteriormente do autor me chocou pelos níveis de violência, este Mar de Sangue intensificou esta minha percepção sobre Steve Mosby. Existe de facto, um grafismo muito acentuado, sobretudo na descrição de vídeos snuffx (para quem não está familiarizado, são vídeos caseiros de violência explícita). Pois o autor mostra-se erudito nesta temática e ilustra a trama com vários sites de vídeos deste tipo, sendo os mesmos verdadeiros, chocantes e por mais bizarro que pareça, estão actualizados.
Além disso, a trama incide sobre pornografia infantil, sendo portanto, a par do visionamento de vídeos snuffx, ao alcance de toda a gente, temáticas difíceis de digerir.

Não aconselharia este livro, portanto, aos leitores mais susceptíveis. Não só pelo relato da típica curiosidade mórbida dos seguidores destes sites (estando descritos na literatura tão naturalmente que possam coexistir em sociedade) bem como da própria descrição do assassino e do seu invulgar modus operandi que consiste no esvaimento em sangue por parte das vítimas. Quem será tão perturbado a ponto de deixar morrer assim alguém? Quem será tão curioso a ponto de se envolver embrenhadamente em sites de vídeos caseiros (e aparentemente reais) que ilustram tortura ou mortes?
Inicialmente há demasiadas pontas soltas, mas que não são confusas e são devidamente engendradas na trama.

E se há pormenores que este policial supera, então estes são definitivamente sobre as personagens. Mosby enfatiza duas personagens diferentes como protagonistas, dotando-as de um sombrio passado, que acaba por individualiza-los sobre os seus papéis na trama. O autor vai mais à frente e subjuga o passado das demais personagens na acção, incutindo-lhes um aspecto muito real mas complexo. As personagens acabam por ter uma certa ambiguidade, uma vez que dificilmente conseguem optar pelo certo ou errado, tendo em conta as consequências que podem advir. Com esta caracterização tão real e peculiar das personagens, o leitor acaba por ter uma certa afinidade com as mesmas, ainda que com aquelas que eventualmente agoiram más acções.
Há portanto, uma vertente psicológica muito intensa que se coaduna com as demais sensações que o livro provoca no leitor.

Em suma, personagens íntimas com o leitor numa história intensa com laivos doentios, temáticas pesadas, passados tenebrosos é o que promete este Mar de Sangue.
Tendo eu lido um livro do autor, constatei que Steve Mosby não é só um excelente escritor de tramas policiais, é único, original e formula história diferentes com um toque mórbido no meio de um denso e pesado mistério não esquecendo as tradicionais reviravoltas que o deixarão estupefacto! Obrigatório para os fãs do género! Gostei muito!





Mais informações sobre o livro aqui.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Divulgação Editorial Bertrand: James Rollins - A Colónia do Diabo

Sinopse: Ao fundo das Montanhas Rochosas, a terrível descoberta de centenas de corpos mumificados desperta a atenção internacional e provoca uma acesa controvérsia. Apesar das dúvidas quanto à origem desses corpos, a comissão local da Herança Nativa Americana reivindica os restos mortais pré-históricos, assim como os estranhos artefactos encontrados na mesma gruta: placas de ouro gravadas com uma escrita desconhecida. No decorrer de uma manifestação no local da escavação, uma antropóloga tem uma morte horrível e é reduzida a cinzas numa violenta explosão à vista das câmaras de televisão.

Todas as provas apontam para um grupo radical de nativos americanos, do qual faz parte uma jovem militante que consegue escapar com algumas dessas valiosas placas. Perseguida, ela pede ajuda à única pessoa que poderá ajudá-la: o seu tio, Painter Crowe, diretor da Força Sigma. Para ajudar a sobrinha e descobrir a verdade, Painter dá início a uma guerra entre as mais poderosas agências de espionagem do país. Surge contudo uma ameaça ainda maior quando uma assustadora reação em cadeia nas Montanhas Rochosas provoca uma catástrofe geológica que põe em perigo a metade ocidental dos E.U.A.

Painter Crowe une forças com o comandante Gray Pierce para desvendar os segredos de uma sombria cabala que manipula a história americana desde a fundação das treze colónias. Mas conseguirá Painter descobrir a verdade - e causar a queda de governos - antes que tudo o que lhe é caro seja destruído?

Divulgação Editorial Civilização: Jeff Abbott - O Último Minuto


Sinopse: Sam Capra tem uma única razão para viver: recuperar o filho das pessoas que o raptaram. Agora, os raptores fazem-lhe uma proposta mortal: entregam-lhe o bebé… se Sam concordar em cometer um assassinato espetacular. Aliando-se a uma jovem mãe cuja filha desapareceu, Sam parte em busca do seu filho pelo país fora numa corrida perigosa e desesperada contra o tempo.

O autor de bestsellers como Pânico e Adrenalina, Jeff Abbott, regressa com mais um thriller de cortar a respiração, O Último Minuto.
Desta vez, Sam Capra – a personagem central de Adrenalina, o último romance de Jeff Abbott – está numa corrida contra o tempo para recuperar o seu filho das mãos de raptores.

“Imparável, estimulante”, escreve Harlan Coben. “Abbott escreve clássicos do suspense”, acrescenta Lee Child.

Os títulos Pânico, Colisão, Confia em Mim, Medo e Adrenalina (agosto de 2011), todos publicados pela Civilização, foram absolutos sucessos de vendas em Portugal, sendo que os dois primeiros vão ser adaptados ao cinema.

Divulgação Editorial ASA: Pedro Garcia Rosado - Triângulo


Sinopse:
«Joel Franco, Rosa Custódio e Jaime Paixão foram amigos e colegas na Faculdade de Direito e, mais tarde, entraram todos na Polícia Judiciária. Os seus caminhos, entretanto, afastaram-se, até que um caso que envolve um primeiro-ministro extremamente colérico volta a uni-los. Porém, da pior maneira.
Triângulo segue-se a A Cidade do Medo e a Vermelho da Cor do Sangue (já traduzido em Espanha) e faz do inspector Joel Franco uma das personagens mais importantes do thriller português, que, nesta obra, enfrenta o maior e mais exigente desafio da sua vida.»

Nas livrarias a 27 de Agosto.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Yrsa Sigurðardóttir - Lembro-me de Ti [Opinião]

Yrsa Sigurdardóttir consagrou-se há muito, como uma das minhas autoras favoritas. Este livro é o quarto publicado em português e pode ser lido independentemente de se conhecer as anteriores obras da autora, uma vez que os personagens são diferentes. Neste livro não intervém a protagonista dos livros anteriores, a advogada Thora ou Póra (ver as designações dadas a esta personagem da Quetzal e da GOTICA, respectivamente).

Antes de avançar para a minha crítica propriamente dita, acho que nunca o escondi por aqui, mas adoro as capas da Quetzal. Para não variar, esta penso que esta lindíssima, a paisagem, o título, os discretos salpicos de sangue, pelo que antes de mais nada, felicito uma vez mais a editora pelo tão bom gosto no grafismo das capas, em especial esta.
Tenho igualmente a apontar que na minha análise ao livro, irei mencionar o nome de algumas personagens. Fá-lo-ei consoante a minha percepção dos seus nomes em português visto que o teclado lusófono não contempla estes símbolos de origem rúnica.
Estes nomes islandeses são um pouco difíceis de reter, no entanto a acção cinge-se a não mais do que meia dúzia de personagens, o que facilita na memorização do nome das mesmas face ao papel que desempenham na trama.

Posto isto, Lembro-me de Ti contempla duas histórias aparentemente distintas: um grupo constituído pelas personagens Gardar, Katrín e Líf que propõem-se a recuperar uma velha casa abandonada nos fiordes. Na outra margem, o psiquiatra Freyr investiga o estranho suicídio de uma mulher mais velha de seu nome, Halla. O caso torna-se mais surreal quando ele descobre que Halla está de alguma forma relacionada com o desaparecimento do seu filho Benni.

O aspecto mais interessante, a meu ver, é a forma como a autora brilhantemente formula dois enredos que nada têm a ver, na história e atrevo-me a dizer, no género. A trama referente a Gardar, Katrín e Líf é mais de cariz terrorífico, enquanto a de Freyr abraça o género de suspense e mistério.
Embora diferentes em género, ambas as narrativas parecem convergir na temática do espiritismo, estando à altura de uma história de Melinda Gordon (da série televisiva Entre Vidas). No entanto, estes contornos sobrenaturais fundem-se naquela que será uma realidade lógica.

Ora não fosse este um livro protagonizado por um psiquiatra, doenças do foro psíquico e perturbações mentais são temas habilmente conduzidos nesta trama enigmática mas pausada, tendo uma particularizada voracidade na sua leitura: os capítulos entrelaçam as duas subtramas de forma alternada. Cada capítulo termina quase como aberto, antevendo um acontecimento inovador, fazendo com que o leitor leia quase compulsivamente o livro, ávido por querer saber o desfecho de cada subtrama e como elas convergem e para mim, esta foi uma verdadeira surpresa.
Picos de acção também os há, sobretudo nas passagens da permanência nos jovens na casa, confundíveis com possíveis sobressaltos, quase como se de um filme de terror se tratasse. Em relação à trama de Freyr, estes fazem-se sentir não só nas revelações das demais personagens que fará com que o psiquiatra ligue coerentemente as pistas do dramático desaparecimento de Benni. Mais do que adrenalina, estes serão momentos de genuína surpresa.

É uma trama com uma elevada carga psicológica, efeito conseguido não só pelas várias conjunturas do ocultismo como também devido à própria caracterização das personagens, misteriosas, que revelam os seus mais íntimos segredos ao longo da trama contrapondo-se às personagens que, como os pacientes de Freyr, constituem rápidas revelações. Estas só farão sentido no final do livro, quando todas as peças do puzzle se juntarem para combinar um grandioso desfecho que eventualmente poderá ter uma sequela caso a autora assim o deseje.

Mas o fascínio que este livro exerceu sobre mim vai além da história: foi extremamente benéfico viajar à Islândia, passear nos fiordes sobre a neve e assistir ao fenómeno da aurora boreal. Fascinante, não?

Em suma, Lembro-me de Ti foi um livro de que gostei imenso, embora reconheça que não sou grande apreciadora de temáticas de espiritismo. No entanto a qualidade da trama envolvente é equiparável às histórias protagonizadas por Thora. Resta-me confessar que sinto saudades em ler mais um dos seus casos, tal é a empatia que esta personagem cria com o leitor. Fico ansiosa que a Quetzal publique em breve mais uma das suas emocionantes tramas.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Paul Sussman - Oásis Escondido [Opinião]


Quem me conhece sabe que se há algo que me fascina ler, além de literatura policial e thriller, são narrativas referentes ao Antigo Egipto. Então um livro que abarque esta civilização e o mistério, torna-se imediatamente alvo da minha curiosidade. Oásis Escondido de Paul Sussman é claramente um exemplo e é o livro a que dedico este post.

2153 A.C.: Estamos no final do império antigo, no reinado de Pepi II. Alguns sacerdotes transportavam um objecto misterioso e ao chegar ao destino, são degolados. 1986 D.C.: um estranho acidente de avião vitima os tripulantes exceptuando um, cujo destino terá sido incerto. Egipto dos dias de hoje: Freya Hannan chega ao país para o funeral da sua irmã, que supostamente terá cometido suicídio.

Acho que para se apreciar devidamente este livro, o leitor terá que ter alguma afinidade com o Antigo Egipto, dadas as inúmeras referências sobre esta temática. Não é que o leitor se sinta perdido, o facto é que frequentemente surgem termos de natureza árabe ou palavras egípcias que são desmistificadas no glossário no final do livro. Ávida que sou por esta civilização, achei o glossário vago e muitas foram as vezes que recorri à internet ou a longos debates com o Ricardo, afim de pesquisar sobre um ou outro aspecto mencionado no livro. Este pormenor acabou por naturalmente atrasar a minha leitura, em contrapartida, foi fulcral para que aprendesse mais umas coisas sobre o Antigo Egipto.

O autor apresenta logo no início, um mapa do país, para que possamos percepcionar o cenário das diferentes acções, desde os vários oásis às cidades. Sim, diferentes acções, uma vez que Sussman descreve simultaneamente os subenredos em que de divide a trama. O aspecto que se torna mais confuso nesta estrutura, é o facto do autor relatar os acontecimentos diferentes no mesmo capítulo. Portanto cada capítulo pode tornar-se algo cansativo, de tanta informação que o leitor tem a reter.

O autor não enumera os capítulos, distinguindo-os por um hieróglifo, neste caso um pardal. Curiosamente este símbolo é um determinativo referente a algo maligno. Portanto coincidência ou não, enveredamos numa narrativa que mergulhará nas profundezas do mal. E de facto, faz sentido quando nos apercebemos qual a natureza dos objectos encontrados no oásis e determinaram a morte de Alex Hannen.
De facto existem passagens mais difíceis de digerir como as acções de um personagem verdadeiramente desprezável, Romani Gorgis, no início do livro. No entanto, esta é uma trama de fácil leitura embora cansativa não só devido ao já mencionado capítulo extenso com muita informação a reter como pela nomenclatura árabe de expressões e/ou personagens, as quais não estamos devidamente familiarizados.
Mas a trama teria que contar com dois fortes protagonistas: Freya e o egiptólogo Flin Brodie, que coitado, vê o seu estatuto profissional pouco valorizado por parte da personagem feminina. Em contrapartida esta foi muito sacana para a irmã e é precisamente a sua morte que provoca o remorso, a dor e a vontade de descobrir a verdade sobre ela.
Muitas outras personagens, uns egípcios que de início julguei ser meramente irrisórios, contudo, à medida que o enredo avançava, a importância que estas personagens tinham de facto, viria ao de cima.

Outro aspecto curioso que gostaria de destacar é que os hieróglifos abaixo do título significam realmente wehat seshtat que é, nada mais nada menos, Oásis Escondido.

A acção é inicialmente parada e difunde-se um pouco com as descrições de várias cidades actuais como o Cairo e Alexandria ou os vários oásis como Al-Dakhla.
Este facto não constitui um aspecto negativo, antes pelo contrário, nunca estive no Egipto e é muita a minha curiosidade sobre o país, de forma a que o livro desmistifica a vida quotidiana egípcia. Sabendo eu que o autor de facto viveu no país, tendo constituído uma equipa de escavação, acredito que tais descrições sejam reais.
Por isso, tal mítico país é apropriado para um thriller recheado de perseguições e segredos a desvendar: Freya irá embarcar numa viagem deveras alucinante em busca do Oásis perdido de Zerzura. Em relação a este, o autor inclui uma nota de autor, explicando devidamente o mito deste Oásis, que muito sinceramente desconhecia.
A simbologia é fulcral na trama e confunde-se com a maravilhosa mitologia do país, que creio que terá influenciado várias crenças por parte do povo egípcio. É portanto um livro que abarca géneros tão diferentes como a acção, o thriller, o dramático e a mitologia, sendo uma história riquíssima.

A tradução pode confundir inicialmente os fãs do Antigo Egipto como eu: afinal de contas a tradutora manteve as expressões originais (portanto, em inglês) dos nomes de divindades ou faraós. Na verdade tive um grande dilema para descobrir se a serpente Apep teria de facto esse nome ou se seria Apopis, e penso que tal dúvida seja apenas a nível de tradução e/ou nomenclaturas utilizadas pelos egiptólogos.
Um livro que recomendo, além dos fãs do thriller, aos aficionados por civilizações pré clássicas: Oásis Escondido é mais do que uma mera leitura de entretenimento ao estilo de Indiana Jones, é uma obra didáctica. E decididamente, é a forma mais económica em visitar o Egipto sem sair do seu sofá!
Ao recomendar este livro, resta um enorme pesar, uma vez que o autor faleceu em Maio deste ano, tendo deixado apenas quatro obras do domínio da ficção, as quais gostaria de ler em breve.







Mais informações sobre este livro aqui.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Andrew Pyper - O Círculo da Morte [Opinião]

Nunca tinha lido nenhum livro do canadiano Andrew Pyper, e penso que este terá sido o seu romance de estreia publicado na colecção Minutos Contados, da Editorial Presença. Se há adjectivo que possa caracterizar assim de chofre, este livro, então este será diferente. E porquê? O Circulo da Morte insere-se num género thriller muito psicológico onde a verdade se confunde com a mentira.
Pois eis que a leitura deste livro de estreia do canadiano Andrew Pyper foi assim por mim percepcionada:

Patrick Rush vê-se a braços com um filho quando a esposa morre. Com a árdua tarefa de educar o filho, Patrick sonha em ser um romancista. Assim ele começa a frequentar uma espécie de workshop de escrita, onde conhece um grupo estranho de pessoas. Angela conta a história bizarra de vários raptos de crianças, o que leva o autor a plagiá-la afim de ganhar alguma notoriedade no mundo literário.
Gradualmente as pessoas que integravam este circulo começam a desaparecer e cabe a Patrick descobrir afinal que motivações há por detrás deste grupo de potenciais escritores.

Esta história, que se insere mais no foro do terror do que propriamente um thriller ou um policial, é mais uma no que concerne à existência do boogeyman, que neste caso não necessita de aterrorizar as crianças quando estas fazem judarias nem entrar no domínio do sobrenatural.
E mais, diria que este papão, mais do que aterrorizar miúdos, afecta adultos e os seus pais.
Desta forma, é incutida a existência de uma "entidade" que rapta as crianças num mito contado por Angela. A descrição e sentimento que residem neste relato são aparentemente tão genuínos a ponto de confundir o leitor que luta na distinção entre a realidade e o sobrenatural, ou em última análise, se o boogeyman vai além do mito sendo de facto antropófago e real. Será este o papão mitológico ou um traumático homem de mente distorcida que rapta crianças a seu bel-prazer?
Se por um lado temos esta vertente da história, mais fictícia mas dúbia, por outro, o autor incorre numa reflexão decorrente dos limites da criatividade do autor e os louros que injustamente recebe quando plagia histórias de autoria alheia.

E este é o mote da história que conta com algumas mortes, sem grande grafismo ou violência e um rapto angustiante de Sam, tudo numa corrida contra o tempo para, primeiro investigar as sucessivas mortes dos escritores amadores, segundo, lidar com a história de plágio. É portanto uma trama bastante emocionante, com muita acção e claro está, pautado de dramatismo que assenta no facto de Patrick estar a educar o seu filho sozinho. E penso que terá feito um excelente trabalho: a personagem infantil, é bastante precoce, dada a sua tenra idade (quatro anos, numa primeira fase do conto, na segunda parte ele estaria com oito), manifestando diálogos maduros e coerentes.
Sinceramente esta foi a personagem que me cativou e explico-vos porquê: sim, há que valorizar o trabalho de Patrick em educar um filho por sua conta mas fiquei deveras irritada com a história do plágio! Há que ser criativo por conta própria, não? E todo o desenvolvimento, embora a curto prazo com o aproveitamento dos loucos que surgiram da história plagiada. Confrontada, a personagem pouco fez para se redimir e foi este aspecto que me fez desdenhar de Patrick, embora admito que ele se tenha desenrascado bem na caça da verdade.

Como um bom thriller psicológico que é, O Círculo da Morte oferece uma história intrincada e complexa, pois como disse, difícil é distinguir o que é real da ficção. Este efeito é enaltecido com uma dose de terror e acção, fazendo do livro uma leitura rápida e emocionante.

Em suma, este é um conto que abarca muitos aspectos conhecidos pelos apaixonados dos livros, como criatividade literária e plágio, auferindo uma estranha familiaridade àqueles que autodidacticamente escrevinham histórias, ou como eu, enveredam pelo mundo da escrita de opiniões.
Juntando a esta fórmula os aspectos intrínsecos de um thriller, a existência ou não do boogeyman, O Círculo da Morte é o seu resultado. Pessoalmente não sou grande fã de contos de terror com papões mas este livro foi cativante à maneira e proporcionou-me bons momentos de leitura.
Para os que procuram uma leitura diferente, até para sair da rotina dos policiais, recomendo então O Círculo da Morte.






Mais informações sobre este livro aqui.