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quarta-feira, 24 de junho de 2020

Ragnar Jónasson - A Escuridão [Opinião]



Sinopse: AQUI

Opinião: Estou em falta para com o autor islandês. Li apenas o primeiro livro protagonizado por Ari Thor, Neve Cega, um policial com um estilo muito similar ao de Agatha Christie, numa linha mais clássica: o protagonista recorre ao raciocínio e a lógica para deslindar o crime.

O que mais me cativou no presente título, A Escuridão, foi a protagonista, Hulda. A inspectora, no final de carreira e pressionada a abandonar a investigação, fez-me lembrar, de certa forma, a Jessica Fletcher de Crime Disse Ela. Confesso que não tenho bem presente a experiência de vida da personagem da série dos anos 80 pelo que Hulda cria uma inevitável empatia com o leitor devido não só à sua reticência em sair da polícia e dedicar-se ao trabalho apesar da sua idade, bem como o seu passado.

Hulda Hermannsdóttir é realmente muito especial. É viúva e não tem problemas de assumir que se sente só, que procura alguém com quem partilhar os momentos da sua vida. A pouco e pouco vai desvendando certos aspectos familiares e aí apercebi-me o quão se adequava o título do livro. A interacção dela com os colegas é convidativa a reflectir sobre o preconceito que existe sobre as pessoas mais velhas que se querem manter profissionalmente activas.
Confesso que, em certo momentos, já dava por mim curiosa em saber mais pormenores sobre Hulda, a ponto da minha afeição pela personagem ser tão intensa quanto o interesse que tinha sobre o crime.

Tenho um certo fascínio pela Islândia. Já no livro antecessor do autor, senti-me a viajar para a ilha, tal o grau de pormenor na descrição do país, um cunho muito pessoal do autor. Voltei a ter a mesma percepção nesta leitura e instalou-se, novamente, a vontade de viajar até lá.

No que concerne ao caso criminal, este assenta sobre o homicídio de uma mulher russa que estava clandestinamente na Islândia e aparece morta em circunstâncias suspeitas.
Sendo uma mulher estangeira, o crime começa por não ter uma atenção devida contudo, os indícios de tráfico de mulheres e máfias de leste envolvidas na exploração sexual das mesmas fazem com que este homicídio comece a ser levado mais a sério. Apesar do desenvolvimento da investigação ter contornos interessantes, não creio que sejam inteiramente originais.

Reitero que o especial da obra, para mim, recai sobre a protagonista e, acima de tudo, como este título, o primeiro da série, termina. É absolutamente chocante e inovador o desfecho que o autor nos propõe para A Escuridão, fazendo-me ansiar pela leitura do próximo livro da série, que entretanto já foi publicado por cá, A Ilha.

Não poderei estender-me sobre pormenores, afim de não dar qualquer spoiler, mas esta narrativa tem uma particularidade que nunca vi em nenhuma outra série, destacando-a das demais e dando um toque de originalidade e até de grande genialidade. 

Em suma, ainda que não tenha lido a série anterior na íntegra, atrevo-me a dizer que esta nova, protagonizada pela personagem feminina, supera a saga anterior do autor. A protagonista é mais carismática, o desfecho da trama é arrebatador e estou genuinamente curiosa em perceber o desenvolvimento da série, ainda que já tenha algumas teorias sobre como a mesma se desenrola, entretanto já confirmadas pelos leitores do novo livro.
Para os entusiastas de países escandinavos, este autor é mesmo a ter em conta!


2 comentários:

  1. Este, a Ilha recua no tempo, talvez uma 15 anos antes da Escuridão. Isso é original ;)

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    1. Verdade :) A tal particularidade na narrativa que considerei muito interessante

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