Stephen King é um consagrado escritor na área do terror que eu adoro. Não só os livros, como as diversas adaptações cinematográficas mostram a sua imaginação sem limites para produzir arrepiantes histórias que de certa forma, acabam por marcar o leitor (ou o telespectador).
Estações Diferentes, embora datado de 1982 e sendo assim um livro com 30 anos, reúne quatro contos que permanecerão sempre intemporais. Sim, tal como Meia Noite e Dois, este livro é uma colectânea de histórias independentes entre si mas que actualmente têm algo em comum: três delas foram adaptadas já para o grande ecran.
Normalmente um livro de contos, na minha opinião, é como ler quatro histórias independentes e o facto de ser um conto, normalmente com um menor número de páginas associado, a meu ver nada deixa a desejar em relação às obras "longa metragens". Quando se conta um conto, depreendo que seja importante o autor não se prender com pormenores ou detalhes que não vejam verdadeiramente relevantes para a narrativa. King segue este pressuposto, e em modo geral, as pequenas histórias mal têm momentos mortos.
A estrutura do livro é no mínimo original, associando cada conto a uma estação do ano, subtitulando-o com uma pequena frase. Dado esta singularidade que reunir histórias diferentes, penso que será de todo conveniente, tecer algumas considerações sobre cada uma delas.
Conto I: Primavera - A esperança é eterna
Os Condenados de Shawshank não é o típico conto de terror a que King anteriormente nos habituou. Trata-se de um relato em primeira mão de Red, um presidiário condenado a prisão perpétua. A narrativa surge como um envolvente diário que tem a finalidade não só de relatar as inúmeras situações que ocorrem diariamente num estabelecimento prisional bem como contar a história de Andy Dufresne.
Maioritariamente a história incide sobre este homem, inocente, e no esquema que ele habilmente concebe para fugir da prisão.
O facto é que a história não é de terror. Mas cativa... e muito! Acima de tudo pela simplicidade do enredo e pela mestria em como é relatado. Depois as doses que deveriam incidir na componente de terror são direccionadas para sentimentos como a esperança e o encorajamento em seguir os nossos sonhos. Sob a forma de diário, o leitor sente que é mais um presidiário em Shawshank e assiste a um panorama de corrupção, violações e alguma negligência por parte dos guardas prisionais. E sim, certos pontos então poderão ser impressionantes mas o facto é que, são passagens que se aproximam em muito da realidade.
Por isso fiquei rendida com Andy Dufresne, pela sua coragem em pôr o seu plano em prática, ainda que dissimuladamente.
É um pequeno conto que lemos num ápice e mal viremos a última página, concluímos que a narrativa é uma daquelas que inevitavelmente, nos faz sorrir e pensar... Um excelente conto!
Conto II: Verão - A Morte espreita
Aluno Dotado é o segundo conto desta antologia de histórias. Este conto já vai mais ao encontro do que é Stephen King, na medida em que apela mais a uma componente do horror. Ao contrário do conto anterior, que me fez sorrir em certas passadas, este é já mais obscuro e perturbador. Neste caso, estamos perante de Todd Bowden, um rapaz com um excelente comportamento e aproveitamento escolar que vê estas características descambar quando fica obcecado em desvendar o passado do seu estranho vizinho.
Comparando-o com o conto anterior, este é mais extenso. Grande parte da história incide sobre as chantagens do rapaz para com o velhote, obrigando a que este testemunhe sobre um passado um tanto ou quanto conturbado.
O aspecto mais salientado sem dúvida, neste conto, é a forma como King formula um perfil de psicopata, desde a sua origem e a sua evolução. Torna-se igualmente perturbador ler sobre uma criança ou pré adolescente, como lhes queiram chamar, dotada com estas características, principalmente quando se conhece a sua origem e acompanhamos a evolução. Depois o relato impressionante sobre as torturas a que eram submetidos os judeus, bem como a vivência em campos de concentração são passagens um tanto ou quanto difíceis de digerir. Tem um final, que eu não esperaria. Embora seja muito diferente do conto anterior, é também uma excelente short story.
Conto III: Outono - A Perda da Inocência
O Corpo conta a história de quatro miúdos que se aventuram nos bosques. O que à partida nos sugere uma história inocente sobre crianças, rapidamente se torna um obscuro conto sobre a curiosidade infantil muito natural e os seus limites, se é que estes possam existir. O conto explora quão ténue é a inocência de uma criança e a facilidade em perdê-la.
Há todo um panorama que descreve as diferentes educações dos rapazes e a forma como estes foram crescendo, influenciados pelas diferentes vivências. Mas o que eles irão ver nos bosques irá marcá-los, para sempre! Existe também nesta história, uma componente mais de terror que se ajusta ao factor muito humano que sem dúvida, é o mais marcante em O Corpo.
Sem saber explicar porquê, até porque adoro crianças e histórias de terror, este conto foi o que menos gostei apesar de ter achado interessante o dissimulado paradoxo entre a inocência da criança e a sua curiosidade natural, podendo levar a que esta, de um momento para o outro, perca a sua ingenuidade.
Conto IV: Inverno - Um Conto
Nesta short story, King apresenta-nos A Técnica da Respiração, um conto verdadeiramente sombrio. À partida, pensei muito no mote do conto. E aliás, penso que de forma geral, todas as mulheres terão certamente equacionado os diversos factores favoráveis a uma gravidez conturbada. Eis que o autor explora esta hipótese aos limites mais macabros que possam existir. Contextualizado como uma conversa de bar entre dois homens, um conta a história de Sandra Stansfield, uma mulher que dá entrada no hospital, nos anos 30, solteira e grávida. Há toda uma descrição de uma sociedade contra estes casos, o que por si só, revela um mau agoiro do que se segue.
Mas o conto vai além qualquer previsão que nós atrevamos a fazer. É uma história que tem tanto de chocante como de cativante e que irá deixar o leitor completamente boquiaberto! É de facto um conto excelente, que irá ferir as susceptibilidades do leitor mais sensível.
Em suma, Estações Diferentes, composto por quatro novelas com diferentes géneros, não se adequa apenas a um público alvo. Os contos, sendo também completamente diferentes na forma em como são narrados, como anteriormente salientei, faz com que qualquer leitor se delicie na companhia de um autor contemporâneo, que na minha opinião, é simplesmente brilhante!
Em comum aos quatro contos há toda uma escrita envolvente e tramas que deixarão o leitor agarrado ao livro, ansioso por terminar o mesmo.
Tal como Meia Noite e Dois, o autor termina com um posfácio, descrevendo as circunstâncias e a inspiração para estes quatro contos, ligando ainda mais o leitor ao próprio autor.
E deixo-vos um excerto que li, neste posfácio, da autoria de Stephen King (Janeiro de 1982) e certamente se irão identificar:
"Espero que tenha gostado destas histórias, leitor; que elas tenham feito esquecer o que qualquer boa história deve fazer: ajudá-lo a esquecer os problemas reais que o atormentam e levá-lo para um lugar onde nunca esteve. É o tipo de magia mais agradável que conheço"
Pois é, Sr. King, não poderia concordar mais! Este é sem dúvida uma excelente colectânea de contos que recomendo vivamente! Resta agora a vontade de ler mais obras do autor e claro, visionar as adaptações cinematográficas dos três contos desta antologia de pequenas histórias.