Muitos de vós poderão pensar o que faz E L James num blog sobre literatura policial. Passo a explicar: quando o livro foi publicado, foi rotulado de thriller erótico. Nestes termos só me recordo mesmo da minha agradável experiência com Killing Me Soflty de Nicci French, de modo a que fiquei curiosa com estas cinquenta sombras.
Pois eis que... o livro não se enquadra neste género. Mas foi realmente uma leitura tão intensa que terei mesmo que comentar aqui.
Basicamente o livro retrata a evolução da relação entre Anastacia Steele e Christian Grey, explorando as suas personalidades: Ana é ingénua e inocente mas Christian é controlador e obsessivo, adjectivos que se reflectem não só nas acções do quotidiano como nas suas práticas sexuais que incluem
bondage e BDSM.
Para quem não sabe, e descomplicando o que estes termos querem dizer, nestas práticas existem um(a) submisso(a) e um(a) dominador(a). Um submisso deve disciplina e submissão ao dominador, que caso falhe, o pode punir com os mais diversos acessórios, desde a palmatórias até chibatas ou chicotes. Se esta minha definição é demasiado vaga, sempre podem fazer uma pesquisa na internet.
Antes de partir para o livro, muito
open minded que sou, eu própria fiz questão de fazer alguma pesquisa. Sobre BSDM já tinha uma vaga ideia... o que suscitava a minha curiosidade era o porquê do êxito do livro.
A que surgiu em primeiro lugar foi a comparação deste livro face à saga Twilight (que também li ainda antes deste blog nascer) pelo que tenho que discordar com tal facto.
Para já os livros de Stephenie Meyer são rotulados de fantasia, ponto, o que impossibilita o seu acontecimento! Se existe semelhança tal se deverá ao facto talvez, de um amor quase impossível ocorrer que obrigue a uma cedência de ambas as partes.
Lá pelo facto de EL James ter lido a tetralogia de vampiros e equacionado a escrita dos seus próprios livros, não entremos por comparações sem nexo, pois Stephenie Meyer dirige os seus livros a um público mais jovem, e os livros de EL James são claramente destinados aos mais adultos pelas explícitas passagens sobre sexo.
Não posso estabelecer comparações com outros livros pois nunca li um romance erótico (talvez com excepção de Diz-me Quem És da Jessica Bird ou os livros de Sandra Brown), mas a minha percepção é que todo o livro é bastante sensual, intenso e cria ali uma dependência, o que leva a uma rápida e compulsiva leitura. Por mim falo, que li o livro de 500 e poucas páginas em apenas dois dias.
Ao contrário de um livro policial ou thriller, em que fechava o livro, equacionando o que iria acontecer doravante, este género literário é mais leve, sendo uma leitura bastante fácil. Não estou familiarizada com este livro de literatura, uma vez que o thriller é mais complexo e exigente mas o facto é que gostei bastante do livro e fiquei curiosa em ler os restantes volumes que compõem este trilogia.
A história do livro até é bastante simples mas cativou-me não só pela abordagem de bondage e BDSM que, (e desculpem se estou errada mas sou mesmo muito imberbe na leitura de romances) é uma temática invulgarmente usada em literatura de romance sensual. Além disso, gostei particularmente do facto de Christian ser tão misterioso que, a pouco e pouco, vai desvendando um pouco de si, do seu sombrio passado e de como este o afectou enquanto adulto.
Penso que as práticas de bondage e BDSM não são tão invulgares quanto se julga, mas que não socialmente aceites neste nosso país. Recordo-me de um programa na Sic Radical que explanava esta temática. Falar sobre sexo, quer queiramos quer não, ainda é tabu actualmente, quanto mais a prática ousada supra referida neste livro. Estas fantasias sexuais mais extremas são descritas com um certo toque de requinte e são bastante eróticas. Não menosprezo nem critico o calão pois compreendo que seja quase acessório a esta prática tão
hardcore. Note-se que esta linguagem é usada apenas em diálogos e nunca nas descrições, evitando que estas caiam de certa forma, numa vulgaridade facilmente confundível com pornografia literária.
Falando especificamente nas descrições, devo dizer que achei-as menos violentas que a própria prática sugere, dotadas de algum requinte e primor, facto que me surpreendeu positivamente, dada a temática abordada.
Sim, o livro tem muito sexo, gráfico, o que pode representar uma leitura mais constrangedora às mais tímidas.
No meu ponto de vista, vendo também inúmeras críticas que destronam a personagem Anastacia pela sua ingenuidade aos 21 anos de idade: pode acontecer e de facto há raparigas que com esta idade são virgens pelos mais diversos motivos. A ingenuidade pode advir de uma pouca auto estima, o que é facilmente perceptível, se tivermos em conta que a autora contrabalança com uma personagem masculina de forte carácter. Esta é uma oposição extrema de carácteres dado a (extrema) auto estima de Grey, o seu controle, o seu perfeccionismo. A descrição do mesmo como um Adónis pertence à fórmula atractiva do público feminino na leitura deste livro.
As Cinquenta Sombras de Grey é claramente um romance no domínio do sensual, pautado por alguns elementos dramáticos. Afinal de contas há sofrimento e algumas dúvidas.
O desfecho do livro foi deixado em aberto para que soframos até Outubro, mês em que será publicado o segundo da trilogia, o qual irei ler de imediato. Cativou-me ler este livro, completamente oposto do meu género de eleição. É um livro que irá ler com um sorriso nos lábios e a deixará com vontade de apimentar a relação com o seu mais que tudo.