Sinopse: AQUI
Opinião: Há uns tempos atrás, vi um caso sobre duas crianças que mataram uma terceira, em Inglaterra, e sempre me questionei se o crime teria sido premeditado. Uma criança terá a capacidade de discernir a morte? Terá vontade de, efectivamente, matar?
É sobre esta premissa que assenta um dos casos deste O Culpado: Sebastian Croll de onze anos é suspeito de ter morto Ben Stokes, de apenas oito.
Sebastian é um menino curioso, escondendo uma vida familiar complicada. Como vem de uma família rica, não há evidências de abuso e negligência. É uma personagem inquietante pois tendo onze anos, é novo demais para medir as consequências dos seus actos. Não obstante, estranhamente, ele interessa-se por violência...
No entanto, o protagonista é Daniel Hunter, o advogado de defesa de Sebastian. Ao lidar com este fez com que reflectisse sobre a sua vida e compreender os erros que cometeu, principalmente com Minnie, a mulher que o adoptou e o tratou como filho. Um adulto que se identifica com o réu e parte para contar o porquê. Por meio de analepses, intercaladas com a acção actual, o leitor vai conhecendo a infância complicada de Daniel que fora retirado à mãe toxicodependente e negligente. Uma personagem que em tenra idade torna-se rebelde e violento, com vários acessos de fúria pois apenas anseia algo, que para nós é tão natural: o amor materno.
Finalmente chega a uma casa de acolhimento, uma quinta onde os animais e a vida rude do campo imperam. Minnie acolhe-o e, depois de muitas provações, Daniel começa a amá-la, como se tratasse da sua própria mãe.
Para mim, o fascinante deste livro foi a forma como a autora conseguiu elaborar dois mistérios: se o primeiro assenta sobre a dúvida de Sebastian ser efectivamente o autor do crime, o outro reside no passado de Daniel e porque é que este se afastou de Minnie. Trabalhar as duas tramas em simultâneo confere um ritmo lento. Na minha opinião, apesar da história de Daniel não possuir, à partida, o impacto da dimensão do caso de Sebastian, senti-me tão cativada por este menino e pela evolução da sua relação com Minnie, antevendo que algo de muito errado iria acontecer.
O livro divide-se em três partes denominados por Crimes, Culpa e O Julgamento, e é notório o crescendo da intensidade dos acontecimentos que se faz sentir. Em ambos as subnarrativas, portanto.
Como a sinopse assim o refere, a parte referente ao julgamento, incide sobre uma audiência, pelo que os fãs de Grisham ficarão particularmente satisfeitos. Reconheço que os desinteressados em tramas cujo pano de fundo seja o tribunal fiquem desiludidos.
De ritmo moroso, O Culpado é um livro que apresenta um subtil mistério, explorando o terrível mundo dos maus tratos e negligência infligidos às crianças. De forma a enriquecer a trama, são mencionados outros temas como o bullying e alguma psicologia infantil com especial incidência sobre o Síndrome de Asperger. À medida que desfolhei este livro fui conhecendo como uma criança tão fragmentada consegue aprender a amar e a confiar quando até então nunca pensara ser possíveis estes sentimentos. Por ter uma amiga que trabalha numa casa de acolhimento, não pude deixar de sentir tanta familiaridade nos casos de Daniel e Sebastian, tendo ficado, por diversas vezes emocionada. Sensação esta, incontornável para quem é mãe/pai ou simplesmente adora crianças.
Em Culpado seriam expectáveis dois desfechos e estes são previsíveis. Contudo, não inviabiliza o que está para trás: uma "tareia" moral sobre a capacidade de perdoar e redenção numa das relações mais fortes experienciadas pelo ser humano: a ligação materna, seja ela biológica ou não.
Finda a leitura, falo por mim que fiquei de coração destroçado. Acabara de ler um enredo tão belo e emocionante e ao mesmo tempo tão duro e devastador. Uma história que, certamente, nunca irei esquecer.