Sinopse: AQUI
Opinião do Ricardo: A Viúva Negra é o novo romance do
aclamado escritor norte-americano Daniel Silva e é o décimo sexto da série
Gabriel Allon, contudo, para mim, foi a primeira leitura de uma obra deste
autor.
Ainda antes do início da
narrativa somos alertados, por uma nota do referido autor, para o facto de a
obra em questão estar já em fase de conclusão aquando dos verídicos atentados
de Paris na noite de 13 de Novembro de 2015. A razão dessa chamada de atenção
por parte de Daniel Silva fica esclarecida logo nas primeiras páginas da
narrativa, pois toda a trama emerge a partir de um grande atentado em Paris
contra o edifício onde se encontrava instalado um centro judaico.
De seguida vamos assistir às
movimentações de várias organizações governamentais europeias dedicadas a operações
de espionagem e contra-terrorismo, vulgarmente designadas como “serviços
secretos” e simultaneamente vamos travar conhecimento com Gabriel Allon,
operacional de uma agência governamental israelita e o protagonista não apenas
da presente obra, como de toda uma saga que, conforme referido, conta já com
dezasseis títulos.
Sem querer desvendar muito das
funções que Allon ocupa na hierarquia da Secreta israelita, esse personagem
apresenta-se-nos como um homem experiente de cabelo já grisalho cuja idade
nunca é revelada mas que poderá rondar os 50 anos de idade. O mesmo é também
apresentado como alguém com um talento invulgar para a pintura, com particular
destaque para o restauro de obras de grandes mestres da pintura como
Caravaggio. Contudo fica a impressão de que este Gabriel Allon é um indivíduo
que possui inúmeros atributos em variadas áreas, sendo igualmente dotado de um
instinto que lhe permite vislumbrar os inimigos antes dos demais operacionais
dos serviços secretos. Por isso uma pequena crítica tem que recair sobre este
protagonista que, mau grado ser assombrado por alguns fantasmas do seu passado
(algo que é cada vez mais comum nos protagonistas de romances policiais ou de
espionagem), afigura-se-nos como uma figura quase demasiado perfeita para ser
verdade, o que o afasta de alguma verosimilhança.
Numa primeira fase da trama
Gabriel Allon une esforços a Paul Rosseau, alto quadro dos serviços secretos
franceses, e a Farid Barakat, líder dos serviços secretos jordanos, procurando
manter um certo equilíbrio nas frágeis relações entre agências governamentais
europeias e as agências dos aliados do mundo árabe. Os seus esforços levam-nos
a descobrir toda uma rede de recrutadores do auto-proclamado Estado Islâmico
(em árabe: الدولة الإسلامية, ad-Dawlat al-Islāmiyah), rede essa que estende os seus tentáculos,
desde os campos de treino localizados na região de fronteira entre a Síria e o
Iraque, até aos subúrbios das grandes capitais europeias como Londres, Paris ou
Bruxelas.
Neste capítulo acabamos por ser
agradavelmente surpreendidos pelo grau de profundidade com que Daniel Silva
aborda a complexa problemática do Estado Islâmico e das suas ramificações na
Europa. Embora a informação possa, à primeira vista, parecer demasiado
exaustiva, creio que é de aplaudir a aturada investigação a que Daniel Silva se
dedicou e que, sem dúvida, vai muito além do que é veiculado pelos meios de
comunicação social ocidentais.
Num segundo momento da narrativa, conhecemos
então a doutora Natalie Mizrahi, uma médica judia de origem francesa que
trabalha num hospital israelita e que vai ser contactada pelo Departamento de
Gabriel Allon para ser um precioso auxiliar na luta contra o terror do Estado
Islâmico. A partir daí a narrativa assume uma melopeia mais descritiva no que
concerne aos métodos de treino e inserção de operacionais na complexa teia de
terror criada pelo gigante do terrorismo internacional. Esta nova fase, que
gira quase exclusivamente em torno de Natalie, acaba por secundarizar o próprio
Gabriel Allon e corresponde simultaneamente a uma parte significativa da trama,
pautando-se por um ritmo mais lento mas, por vezes, com momentos de alguma
tensão.
É apenas na terceira e última fase da
presente obra que a mesma vai adquirindo um ritmo cada vez mais elevado, desdobrando-se
entre as movimentações de Gabriel e de Natalie até um clímax de verdadeira
tensão e terror que certamente não desiludirá os fãs do género. Todavia estes
momentos que nos fazem retesar todos os músculos do corpo são seguidos por um
longo anti-clímax, corporizado nas últimas quarenta páginas da narrativa, que
vão esclarecer algumas coisas do passado de Allon e que poderão revestir-se de
algum interesse para quem acompanha a saga mas que se podem revelar algo
penosos para aqueles que, como eu, escolheu A Viúva Negra como primeira leitura
no cânone de Daniel Silva.
Sem dúvida uma leitura interessante e,
nalguns momentos, bastante empolgante, que entusiasmará os fãs do subgénero
espionagem e que, como referido anteriormente, é pontuada por várias descrições
e informações sobre o auto-proclamado Estado Islâmico que sublinham a
verosimilhança de um momento dramático actualmente vivido no Ocidente onde o modus
vivendi tem sido frequente e abruptamente interrompido por acções de terror
perpetradas pela aludida organização terrorista ou pelos seus simpatizantes que
se encontram espalhados por vários países ocidentais.
Em suma, mais do que uma leitura, A Viúva
Negra é um alerta para os novos e perigosos momentos que atravessamos.