quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Cara Hunter - Sem Saída [Opinião]

Sinopse: AQUI

Opinião: Terceiro livro protagonizado por Adam Fawley e devo dizer que está à altura dos antecessores que, a meu ver, denotam uma originalidade ímpar. Isto porque a fórmula da autora prende-se com a narrativa, nas mais diversas perspectivas temporais imiscuída em excertos de relatórios ou páginas de internet em que até podemos ler os comentários dos internautas. Indubitavelmente que esta estrutura incomum e dinâmica torna a obra mais célere, voraz e, de certa forma, algo convincente. 

O caso em apreço é chocante: estamos perante a investigação de um incêndio que vitimou uma família e cujos contornos são, no mínimo, impactantes. Afinal de contas, este incidente provocou a morte de uma criança de 3 anos e a possibilidade de uma outra, de 10, poder não sobreviver. O caso adensa-se quando o paradeiro dos pais é desconhecido e o leitor leva a equacionar uma situação de negligência. Casos relacionados com crianças são, a meu ver, de dificil compreensão e, por este motivo, creio que a presente trama poderá trazer um impacto maior comparativamente com alguns livros policiais publicados por cá nos últimos tempos. 

A trama propriamente dita é repleta de reviravoltas. Apesar de confessar que esta leitura foi um pouco arrastada, percepção que terá sido pessoal uma vez que se deve apenas ao cansaço de trabalho, foi um livro que me entreteve, acima de tudo, e me manteve interessada na resolução do caso.

Como referi anteriormente, a narrativa acompanha a investigação deste caso ao mesmo que retrocede na acção e permite-nos conhecer a vida daquela família antes da tragédia. As tramas que dissecam os segredos de um núcleo familiar interessam-me muito. Atrai-me a ideia de uma família aparentemente perfeita que encerra alguns esqueletos no armário.

Apesar de não ser estritamente necessária a leitura das duas obras antecessoras, até porque a presente trama contextualiza, de forma bastante sintetizada, os acontecimentos mais flagrantes da vida do protagonista, creio que será interessante o conhecimento das histórias anteriores para averiguar a evolução da autora. A meu ver, ela manteve o mesmo registo. Contrariamente à grande maioria dos leitores, não creio que este título tenha ficado aquém dos demais. Afinal de contas, o desfecho acabou por me surpreender como já acontecera nas ocasiões anteriores e, mais uma vez, fica o sentimento de "leria concerteza o livro seguinte da autora caso o tivesse imediatamente disponível".

Em suma, estamos perante um livro, ou se quiser ser abrangente, uma série que se prima pela capacidade única de colocar o leitor literalmente na história através da estrutura única da obra. Cara Hunter é, desta forma, uma autora a manter debaixo de mira. 


 

domingo, 11 de outubro de 2020

Samuel Bjørk - Viajo Sozinha [Opinião]

Sinopse: AQUI

Opinião: Tenho para mim que este livro terá uma opinião consensual à grande maioria dos leitores. Posto isto, como entusiasta de um bom policial nórdico que sou, ia já preparada para me deparar com uma história que, a avaliar pela premissa, prometia ser bastante pesada. Os crimes contra as crianças são, indubitavelmente, aqueles que mais me chocam. Na obra em epígrafe, deparamo-nos com um espectro de atentados a crianças, passando pela negligência, culminando no de maior gravidade, o homicídio. As vítimas são crianças em idade pré escolar, o que pode acentuar os contornos impressionantes dos assassinatos e, pessoalmente, considero que os pormenores relativos ao modus operandi torna-os ainda mais difíceis de digerir. 

Contudo, Viajo Sozinha não se cinge apenas a esta premissa. A história é enriquecida com uma subtrama, alusiva à comunidade religiosa do local e, desde cedo, o leitor é incitado a estabelecer uma relação entre as duas histórias aparentemente desvinculadas, tendo apenas como denominador comum o papel da criança como vítima.

Uma narrativa com esta complexidade carecia de dois protagonistas que lhe fizessem jus: Holger Munch e Mia Kruger. O protagonista masculino, um polícia bastante experiente, já com uma neta com idade pré escolar é, talvez, o aspecto mais previsível da história. Afinal de contas, a pequena Marion tendo a idade das vítimas do serial killer, poderá, eventualmente, constituir mais uma vítima do antagonista. Por outro lado, Mia, tem sérios problemas familiares que a afectaram drasticamente. É uma mulher que inspira grande compaixão, por isso. É notório que estas histórias de vida tão sobredesenvolvidas, uma característica por vezes incomum no livro de estreia de uma série, conduzem a uma familiaridade entre o leitor e a obra, pelo que, inevitavelmente, finda a leitura, fica o desejo de ler, quanto antes, a continuação desta história. 

Uma vez que a acção é repartida em duas subtramas, além das histórias pessoais dos protagonistas, creio que a obra é bastante envolvente, estimulante e complexa, razão pela qual devo mencionar o único aspecto menos positivo e que considero pertinente ser referido: Viajo Sozinha é uma obra extensa, ascendendo a mais de 500 páginas, pelo que poderão contar com uma história cativante sensação que se deve sobretudo aos pormenores que enriquecem a trama. Porém, o mesmo não se verificou com o desfecho. Tive uma sensação que este foi demasiado apressado e, para a história que Bjørk arquitectou, pessoalmente teria gostado que o final fosse mais explorado e, acima de tudo, que o epílogo fosse um pouco mais animador. Ainda assim, desperta um imediato interesse pelas obras que sucederão a esta. 

O balanço final de Viajo Sozinha superou largamente as minhas expectactivas. Estamos perante uma trama complexa e verdadeiramente emocionante com um extra: Samuel Bjørk ficará na lista de autores a manter debaixo de mira.