Sinopse: «Por todo o mundo, sempre que a Polícia se depara com casos
particularmente difíceis, recorre a médiuns e espíritas. No entanto, em
nenhum documento figura a colaboração de um médium para a resolução de
um crime.»
Flora Hansen diz-se espírita e garante ser capaz de falar com os mortos. Certo dia, ouve na rádio uma notícia
sobre o caso de uma jovem assassinada num centro de acolhimento de
menores e, na tentativa de ganhar um dinheiro extra, decide telefonar
para a Polícia dizendo que o espírito da morta entrou em contacto com
ela. No entanto, os resultados da investigação técnica atribuem a
autoria do crime a outra das internas, uma jovem sensivelmente da mesma
idade, que desde então está a monte.O comissário da Polícia
Joona Linna resiste à versão oficial e inicia uma investigação por sua
própria conta. Mas cada nova resposta parece apenas conduzir a um novo
enigma e a mais um beco sem saída.
E ninguém se dispõe a ouvir a vidente, embora ela fale com os mortos.
Opinião: Mais um excelente livro da dupla Lars Kepler. O seu primeiro livro, O Hipnotista, tinha-me cativado a ponto de me tornar fã. No entanto, achei O Executor um pouco aquém se tiver em conta o livro de estreia. Com A Vidente, a meu ver, eles voltaram a justificar o lugar pioneiro dos meus autores de eleição.
Há ligeiras semelhanças entre este livro e o Hipnotista. As investigações policiais devem ser o mais científicas possíveis (baseando-se em provas), dispensando a colaboração de pessoas que manifestem dons, como este caso ou empreguem métodos menos convencionais, anteriormente explorado pelo Hipnotista.
Em concreto, o que inicialmente prometia uma história com contornos do foro paranormal, dados os dons de médium de uma das personagens, rapidamente se revela uma história extremamente realista.
O que me apraz dizer sobre a trama, é que além de um teor de adrenalina, sem quaisquer momentos mortos, é também bastante gráfico. Os autores não se coíbem em pormenores de natureza mais violenta. Ao mesmo tempo, a trama é também muito psicológica. De facto, não me lembro de um local mais propício para o efeito do que o cenário aqui mencionado: um centro de acolhimento de jovens, onde muitas delas lutam entre os efeitos da medicação para manterem a sanidade mental e esconderem qualquer dissimulado distúrbio psicológico.
O autor conseguiu retratar na íntegra um ambiente tenebroso e sombrio, muito dejá vu de filmes de terror e simultâneamente o espírito de entreajuda de algumas jovens, contrastando com as relações de conflito que se geram naturalmente no grupo de raparigas.
Este tema sempre me angustiou talvez por ter uma amiga que trabalhe num destes centros e me relate, em jeito de confidência, algumas situações do quotidiano e inevitavelmente acabei por me sentir familiarizada com tantas ocorrências que Lars Kepler dramatizou de forma tão brilhante.
Posto nestes termos, a trama acaba por contemplar esta profunda reflexão sobre os sentimentos dos internados nestas instituições, por vezes vítimas de atrocidades cometidas até pelos mais íntimos, intensificados pela fase da adolescência, que por si só é complicada.
Mas Kepler entrosa duas outras tramas, de importância fulcral, na já emotiva subtrama das adolescentes: a da vidente, Flora Jansen responsável pelos cuidados geriátricos de um casal mas a braços com uma situação delicada contrapondo-se a Elin Frank, pertencente ao jet7 que se envolve no caso devido à sua angústia. Um claro exemplo de que o autor fundamenta com complexidade as personagens intervenientes, ampliando o leque de personagens que, a par de Joona Linna, têm relevância para o caso.
Em ex aequo, A Vidente acaba por ser uma história perfeitamente sólida no que concerne à investigação policial. As tramas vão fundir-se numa única, de forma muito improvável. A fórmula já utilizada pelo autor em Hipnotista, volta a figurar-se útil na caracterização em leitura ávida. Falo portanto, das falsas pistas que remetem a uma acção e suspense constantes, à medida que o leitor se depara com revelações em catadupa. Estas, como evidente, intensificam-se no final ao constatar-se o assassino, e acima de tudo, nas suas motivações.
Em considerações finais, creio que A Vidente é tão bom ou melhor que o livro de estreia O Hipnotista. Surpreendeu-me várias vezes enquanto li o livro praticamente num dia. Merecidas as 5 estrelas arrecadadas por mim no Goodreads! Em suma, um livro espectacular!