quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Joël Dicker - A Verdade sobre o Caso Harry Quebert [Opinião]


Sinopse: Verão de 1975. Nola Kellergan, uma jovem de quinze anos, desaparece misteriosamente da pequena vila costeira de Nova Inglaterra. As investigações da polícia são inconclusivas. Primavera de 2008, Nova Iorque. Marcus Goldman, escritor, vive atormentado por uma crise da página em branco, depois de o seu primeiro romance ter tido um sucesso. Junho de 2008, Aurora. Harry Quebert, um dos escritores mais respeitados do país, é preso e acusado de assassinar Nola, depois de o cadáver da rapariga ser descoberto no seu jardim. Meses antes, Marcus, discípulo de Harry, descobrira que o professor vivera um romance com Nola, pouco tempo antes do seu desaparecimento. Convencido da inocência de Harry, Marcus abandona tudo e parte para Aurora para conduzir a sua própria investigação.

Opinião: Tenho ouvido um pouco pela blogosfera que A Verdade sobre o Caso Harry Quebert é o fenómeno literário deste ano. Daí que iniciei esta leitura com grandes expectativas. No entanto, finda a leitura, não creio que o livro seja merecedor deste título. 
A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert apresenta uma estrutura interessante, enfatizando o mundo dos livros; desde a sua concepção que passa pelo processo da escrita criativa, a desmistificação o uso de escritores fantasmas até aos problemas acarretados pela escrita de um bestseller, onde a responsabilidade da escrita de mais um êxito assenta sobre os ombros do autor. Gostei deste ponto de vista praticamente exclusivo de quem escreve e faz disso vida, acabando inclusivé por ser um aspecto original e inovador comparando com os livros que li anteriormente.
Porém, não é sobre as problemáticas dos autores literários que o livro se debruça exclusivamente. Como a sinopse o refere, existe um assassinato, cometido há trinta anos antes.

Na minha opinião, o livro estaria mais bem conseguido se o autor se cingisse ao fundamental. São quase 700 páginas de uma história com várias reviravoltas, tantas quanto as inferências e as contradições no cruzamento dos vários testemunhos.
O livro, no entanto, distancia-se da criatividade expressa no ponto que acima descrevi pois de uma certa forma, a história faz lembrar The Killing ou Twin Peaks. Grande parte do elenco se constitui suspeito, pelas mais improváveis razões e pela forma como o aprofundar da história traz consigo uma série de revelações sobre a população de Aurora que lidou com Nola. 
A trama é quase toda uma investigação instaurada pelo autor Marcus Goldman, na tentativa de ilibar o seu mentor Harry Quebert da morte de Nola Kellergan, sendo esta baseada em diversos interrogatórios e fundamentada por reconstituições que remotam aos anos 70. Daí que, na minha opinião, o livro peca pela tendência na repetição de informação: se um novo facto é descoberto por Goldman, o mesmo volta a ser expresso quando a acção regride até ao passado. Os capítulos não são muito longos e em comum, têm como início uma troca de impressões entre Marcus e Harry sobre a industria dos livros, revelando alguns truques na sua escrita (bastante motivadores para quem ambiciona escrever um livro futuramente).

Há um aspecto pouco verossímil a apontar na formulação das personagens, em concreto na de Harry Quebert. Confesso que me faz alguma confusão o facto de um homem com trinta e quatro anos se apaixonar por uma rapariga de quinze. Embora esteja implícito um romance, o autor abstém-se das demais conotações pedófilas, portanto um romance todo ele dentro dos trâmites platónicos, expressos por cartas demasiado ingénuas. As próprias acções do casal também o são, parecendo que a sua actividade favorita é dar pão às gaivotas. 
A meu ver, factos estes inconcebíveis pois nunca me esqueci que ele com trinta e quatro anos teria certamente necessidades diferentes de uma moça de quinze anos. Quanto ao Marcus Goldman, até simpatizei com o autor e achei particularmente deliciosos os diálogos deste com a mãe ao telefone, auferindo à narrativa alguns momentos de humor. 

Apesar dos pontos negativos que salientei, A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert é um bom livro, embora, na minha opinião, haja pormenores que considerei inconsistentes com a trama e que achei relevante salientá-los. Eu gostei do livro, embora o meu ponto de vista divirja dos vários que fui encontrando e que consideram este livro como uma obra prima.
Os fãs de Twin Peaks e The Killing irão certamente apreciar este volumoso policial com tantos ensinamentos sobre o mundo dos livros, fascinantes aos olhos de quem é fã destes objectos tão mágicos. 

2 comentários:

  1. Também li e comentei este livro: http://azul-rosaeestrelas.blogspot.pt/2013/09/livros-que-ja-li-este-verao-iii.html. Concordo bastante consigo, senti o mesmo ao ler o livro.

    ResponderEliminar
  2. Li este livro e achei qualquer coisa de espetacular! Fiquei com a sensação que nunca mais voltaria a encontrar um thriller de que gostasse tanto. Ao ver este blog, chego à conclusão que ainda tenho muito para explorar e que estou certamente enganada! Venha o próximo :P

    ResponderEliminar