segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Especial MOTELx 2018: The Cleaning Lady de Jon Knautz


Que surpresa este filme!
Catalogado no festival como terror extra forte, é consensual afirmar que é, de facto, um filme que não deixa ninguém indiferente. Não falo especificamente do gore (ainda que comece com uma estranha cena de ratos num liquidificador - isto há cá com cada smoothie...) pois nem achei excessivo, mas pela carga sentimental que a história acarreta. Pessoalmente não esperava que me tocasse tanto ainda que reconheça que The Cleaning Lady não é, de todo, uma trama original. A meu ver tem uns laivos de Mientras Duermes, The Resident e White Single Female por se debruçar sobre o tema da obsessão e relações tóxicas.

Diria que a protagonista, Alice, é uma mulher independente se não fosse um aspecto: apesar de trabalhar por conta própria e ser bem sucedida a nível profissional, ela tem um caso com um homem casado. A sua consciência diz-lhe que deve deixá-lo pelo que a personagem procura manter-se ocupada com as banalidades do dia-a-dia. É neste plano de maior carência afectiva que começa a relacionar-se com a empregada doméstica, Shelly, uma mulher com uma deformidade física e de parcas palavras.

Não deixo de salientar a deformidade física da vilã que, obviamente, nos remete para clássicos como O Fantasma da Ópera ou o Freddy Krueger da saga Nightmare on Elm Street. Há algum tempo que não tínhamos uma antagonista que se destacava por alguma particularidade física, deitando por terra, neste específico caso, que o mal pode residir perto de nós sem que o percebamos.

A extensiva caracterização de Shelly, através de flashbacks, ajudam a construir a complexa personalidade que ela se tornou e, inevitavelmente, o telespectador é convidado a reflectir sobre a correlação entre uma infância feliz e uma saúde mental normal. Este desenvolvimento complexo poderá, eventualmente, ter como função a desresponsabilização dos seus actos em resposta ao sentimento de compaixão que nos vai apoderando de nós. 

Só lamento o desfecho. Pareceu-me bastante abrupto e não fechou a situação da forma como pessoalmente teria esperado. O filme carecia de mais uns minutos para resolver devidamente a situação criada por Shelley e, a meu ver, desta forma, teria tornado a história ainda mais sólida.

Não esperem um filme original, não obstante considerá-lo extremamente poderoso e intenso. Curioso que um filme que tenha passado mais despercebido no festival do que o da sessão de abertura, The Nun, seja bastante superior e tenha uma maior solidez a nível de história.
A Shelly ficar-me-á na retina por muito tempo. 

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