segunda-feira, 1 de agosto de 2011

James Ellroy - L.A. Confidential [Opinião]


Embora já tenha visto este livro, editado através da colecção Sábado, nunca o comprei nem sequer vi, até à altura, o filme baseado na obra. Assim foi uma surpresa lê-lo através da Editorial Presença.

A acção em L.A Confidential passa-se nos anos 50. A vida é maravilhosa em Los Angeles, com óptimas praias, uma elevada probabilidade de esbarrarmos com uma estrela de cinema e as pessoas são amistosas. Um verdadeiro paraíso na Terra... se não existisse um submundo de corrupção dominado por negócios sujos, tráfico de droga e prostituição. Uma rede criminal organizada numa cidade onde a força policial se tenta impor, para recriar a imagem de sonho de L.A.

Assim o enredo destaca três polícias, com dois aspectos em comum: todos têm histórias de vida bem complicadas e escondem uns quantos segredos sombrios. Ora vejamos, Bud White abomina casos de violência doméstica, até porque ele próprio, em tenra idade, esteve envolvido num caso semelhante; Jack Vincennes tem alguma influência no mundo dos famosos (incluindo grandes affars com estrelas), mas não tem qualquer pudor em denunciar os seus podres; Ed Exley vive na sombra do pai, Preston Exley (ex polícia mas com um actual cargo importante no mundo político) e tenta a todo o custo ser reconhecido por mérito próprio. Ao contrário do que possa parecer, a relação entre estes três personagens não é de forma alguma cordial.

Devo confessar que inicialmente me custou bastante entrar na história dada a quantidade de informação quer sobre os locais (uma pormenorização do misticismo patente dos anos 50), descrições de várias personagens associando aos seus longos diálogos ou situações de corrupção. Uma dualidade que podemos desde já apontar: por um lado o início do livro é extremamente acelerado, por outro, torna-se mais difícil gerir tanta informação. Globalmente, o enredo é intenso e bastante complexo.

No entanto a partir da 2ª parte do livro, em que se relata o massacre do Mocho da Noite, a acção começa a a definir os seus contornos, e as personagens que realmente são relevantes para o enredo estabilizam. São explanados outros crimes, como o apelidado de Flor de Lis, com incidência directa (e extremamente chocante) sobre o mundo da pornografia, a corrupção e traição existente no seio do mundo policial (certos membros assemelham-se mais a gangsters do que propriamente polícias).

Não achei uma leitura fácil, devo ser honesta. A linguagem é bastante dura com uma utilização banal de palavras eventualmente ofensivas, relatando com a maior crueldade, actos sexuais e de violência. E certo que nos anos 50 já existia aquilo que hoje se chama racismo, mas no livro este fenómeno atinge proporções doentias e sádicas!

A estrutura do livro quebra bastante a monotonia. Basicamente é composto pela narrativa propriamente dita, vários diálogos, excertos de relatórios policiais bem como artigos da revista ultra referenciada na obra, Hush Hush. De certa forma esta estrutura dinamiza a acção e faz com que o leitor percepcione a história sob o ponto de vista das demais personagens. Escrito de forma imparcial, o leitor faz os seus próprios juízos de valor em relação às mesmas, sendo que é expectável esperar uma empatia das personagens mais sofridas e uma repulsa relativamente àquelas que mais contribuem para o estado danoso em que a cidade se encontra.

Gostaria de salientar alguns aspectos que me pareciam importantes afim de ser aprofundados: a investigação policial (que por haver vários homicídios, a acção acaba por incidir na sua totalidade de uma forma quase como superficial), o foco dos acontecimentos nas várias personagens (a teia de situações comuns às personagens era demasiado densa, logo desde o início do livro). De tantos crimes que ocorrem em L.A. Confidential, os mesmos acabam por se tornar banais e insípidos. Embora tenha sido uma leitura morosa, foi igualmente bastante intensa e pesada.

Dada a minha curiosidade pelo enredo vi o filme enquanto lia o livro. Achei a adaptação cinematográfica bastante leal ao argumento original e devo reconhecer que o casting foi muito bem escolhido (pessoalmente gosto do trabalho dos actores Russell Crowe e Kevin Spacey). À medida que ia lendo o livro já a cara de Crowe à personagem do Bud White :)

Apesar de admitir que esta é uma boa história (e quem sou eu para duvidar da genialidade de James Ellroy), devo confessar que este livro, a nível global, não me cativou tanto quanto eu gostaria. Ainda assim, o livro mostrou ser bastante interessante à medida em que se aproximava o desfecho e as relações entre os personagens principais se revelaram. Inesperado foi desvendar o verdadeiro fio condutor de toda a história, estava além de tudo que eu tinha equacionado. Neste aspecto o livro consegue ser bem mais intenso do que o filme!

No entanto, tenho na biblioteca pessoal, o livro Dália Negra do autor (também pertencente à colecção O Fio da Navalha da Editorial Presença), e assim que me sentir preparada em voltar à dura e complexa escrita de Ellroy, será certamente objecto da minha escolha.


3 comentários:

  1. Muito bem Vera. Excelente! A Diana tem razão, cada vez escreves melhor. Lê a Dália que é também muito bom!
    Bjs
    Teresa

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  2. Mais uma grande Opinião de tua parte Vera. Gosto bastante das opiniões que fazes.

    Beijo
    Ricardo

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  3. Obrigado macy e Ricardo! Fico muito contente, mesmo!

    Um grande beijinho para vocês

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