quinta-feira, 4 de abril de 2013

Vina Jackson - 80 Dias: A Cor do Desejo [Opinião]


Sinopse: Summer Zahova é uma violinista ardente e impetuosa, que vive uma relação frustrante com um homem que não a compreende. É na música que encontra a sua libertação. Ela passa as tardes nas estações de metro de Londres a tocar violino, perdida nas partituras de Vivaldi e Mendelsshon. Um dia o seu violino sofre um acidente irreparável e Summer recebe uma proposta inesperada de Dominik, professor universitário, um homem atormentado por desejos inconfessáveis que ficou fascinado por Summer quando a ouviu tocar. Dominik oferecer-lhe-á um novo violino na condição de ela tocar para ele em privado.
Incapazes de reprimir a forte atração que sentem, Dominik e Summer embarcam numa aventura intensa e ousada. Para Summer é a oportunidade de se confrontar com o seu lado mais sombrio, no entanto, cedo se apercebe de que o prazer tem um preço elevado. Mas poderá uma relação nascida de uma tal paixão sobreviver?

Opinião: Foi com muita curiosidade que acolhi a publicação de 80 Dias: A Cor do Desejo, uma nova saga de romances sensuais para os fãs das cinquenta sombras e afins, sob o invólucro de uma capa lindíssima.

O início da trama prendeu-me. Estavamos perante Summer Zahova que, pensava eu, destacar-se dos clichés das personagens femininas desta tipologia de romance. Summer encontrava-se envolvida com Darren numa relação desprovida de prazer feminino, centrando-se no homem. Embora ela apresentasse todo um instinto e desinibição sexual, Darren porém, inibia todos estes desejos. Achei-a destemida quando rompeu com esta relação. O pior foi a desilusão que se seguiu: Summer deixou-se vender por um violino. E por este mero objecto, foi submetida a uma série de provações que, embora esta admita plazerosas, no meu entender vejo-o como uma bateria de testes para testar a sua submissão. E uma personagem que me parecia tão forte de início, facilmente se desmorona, indo ao encontro dos limites da servidão humana.
Achei-a portanto, uma personagem altamente contraditória.

Há um outro aspecto que poderia estar melhor justificado na trama, a meu ver. De facto achei um pouco abrupta a saída de cena de Darren. Tentou algumas vezes a reconciliação, depois disso tornou-se uma pária, não tendo sido mais mencionado na história.
Já o próprio Dominik achei um dominador muito à frente, como costumo dizer. Não sinto que tenha havido uma ligação entre as personagens como Eva e Cross em Rendida ou Christian e Anastasia em As Cinquenta Sombras de Grey, dando a entender que a relação se cingia a um plano estritamente sexual, nem sendo este de exclusividade!

A caracterização das personagens vem um pouco ao encontro da própria história. De início parecia interessante, tendo com cenário os belos locais londrinos e como pano de fundo, um violino que toca as mais belas peças da música clássica. Rapidamente a história revela-se como mais sombria, em que a caracterização do BDSM está presente (é cada vez mais recorrente a abordagem do assunto) mas escrita de uma forma menos sensual que os livros anteriormente lidos sobre esta mesma temática. O rumo que a trama leva piora quando surge em cena Victor, uma personagem que inicialmente tem um papel pouco significativo, assumindo posteriormente proporções mais rebuscadas.
Há inúmeras cenas que saem muito do quão excitante pode ser o acto do sexo indo mais longe, constituindo práticas que relaciono mais à pornografia do que propriamente ao erotismo. Mais do que ir aos encontros do BDSM, Vina Jackson vai mais longe e tece uma complexa teia de promiscuidade. Se a ausência de afectividade num relacionamento sexual me surpreende, então a isenção do respeito pelo próximo, especialmente nestas circunstâncias, choca-me. Atrevo-me a dizer que a trama contempla uma repescagem bastante completa de práticas sexuais, algumas elas de carácter mais sórdido.

Para mim a sensualidade reside na descoberta e o explícito, embora igualmente excitante, apela menos à imaginação de cada um de nós. Um claro exemplo são os livros da Lisa Kleypas (que tive oportunidade de ler uns excertos), também publicados por esta editora, mais contidos na linguagem e com um desenvolvimento no relacionamento das personagens.

Aponto ainda um aspecto, menos positivo aquando esta leitura: a tradução. Não que eu seja púdica e repudie linguajar dito calão mas desagradou-me ler termos mais fortes como, desculpem mas passo a citar, "cona", intercalados com termos mais da gíria popular e até mais infantil, como "pila". Em termos semânticos, e para ser sincera, achei um pouco desequilibrado. Teria sido mais coerente (e até menos chocante) se a tradutora tivesse recorrido sistematicamente a termos escatológicos em toda a narrativa.
Mas a tradução carece de um cuidado de revisão tendo eu por exemplo detectado na página 156, uma troca de nomes das personagens.

Normalmente livros de carácter romance sensual são lidos num curto espaço de tempo. Volto por exemplo a relembrar Rendida, desta mesma editora 5 Sentidos, foi lido em apenas um dia contrapondo-se a 80 Dias: A Cor do Desejo cuja leitura foi mais morosa.

Em suma, é um livro apenas para as leitoras mais destemidas. Admito que sou ainda muito imberbe no que respeita a este género mas sinceramente penso que as mais românticas sentir-se-ão desiludidas com a estreia de Vina Jackson, factor este que se prende com o que mencionei anteriormente.


9 comentários:

  1. Ainda não li o livro, mas não resisti a ler a tua opinião amiga. Muitos parabéns pela crítica, está muito boa mesmo, detalhada, bem escrita e fundamentada. Vou ler o meu livro em breve e apresentarei depois as minhas impressões.

    ResponderEliminar
  2. eu li os cinco livros que fazem parte desta série, embora só os três primeiros falem da Summer e do Dominik.
    São livros sobre desejo e não sobre amor, embora ele ande lá escondido, muito no primeiro livro, nem tanto no segundo e terceiro. Quem escreve, a dupla de escritores, são pessoas que facilmente se percebe que entendem do mundo de sadomasoquismo e não pessoas que põe isso nos livros apenas porque sabem que lhes dará dinheiro como tem vindo a acontecer. Naturalmente falam de experiencias mais extremas ( para quem não sabe nada do assunto) mas coisas que se calhar eles viveram ou ouviram outros contar. Claro que são situações que não cabem na cabeça da maioria dos leitores habituados a livros mt românticos e cor de rosa, onde imperam os chocolates, as flores e as baboseiras do género. Claramente não são livros para o mercado português, onde há poucos livros deste género e o que aparece na maioria deles são cenas normais e nada de extraordinário. a editora falhou em perceber isso. Melhor será continuar a publicar outras coisas
    Quanto À tradução, não posso falar, ainda não tenho o livro, mas se dizem cunt and pussy no original não vejo como poderão traduzir isso para português sem ser com termos que choquem os mais sensíveis.
    .

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Anónimo

      Obrigada pela sua opinião. É um ponto de vista mais certo, de facto. Concordo consigo, acho que o livro rege-se muito por experiências mais extremas, sendo por isso que acaba por chocar. Mas depois da saga lida, gostou?

      Boas leituras

      Eliminar
    2. eu gostei e gostei bastante precisamente porque o livro foge ao convencional do milionário com traumas e que encontra nas prácticas de sadomasoquismo o seu escape para esses traumas.
      é uma ideia que se está a tornar repetitiva e cansativa, isto para quem vai espreitando outros livros que ainda não chegaram cá. Embora não conheça o mundo real do sadomasoquismo acredito que as pessoas que andam lá são iguais às outras e não necessariamente traumatizadas.
      Por isso estes livros agradaram-me, embora tb ache algumas coisas um pouco extremas, mas tb estamos no campo da ficção onde são permitidas coisas que na realidade não aconteceriam. Dificilmente alguém ficaria tão fascinado por outra pessoa que ouve tocar, por muito boa que seja.
      Boas leituras!

      Eliminar
    3. Obrigada uma vez mais pela sua opinião. Acho que tem toda a razão, os sensuais estão muito restritos ao mesmo tipo. Este acabou por ser diferente!
      Continuação de boas leituras e cá o/a espero para saber o seu ponto de vista sobre os livros :)

      Um beijinho

      Eliminar
  3. Olá

    Ontem tive oportunidade de ler o livro e gostei bastante. Na verdade muito mais do que os de Grey e aguardo com expetativa o segundo volume. No entanto,concordo com alguns dos aspetos menos positivos descritos na critica, como por exemplo, na tradução, a inconstância nos termos utilizados. Não que me tenham chocado minimamente, apenas não gostei da mudança brusca, quanto a mim, não me soou bem.

    Relativamente à história em si, na minha humilde opinião, devia ter sido explorada mais intensivamente em determinadas partes, como no jogo inicial, podia ter sido levado mais ao extremo ou como na descoberta da cumplicidade entre Victor e Lauralynn, dava para desenvolver e criar mais expetativa quanto as acções futuras de Dominik e depois também no seu reencontro com Summer.

    Não sou nenhuma "expert" mas depois de o ler, foram estas as sensações com que fiquei. De qualquer forma gostei muito e recomendo.

    Beijinho
    Catarina

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado por partilhares a tua opinião Catarina!
      Gosto de conhecer outros pontos de vista ;)

      Um grande beijinho, boas leituras!

      Eliminar
    2. bem, com disse anteriormente ainda não li em português, mas no original as palavras usadas para os órgãos sexuais variam mt. tanto usam os mais científicos (pénis, vagina) como usam os do calão como cunt, pussy, cock, dick. O livro é escrito por duas pessoas e parece-me que existe uma preferência de cada um por um termo. as partes da summer usam sp ou quase pussy e o dominik cunt. é possível que a tradução reflicta isso, mas só lendo é que posso comprovar.
      mas há erros que os autores cometem, não entendi se deliberadamente ou se é erro mesmo, por exemplo qd o dominik sai do café, no seu último encontro com a summer em londres ele olha para o relógio e percebe que se passaram 40 dias desde o dia que a viu pela primeira vez a tocar no metro. tendo em conta que ele passa um mês a ir á estação e não a vê, mais o tempo da viagem a roma, mais o tempo que decorre entre cada encontro isso é impossível. agora não sei se ele erra o tempo ou se os autores se esqueceram daquele suposto mês que ele procura por ela. Na minha ideia o mais correcto é que os 40 dias seriam desde que ele a conheceu pessoalmente.

      Eliminar