Sinopse: AQUI
Opinião: Eu bem que tentei ler a saga por ordem mas foi mais forte do que eu. Sim, li Morte no Teatro La Fenice, Morte Num País Estranho e agora este... o décimo sétimo. Volto a defender-me, não resisti à capa, que é lindíssima, apelando à sinopse.
Quem é fã da saga sabe que um elemento fascinante é a forma como a autora descreve a cidade de Veneza. Já o tinha mencionado nas opiniões anteriores e não me vou alargar sobre o que me cativa nos romances de Donna Leon. Ainda para mais, o comissário Guido Brunetti destaca-se dos protagonistas do género, que geralmente são homens atormentados, tendo uma dinâmica familiar bastante feliz.
São adoráveis as cenas em família e Leon transmite a paixão dos mediterrânicos na refeição como um momento em família, daí que a autora acaba por enfatizar gastronomia italiana, uma das melhores a nível mundial.
Por isso, continuei a simpatizar com Paola, a esposa de Guido, compreensiva e dedicada, tendo sentido o mesmo em relação aos filhos Raffi e Chiara. No entanto, e tendo em conta que Guido conversava muito com Paola sobre os casos que tinha em mão, a esposa pouco fala da sua perspectiva no presente caso. Outro aspecto que achei: para quem saltou quinze livros da saga, achei que os filhos não cresceram. Continuam os adolescentes afáveis que conheci nos dois primeiros livros.
No entanto, e em comparação com os únicos dois livros, achei que esta componente mais pessoal do Brunetti está mais reduzida.
Confesso que, nas primeiras noventa páginas, o livro não me cativou. O enredo focou-se num único evento, que nem é mencionado na sinopse e cujo desfecho fica em aberto, certamente encerrado num volume posterior. Falo do possível caso de extorsão de dinheiro por parte de Leonardo Mutti, um alegado líder de uma seita ligada à religião. Inevitavelmente, é esta a temática de pano de fundo que se estende por toda a trama. Denote-se que o inicio do livro é uma cerimónia fúnebre, coincidindo com o final com o mesmo evento.
A partir do momento em que o cadáver é descoberto, a trama assume uma outra perspectiva. Donna Leon vitima uma criança de etnia cigana. Num local tão lindo como certamente é a paisagem dos canais venezianos, a existência deste elemento perturbador, o cadáver que flutua nas águas calmas.
E os pormenores que são revelados na autópsia são no mínimo aterradores. Já me expressei sobre o quanto me deixam chocada as tramas que recaem em homicídios infantis. E embora tenha uma amostra pouco representativa de comparação ao ter lido apenas dois livros da autora, penso que ela foi mais longe com o presente livro. Não esperava, de todo, que na autópsia viesse a confirmar que a menina tivesse uma experiência de vida tão dura, face à sua tenra idade.
Afinal de contas, a Itália tem os mesmos preconceitos a nível social, debatendo a dúvida da desconfiança que as minorias étnicas representam. Não deixando, portanto, de ser uma abordagem interessante, não só pela interacção dos venezianos para com os ciganos, como a relação em comunidade: o desleixo na educação e nos cuidados de saúde e, em particular neste caso, a vivência em acampamentos (um costume que penso estar já ultrapassado). Não obstante, acredito que muitos dos factos até estão bastante fiéis à realidade.
Em suma, A Rapariga dos Seus Sonhos é um livro que mexe com o leitor, e quero realçar sobretudo na investigação da morte da criança. Ninguém fica indiferente a algo tão terrível como o infanticídio.
Peca apenas pela extensão do caso Leonardo Mutti, como referi anteriormente pois de resto, gostei bastante do caso que Brunetti resolve, do entrosamento do caso com a rotina da comunidade cigana e dos sórdidos pormenores por trás de um cadáver de uma criança.
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