quarta-feira, 29 de junho de 2022

Tarryn Fisher - Três Mulheres [Opinião]

 

Sou assumidamente fã de Margo, a protagonista do primeiro livro publicado em Portugal por Tarryn Fisher, razão que explica o meu entusiasmo inicial assim que vi que iria ser editada esta obra no nosso país. Não tardou muito para que as minhas expectativas fossem defraudadas. 

O mote da história é uma relação polígama que poderia dar azo às maiores narrativas de thriller, não obstante considerar que a opção de história sugerida por Fisher não foi a mais inteligente. Note-se que é uma perspectiva altamente pessoal. Creio que há inúmeros fãs da obra mas sinto-me compelida a dar a minha opinião mais sincera quanto possível.

Thursday é casada com Seth que tem outras duas esposas: Monday e Tuesday. Ela sabe muito pouco sobre estas mas um dia, ao descobrir um papel, sente-se impelida a conhecer as outras duas mulheres mais em detalhe. E tudo parte daqui: da curiosidade desta esposa em saber mais sobre as outras duas. Uma mulher que, até então, até era bastante passiva neste assunto, aceitando a condição em que vivia e tentando ser a melhor no dia que lhe era destinado estar com o marido. Nos outros dias da semana ora o marido estava com as outras mulheres ora estava em viagem. Basicamente parece-me que a protagonista estava feliz com uma relação a part-time (ou melhor a 1/7 do tempo) e não vou tecer considerações sobre isto, são altamente pessoais. Contudo esta personagem esforçava-se por ser a melhor esposa a nível sexual (estou a revirar os olhos enquanto penso nisto porque nem sequer acredito que bom sexo unicamente seja sinónimo de um casamento pleno e feliz). Mas vá, sou open minded e aceito as mais variadas suposições que a autora me apresenta.

Apesar da narrativa apresentar um ritmo bastante viciante - senti-me extremamente curiosa sobre o desenrolar da história e a obra até se lê muito bem em pouco tempo - no meu íntimo já considerava tonta a premissa pelo que o desenrolar acaba por ser um sucedâneo de situações também estas pouco néscias. Até que, sensivelmente a meio do livro, a autora nos presenteia com um twist. Uma reviravolta pouco verosímil, diria eu, porque quem abraça esta leitura e é como eu que desata a lançar teorias, esta é uma delas. Até percebo que a autora queira investir no plano de thriller psicológico, mas infelizmente acho que este volte-face não foi completamente satisfatório/convincente.

A partir daqui continua a saga da Thursday a consolidar informações sobre as outras mulheres - às páginas tantas esta personagem pareceu-me mesmo uma bola de ping pong, desorientada que está aqui e acolá e torna-se tudo tão inepto que senti que acabara de ler qualquer coisa menos um thriller, ainda para mais da autora do Margo. Note-se que tive sempre esta obra na retina, um livro negro, pesado que me fez sentir desconfortável no decorrer da leitura - creio que as maiores sensações que o género nos traz - mas o presente título... não sei. Nada me convenceu: nem as personagens - até sinto um fascínio por personagens não confáveis mas estas, honestamente, primam pelas mais duvidosas acções e formas de pensar - nem a própria trama que poderia ter dado um thriller de excelência. No seu cômputo, é um livro que fica muito aquém. Estava, sinceramente, com grandes expectativas de encontrar uma história que me tirasse o chão. E infelizmente, isso não aconteceu.

Por aqui alguém já leu? Gostaram? Fico apreensiva por me ter escapado a magia deste livro mas isto é sempre assim. Partilhem comigo nos comentários as vossas opiniões.

terça-feira, 28 de junho de 2022

Horror novellas em inglês

A minha busca incessante por literatura que seja, realmente, perturbadora e que me deixe estupefacta, conduziu-me a algumas obras e escolhi ler duas. São novellas, o que são mais curtas e merecem ser mencionadas por aqui: 

Things Have Gotten Worse Since We Last Spoke tem uma capa fascinante (foi o que captou a minha atenção de imediato). Soube também que este livro foi sensação na rede social TikTok e fiquei mesmo muito curiosa com o mesmo. Não querendo entregar muito sobre a história, esta é sobre duas mulheres que se encontram num chat e desenvolvem uma relação que vai assumindo contornos sombrios e obsessivos. Este tipo de tramas, alicerçadas sobre relacionamentos disfuncionais, interessam-me muito apesar de, regra geral, não ser a maior entusiasta do estilo epistolar, forma como a história se desenrola. Como foi um livro lido em inglês, estranhamente a narrativa em forma de entradas de um chat ou variados e-mails trocados pelas protagonistas, tornou-se mais dinâmica e, juntando ao reduzido número de páginas, fez com que tivesse lido esta obra em cerca de 24 horas. 
Considero que o autor conduziu esta trama de forma intrigante: nas páginas iniciais menciona que o leitor irá ler informações da polícia que está a investigar a morte de uma das personagens. OK, parece-me que estamos perante um spoiler logo no início, porém, este warning torna a narrativa muito viciante e quase como apanha o leitor para, ele próprio, participar nesta investigação policial. A relação entre as duas personagens tornou-se muito intensa em poucas páginas, parecendo-me a mim, que Eric LaRocca se quis precipitar para "aquecer" os acontecimentos - o que também compreendo se tiver em atenção que estamos perante uma novella. Muito honestamente há ali uma ou outra situação que considero tola como um contrato semelhante ao que Anastacia Steele assinou em firmar a relação com o afamado sr. Grey. À medida que a história se encaminha para o final, a situação começa a ser desconfortável. E sim, incomodou-me a última provação apesar do autor desvendar imediatamente qual seria o desfecho de uma personagem. Se é um bom conto de terror? Sem dúvida, mas indicado àqueles que apreciam um bom body horror. Contudo, esta história carecia de menor cadência. Creio que daria um melhor livro do que é em conto. Agora que penso nisto, não sei se gostei da obra mas o certo é que não me sai da retina.
 
Num registo completamente diferente, Comfort Me With Apples estava também em listas de novellas de terror. Contudo, para mim, não é uma obra que satisfaça em pleno os fãs do género. Atentei muito no título quando iniciei a leitura e as primeiras alusões ao local onde ocorre a narrativa, Arcadia, tiraram-me as dúvidas para o que aí viria. Portanto não tive qualquer factor surpresa: o afamado twist está já no título do conto. Não há qualquer dúvida que o estilo de escrita deste seja mais elaborada, parecendo que estamos perante um conto de fadas, porém, não me cativou. Não creio que estivesse perto de um thriller ou um terror. Temos a personagem principal, Sophia, que vive num sítio lindíssimo e paradisíaco. É casada e tem como mantra dizer a si mesma que foi feita para o seu marido e que é muito feliz. O local onde habita é muito à Stepford Wives e poderia mesmo ter potencial mas, lá está, creio que a autora quis, acima de tudo, recontar um episódio bíblico. A meu ver, acresce uma dificuldade em colocar elementos de terror que sejam convincentes e que seja sinónimo de algo verdadeiramente assustador. Apesar de ter gostado imenso da escrita da autora, esta história, lamentavelmente, não me cativou.