quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Top 10 de 2011

Chegando ao final do ano, é altura para balanços... Foi um ano bastante frutífero. Consegui (espero eu de que...) ler 76 livros. E à semelhança do ano passado, não posso deixar de escrever um post com os melhores livros que li neste ano, que finda já neste fim de semana. Então, aqui deixo a minha lista das dez melhores leituras, sem qualquer ordem específica:

1. Mo Hayder - Os Pássaros da Morte
2. Ken Follett - A Ameaça
3. Nicci French - Killing me Softly
4. Brian Freeman - Segredos Imorais e O Voyeur
5. Camilla Lackberg - Teia de Cinzas e Ave de Mau Agoiro
6. Yrsa Sigurdardóttir - O Ladrão de Almas
7. Chevy Stevens - Continua Desaparecida
8. Tess Gerritsen - O Cirurgião e o Aprendiz
9. Jo Nesbo - A Estrela do Diabo
10. Mons Kallentoft - Anjos Perdidos em Terra Queimada e Segredo Oculto em Águas Turvas

Foram estes os 10 autores que me marcaram, através dos seus livros que me proporcionaram momentos de leitura fantásticos. E vocês? Que livros elegem em 2011?

E para terminar este balanço anual de 2011, não quero deixar de mencionar os vários seguidores com quem vou trocando umas sugestões literárias. Agradeço os vossos posts, as sugestões, os comentários, a simpatia... enfim, um grande obrigado às amizades que aqui se vão criando com o objectivo comum da partilha literária. Também gostaria de agradecer às editoras pela dedicação e pelo apoio prestado à menina dos policiais, alimentando este meu ambicioso projecto.
A todos vós, o meu grande OBRIGADO!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal


Porque é Natal, época para celebrar a família e os amigos, a menina dos policiais deseja aos seus seguidores um Feliz Natal e um ano de 2012 próspero em sucessos, saúde, paz e claro... muitos livrinhos (e preferencialmente thrillers :))
E Natal é para mim também, Tim Burton, por isso homenageio-o através desta imagem, de um dos filmes que me marcou num Natal há alguns anos atrás!


P.D. James - A Paciente Misteriosa [Opinião]


A minha estreia com a autora P.D. James revelou-se extremamente frutífera! Este é daqueles livros que, a partir da primeira frase, directamente revela o desfecho da personagem principal, Rhoda Gradwyn, sem qualquer rodeios. Estragará a surpresa perguntam vocês. Bem, penso que além de estar explícito na sinopse, queremos sobretudo saber as razões que motivaram tal destino para esta personagem.

Assim, a trama inicia-se quando esta decide procurar o cirurgião George Chandler-Powell a fim de remover uma cicatriz que tem na cara. O estranho é que Rhoda Gradwyn tem esta cicatriz há mais de 30 anos e só agora é que decidiu tomar esta atitude.
De facto, o esforço da autora na descrição desta personagem, revendo a sua história de vida, faz com que nos sintamos próximos da mesma. É-nos revelado sobretudo as maiores tragédias da vida de Rhoda Gradwyn, tendo originado aquela cicatriz. Embora Gradwyn tenha uma profissão um tanto ou pouco ingrata, descrevendo segredos obscuros de outrem, o que se chama de jornalismo cor de rosa dá alento a que esta personagem, seja um pouco detestada, alargando assim o leque de personagens com intenções de a matar. A personagem não tem grande estrutura familiar mas conta fundamentalmente com o apoio do seu amigo Robin Boyton.

À medida que a jornalista se sente mais confortável no solar, antes da operação, são descritas as personagens intervenientes do livro, e surge uma sensação de que todas escondem algum segredo. A autora, apresenta assim uma série de personagens, com uma participação mais ou menos directa no cenário e que tiveram contacto com Rhoda Gradwyn. E surge então a dúvida: terão os fazendeiros e ajudantes do cirurgião algum contacto prévio com Rhoda? Ou o crime terá sido meramente aleatório?

Decididamente este não é um livro com um nível desmesurado de acção, antes pelo contrário, é um livro bem misterioso que vai relatando a trama com um ritmo bem mais lento. No entanto, apresenta uma história interessante que faz lembrar as famigeradas aventuras de Poirot, em que a resolução dos crimes assentava essencialmente, em pressupostos de lógica. Também os detectives Kate Miskin e Adam Dalgliesh usam o interrogatório, corroborado pelos relatórios de autópsia, para chegar a revelações arrebatadoras não só sobre a morte de Rhoda bem como um outro evento que, surpreendentemente, se interpõe na trama. Ora vejamos, o que pensam vocês seguidores, quando Dalgliesh se reúne com a restante força policial na biblioteca para discutir os progressos do caso? Claramente Poirot, não vos parece?

Embora haja uma descrição até algo morosa sobre as forças policiais que protagonizam A Paciente Misteriosa, não deixei de reparar que esta é já a décima quarta aventura de uma saga levada a cabo pelo Adam Dalgliesh. Enquanto decorria a leitura, perguntava-me constantemente se não teria feito melhor se tivesse começado pelo primeiro livro. Talvez sim...embora tenha sentido empatia com estas personagens, e a sua descrição me permitisse conhece-las relativamente bem.
Embora conhecemos o desfecho de Dalgliesh com Emma, a sua noiva, questiono-me se não teria acompanhado o seu romance ao longo dos treze livros precursores a este. E sim, acho que seria interessante conhecer este lado mais pessoal e íntimo do detective, pois gosto de ver realçada toda uma componente mais humana dos investigadores face aos desenvolvimentos respeitantes ao crime propriamente dito.

P.D. James descreve com mestria toda a arquitectura e pormenores dos chalets, fazendo-me sonhar em deslocar-me às terras de sua majestade e eu própria passear naqueles jardins e pomares. E depois, o que haverá de tão misterioso e empolgante num agregado de pedra, onde outrora servia quase como um local de inquisição, tal era a quantidade de bruxas queimadas nesse local quase pré-histórico.

Com uma estrutura que subdivide a trama em cinco livros, em que o culminar de intriga aumenta de livro para livro.
Em geral, esta obra de P.D. James lê-se muito bem. Um desfecho que explica, pelas palavras do próprio assassino, toda a motivação dos crimes, complementando com pormenores, o que o leitor sabia de antemão sobre a investigação. E como os anglo-saxónicos nos têm já habituado, trata-se de uma investigação policial, em que os crimes são descritos de uma forma muito "polite", muito subtil, recorrendo a uma linguagem clara, simples e desprovida de conteúdos explícitos de violência. Claramente um romance policial que se adequa a qualquer público alvo, satisfazendo os fãs de Agatha Christie e Stephen Booth. Recomendo vivamente! Irei certamente acompanhar esta autora!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

William Golding - O Deus das Moscas [Opinião]

Fugi um pouco dos policiais... é certo que a sinopse do livro deixa algum mistério no ar, mas decidi-me a lê-lo devido a uma recomendação e pelos supostos ensinamentos que o livro contém. Como certamente alguns de vós sabeis, eu trabalho com crianças e todos os dias aprendo um aspecto novo sobre as mesmas. Daí ter optado este livro, sabendo de antemão, que a obra de Golding não apresenta um retrato de todo abonatório sobre crianças.

A sinopse do livro fala de um grupo de meninos isoladas numa ilha. Sabemos que a criança mais velha tem cerca de 12 anos, havendo miúdos muito mais novos. Pouco se fala sobre o exterior, deixando antever que está em guerra. Sabe-se que, as crianças foram ali parar quando um avião se despenhou, deixando-as à mercê de si mesmas, sem qualquer supervisão de adultos.

Desde já, o primeiro aspecto a salientar é a capacidade de descrição do autor, tornando a ilha quase como paradisíaca. Ao ler sobre a mesma, pensava na ilha do célebre filme, A Lagoa Azul, ainda que o contexto não seja o mesmo. Nesta história temos crianças. Sem qualquer adulto por perto! E estas crianças. de origem britânica, viveram na civilização. São portanto crianças com valores morais e que se vêem encarceradas naquela ilha. E que, tal como Emmeline e Richard (os famigerados personagens da Lagoa Azul), também estes meninos querem sair da ilha, tendo noção de que até lá, precisam de conhecer novas ferramentas para a sobrevivência. E quando falo de sobreviver, falo de aspectos básicos da alimentação e abrigo mas também de não se deixar apanhar pelo Deus das Moscas...

O livro é muito interessante e julgo ser uma reflexão sobre a sociedade. Trata-se portanto de uma alegoria, em que cada elemento da ilha é representativo de um aspecto característico da sociedade. E nem o sítio mais paradisíaco está isento de uma força maligna. Neste caso existe o Deus das Moscas. Cada uma das crianças representa um estereótipo diferente. Apesar dos diferentes feitios dos vários rapazes, penso que no início da narrativa não existem nem heróis, nem vilões, apesar de haver personagens que mais se destacam. É-nos impossível não nos identificarmos com Piggy, o menino gorducho, com óculos, que mantém toda a sua calma ainda que nas situações mais complexas. Mas Piggy é alvo de troça por parte das restantes crianças.
A obra permite em que sejam repensados valores como a capacidade de liderança. Afinal, em todos os grupos há que ter uma pessoa capaz de gerir as inúmeras situações que poderão advir naturalmente de uma dinâmica de grupo. A gestão deste fica a cargo de dois rapazes, com temperamentos completamente diferentes. Ora vejamos, por um lado temos o calmo Ralph, por outro Jack, o líder impulsivo. Eles tentam a todo o custo, estabelecer regras para que o grupo continue coeso mas evidentemente, o caos instala-se e os seus objectivos acabam por colapsar.

Munido de características como aterrador ou perturbador, devo dizer que, não o achei assim tão impressionante... é certo que mexe com o leitor, afinal de contas, quais são os seres humanos num estado de pureza tal que não as crianças? E ver o mau que existe nelas é como um soco no estômago, um despertar para uma realidade não equacionada. Afinal, a ânsia pelo poder e o egoísmo não dizem respeito apenas a adultos, podendo tomar proporções catastróficas. No entanto, o nível de violência (e neste caso, esta encontra-se em proporções qb) está muito aquém do que espero nos livros e talvez não tenha sensibilidade para apreciar um livro deste calibre (sou e sempre serei a apaixonada por um bom policial com ou sem violência). Mas isto não significa que não tenha gostado do livro até porque achei-o bem interessante.
Como pontos negativos devo dizer que este foi dos livros que, tendo terminado, ficou uma sensação algo pesada. Deixou-me reflectir sobre a sociedade actual e penso que, as 231 páginas da versão de bolso do livro, me pareceram tão pouco... O autor poderia ter explorado mais exaustivamente a situação dos meninos, sem se tornar cansativo. Depois também achei o final um pouco abrupto. Num número tão reduzido de páginas assistimos ao clímax tão repentino da acção.

Ficou a curiosidade de ver a adaptação cinematográfica. Recomendo este livro como meio de reflexão sobre a sociedade actual. Penso que o facto de ter sido escrito nos anos 50 em nada influenciou os valores morais da nossa sociedade, e por mais anos que passem, esta será sempre uma temática bastante actual. Depois desta leitura, garanto-vos que não olharão para as crianças como olharam até ao momento. Um livro que depois de ser fechado e guardado na estante, irão certamente continuar a pensar no mesmo!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Divulgação Publicações Europa América - Lynn Sholes e Joe Moore: Os Apóstolos de Fénix


Um novo policial dos autores de A Conspiração do Graal

A jornalista Seneca Hunt está a assistir à abertura do túmulo de Montezuma na Cidade do México quando a equipa de escavação, chefiada pelo seu noivo, descobre que os restos mortais do imperador desapareceram. Poucos minutos depois, todos os que ali estão saem mortos — com excepção de Seneca, que escapa à carnificina por um triz.
Decidida a descobrir quem está por detrás das mortes, Seneca junta-se ao romancista Matt Everhart. Juntos, eles fazem a arrepiante descoberta de que alguém está a roubar restos mortais dos mais famosos assassinos em massa da história — enquanto seguem um trilho letal que vau recuar até à morte de Jesus Cristo.

Elogios a Os Apóstolos de Fénix:

«O que é que se obtém quando se cruza Indiana Jones com o Código Da Vinci?
Os Apóstolos da Fénix, uma viagem emocionante, com tantas reviravoltas que mal temos tempo para recuperar o fôlego» — Tess Gerritsen, autora do êxito Ice Cold.

«Sholes e Moore criaram um policial apocalíptico espectacular, uma história épica de ouro, arqueologia, assassinos em massa, profecias antigas e terrorismo.» — Douglas Preston, autor do êxito Impact.

«Um romance empolgante, fascinante.» Carla Neggers, autora do êxito Cold Dawn.


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Asa Larsson - Sangue Derramado [Opinião]


Depois da estreia surpreendente em Aurora Boreal, Rebecka Martinsson, a protagonista das tramas de Asa Larsson regressa com Sangue Derramado. A acção do novo livro de Larsson ocorre dezoito meses após a trama passada e como tal, Rebecka ainda se sente fragilizada dados os acontecimentos e o desfecho do livro anterior.

Mildred Nilsson tem um papel bastante activo na igreja. Alguns populares adoram-na, outros nem por isso... Até que Mildred aparece morta e é a advogada Rebecka Martinsson a inteirar-se da investigação, juntamente com os polícias Anna-Maria Mella e Sven-Erik Stalnacke.
À medida que a investigação decorre, há inúmeros flashbacks que relatam acontecimentos protagonizados pela própria Mildred, que deixarão o leitor estrondosamente surpreendido. É através desta forma que começamos a perceber como são as personagens mas até ao final do livro, estaremos longe de imaginar o que realmente aconteceu a Nilsson. Inúmeros segredos sobre esta mulher são desvendados num timing quase mágico. À medida que nos aproximamos do clímax da trama, esta torna-se mais emocionante e imprevisível, prendendo-nos ao livro até que se torne impossível não o terminar de imediato.

Os mais cépticos poderão assumir que a autora não foi muito original. Afinal também no primeiro livro a investigação prendia-se num líder religioso encontrado morto, Viktor Strandgard. No entanto, a minha opinião é que a autora se envolve muito no tema da religião. O que será mais controverso do que líderes religiosos vítimas de homicídio?
Achei este livro um tanto ou pouco similar ao livro "A Raiz do Ódio" de Anne Holt. Ora vejamos, uma mulher ligada à religião que é morta: check; a controversa abordagem da temática da homossexualidade: check; a investigação do crime como fundo da história pessoal do investigador (se no caso anterior era o casal Stubo, aqui é Martinsson). Dado o curto intervalo que espaçou estas leituras, fez com que pensasse em ambos os livros, e estabelecesse por diversas vezes um paralelismo entre as autoras nórdicas. Afinal Mildred Nilsson e Eva Karin Lysgaard são personagens bastante similares, dado o seu estatuto social e até mesmo as suas caracterizações. Por isso não posso deixar de aconselhar aos fanáticos dos policiais nórdicos, que estendam o intervalo de leitura entre Larsson e Holt a ponto de garantir uma melhor apreciação (e distinção) entre estes livros.

Não deixo de sublinhar o quão interessante é ler um policial nórdico. Penso que os escandinavos têm uma perspectiva diferente sobre a criminologia face aos livros americanos mais vistos por aí. Além disso, querem melhor do que avaliar as diferenças culturais entre os nórdicos e os mediterrâneos? Curiosa a gastronomia sueca, que apresentam deliciosos pratos confeccionados com carne de rena, por exemplo. Mas a leitura de um livro com origem escandinava associa um senão: a complexa toponímia dos locais e personagens. Achei particularmente difícil assimilar os nomes dos locais suecos por onde decorria a acção, devo confessar, mas nada que um rascunho a lápis não facilite.

Um livro cujo arranque é lento relativamente a Aurora Boreal. Talvez explique o maior número de páginas que sustenta esta história. A autora perde-se em pormenores, relativos ao extenso elenco de personagens. Ainda assim, não recomendo a leitura deste livro sem previamente ler-se Aurora Boreal. São fantásticas as descrições das florestas e bosques suecos envoltos naquele frio gélido.
A trama, dotada de grande mistério e suspense, vê estas componentes suspendidas quando se interpõem passagens com episódios relativos a uma loba, de seu nome Patas Douradas. Estes relatos incidem sobretudo na vivência do animal e do seu clã nos bosques suecos, e o que implica para garantir a sua sobrevivência. Curioso é perceber que há todo um movimento dos populares para a conservação deste animal, tão semelhante quanto os mediterrânicos se assegurarem da não extinção de espécies semelhantes aqui na Península Ibérica.

De facto, a autora revela uma preocupação acima do comum dado o género do livro, com os animais. No entanto, esta apreensão perde o seu sentido quando no final, o leitor é confrontado com uma passagem terrorífica de violência relacionada com cães domésticos. O desfecho é tão impressionável como imprevisível. É no final, que são juntas as peças do puzzle e o leitor conhece assim, as relações familiares entre as demais personagens, que até ao momento, aparentemente nada as mantém ligadas. A autora vai assim, além de um simples policial, revolvendo emoções das personagens através não só das suas tragédias como das vitórias pessoais.

Em relação às personagens, já as conhecia, do livro anterior. Gosto de Rebecka Martinsson, que sendo advogada envolve-se em demasia nas investigações criminais. Uma mulher frágil mas que de certa forma mostra alguma destreza nesta função. Pelo menos mais do que os polícias, que numa situação de alta importância, se esquecem de um mandato para revistar uma casa. Anna-Maria Mella, que estava grávida na anterior narrativa, vê a sua vida pessoal um pouco diferente. No entanto não é dado grande ênfase nesta componente na história, a autora cingiu-se apenas ao fundamental.

Sangue derramado de título, mas o livro é um dos mais despercebidamente sangrentos que li até à data. Ainda assim não deixo de recomendar este grande policial aos fanáticos da literatura do género escandinava, que está mais que provada, ser uma das mais arrebatadoras de sempre. Muito mistério, alguma acção, twists não equacionados e uma passagem perturbadora garantem um excelente momento de leitura!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Patrick McGrath - Trauma [Opinião]


Patrick McGrath é um conhecido escritor de suspenses psicológicos, no entanto foi com este livro que me estreei nas suas obras.

Escrito sob o ponto de vista de Charlie Weir, um afamado psiquiatra de Nova Iorque, o leitor sente na pele os testemunhos envolventes do protagonista. Filho de uma mãe depressiva e de um pai com tendência a refugiar-se no álcool, Charlie tenta arduamente superar os traumas de infância causados pelas acções dos pais e da relação conturbada com o irmão, Walter.
Quando ele conhece a misteriosa Nora Chiara, apercebe-se dos seus fantasmas e tenta resolvê-los a todo o custo. Mas ironia das ironias: Charlie, psiquiatra, ajuda os outros a ultrapassar experiências traumáticas mas será que consegue resolver o trauma que existe no seu âmago?

O primeiro pormenor que reparei foi logo na escrita do autor, tendo a apontar a existência de poucos diálogos. Creio que será essencialmente devido ao facto do livro ser relatado na primeira pessoa, e como tal, o narrador relata os acontecimentos de uma forma bastante descritiva, estando grande parte das conversações em discurso indirecto.
O livro peca por este défice, especialmente porque considero que os diálogos interagem mais com o leitor e de certa forma, quebram a rotina da trama.

McGrath mostra uma grande mestria em relatar assuntos relacionados com a Psicologia. Não verifiquei qual seria a área de estudo do autor mas se McGrath não é formado em Psicologia, então enganou-me bem... Aliás, duas características que imediatamente atribuí ao livro foi a atrocidade e a complexidade das temáticas abordadas. É difícil ler sobre algo tão fascinante mas ao mesmo tempo tão intrincado que é a psicologia humana. E de facto é um tema introspectivo na medida em que nos inteiramos que uma simples acção fora da rotina pode deixar marcas e estas podem até ser irreversíveis. Embora apresente o seu mistério, à medida que decorre a trama o leitor vai descobrir inúmeros factos sobre Charlie. Desta forma, o autor recorre a constantes analepses para relatar episódios da infância do psiquiatra, bem como outros acontecimentos marcantes já em idade adulta. Assim o leitor entende o estranho relacionamento com a ex mulher Agnes.

As personagens são credíveis e extremamente complexas. Desde o psiquiatra até aos seus pacientes e membros do núcleo familiar, são munidos de um trauma, e que os moldaram na forma de estar como seres adultos. Ora vejamos: o cunhado Danny com marcas da guerra do Vietname, Agnes e Nora (as mulheres da vida de Charlie) tão diferentes mas com um episódio no passado que as deixarão com fantasmas tão semelhantes... são mulheres mentalmente fracas e voláteis. Até o próprio psiquiatra, em estado de inferioridade face ao irmão, lutando perante a mãe que é um bom filho... Há uma vulnerabilidade nas personalidades bastante vincada e extensível a todas as personagens.

Um aparte: sendo a acção passada em 1970, o livro relata aspectos que não deixam de ser curiosos como a construção das torres do World Trade Center (que como sabem, foi destruído em 2001)

Embora tenha um número bastante reduzido de páginas, Trauma não deixa de ser uma leitura, na minha opinião, morosa. Comparativamente aos livros da minha preferência, a acção é mais lenta. Na minha opinião este livro está longe de ser um verdadeiro thriller psicológico. Contém uma certa dose de suspense é certo, mas creio que a trama relaciona-se fortemente com uma introspecção a nível da mente humana. Aborda temas que são difíceis de digerir, como traumas de guerra, violações e outros abusos. Há alguns twists na trama mas penso que o desfecho não foi muito imprevisível. O leitor descobre a resolução do mistério pessoal de Charlie a sete páginas do fim, querendo a mim parecer que foi um final algo abrupto, podendo ter sido mais explorado.

Em suma, Trama é um livro que sendo catalogado de thriller psicológico, alcança um patamar de grau medíocre. É um livro que explora a psique, o ultrapassar de um trauma e as relações humanas, por isso não deixo de recomendar aos que apreciam esta temática. Irão certamente achá-lo fascinante!

domingo, 27 de novembro de 2011

Mons Kallentoft - Segredo Oculto em Águas Turvas [Opinião]


Este é o terceiro livro da tetralogia de Mons Kallentoft, tetralogia essa onde cada volume corresponde a uma estação do Ano. Acompanho desde o início, esta saga protagonizada por Malin Fors que teve como primeira investigação, Sangue Vermelho em Campo de Neve, correspondendo ao crime ocorrido na estação do Inverno.

Um dos aspectos que é importante destacar é a rapidez com que a editora D. Quixote publicou este livro. Após ter lido Anjos Perdidos em Terra Queimada, no passado Verão, foi com uma enorme surpresa e agrado que tive conhecimento da publicação do terceiro livro, pouquíssimos meses após a saída do segundo volume. A editora tenta acompanhar as estações do ano para lançar o livro alusivo aos mesmos, mas Mons Kallentoft não terá certamente equacionado este estranho fenómeno das alterações climáticas, tendo nós a sensação de ter passado do Verão imediatamente para o Inverno.

Esta é daquelas sagas onde não considero fundamental a leitura dos livros por ordem de publicação. É certo que os protagonistas são os mesmos, mas os casos descritos são completamente independentes. Neste livro, a personagem fulcral da trama é Jerry Petersson, um advogado ávido por dinheiro e que compra o castelo de Skogsa à estranhíssima família abastada Fagelsjo. Eis que este, misteriosamente aparece morto no fosso do castelo. Quando Malin Fors e a sua equipa investigam o caso irão descobrir que Petersson era mais do que um simples advogado. Tem segredos que poderão explicar o porquê deste destino...

As primeiras páginas do livro ditam um destino conturbado para Malin Fors. que se depara com um problema pessoal. Para os mais ansiosos, diria talvez que este início é um pouco lento, debruçando-se essencialmente na vida pessoal de Fors. Desta forma, é feito um enquadramento da situação familiar da inspectora que mudou radicalmente nas suas relações nomeadamente com a filha Tove e o ex-marido Janne. Conforme sabem os leitores da tetralogia de Mons Kallentoft, o último livro, Anjos Perdidos em Terra Queimada, teve um desfecho não muito positivo para Tove. De facto, as marcas na filha da inspectora tiveram tal proporção que catapultaram a mãe para um precipício de destruição. No entanto, este contexto pessoal da inspectora é importante, especialmente para quem pretende ler o Segredo Oculto em Águas Turvas, sem recorrer à leitura prévia dos livros anteriores.

O autor volta a usar aquela que foi a fórmula que o distingue dos restantes policiais: a introdução de relatos dos falecidos intercalados na narrativa. Inevitavelmente isto resulta... Se é maçudo ou repetitivo, perguntam vocês, eu diria que não. Com estes testemunhos, acabamos por conhecer um pouco da personagem que até aí funcionou quase como um mero figurante, mas que acaba por ter um papel vital na trama: o de vítima de homicídio. Kallentoft preocupa-se assim em dar um ponto de vista sobre a morte, e o que terá sido a existência dessa personagem para que o leitor sinta alguma proximidade e eventualmente empatia com a mesma. E em geral, estas vítimas que vão sendo comuns nos livros do autor, têm diferentes personalidades e todas carecem de um mau íntimo.
Afinal "dar vida" aos mortos é uma ideia controversa mas de certa forma inovadora na literatura policial e interage muito mais com o leitor do que as vítimas de homicídio com que nos costumamos deparar.
Também denotei uma evolução no autor, nomeadamente através do realismo de descrições espaço físico onde decorre a acção, falo sobretudo do castelo. Senti uma familiaridade com certos elementos portugueses e tentava constantemente estabelecer comparações com os nossos castelos e palácios. Agrada-me particularmente a escrita de Kallentoft, que abraça a vida pessoal das personagens com a investigação dos casos, mas sobretudo, acho aqueles monólogos dos mortos, algo de outro mundo. O leitor quase que sente na pele o clima de sobrenaturalidade que o autor realça nessas passagens, e que, brilhantemente, se adaptam no meio da narrativa do "mundo real".

Grande parte das personagens são comuns aos livros anteriores. Comecemos então por Malin Fors. Se a inspectora era alvo de admiração anteriormente, aqui esta personagem decai e no início, o leitor muito dificilmente sentirá algo além de pena e compaixão... As restantes personagens, já nossas conhecidas, debatem-se com os seus problemas pessoais, nem os considerados heróis da trama (toda a hierarquia da polícia) estão imunes a uma panóplia de problemas que se reflectem essencialmente nas suas vidas.
Em relação aos irmãos Katarina e Fredrik Fagelsjo, que família! Fiquei impressionada por duas personagens que nem se dão muito a conhecer, mas que conseguem fascinar sobremaneira o leitor. São de facto personagens complexas, mas muito reais, ao longo da narrativa, levanta-se a dúvida "Que terão eles a esconder em relação à sua fortuna e a necessidade de terem vendido o castelo?"
Só apontaria o facto do autor, a certo ponto, me ter confundido com nomes das personagens tão parecidos quanto Anders e Andreas e que desempenham papéis relacionados na trama... Por si a antroponímica sueca já é consideravelmente complexa.

Achei que o livro aborda temas bastante credíveis e até comuns na sociedade actual. Falo portanto do alcoolismo (e a facilidade que se cai num vício deste tipo) e as consequências de uma mentalidade deveras ambiciosa, explorando o trauma e a evolução deste quando o mesmo não fica bem resolvido.

Um livro cuja estrutura é deveras fascinante. O autor envolve a trama com dois pormenores: o primeiro, já comentado, os monólogos dos mortos, que conferem uma certa originalidade à narrativa. O outro, já visto outrora em policiais, é o recuo temporal. O autor, à semelhança da conterrânea Camilla Lackberg, incorpora acções passadas nos anos 70 e 80, para nos apresentar em primeira mão, factos que terão alguma importância na actualidade. Ao longo de todo o livro, há o desvendar de inúmeros pormenores tanto sobre Petersson como sobre a família que deixarão o leitor boquiaberto.

Se o livro acaba bem...? Terá que ser o próprio leitor a descobrir, embora me sinta impelida a chamar a atenção para o desfecho da narrativa relativamente à personagem Maria Murvall, desfecho esse que nos deixa com uma enorme curiosidade relativamente ao último volume da saga.

Um livro que não posso deixar de recomendar aos fãs do policial. E não escondo que, dos três livros, o segundo foi até à data o meu preferido. Ainda assim fico, ansiosamente, à espera do quarto e último volume desta saga que acredito, irá marcar os fãs deste género.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Aquisições de Novembro

Divulgação Bertrand: Stephen King - Estações Diferentes

Sinopse: Stephen King surpreende-nos uma vez mais com a originalidade das suas histórias e o seu talento como escritor. Estações diferentes é uma coleção de quatro novelas, três das quais foram adaptadas ao cinema.
Os Condenados de Shawshank narra a história de um homem inocente que concebe um esquema para fugir da prisão.
Na segunda novela, Aluno dotado, adaptado ao cinema com o título Sob Chantagem, King apresenta-nos um menino exemplar que desafia um velho sombrio a despertar consigo um mal há muito enterrado.
Em O Corpo, adaptado ao cinema com o título Conta Comigo, quatro rapazes aventuram-se nos bosques e a sua viagem acaba por tornar-se um ritual de passagem da infância à maturidade, e de perda da inocência.
A Técnica da Respiração é uma história macabra acerca de uma mulher determinada a dar a luz e que, para isso, mantém o seu bebé vivo nas circunstâncias mais extraordinárias.

Nas livrarias a partir de dia 25 de Novembro.


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Brian Freeman - O Voyeur [Opinião]

Não é novidade que Brian Freeman tem já o seu nome destacado na literatura de suspense. Os seus livros enquadram-se num género de policial muito específico munido de uma carga constante de suspense psicológico. De facto, e tendo eu lido um livro do autor, Segredos Imorais, posso desde já adiantar que as suas obras proporcionam realmente excelentes momentos de leitura.

Neste livro, O Voyeur, regredimos ao passado de Jonathan Stride, que à semelhança que Segredos Imorais, é o protagonista da trama. Ele é confrontado com a chegada de Tish Verdure que pretende reabrir o caso de homicídio da sua amiga Laura Starr, irmã da sua falecida esposa Cindy Starr. Já se passaram trinta anos desde este trágico acidente e como tal, Jonathan está relutante em voltar a remexer neste assunto. Logo deparamo-nos com a única pergunta, força motriz para o desenvolvimento de todo o enredo: "Who killed Laura Starr?". Está cá a parecer-me que aqui há uma estranha mas subtil inspiração no famigerado David Lynch e na pergunta que ele deixou nos anos 90 "Who Killed Laura Palmer?" na série Twin Peaks. A enriquecer o enredo, o autor desenvolve uma trama secundária mas de igual importância: a presença de um voyeur que espia Mary Biggs, uma adolescente com uma limitação mental e dadas as circunstâncias, não tem qualquer consciência sobre o seu corpo, daí que ela não esteja completamente inteirada sobre o que se está a passar.

Sendo um livro que recua até às origens de Stride, este poderia ter sido perfeitamente o livro de estreia do autor. Embora eu já sentisse empatia com esta personagem, foi com esta obra que conheci o seu passado, a sua essência, aquilo que desencadeou todos os fantasmas que Stride tenta arduamente ultrapassar em Segredos Imorais. É sem dúvida um livro que envolve o leitor, graças à intensidade de sentimentos que é perfeitamente descrita através dos diários de Tish Verdure. Embora não sejam directamente sobre o ponto de vista desta personagem (o que pode originar inicialmente alguma confusão) são relatos bastante interessantes, pois permitem o leitor viajar no tempo e acompanhar "in loco" o que aconteceu nessa altura. Alguns flashbacks inteligentemente inseridos a meio da história, fazem com que o leitor tome conhecimento de acções passadas, nunca perdendo o fio à meada do tempo presente.

Se a própria construção e estrutura do livro adequam-se brilhantemente ao género do thriller, o mesmo posso dizer sobre as personagens. E é sobre estas que gostaria de dissertar. Grande parte delas são comuns aos livros do autor. Falo portanto de Jonathan Stride, Maggie Bei e Serena Dial. Se Maggie Bei era noviça, muito verdinha ainda nas lides das investigações criminais em Segredos Imorais, denotei que esta teve uma grande evolução neste livro. Simplesmente Maggie já não é aquela rapariguinha cujos diálogos davam um certo toque humorístico ao livro. Não, Maggie cresceu e é tão profissional quanto os seus colegas. Tem um papel fundamental nesta trama, sem qualquer dúvida. Mas também Stride amadureceu. Tendo Serena do seu lado, conseguiu por fim ultrapassar o trauma da morte da sua esposa Cindy. Mas eis que vem aquela personagem enigmática que é Tish Verdure. Não sabemos realmente quais são as verdadeiras intenções ao desenterrar o passado. Uma coisa é certa: irá perturbar Stride!
Mas não nos restrinjamos a estas personagens. O autor dá um toque de dramático na narrativa ao introduzir a família Biggs. Clark, embora separado de Donna, cuida da sua filha deficiente Mary. E ao longo da trama denotamos o quão este pai ama a sua filha.

Freeman caracteriza-se sobretudo por recorrer a um elemento tão íntimo e importante, a sexualidade, para dotar as personagens de alguns aspectos sejam estes ditos normais ou não. Ora vejamos, é de senso comum que uma sexualidade reprimida poderá desencadear desvios na personalidade de uma pessoa, podendo assumir proporções incontroláveis. Pois este autor explora estes limites da sexualidade (e seus desvios) para criar personagens que eventualmente podem ser chocantes, para quem partilhe uma mentalidade mais tradicionalista.

A fórmula que Brian Freeman utiliza com mestria relaciona-se fortemente pelo desvendar destes segredos, nos timings certos e das formas mais inesperadas. Se a meio da trama o leitor acha que estas pontas soltas que vão sendo deixadas são não têm qualquer resolução, no final estas são bem argumentadas. Estes constantes twists deixam qualquer leitor ansioso em descobrir o final do livro, tornando o desfolhar das páginas qualquer coisa como viciante. Devo adiantar que nada é o que parece...
Tendo lido este livro tive a confirmação de que Brian Freeman é um dos meus autores de eleição, e acompanharei de bom grado toda a saga protagonizada por Stride. Ler os outros dois livros é uma tentação, enquanto espero ansiosa pela tradução na língua portuguesa das restantes obras.

Muita acção, suspense, reviravoltas inesperadas, sexualidade à flor da pele e tensão é o que este autor tem para vos oferecer! A trama é tão real que os diálogos entre as demais personagens absorvem o leitor por inteiro e as descrições de Duluth são tão ricas, a ponto de fazer viajar até lá. Um livro que, depois de ter lido, irá continuar a pensar nele. Recomendo vivamente!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Passatempo "Brian Freeman - O Voyeur" - Resultado


Com a colaboração da Editorial Presença, a menina dos policiais tinha um exemplar deste livro para sortear. Desde já agradeço à editora e aos participantes que contribuíram para o sucesso deste passatempo. Com 197 participações, das quais 195 são válidas.
Desta forma, as respostas correctas eram:

1. Há quantos anos Jonathan Stride chefia a Brigada de Detetives da polícia de Duluth?
30 anos

2. Quem regressa à cidade na posse de novas provas?
Tish Verdure

3. Este livro "O Voyeur" integra que colecção da Editorial Presença?
Fio da Navalha

4. Qual é a obra de estreia do autor?
Segredos Imorais


O sorteio no random.org ditou que o vencedor é:



178 - Bruno Azevedo (Vila do Conde)

Muitos parabéns ao vencedor! A todos os que tentaram e ainda não conseguiram, não desistam, terei todo o gosto de voltar a fazer passatempos! Boa sorte e boas leituras para todos!!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Anne Holt - A Raíz do Ódio [Opinião]


Toda a gente conhece aquela sensação de terminado um livro, sentir imediatamente uma nostalgia, uma pena de ter terminado esse livro. Pois bem, isso aconteceu-me agora com Anne Holt. Li (ou melhor, devorei) o seu livro em dois dias, tal era a ânsia de descobrir todas as pontas daquele fantástico enredo e agora pergunto-me porquê não ter abrandado a leitura para desfrutar desta mesma só mais uns instantes...

Anne Holt é mais do que uma mera autora de policiais. Ela foi também ministra da Justiça e talvez tenha sido esse facto que desencadeou uma percepção bastante realista sobre a criminalidade e que Holt descreve com brio nos seus livros. Sou uma fã inveterada dela, confesso! Assim que saíram os livros Castigo e Crepúsculo em Oslo, li-os em menos de nada, ficando a ansiar por mais. No entanto não li a Senhora Presidente, cuja sinopse revela um cariz mais de conspiração política e menos de policial propriamente dito, o que fez atrasar o seu momento para ser lido. Eventualmente irei lê-lo em breve.
Para quem não leu este dois últimos, o autor faz uma contextualização muito básica sobre as personagens, possibilitando a leitura deste sem que seja necessário ler os dois primeiros livros.

Em "A Raiz do Ódio", deparamo-nos com três subtramas: a investigação da morte da episcopisa Eva Karin Lysgaard, em circunstâncias um pouco estranhas. Tendo marido e um filho, esta senhora de 62 anos, terá encontrado Jesus aos 16 anos, enveredando então pela via religiosa. Em simultâneo decorre o inquérito policial sobre um corpo encontrado num rio, já em elevado estado de decomposição. À parte, o leitor acompanha o drama pessoal de Marcus Koll, um homossexual muito pacato e casado com Rolf, vê a sua vida a descambar quando incorre num erro fatal. Mas também é dado um ênfase à vida pessoal de Johanne Vik, e Adam Stubo. Para quem não está familiarizado com estas personagens, devo adiantar que ele é polícia, ela é psicóloga e criminologista. Johanne tem uma filha do casamento com Isak, Kristiane, com agora 14 anos. Esta menina tem alguma limitação e quer-me fazer crer que é autista. Em comum com Stubo, Vik tem uma filha, Ragnhild, de 5 anos.

Relativamente às subtramas acima mencionadas, achei que estas têm pontos em comum e estão bem conduzidas até aos seis finais, que são no mínimo, surpreendentes!

Neste livro há uma nítida evolução na personagem de Stubo. Deixou mais de lado os seus fantasmas pessoais (pois o próprio teve um acidente que abalou por inteiro a sua existência). Senti que agora estava uma personagem mais madura, mais adulta, com mais confiança em si próprio. É deixada mais de parte a relação com o genro e o neto, cuja importância era significativa nos livros anteriores.
No entanto continua-se sem perceber de facto o que se passa com a sua enteada, embora eu já tenha formulado uma teoria sobre a mesma. As restantes personagens estão bem caracterizadas, e bastante reais até, desde o viúvo Erik Lysgaard, que certamente esconde algo sobre a episcopisa até ao simpático casal Marcus e Rolf. Isto para não falar da vida familiar de Johanne, mãe preocupada, debate-se com uma série de contratempos já conhecidos por quem vive a maternidade dia após dia.
As emoções são de facto transmitidas ao leitor, que acompanha a par e passo a investigação de Stubo bem como a investigação paralela por parte da detective Silje Sorensen.

Como tenho vindo a denotar em policiais nórdicos, e penso já ter partilhado convosco este meu ponto de vista, as relações humanas são postas em segundo plano. E quando falo de relações humanas, refiro-me aos sentimentos e à demonstração dos mesmos. Ora vejamos, acompanhámos desde o início a evolução da relação entre Vik e Stubo, desde o livro Castigo. E embora a sua relação tenha convergido para um relacionamento amoroso, poucas são as descrições que demonstrem este facto. Nota-se um à vontade bastante incomum por parte dos mediterrânicos, especialmente no lidar com o ex da actual esposa, por exemplo. Por mais que leia policiais nórdicos, parece que nunca me cansarei de ler sobre os vários costumes desta cultura e confronta-los com os nossos.

O livro tem uma abordagem muito intensa sobre ódio expressando-se sobretudo na discriminação, quer sexual, quer racial. São tópicos já bastante desenvolvidos em livros policiais é certo, mas achei que este tinha o seu quê de especial. E eis que no fim do livro percebi porquê: a própria Anne Holt dedica este livro à sua companheira. Terá ela sentido na pele todo este preconceito e equacionado as proporções extremas que descreve no livro?

Misterioso até ao fim, adorei o prólogo, quando recuamos até 1962 e finalmente descobrimos o que aconteceu no encontro de Eva Karin com Jesus. Desta feita a autora não deixa nada por explicar, deixando prever uma aventura completamente diferente no próximo livro da saga de Vik/Stubo. Um livro que tem todos os ingredientes dignos de um magnifico policial: Mistério e segredos de família, alguns crimes sem aparentemente uma ligação e a análise dos limites exacerbados do racismo e da homossexualidade.

Mal terminei este e já ando em ânsias para ler o quinto livro da autora. Recomendo vivamente! Um excelente (e viciante) leitura! Garanto que não vai conseguir largar o livro e desvendar os três mistérios que Anne Holt brilhantemente apresenta! Atenção fanáticos de policiais nórdicos: não quererão perder este livro!


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Jonathan Santlofer - O Caderno da Morte [Opinião]

Jonathan Santlofer é um autor já recorrente na colecção Minutos Contados, da Editorial Presença, e embora este seja o terceiro livro publicado em português, foi a minha estreia nas obras do referido autor.

O protagonista da trama é Nate Rodriguez, um desenhador da polícia, cujos esboços auxiliam na investigação criminal. Ele está a trabalhar numa reconstituição facial de uma caveira não identificada quando é chamado a participar na equipa que está a investigar uma série de crimes estranhos e suicídios. Ele namora com uma detective de homicídios chamada Terri Russo, e sinceramente achei que ler sobre a relação dos dois é simplesmente fantástico. Embora sejam personagens bastante diferentes, o leitor facilmente simpatiza com ambos e sente que há ali um companheirismo e uma grande cumplicidade entre ambos apesar dos constantes arrufos entre o casal.

Mas acima de uma teia de relações bem conseguida, o livro, como policial que é, não deixa de conter também alguns surpreendentes homicídios. A medida que estes vão sendo descritos, são simultaneamente enriquecidos com os vários esboços de Rodriguez. E são sobre estes desenhos que vos quero falar.

De facto, o primeiro impacto do livro dá-se através das ilustrações que lá figuram, tornando-o de certa forma um livro diferente e deveras original. Muitas das figuras correspondem ao "filme" que o leitor vai fazendo no seu íntimo. Estas podem corresponder tanto a retratos robot, extremamente reais bem como outras figuras, representativas de variadas situações. Depois o enredo apresenta todos os ingredientes imprescindíveis para um excelente policial: muitas mortes, investigação policial e tecnologia de ponta nos procedimentos forenses e um personagem principal com garra, que se destaca de um punhado de intervenientes bastante interessantes. Achei por exemplo, a personagem do psicoterapeuta bastante credível. Este auxilia Rodriguez na despistagem das suas angústias e dramas pessoais.

O livro encontra-se carregado em suspense, dando que pensar ao leitor como correlacionar todos aqueles homicídios, que aparentemente são isolados. A história é relativamente complexa, as personagens são interessantes, e de certa forma, bem reais. Gostei particularmente da personagem do Rodriguez mas confesso que teria sido interessante se esta fosse mais aprofundada. Apercebi-me que ele tenta a todo o custo, conjugar a investigação e o trabalho forense pelo qual ele é responsável com a procura de soluções dos problemas mal resolvidos com os seus pais. O seu progenitor terá morrido há pouco tempo, em circunstâncias pouco comuns. Provavelmente, o primeiro livro, Anatomia do Medo, esclarece ao detalhe estas questões.

Apesar de tudo, devo dizer que, infelizmente, o livro não me prendeu tanto como gostaria. Não me senti completamente à vontade na história nem conheci profundamente as personagens. a ponto de nutrir sentimentos pelas mesmas (excepção feita com o casal Nate e Terri). Por exemplo, levei o livro todo a perguntar a mim mesma como teria morrido o pai de Rodriguez., pois gostaria de saber os pormenores. Penso que tal sentimento deve-se ao facto de ter lido este livro primeiro do que a Anatomia do Medo, o livro de estreia do autor, também disponível na colecção Minutos Contados. A ideia com que fiquei é que este Caderno da Morte é uma sequela da Anatomia do Medo e como tal, é imprescindível ler os livros por ordem. No entanto reconheço que ler as obras do autor é mais do que ler livros interessantes, é conhecer verdadeiras obras de arte sempre que se aprecia cada um dos desenhos que o livro contém. Por isso não posso deixar de dar os parabéns ao autor, pelo talento (apercebi-me que é Santlofer que também desenha as diversas figuras) em complemento com o enredo que tece.

Desta forma recomendo sim a leitura deste livro, sobretudo devido à especificidade que vos falei. Trata-se de facto, de uma experiência literária única. No entanto há que lê-lo apenas se leu previamente o primeiro livro do autor. Só assim conseguirá desfrutar deste Caderno da Morte na sua plenitude.





Mais informações sobre o livro aqui.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Passatempo Brian Freeman - O Voyeur (exemplar autografado)


Desta vez, e em parceria com a Editorial Presença, a menina dos policiais tem para sortear um exemplar do livro O Voyeur de Brian Freeman autografado. Para participar no passatempo, tem apenas de responder acertadamente a todas as questões seguintes:

Regras do Passatempo:

-O passatempo começa hoje dia 8 de Novembro de 2011 e termina às 23.59h do dia 15 de Novembro de 2011;

-O participante vencedor será escolhido aleatoriamente;

-O vencedor será contactado via e-mail;

-Apenas poderão participar residentes em Portugal e só será permitida uma participação por residência.

- Se precisarem de ajuda, podem consultar aqui:
Só me resta desejar boa sorte aos participantes!!!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Divulgação Editorial Presença: Brian Freeman - O Voyeur

Jonathan Stride, o protagonista de Segredos Imorais (um thriller fantástico que li há pouco tempo) está de volta no próximo livro que integra a colecção Fio da Navalha. Estejam atentos...

Sinopse: Ao longo de trinta anos, Jonathan Stride, o carismático detetive que chefia a Brigada de Detetives da polícia de Duluth, foi assombrado por um crime do passado – o violento e incompreensível homicídio de Laura Starr. Mas quando Tish Verdure regressa à cidade na posse de novas provas e determinada a reabrir o processo para que o assassino da sua amiga de juventude seja punido, Stride ganha um novo fôlego e dá início a uma nova investigação. Em O Voyeur, o suspense adensa-se, o ritmo acelera e a adrenalina atinge níveis quase insustentáveis. Um romance noir, genialmente orquestrado, que vem confirmar Freeman como um grande mestre do thriller.

Sobre o autor: Brian Freeman é um conceituado autor de romances policiais. Iniciou a sua carreira de escritor aos 41 anos com a obra Segredos Imorais, galardoada com o Macavity Award para melhor primeiro romance e finalista de outros prémios tão prestigiosos quanto o Edgar Award, o Dagger Award, o Anthony Award e o Barry Award. O seu segundo livro, Cidade Inquieta, foi alvo das mais elogiosas críticas e considerado um dos melhores policiais do ano da sua publicação pelo South Florida Sun Sentinel. Perseguida, o seu terceiro romance, recebeu igualmente a aclamação unânime do público e da crítica. As suas obras, caracterizadas por um intenso suspense psicológico, tornam-se invariavelmente bestsellers internacionais, e Freeman é hoje considerado a par de nomes como Hitchcock, Chandler, Ellroy ou Harlan Coben.

Nas livrarias a 15 de Novembro.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

John Verdon - Pensa num Número [Opinião]


Pensa num Número é o romance de estreia do norte-americano John Verdon. Após largos anos a trabalhar em publicidade, Verdon, numa fase mais tardia da sua vida, (mais concretamente aos 68 anos) escreveu um livro que se tornou um best seller, tendo sido traduzido em vários idiomas. Qual terá sido a fórmula adoptada por Verdon para o sucesso deste livro?

A acção gira em torno do reformado polícia, Dave Gurney que volta às investigações criminais quando um antigo colega lhe pede ajuda. Mark Mellery, administrador de um retiro espiritual, está a receber cartas anónimas e de cariz perturbador. Nestas, o remetente adverte Mark que o conhece tão bem a ponto de adivinhar o primeiro número que lhe vem à cabeça. E de facto, assim é. Por duas ocasiões, o estranho serial killer adivinha os números em que pensa Mellery. E estas previsões terão um custo demasiado elevado... O invulgar acontece quando a ameaça se estende a outras pessoas.

Um dos aspectos importantes a ser comentado é a versatilidade da escrita do autor. Relembremos que este é o romance de estreia de Verdon. E de facto ele tem a proeza de, relatar a história de forma coerente e interessante, deixando qualquer leitor a ansiar por mais. Mas Verdon vai além disso: ele expõe as mensagens do homicida, em prosa ou em verso. Os sádicos poemas que ele escreve, além de apresentar uma métrica perfeita (e aqui dou os parabéns ao responsável pela tradução portuguesa do livro que conseguiu traduzir do inglês um poema e adapta-lo na língua portuguesa com a mesma mensagem subjacente) estão munidos de um misto entre os requintes de malvadez e a ironia/sarcasmo que impressionam o leitor sem grande esforço. Ainda assim, ficou a curiosidade de ler estas mesmas mensagens na versão original em inglês. Talvez a minha sugestão para a Porto Editora seria que, neste tipo de situação, mantivessem as mensagens originais e, em nota de rodapé, apresentassem as mesmas traduzidas, ou vice versa.

Antecedendo a história propriamente dita, o leitor depara-se com uma estranho prólogo. Durante o desenvolvimento da trama, o leitor tenta contextualizar este capítulo introdutório com a história mas dificilmente consegue assegurar uma ligação entre o prólogo tão distinto do enredo.

As personagens são expressivas, resultado da escrita envolvente de Verdon, em que recorre ao detalhe e pormenor para enriquecer cenários, acções e as ditas personagens. Consegue a proeza de revestir uma personagem que não é, num estado inicial da trama, directamente mencionada (falo portanto do remetente das cartas anónimas) num carácter maléfico e aterrador. Conhecido inicialmente apenas por Charybdis, inteligentemente ele vai deixando pistas, que ameaçam até a segurança dos próprios polícias. É seguramente, um dos serial killers mais brilhantes e ameaçadores descritos em literatura.

Em relação a Dave Gurney, constatei na contracapa que é comparado a Poirot ou a Sherlock Holmes, eu não concordaria assim tanto com esta paralelismo. É certo que Gurney é perspicaz e recorre à lógica e dedução para relacionar algumas pistas. Mas achei esta personagem mais afável e humana. Nem Sherlock Holmes nem Poirot deixam antever esse lado tão pessoal das suas vidas.
Talvez porque Dave Gurney seja casado, é realçado um episódio trágico da sua vida e toda esta ênfase na vida pessoal faz com que sintamos mais afinidade com ele. Isto para não falar da vulnerabilidade das relações que ele mantém com o filho mais velho, Kyle e de certa forma com a esposa Madeleine. E se Sherlock Holmes tem um Dr Watson e Poirot o seu amigo, Hastings, assim associado à personagem de Gurney há uma parceria simbiótica com Madeleine. Não posso deixar de comentar a importância da esposa de Gurney, cuja argúcia é fundamental para associar as várias pistas deixadas pelo assassino. Os seus "bitaites", têm um certo peso na formulação de teorias para conhecer afinal a identidade do estranho Charybdis.

É um livro desafiante, estimulante e deveras intrigante. Um verdadeiro quebra cabeças sob a forma literária! Desde o primeiro momento, o leitor depara-se com a constante dúvida: Como adivinha ele os números? Haverá explicação lógica ou estaremos num momento de pura clarividência de uma das personagens? Reparem que há uma larga margem de manobra, uma vez que o vilão dá a escolher um número desde 0 a 1000. Intrigante, não acham? E depois este homem arquitecta inúmeros puzzles, aparentemente sem soluções lógicas.

Por isso não se limite a pensar num número! Pense em comprar este livro e a lê-lo! Garanto que não se arrependerá! Recomendo vivamente!

domingo, 30 de outubro de 2011

Divulgação ASA - Agatha Christie: O Assassinato de Roger Ackroyd


E é amanhã que se encontra à venda nas livrarias, o recente título de Agatha Christie, nestas capas comemorativas e, na minha modesta opinião, soberbas. Já li este livro e é simplesmente brilhante! Um dos melhores que li da autora!

Sinopse: Roger Ackroyd sabia de mais. Sabia que a mulher que amava envenenara o primeiro marido, um homem extremamente violento, e suspeitava que ela era vítima de chantagem. Quando ela é encontrada morta, ele não se conforma com o relatório médico que aponta para suicídio por overdose. Ackroyd desconfia de algo bem mais sinistro e quer encontrar respostas para as inúmeras perguntas que pairam ameaçadoramente no ar. Mas alguém está disposto a impedi-lo. Nem que, para tal, tenha de o matar.

Aconselho vivamente este livro!

Aquisições de Outubro

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Divulgação Chiado Editora - Casimiro Teixeira: Governo Sombra


Uma sinopse brilhante que apresenta o thriller do autor português, Casimiro Teixeira.

Sinopse
: Um thriller de conspirações políticas que retrata as vidas paralelas de dois homens; Um, desempregado, com ambições de ser escritor: desistiu da vida e da procura da felicidade, reencontrando-a ao receber uma estranha mensagem de uma amiga, que lhe encomenda a escrita de um livro sobre a sua vida, conduzindo-o numa viagem obsessiva por uma realidade ficcionada sobre um Portugal secreto e sinistro desconhecido por muitos.
O outro, um político empossado à força por um caciquismo familiar. Professor de história por paixão, torna-se secretário de estado por complacência dos interesses do falecido pai. Embarcam numa odisseia mirabolante de enganos e descobertas, na busca da confirmação da existência de uma ordem secreta, os Alquimistas, cujo plano efetivo para o nosso país, consiste no controlo absoluto do seu governo, e no domínio total da vontade dos seus cidadãos.
De Nova Iorque a Bruxelas, e por diferentes locais em Portugal, um atroz destino os espera, nesta história implacável, que mistura passado e presente, cheia de suspense e completamente imprevisível.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Divulgação Contraponto - Anne Holt: A Raíz do Ódio


Sinopse: Oslo, numa fria tarde de dezembro. Uma criança descalça anda perdida pelas ruas. Está prestes a ser atropelada por um elétrico, quando, no último momento, é salva por um desconhecido que surge do nada. Pouco depois, sussurra à sua mãe, a criminalista Inger Johanne Vik, ainda mal refeita do susto: «A senhora estava morta…» A partir daí, Johanne e a sua família veem-se envolvidas na investigação de estranhos homicídios.
Em Bergen, é assassinada a episcopisa local e o marido de Johanne, o detetive Yngvar Adam Stubø, é chamado a fazer parte da investigação. Em Oslo, sucede-se uma série de mortes de natureza diversa. Aparentemente, nenhum destes crimes tem ligação entre si, mas Johanne Vik acabará por descobrir que não é bem assim…

Nas livrarias a 4 de Novembro.