quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Patrick McGrath - Trauma [Opinião]


Patrick McGrath é um conhecido escritor de suspenses psicológicos, no entanto foi com este livro que me estreei nas suas obras.

Escrito sob o ponto de vista de Charlie Weir, um afamado psiquiatra de Nova Iorque, o leitor sente na pele os testemunhos envolventes do protagonista. Filho de uma mãe depressiva e de um pai com tendência a refugiar-se no álcool, Charlie tenta arduamente superar os traumas de infância causados pelas acções dos pais e da relação conturbada com o irmão, Walter.
Quando ele conhece a misteriosa Nora Chiara, apercebe-se dos seus fantasmas e tenta resolvê-los a todo o custo. Mas ironia das ironias: Charlie, psiquiatra, ajuda os outros a ultrapassar experiências traumáticas mas será que consegue resolver o trauma que existe no seu âmago?

O primeiro pormenor que reparei foi logo na escrita do autor, tendo a apontar a existência de poucos diálogos. Creio que será essencialmente devido ao facto do livro ser relatado na primeira pessoa, e como tal, o narrador relata os acontecimentos de uma forma bastante descritiva, estando grande parte das conversações em discurso indirecto.
O livro peca por este défice, especialmente porque considero que os diálogos interagem mais com o leitor e de certa forma, quebram a rotina da trama.

McGrath mostra uma grande mestria em relatar assuntos relacionados com a Psicologia. Não verifiquei qual seria a área de estudo do autor mas se McGrath não é formado em Psicologia, então enganou-me bem... Aliás, duas características que imediatamente atribuí ao livro foi a atrocidade e a complexidade das temáticas abordadas. É difícil ler sobre algo tão fascinante mas ao mesmo tempo tão intrincado que é a psicologia humana. E de facto é um tema introspectivo na medida em que nos inteiramos que uma simples acção fora da rotina pode deixar marcas e estas podem até ser irreversíveis. Embora apresente o seu mistério, à medida que decorre a trama o leitor vai descobrir inúmeros factos sobre Charlie. Desta forma, o autor recorre a constantes analepses para relatar episódios da infância do psiquiatra, bem como outros acontecimentos marcantes já em idade adulta. Assim o leitor entende o estranho relacionamento com a ex mulher Agnes.

As personagens são credíveis e extremamente complexas. Desde o psiquiatra até aos seus pacientes e membros do núcleo familiar, são munidos de um trauma, e que os moldaram na forma de estar como seres adultos. Ora vejamos: o cunhado Danny com marcas da guerra do Vietname, Agnes e Nora (as mulheres da vida de Charlie) tão diferentes mas com um episódio no passado que as deixarão com fantasmas tão semelhantes... são mulheres mentalmente fracas e voláteis. Até o próprio psiquiatra, em estado de inferioridade face ao irmão, lutando perante a mãe que é um bom filho... Há uma vulnerabilidade nas personalidades bastante vincada e extensível a todas as personagens.

Um aparte: sendo a acção passada em 1970, o livro relata aspectos que não deixam de ser curiosos como a construção das torres do World Trade Center (que como sabem, foi destruído em 2001)

Embora tenha um número bastante reduzido de páginas, Trauma não deixa de ser uma leitura, na minha opinião, morosa. Comparativamente aos livros da minha preferência, a acção é mais lenta. Na minha opinião este livro está longe de ser um verdadeiro thriller psicológico. Contém uma certa dose de suspense é certo, mas creio que a trama relaciona-se fortemente com uma introspecção a nível da mente humana. Aborda temas que são difíceis de digerir, como traumas de guerra, violações e outros abusos. Há alguns twists na trama mas penso que o desfecho não foi muito imprevisível. O leitor descobre a resolução do mistério pessoal de Charlie a sete páginas do fim, querendo a mim parecer que foi um final algo abrupto, podendo ter sido mais explorado.

Em suma, Trama é um livro que sendo catalogado de thriller psicológico, alcança um patamar de grau medíocre. É um livro que explora a psique, o ultrapassar de um trauma e as relações humanas, por isso não deixo de recomendar aos que apreciam esta temática. Irão certamente achá-lo fascinante!

domingo, 27 de novembro de 2011

Mons Kallentoft - Segredo Oculto em Águas Turvas [Opinião]


Este é o terceiro livro da tetralogia de Mons Kallentoft, tetralogia essa onde cada volume corresponde a uma estação do Ano. Acompanho desde o início, esta saga protagonizada por Malin Fors que teve como primeira investigação, Sangue Vermelho em Campo de Neve, correspondendo ao crime ocorrido na estação do Inverno.

Um dos aspectos que é importante destacar é a rapidez com que a editora D. Quixote publicou este livro. Após ter lido Anjos Perdidos em Terra Queimada, no passado Verão, foi com uma enorme surpresa e agrado que tive conhecimento da publicação do terceiro livro, pouquíssimos meses após a saída do segundo volume. A editora tenta acompanhar as estações do ano para lançar o livro alusivo aos mesmos, mas Mons Kallentoft não terá certamente equacionado este estranho fenómeno das alterações climáticas, tendo nós a sensação de ter passado do Verão imediatamente para o Inverno.

Esta é daquelas sagas onde não considero fundamental a leitura dos livros por ordem de publicação. É certo que os protagonistas são os mesmos, mas os casos descritos são completamente independentes. Neste livro, a personagem fulcral da trama é Jerry Petersson, um advogado ávido por dinheiro e que compra o castelo de Skogsa à estranhíssima família abastada Fagelsjo. Eis que este, misteriosamente aparece morto no fosso do castelo. Quando Malin Fors e a sua equipa investigam o caso irão descobrir que Petersson era mais do que um simples advogado. Tem segredos que poderão explicar o porquê deste destino...

As primeiras páginas do livro ditam um destino conturbado para Malin Fors. que se depara com um problema pessoal. Para os mais ansiosos, diria talvez que este início é um pouco lento, debruçando-se essencialmente na vida pessoal de Fors. Desta forma, é feito um enquadramento da situação familiar da inspectora que mudou radicalmente nas suas relações nomeadamente com a filha Tove e o ex-marido Janne. Conforme sabem os leitores da tetralogia de Mons Kallentoft, o último livro, Anjos Perdidos em Terra Queimada, teve um desfecho não muito positivo para Tove. De facto, as marcas na filha da inspectora tiveram tal proporção que catapultaram a mãe para um precipício de destruição. No entanto, este contexto pessoal da inspectora é importante, especialmente para quem pretende ler o Segredo Oculto em Águas Turvas, sem recorrer à leitura prévia dos livros anteriores.

O autor volta a usar aquela que foi a fórmula que o distingue dos restantes policiais: a introdução de relatos dos falecidos intercalados na narrativa. Inevitavelmente isto resulta... Se é maçudo ou repetitivo, perguntam vocês, eu diria que não. Com estes testemunhos, acabamos por conhecer um pouco da personagem que até aí funcionou quase como um mero figurante, mas que acaba por ter um papel vital na trama: o de vítima de homicídio. Kallentoft preocupa-se assim em dar um ponto de vista sobre a morte, e o que terá sido a existência dessa personagem para que o leitor sinta alguma proximidade e eventualmente empatia com a mesma. E em geral, estas vítimas que vão sendo comuns nos livros do autor, têm diferentes personalidades e todas carecem de um mau íntimo.
Afinal "dar vida" aos mortos é uma ideia controversa mas de certa forma inovadora na literatura policial e interage muito mais com o leitor do que as vítimas de homicídio com que nos costumamos deparar.
Também denotei uma evolução no autor, nomeadamente através do realismo de descrições espaço físico onde decorre a acção, falo sobretudo do castelo. Senti uma familiaridade com certos elementos portugueses e tentava constantemente estabelecer comparações com os nossos castelos e palácios. Agrada-me particularmente a escrita de Kallentoft, que abraça a vida pessoal das personagens com a investigação dos casos, mas sobretudo, acho aqueles monólogos dos mortos, algo de outro mundo. O leitor quase que sente na pele o clima de sobrenaturalidade que o autor realça nessas passagens, e que, brilhantemente, se adaptam no meio da narrativa do "mundo real".

Grande parte das personagens são comuns aos livros anteriores. Comecemos então por Malin Fors. Se a inspectora era alvo de admiração anteriormente, aqui esta personagem decai e no início, o leitor muito dificilmente sentirá algo além de pena e compaixão... As restantes personagens, já nossas conhecidas, debatem-se com os seus problemas pessoais, nem os considerados heróis da trama (toda a hierarquia da polícia) estão imunes a uma panóplia de problemas que se reflectem essencialmente nas suas vidas.
Em relação aos irmãos Katarina e Fredrik Fagelsjo, que família! Fiquei impressionada por duas personagens que nem se dão muito a conhecer, mas que conseguem fascinar sobremaneira o leitor. São de facto personagens complexas, mas muito reais, ao longo da narrativa, levanta-se a dúvida "Que terão eles a esconder em relação à sua fortuna e a necessidade de terem vendido o castelo?"
Só apontaria o facto do autor, a certo ponto, me ter confundido com nomes das personagens tão parecidos quanto Anders e Andreas e que desempenham papéis relacionados na trama... Por si a antroponímica sueca já é consideravelmente complexa.

Achei que o livro aborda temas bastante credíveis e até comuns na sociedade actual. Falo portanto do alcoolismo (e a facilidade que se cai num vício deste tipo) e as consequências de uma mentalidade deveras ambiciosa, explorando o trauma e a evolução deste quando o mesmo não fica bem resolvido.

Um livro cuja estrutura é deveras fascinante. O autor envolve a trama com dois pormenores: o primeiro, já comentado, os monólogos dos mortos, que conferem uma certa originalidade à narrativa. O outro, já visto outrora em policiais, é o recuo temporal. O autor, à semelhança da conterrânea Camilla Lackberg, incorpora acções passadas nos anos 70 e 80, para nos apresentar em primeira mão, factos que terão alguma importância na actualidade. Ao longo de todo o livro, há o desvendar de inúmeros pormenores tanto sobre Petersson como sobre a família que deixarão o leitor boquiaberto.

Se o livro acaba bem...? Terá que ser o próprio leitor a descobrir, embora me sinta impelida a chamar a atenção para o desfecho da narrativa relativamente à personagem Maria Murvall, desfecho esse que nos deixa com uma enorme curiosidade relativamente ao último volume da saga.

Um livro que não posso deixar de recomendar aos fãs do policial. E não escondo que, dos três livros, o segundo foi até à data o meu preferido. Ainda assim fico, ansiosamente, à espera do quarto e último volume desta saga que acredito, irá marcar os fãs deste género.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Aquisições de Novembro

Divulgação Bertrand: Stephen King - Estações Diferentes

Sinopse: Stephen King surpreende-nos uma vez mais com a originalidade das suas histórias e o seu talento como escritor. Estações diferentes é uma coleção de quatro novelas, três das quais foram adaptadas ao cinema.
Os Condenados de Shawshank narra a história de um homem inocente que concebe um esquema para fugir da prisão.
Na segunda novela, Aluno dotado, adaptado ao cinema com o título Sob Chantagem, King apresenta-nos um menino exemplar que desafia um velho sombrio a despertar consigo um mal há muito enterrado.
Em O Corpo, adaptado ao cinema com o título Conta Comigo, quatro rapazes aventuram-se nos bosques e a sua viagem acaba por tornar-se um ritual de passagem da infância à maturidade, e de perda da inocência.
A Técnica da Respiração é uma história macabra acerca de uma mulher determinada a dar a luz e que, para isso, mantém o seu bebé vivo nas circunstâncias mais extraordinárias.

Nas livrarias a partir de dia 25 de Novembro.


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Brian Freeman - O Voyeur [Opinião]

Não é novidade que Brian Freeman tem já o seu nome destacado na literatura de suspense. Os seus livros enquadram-se num género de policial muito específico munido de uma carga constante de suspense psicológico. De facto, e tendo eu lido um livro do autor, Segredos Imorais, posso desde já adiantar que as suas obras proporcionam realmente excelentes momentos de leitura.

Neste livro, O Voyeur, regredimos ao passado de Jonathan Stride, que à semelhança que Segredos Imorais, é o protagonista da trama. Ele é confrontado com a chegada de Tish Verdure que pretende reabrir o caso de homicídio da sua amiga Laura Starr, irmã da sua falecida esposa Cindy Starr. Já se passaram trinta anos desde este trágico acidente e como tal, Jonathan está relutante em voltar a remexer neste assunto. Logo deparamo-nos com a única pergunta, força motriz para o desenvolvimento de todo o enredo: "Who killed Laura Starr?". Está cá a parecer-me que aqui há uma estranha mas subtil inspiração no famigerado David Lynch e na pergunta que ele deixou nos anos 90 "Who Killed Laura Palmer?" na série Twin Peaks. A enriquecer o enredo, o autor desenvolve uma trama secundária mas de igual importância: a presença de um voyeur que espia Mary Biggs, uma adolescente com uma limitação mental e dadas as circunstâncias, não tem qualquer consciência sobre o seu corpo, daí que ela não esteja completamente inteirada sobre o que se está a passar.

Sendo um livro que recua até às origens de Stride, este poderia ter sido perfeitamente o livro de estreia do autor. Embora eu já sentisse empatia com esta personagem, foi com esta obra que conheci o seu passado, a sua essência, aquilo que desencadeou todos os fantasmas que Stride tenta arduamente ultrapassar em Segredos Imorais. É sem dúvida um livro que envolve o leitor, graças à intensidade de sentimentos que é perfeitamente descrita através dos diários de Tish Verdure. Embora não sejam directamente sobre o ponto de vista desta personagem (o que pode originar inicialmente alguma confusão) são relatos bastante interessantes, pois permitem o leitor viajar no tempo e acompanhar "in loco" o que aconteceu nessa altura. Alguns flashbacks inteligentemente inseridos a meio da história, fazem com que o leitor tome conhecimento de acções passadas, nunca perdendo o fio à meada do tempo presente.

Se a própria construção e estrutura do livro adequam-se brilhantemente ao género do thriller, o mesmo posso dizer sobre as personagens. E é sobre estas que gostaria de dissertar. Grande parte delas são comuns aos livros do autor. Falo portanto de Jonathan Stride, Maggie Bei e Serena Dial. Se Maggie Bei era noviça, muito verdinha ainda nas lides das investigações criminais em Segredos Imorais, denotei que esta teve uma grande evolução neste livro. Simplesmente Maggie já não é aquela rapariguinha cujos diálogos davam um certo toque humorístico ao livro. Não, Maggie cresceu e é tão profissional quanto os seus colegas. Tem um papel fundamental nesta trama, sem qualquer dúvida. Mas também Stride amadureceu. Tendo Serena do seu lado, conseguiu por fim ultrapassar o trauma da morte da sua esposa Cindy. Mas eis que vem aquela personagem enigmática que é Tish Verdure. Não sabemos realmente quais são as verdadeiras intenções ao desenterrar o passado. Uma coisa é certa: irá perturbar Stride!
Mas não nos restrinjamos a estas personagens. O autor dá um toque de dramático na narrativa ao introduzir a família Biggs. Clark, embora separado de Donna, cuida da sua filha deficiente Mary. E ao longo da trama denotamos o quão este pai ama a sua filha.

Freeman caracteriza-se sobretudo por recorrer a um elemento tão íntimo e importante, a sexualidade, para dotar as personagens de alguns aspectos sejam estes ditos normais ou não. Ora vejamos, é de senso comum que uma sexualidade reprimida poderá desencadear desvios na personalidade de uma pessoa, podendo assumir proporções incontroláveis. Pois este autor explora estes limites da sexualidade (e seus desvios) para criar personagens que eventualmente podem ser chocantes, para quem partilhe uma mentalidade mais tradicionalista.

A fórmula que Brian Freeman utiliza com mestria relaciona-se fortemente pelo desvendar destes segredos, nos timings certos e das formas mais inesperadas. Se a meio da trama o leitor acha que estas pontas soltas que vão sendo deixadas são não têm qualquer resolução, no final estas são bem argumentadas. Estes constantes twists deixam qualquer leitor ansioso em descobrir o final do livro, tornando o desfolhar das páginas qualquer coisa como viciante. Devo adiantar que nada é o que parece...
Tendo lido este livro tive a confirmação de que Brian Freeman é um dos meus autores de eleição, e acompanharei de bom grado toda a saga protagonizada por Stride. Ler os outros dois livros é uma tentação, enquanto espero ansiosa pela tradução na língua portuguesa das restantes obras.

Muita acção, suspense, reviravoltas inesperadas, sexualidade à flor da pele e tensão é o que este autor tem para vos oferecer! A trama é tão real que os diálogos entre as demais personagens absorvem o leitor por inteiro e as descrições de Duluth são tão ricas, a ponto de fazer viajar até lá. Um livro que, depois de ter lido, irá continuar a pensar nele. Recomendo vivamente!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Passatempo "Brian Freeman - O Voyeur" - Resultado


Com a colaboração da Editorial Presença, a menina dos policiais tinha um exemplar deste livro para sortear. Desde já agradeço à editora e aos participantes que contribuíram para o sucesso deste passatempo. Com 197 participações, das quais 195 são válidas.
Desta forma, as respostas correctas eram:

1. Há quantos anos Jonathan Stride chefia a Brigada de Detetives da polícia de Duluth?
30 anos

2. Quem regressa à cidade na posse de novas provas?
Tish Verdure

3. Este livro "O Voyeur" integra que colecção da Editorial Presença?
Fio da Navalha

4. Qual é a obra de estreia do autor?
Segredos Imorais


O sorteio no random.org ditou que o vencedor é:



178 - Bruno Azevedo (Vila do Conde)

Muitos parabéns ao vencedor! A todos os que tentaram e ainda não conseguiram, não desistam, terei todo o gosto de voltar a fazer passatempos! Boa sorte e boas leituras para todos!!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Anne Holt - A Raíz do Ódio [Opinião]


Toda a gente conhece aquela sensação de terminado um livro, sentir imediatamente uma nostalgia, uma pena de ter terminado esse livro. Pois bem, isso aconteceu-me agora com Anne Holt. Li (ou melhor, devorei) o seu livro em dois dias, tal era a ânsia de descobrir todas as pontas daquele fantástico enredo e agora pergunto-me porquê não ter abrandado a leitura para desfrutar desta mesma só mais uns instantes...

Anne Holt é mais do que uma mera autora de policiais. Ela foi também ministra da Justiça e talvez tenha sido esse facto que desencadeou uma percepção bastante realista sobre a criminalidade e que Holt descreve com brio nos seus livros. Sou uma fã inveterada dela, confesso! Assim que saíram os livros Castigo e Crepúsculo em Oslo, li-os em menos de nada, ficando a ansiar por mais. No entanto não li a Senhora Presidente, cuja sinopse revela um cariz mais de conspiração política e menos de policial propriamente dito, o que fez atrasar o seu momento para ser lido. Eventualmente irei lê-lo em breve.
Para quem não leu este dois últimos, o autor faz uma contextualização muito básica sobre as personagens, possibilitando a leitura deste sem que seja necessário ler os dois primeiros livros.

Em "A Raiz do Ódio", deparamo-nos com três subtramas: a investigação da morte da episcopisa Eva Karin Lysgaard, em circunstâncias um pouco estranhas. Tendo marido e um filho, esta senhora de 62 anos, terá encontrado Jesus aos 16 anos, enveredando então pela via religiosa. Em simultâneo decorre o inquérito policial sobre um corpo encontrado num rio, já em elevado estado de decomposição. À parte, o leitor acompanha o drama pessoal de Marcus Koll, um homossexual muito pacato e casado com Rolf, vê a sua vida a descambar quando incorre num erro fatal. Mas também é dado um ênfase à vida pessoal de Johanne Vik, e Adam Stubo. Para quem não está familiarizado com estas personagens, devo adiantar que ele é polícia, ela é psicóloga e criminologista. Johanne tem uma filha do casamento com Isak, Kristiane, com agora 14 anos. Esta menina tem alguma limitação e quer-me fazer crer que é autista. Em comum com Stubo, Vik tem uma filha, Ragnhild, de 5 anos.

Relativamente às subtramas acima mencionadas, achei que estas têm pontos em comum e estão bem conduzidas até aos seis finais, que são no mínimo, surpreendentes!

Neste livro há uma nítida evolução na personagem de Stubo. Deixou mais de lado os seus fantasmas pessoais (pois o próprio teve um acidente que abalou por inteiro a sua existência). Senti que agora estava uma personagem mais madura, mais adulta, com mais confiança em si próprio. É deixada mais de parte a relação com o genro e o neto, cuja importância era significativa nos livros anteriores.
No entanto continua-se sem perceber de facto o que se passa com a sua enteada, embora eu já tenha formulado uma teoria sobre a mesma. As restantes personagens estão bem caracterizadas, e bastante reais até, desde o viúvo Erik Lysgaard, que certamente esconde algo sobre a episcopisa até ao simpático casal Marcus e Rolf. Isto para não falar da vida familiar de Johanne, mãe preocupada, debate-se com uma série de contratempos já conhecidos por quem vive a maternidade dia após dia.
As emoções são de facto transmitidas ao leitor, que acompanha a par e passo a investigação de Stubo bem como a investigação paralela por parte da detective Silje Sorensen.

Como tenho vindo a denotar em policiais nórdicos, e penso já ter partilhado convosco este meu ponto de vista, as relações humanas são postas em segundo plano. E quando falo de relações humanas, refiro-me aos sentimentos e à demonstração dos mesmos. Ora vejamos, acompanhámos desde o início a evolução da relação entre Vik e Stubo, desde o livro Castigo. E embora a sua relação tenha convergido para um relacionamento amoroso, poucas são as descrições que demonstrem este facto. Nota-se um à vontade bastante incomum por parte dos mediterrânicos, especialmente no lidar com o ex da actual esposa, por exemplo. Por mais que leia policiais nórdicos, parece que nunca me cansarei de ler sobre os vários costumes desta cultura e confronta-los com os nossos.

O livro tem uma abordagem muito intensa sobre ódio expressando-se sobretudo na discriminação, quer sexual, quer racial. São tópicos já bastante desenvolvidos em livros policiais é certo, mas achei que este tinha o seu quê de especial. E eis que no fim do livro percebi porquê: a própria Anne Holt dedica este livro à sua companheira. Terá ela sentido na pele todo este preconceito e equacionado as proporções extremas que descreve no livro?

Misterioso até ao fim, adorei o prólogo, quando recuamos até 1962 e finalmente descobrimos o que aconteceu no encontro de Eva Karin com Jesus. Desta feita a autora não deixa nada por explicar, deixando prever uma aventura completamente diferente no próximo livro da saga de Vik/Stubo. Um livro que tem todos os ingredientes dignos de um magnifico policial: Mistério e segredos de família, alguns crimes sem aparentemente uma ligação e a análise dos limites exacerbados do racismo e da homossexualidade.

Mal terminei este e já ando em ânsias para ler o quinto livro da autora. Recomendo vivamente! Um excelente (e viciante) leitura! Garanto que não vai conseguir largar o livro e desvendar os três mistérios que Anne Holt brilhantemente apresenta! Atenção fanáticos de policiais nórdicos: não quererão perder este livro!


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Jonathan Santlofer - O Caderno da Morte [Opinião]

Jonathan Santlofer é um autor já recorrente na colecção Minutos Contados, da Editorial Presença, e embora este seja o terceiro livro publicado em português, foi a minha estreia nas obras do referido autor.

O protagonista da trama é Nate Rodriguez, um desenhador da polícia, cujos esboços auxiliam na investigação criminal. Ele está a trabalhar numa reconstituição facial de uma caveira não identificada quando é chamado a participar na equipa que está a investigar uma série de crimes estranhos e suicídios. Ele namora com uma detective de homicídios chamada Terri Russo, e sinceramente achei que ler sobre a relação dos dois é simplesmente fantástico. Embora sejam personagens bastante diferentes, o leitor facilmente simpatiza com ambos e sente que há ali um companheirismo e uma grande cumplicidade entre ambos apesar dos constantes arrufos entre o casal.

Mas acima de uma teia de relações bem conseguida, o livro, como policial que é, não deixa de conter também alguns surpreendentes homicídios. A medida que estes vão sendo descritos, são simultaneamente enriquecidos com os vários esboços de Rodriguez. E são sobre estes desenhos que vos quero falar.

De facto, o primeiro impacto do livro dá-se através das ilustrações que lá figuram, tornando-o de certa forma um livro diferente e deveras original. Muitas das figuras correspondem ao "filme" que o leitor vai fazendo no seu íntimo. Estas podem corresponder tanto a retratos robot, extremamente reais bem como outras figuras, representativas de variadas situações. Depois o enredo apresenta todos os ingredientes imprescindíveis para um excelente policial: muitas mortes, investigação policial e tecnologia de ponta nos procedimentos forenses e um personagem principal com garra, que se destaca de um punhado de intervenientes bastante interessantes. Achei por exemplo, a personagem do psicoterapeuta bastante credível. Este auxilia Rodriguez na despistagem das suas angústias e dramas pessoais.

O livro encontra-se carregado em suspense, dando que pensar ao leitor como correlacionar todos aqueles homicídios, que aparentemente são isolados. A história é relativamente complexa, as personagens são interessantes, e de certa forma, bem reais. Gostei particularmente da personagem do Rodriguez mas confesso que teria sido interessante se esta fosse mais aprofundada. Apercebi-me que ele tenta a todo o custo, conjugar a investigação e o trabalho forense pelo qual ele é responsável com a procura de soluções dos problemas mal resolvidos com os seus pais. O seu progenitor terá morrido há pouco tempo, em circunstâncias pouco comuns. Provavelmente, o primeiro livro, Anatomia do Medo, esclarece ao detalhe estas questões.

Apesar de tudo, devo dizer que, infelizmente, o livro não me prendeu tanto como gostaria. Não me senti completamente à vontade na história nem conheci profundamente as personagens. a ponto de nutrir sentimentos pelas mesmas (excepção feita com o casal Nate e Terri). Por exemplo, levei o livro todo a perguntar a mim mesma como teria morrido o pai de Rodriguez., pois gostaria de saber os pormenores. Penso que tal sentimento deve-se ao facto de ter lido este livro primeiro do que a Anatomia do Medo, o livro de estreia do autor, também disponível na colecção Minutos Contados. A ideia com que fiquei é que este Caderno da Morte é uma sequela da Anatomia do Medo e como tal, é imprescindível ler os livros por ordem. No entanto reconheço que ler as obras do autor é mais do que ler livros interessantes, é conhecer verdadeiras obras de arte sempre que se aprecia cada um dos desenhos que o livro contém. Por isso não posso deixar de dar os parabéns ao autor, pelo talento (apercebi-me que é Santlofer que também desenha as diversas figuras) em complemento com o enredo que tece.

Desta forma recomendo sim a leitura deste livro, sobretudo devido à especificidade que vos falei. Trata-se de facto, de uma experiência literária única. No entanto há que lê-lo apenas se leu previamente o primeiro livro do autor. Só assim conseguirá desfrutar deste Caderno da Morte na sua plenitude.





Mais informações sobre o livro aqui.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Passatempo Brian Freeman - O Voyeur (exemplar autografado)


Desta vez, e em parceria com a Editorial Presença, a menina dos policiais tem para sortear um exemplar do livro O Voyeur de Brian Freeman autografado. Para participar no passatempo, tem apenas de responder acertadamente a todas as questões seguintes:

Regras do Passatempo:

-O passatempo começa hoje dia 8 de Novembro de 2011 e termina às 23.59h do dia 15 de Novembro de 2011;

-O participante vencedor será escolhido aleatoriamente;

-O vencedor será contactado via e-mail;

-Apenas poderão participar residentes em Portugal e só será permitida uma participação por residência.

- Se precisarem de ajuda, podem consultar aqui:
Só me resta desejar boa sorte aos participantes!!!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Divulgação Editorial Presença: Brian Freeman - O Voyeur

Jonathan Stride, o protagonista de Segredos Imorais (um thriller fantástico que li há pouco tempo) está de volta no próximo livro que integra a colecção Fio da Navalha. Estejam atentos...

Sinopse: Ao longo de trinta anos, Jonathan Stride, o carismático detetive que chefia a Brigada de Detetives da polícia de Duluth, foi assombrado por um crime do passado – o violento e incompreensível homicídio de Laura Starr. Mas quando Tish Verdure regressa à cidade na posse de novas provas e determinada a reabrir o processo para que o assassino da sua amiga de juventude seja punido, Stride ganha um novo fôlego e dá início a uma nova investigação. Em O Voyeur, o suspense adensa-se, o ritmo acelera e a adrenalina atinge níveis quase insustentáveis. Um romance noir, genialmente orquestrado, que vem confirmar Freeman como um grande mestre do thriller.

Sobre o autor: Brian Freeman é um conceituado autor de romances policiais. Iniciou a sua carreira de escritor aos 41 anos com a obra Segredos Imorais, galardoada com o Macavity Award para melhor primeiro romance e finalista de outros prémios tão prestigiosos quanto o Edgar Award, o Dagger Award, o Anthony Award e o Barry Award. O seu segundo livro, Cidade Inquieta, foi alvo das mais elogiosas críticas e considerado um dos melhores policiais do ano da sua publicação pelo South Florida Sun Sentinel. Perseguida, o seu terceiro romance, recebeu igualmente a aclamação unânime do público e da crítica. As suas obras, caracterizadas por um intenso suspense psicológico, tornam-se invariavelmente bestsellers internacionais, e Freeman é hoje considerado a par de nomes como Hitchcock, Chandler, Ellroy ou Harlan Coben.

Nas livrarias a 15 de Novembro.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

John Verdon - Pensa num Número [Opinião]


Pensa num Número é o romance de estreia do norte-americano John Verdon. Após largos anos a trabalhar em publicidade, Verdon, numa fase mais tardia da sua vida, (mais concretamente aos 68 anos) escreveu um livro que se tornou um best seller, tendo sido traduzido em vários idiomas. Qual terá sido a fórmula adoptada por Verdon para o sucesso deste livro?

A acção gira em torno do reformado polícia, Dave Gurney que volta às investigações criminais quando um antigo colega lhe pede ajuda. Mark Mellery, administrador de um retiro espiritual, está a receber cartas anónimas e de cariz perturbador. Nestas, o remetente adverte Mark que o conhece tão bem a ponto de adivinhar o primeiro número que lhe vem à cabeça. E de facto, assim é. Por duas ocasiões, o estranho serial killer adivinha os números em que pensa Mellery. E estas previsões terão um custo demasiado elevado... O invulgar acontece quando a ameaça se estende a outras pessoas.

Um dos aspectos importantes a ser comentado é a versatilidade da escrita do autor. Relembremos que este é o romance de estreia de Verdon. E de facto ele tem a proeza de, relatar a história de forma coerente e interessante, deixando qualquer leitor a ansiar por mais. Mas Verdon vai além disso: ele expõe as mensagens do homicida, em prosa ou em verso. Os sádicos poemas que ele escreve, além de apresentar uma métrica perfeita (e aqui dou os parabéns ao responsável pela tradução portuguesa do livro que conseguiu traduzir do inglês um poema e adapta-lo na língua portuguesa com a mesma mensagem subjacente) estão munidos de um misto entre os requintes de malvadez e a ironia/sarcasmo que impressionam o leitor sem grande esforço. Ainda assim, ficou a curiosidade de ler estas mesmas mensagens na versão original em inglês. Talvez a minha sugestão para a Porto Editora seria que, neste tipo de situação, mantivessem as mensagens originais e, em nota de rodapé, apresentassem as mesmas traduzidas, ou vice versa.

Antecedendo a história propriamente dita, o leitor depara-se com uma estranho prólogo. Durante o desenvolvimento da trama, o leitor tenta contextualizar este capítulo introdutório com a história mas dificilmente consegue assegurar uma ligação entre o prólogo tão distinto do enredo.

As personagens são expressivas, resultado da escrita envolvente de Verdon, em que recorre ao detalhe e pormenor para enriquecer cenários, acções e as ditas personagens. Consegue a proeza de revestir uma personagem que não é, num estado inicial da trama, directamente mencionada (falo portanto do remetente das cartas anónimas) num carácter maléfico e aterrador. Conhecido inicialmente apenas por Charybdis, inteligentemente ele vai deixando pistas, que ameaçam até a segurança dos próprios polícias. É seguramente, um dos serial killers mais brilhantes e ameaçadores descritos em literatura.

Em relação a Dave Gurney, constatei na contracapa que é comparado a Poirot ou a Sherlock Holmes, eu não concordaria assim tanto com esta paralelismo. É certo que Gurney é perspicaz e recorre à lógica e dedução para relacionar algumas pistas. Mas achei esta personagem mais afável e humana. Nem Sherlock Holmes nem Poirot deixam antever esse lado tão pessoal das suas vidas.
Talvez porque Dave Gurney seja casado, é realçado um episódio trágico da sua vida e toda esta ênfase na vida pessoal faz com que sintamos mais afinidade com ele. Isto para não falar da vulnerabilidade das relações que ele mantém com o filho mais velho, Kyle e de certa forma com a esposa Madeleine. E se Sherlock Holmes tem um Dr Watson e Poirot o seu amigo, Hastings, assim associado à personagem de Gurney há uma parceria simbiótica com Madeleine. Não posso deixar de comentar a importância da esposa de Gurney, cuja argúcia é fundamental para associar as várias pistas deixadas pelo assassino. Os seus "bitaites", têm um certo peso na formulação de teorias para conhecer afinal a identidade do estranho Charybdis.

É um livro desafiante, estimulante e deveras intrigante. Um verdadeiro quebra cabeças sob a forma literária! Desde o primeiro momento, o leitor depara-se com a constante dúvida: Como adivinha ele os números? Haverá explicação lógica ou estaremos num momento de pura clarividência de uma das personagens? Reparem que há uma larga margem de manobra, uma vez que o vilão dá a escolher um número desde 0 a 1000. Intrigante, não acham? E depois este homem arquitecta inúmeros puzzles, aparentemente sem soluções lógicas.

Por isso não se limite a pensar num número! Pense em comprar este livro e a lê-lo! Garanto que não se arrependerá! Recomendo vivamente!