terça-feira, 20 de dezembro de 2011

William Golding - O Deus das Moscas [Opinião]

Fugi um pouco dos policiais... é certo que a sinopse do livro deixa algum mistério no ar, mas decidi-me a lê-lo devido a uma recomendação e pelos supostos ensinamentos que o livro contém. Como certamente alguns de vós sabeis, eu trabalho com crianças e todos os dias aprendo um aspecto novo sobre as mesmas. Daí ter optado este livro, sabendo de antemão, que a obra de Golding não apresenta um retrato de todo abonatório sobre crianças.

A sinopse do livro fala de um grupo de meninos isoladas numa ilha. Sabemos que a criança mais velha tem cerca de 12 anos, havendo miúdos muito mais novos. Pouco se fala sobre o exterior, deixando antever que está em guerra. Sabe-se que, as crianças foram ali parar quando um avião se despenhou, deixando-as à mercê de si mesmas, sem qualquer supervisão de adultos.

Desde já, o primeiro aspecto a salientar é a capacidade de descrição do autor, tornando a ilha quase como paradisíaca. Ao ler sobre a mesma, pensava na ilha do célebre filme, A Lagoa Azul, ainda que o contexto não seja o mesmo. Nesta história temos crianças. Sem qualquer adulto por perto! E estas crianças. de origem britânica, viveram na civilização. São portanto crianças com valores morais e que se vêem encarceradas naquela ilha. E que, tal como Emmeline e Richard (os famigerados personagens da Lagoa Azul), também estes meninos querem sair da ilha, tendo noção de que até lá, precisam de conhecer novas ferramentas para a sobrevivência. E quando falo de sobreviver, falo de aspectos básicos da alimentação e abrigo mas também de não se deixar apanhar pelo Deus das Moscas...

O livro é muito interessante e julgo ser uma reflexão sobre a sociedade. Trata-se portanto de uma alegoria, em que cada elemento da ilha é representativo de um aspecto característico da sociedade. E nem o sítio mais paradisíaco está isento de uma força maligna. Neste caso existe o Deus das Moscas. Cada uma das crianças representa um estereótipo diferente. Apesar dos diferentes feitios dos vários rapazes, penso que no início da narrativa não existem nem heróis, nem vilões, apesar de haver personagens que mais se destacam. É-nos impossível não nos identificarmos com Piggy, o menino gorducho, com óculos, que mantém toda a sua calma ainda que nas situações mais complexas. Mas Piggy é alvo de troça por parte das restantes crianças.
A obra permite em que sejam repensados valores como a capacidade de liderança. Afinal, em todos os grupos há que ter uma pessoa capaz de gerir as inúmeras situações que poderão advir naturalmente de uma dinâmica de grupo. A gestão deste fica a cargo de dois rapazes, com temperamentos completamente diferentes. Ora vejamos, por um lado temos o calmo Ralph, por outro Jack, o líder impulsivo. Eles tentam a todo o custo, estabelecer regras para que o grupo continue coeso mas evidentemente, o caos instala-se e os seus objectivos acabam por colapsar.

Munido de características como aterrador ou perturbador, devo dizer que, não o achei assim tão impressionante... é certo que mexe com o leitor, afinal de contas, quais são os seres humanos num estado de pureza tal que não as crianças? E ver o mau que existe nelas é como um soco no estômago, um despertar para uma realidade não equacionada. Afinal, a ânsia pelo poder e o egoísmo não dizem respeito apenas a adultos, podendo tomar proporções catastróficas. No entanto, o nível de violência (e neste caso, esta encontra-se em proporções qb) está muito aquém do que espero nos livros e talvez não tenha sensibilidade para apreciar um livro deste calibre (sou e sempre serei a apaixonada por um bom policial com ou sem violência). Mas isto não significa que não tenha gostado do livro até porque achei-o bem interessante.
Como pontos negativos devo dizer que este foi dos livros que, tendo terminado, ficou uma sensação algo pesada. Deixou-me reflectir sobre a sociedade actual e penso que, as 231 páginas da versão de bolso do livro, me pareceram tão pouco... O autor poderia ter explorado mais exaustivamente a situação dos meninos, sem se tornar cansativo. Depois também achei o final um pouco abrupto. Num número tão reduzido de páginas assistimos ao clímax tão repentino da acção.

Ficou a curiosidade de ver a adaptação cinematográfica. Recomendo este livro como meio de reflexão sobre a sociedade actual. Penso que o facto de ter sido escrito nos anos 50 em nada influenciou os valores morais da nossa sociedade, e por mais anos que passem, esta será sempre uma temática bastante actual. Depois desta leitura, garanto-vos que não olharão para as crianças como olharam até ao momento. Um livro que depois de ser fechado e guardado na estante, irão certamente continuar a pensar no mesmo!

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