quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Gillian Flynn - Lugares Escuros [Opinião]


Sinopse: AQUI

Opinião: Lugares Escuros é, tal como o próprio título indica, um livro escuro, sombrio, tão próprio do estilo gótico. Dos dois livros que li de Flynn, foi notória esta tendência especialmente no seu romance de estreia Objectos Cortantes. A autora realça todo um lado obscuro de cenários e personagens, estando as descrições fartas de pormenores sombrios. Até a própria Libby, a suposta heroína da trama, é munida desta característica que se manifesta na frase da sua autoria "Tenho uma ruindade dentro de mim, palpável como um órgão". Há uma honestidade em Libby, que leva a caracterizá-la tal e qual como ela é: cleptomaníaca, algo apreciadora de violência e ganância, aspectos tão negativos mas simultaneamente envolvidos numa inocência muito própria pois aos sete anos sobreviveu ao massacre que foi o Sacrificio Satânico de Kinnakee. Libby Day acaba por ser uma protagonista muito invulgar pois é difícil simpatizar com a mesma. Tudo o que possamos sentir pela personagem é mesmo compaixão.

A estrutura do livro, algo semelhante à obra antecessora Em Parte Incerta (como se lembram consistiam nos testemunhos de Amy revezados com os de Nick) alterna a actualidade com a véspera do massacre, mudando também a forma de narração da história. Nos dias de hoje, Libby Day agora em idade adulta, narra na primeira pessoa. O leitor poucos juízos de valor tem a fazer sobre Libby pois ela é aberta: efectivamente desconhece quem terá sido o responsável pelo massacre, embora as pistas indiquem o seu irmão Ben e partilha com o leitor as decisões que toma referentes à colaboração com o Kill Club. 
O mistério reside no dia do massacre. Sob forma de perspectivas da mãe Patty Day e do irmão Ben Day, os capítulos que alternam com a actualidade retrocedem até dia 2 de Janeiro de 1985. Muito sinceramente fiquei apoquentada com o teor de algumas passagens referentes a Ben, sensação intensificada pela escrita de Gillian Flynn que, como referi anteriormente, explora sempre o lado sombrio das situações. Por outro lado até algo revoltada com o facto da autora associar músicas do meu género musical predilecto, o heavy metal (e em concreto a banda Iron Maiden) como rastilhos de cultos satânicos e adorações ao Diabo. 

A trama acaba por ser contada por três formas distintas que se expressam sobretudo através na linguagem. Nas passagens referentes a Ben espera-se algum calão para expressar sobretudo algumas práticas sexuais, linguagem esta mais contida nos testemunhos do narrador sobre Patty e até nos depoimentos de Libby. O cerne desta não é propriamente a violência física mas sobretudo os mecanismos psicológicos que estão por detrás das mais variadas personagens. Ainda assim, a linguagem gráfica respeitante ao modo de actuação do massacre está presente e essas passagens são bastante explícitas.
Realço ainda a linguagem quase impregnada de um ódio resultante da adolescência de Ben que se rebelou contra a própria família depois da influência pouco positiva e até mesmo ausência de uma sólida figura paterna.

O clímax do livro deixou-me sem palavras, boquiaberta, revelando uma reviravolta chocante de eventos que explicam então a terrível noite do massacre.

Apenas aponto um pormenor que desgostei. A tradutora Tânia Ganho, uma conceituada autora de romances contemporâneos manteve algumas palavras que a meu ver são abrasileiradas, como gambá e faxina, que poderiam ter sido igualmente traduzidos para a nossa língua.

Em suma, Lugares Escuros foi um livro que adorei apesar de estar impregnado de negativismo. Na minha opinião ainda melhor do que Em Parte Incerta, Lugares Escuros é uma obra naturalmente inquietante, absorvente e algo deprimente, tão forte a nível de linguagem e descrições sombrias, que irá certamente estarrecer alguns leitores.

Para mais informações sobre o livro Lugares Escuros, clique aqui.


4 comentários:

  1. Este foi um daqueles livros oferecidos no Natal e em boa hora mo ofereceram. Assim que vi que tinha sido um dos teus preferidos de 2013, não hesitei e atirei-me a ele. Adorei. A leitura é fluída, a escrita cativante e as personagens despertam-nos diversos sentimentos. Impossível ficar indiferente. Os flashbacks resultam muito bem e sentimo-nos mesmo transportados para a altura do crime. Um dos meus preferidos sem dúvida dos últimos tempos.

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    1. Muito bom, não é? Objectos Cortantes também adorei! Não que tenha desgostado de Em Parte Incerta mas esses dois... uiii

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  2. Fiquei extasiado pelo quanto é verossímil a história. Gillian Flynn tem uma maneira de escrever muito talentosa.

    bomlivro1811.blogspot.com.br

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