sábado, 3 de setembro de 2011

James Patterson - A Conspiração da Aranha [Opinião]

O mais bem pago autor James Patterson não é um nome incomum nas lides da literatura thriller ou policial. Dele li dois livros do Clube das Investigadoras, Primeira a Morrer e 3º Grau, livros de que gostei e apelaram à curiosidade de ler mais obras do autor. No entanto e por sugestão de várias amigas, optei por ler A Conspiração da Aranha, um registo diferente de Patterson e que me cativou por completo!

Um pormenor que reparei após ler apenas dois capítulos foi a escrita do autor, que face aos livros do Clube das Investigadoras, é notória uma maior dureza, objectividade e profundidade. Embora munida destas características, penso que a escrita do autor é bastante simples e fluída, sendo também de um tom crú, narrando os factos sem qualquer tipo de eufemismo. Organizado em pequenos capítulos, o livro representa uma fácil e rápida leitura. Porque é empolgante, excitante e deveras emocionante (até os adjectivos rimam... ;)) E a história tem como tema fulcral algo que aflige naturalmente as pessoas: o rapto de crianças.

Um enredo que acaba por ser "original" na medida em que desde o início conhecemos o raptor e a história de vida das duas crianças raptadas, filhas de figuras públicas norte-americanas. E sabemos também o paradeiro destas, pelo menos num estado inicial. Dada a importância deste caso, a investigação do homicídio brutal de uma família num bairro pobre bem como o assassinato de duas prostitutas, a quem lhes cortaram os seios, resumem-se a casos deixados um pouco em stand-by.
E perguntam-me vocês: estas informações deveriam ter sido mantidas secretas pois assim não há aquele gosto em desvendar o vilão. Acreditem que não é isso que tira a adrenalina e o fôlego deste livro! É que depois todo o seguimento do rapto segue contornos menos usuais...

O que pode ser ser à primeira vista, dois acontecimentos sem relação, são explorados ao longo do livro. Falo portanto do rapto dos miúdos e do assassinato de Charles Lindbergh Jr, há 60 anos antes, relatado no prólogo do livro, de uma forma simplesmente aterrorizante! E não, o raptor não é idoso! O livro descreve desta forma, uma verdadeira caça ao homem, onde o leitor teme pelas vidas das crianças Michael Goldberg e Maggie Rose Dunne.

A acção está narrada ora na terceira ora na primeira pessoa (contada pelo psicólogo e detective da Brigada de Homicídios, Alex Cross). Este é então o primeiro livro da série protagonizada por esta personagem. Para protagonista, achei Alex Cross um indivíduo muito inseguro. Sempre reflexivo com o tema da discriminação racial (visto que ele próprio é negro), este detective doutorado em psicologia numa faculdade de prestígio, ainda vive com a avó que o criou e os seus dois filhos! Cross é viúvo, e durante o livro há inúmeras passagens um tanto ou quanto nostálgicas sobre a mulher, referindo a forma cruel como esta morreu. Ainda assim, Cross consegue estabelecer uma relação com a loira Jezzie Flanagan, uma agente dos Serviços Secretos, relacionamento este um tanto ou quanto conturbado uma vez que nos anos 90 (o livro data de 1992, salvo erro) uma relação entre uma pessoa da raça negra e outra caucasiana mais dificilmente seria aceite do que actualmente.

Depois o fascinante raptor, que inicialmente conhecemos como Gary Soneji/Murphy, o pacífico professor de matemática do colégio privado de Washington. No seu intimo Soneji/Murphy ambiciona ficar para a história com algum feito invulgar. Ele aspira a ser tão famoso quando o sequestrador do bebé Lindberg. O livro revela a pouco e pouco que este é um homem que além de raptor tem uma mente perturbada, não tendo qualquer pudor em matar caso necessário. É de facto uma personagem extremamente complexa e a antítese quase simbiótica criada por Gary Soneji/Murphy (o psicopata) com Alex Cross (o psicólogo) é deveras brilhante! Tais confrontos por vezes relembraram-me da dupla Clarice Starling vs Hannibal Lecter.

Um livro muitíssimo bem escrito, que pela sua envolvência dramática e componente de suspense bem acentuada aliados ao enredo simples mas impressionante, faz com que Patterson se destacasse nos meus autores preferidos. Apenas a apontar os momentos de dispersão causados essencialmente pelas reflexões por parte de Cross sobre o racismo. Definitivamente fiquei com uma enorme vontade de ver a adaptação cinematográfica sobre o livro. Pessoalmente teria imaginado Alex Cross como Denzel Washington do que Morgan Freeman...

Um livro que destrona completamente o Clube das Investigadoras, não pela qualidade da história (um parâmetro presente na Primeira a Morrer), mas sobretudo como esta é escrita. Por vezes este livro faz-nos lembrar as histórias de Harlan Coben. A não perder, sem qualquer sombra de dúvidas!


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