segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Clara Sánchez - Os Monstros Também Amam [Opinião]

Movida sobretudo pela capa deste romance (género a que categorizo o livro após a sua leitura, ainda que dentro do dramático) e pela misteriosa sinopse, li este livro o qual dedico algumas considerações neste post.

Sandra tem 30 anos e está grávida. Com dúvidas sobre os sentimentos que nutre relativamente ao pai da criança, Santi, ela resolve afastar-se e refugia-se numa pequena vila na zona balnear em Espanha. Aí conhece um casal de noruegueses octogenários, Karin e Fredrik Christensen. Rapidamente Sandra desenvolve com eles uma relação muito próxima, como se de avós se tratassem. É neste cenário que conhece Julián, um homem da mesma faixa etária que os novos amigos, mas que adverte Sandra que eles não são o que pensam...

Em primeiro lugar, tenho que referir que a capa é claramente enganadora uma vez que nos remete para um thriller, potentíssimo, o que não é verdade. Assim que vi esta capa, lembrei-me imediatamente do livro Alex, um dos preferidos deste ano. Mas não... o livro é um puro drama, com algum suspense pelo meio, mas não mais do que isso.
Não que desgoste de dramas, particularmente não costumo ler tal género, mas este aborda uma temática que tem sido do meu interesse ultimamente, o nazismo. Outro aspecto ainda referente à capa, penso que intrínseco à edição portuguesa, é a rapariga por trás do arame farpado. Ora a protagonista feminina Sandra, tem uma descrição diferente, dentro do estilo grunge, com piercings, contrariando o aspecto mais clean da rapariga da capa. Claramente que estamos perante um caso em que o invólucro não corresponde de todo ao conteúdo.

A história é narrada na primeira pessoa, alternadamente entre Sandra e Julián auferindo um antagonismo de sentimentos: Sandra nada sabe sobre Karin e Fredrik, ao contrário de Julián que conhece bem a história de vida do casal norueguês. E é neste cenário que vão ocorrendo vários flashbacks, até ao tempo de mocidade, em que Julián e o seu colega Salva, tentavam escapar com vida às mãos cruéis dos nazis, os quais faziam parte Karin e Fredrik.
Aqui merece uma chamada de atenção: embora o livro esteja repleto de descrições, esperava que estas fossem com um teor mais cru. Mas a autora coíbe-se de registar sob forma violenta as atrocidades dos nazis nos campos de concentração, cingindo-se aos pormenores de uma forma quase poética.

Por isso, e consoante esta estrutura, é dado a conhecer muito sobre o casal, na perspectiva de Sandra e de Julián, que inicialmente são contraditórias, mas que ao longo da história, acabam por convergir. É muito fácil sentir empatia por qualquer dos protagonistas, ao contrário de, evidentemente, do casal. Embora já com alguma idade, e aparentemente de bem com a vida, o casal não desvenda o tumultuoso passado onde estiveram envolvidos mas o leitor é privilegiado com tal informação logo no início do livro, e pela mão de Julián.
É portanto um livro que lida muito com revelações, ainda que estas possam magoar e por a descoberto um segredo atroz como a tortura nos campos nazis.

Como explica e bem a autora, no final do livro, muitos nazis se refugiaram em pontos da Europa, usufruindo um resto de vida descansada, nunca tendo sido julgados pelas atrocidades que outrora cometeram. E nisto, faz-se luz: o quão real poderia ser esta história. E é justamente devido a este facto que o livro acaba por ser cativante e comovente, embora seja um enredo relativamente linear (e até pouco surpreendente) num ritmo algo moroso.

Em suma, Os Monstros Também Amam é um conto poderoso sobre a redenção e auto-descoberta como parte integrante de complexos dilemas morais. Com um teor mínimo de suspense, altamente compensado pela dramatização do enredo, este livro está longe de ser um thriller. Ainda assim, foi uma leitura que apreciei e achei interessante pelo facto de reflectir um dos períodos negros da nossa História. Gostei!

5 comentários:

  1. Ola Vera!!

    Andava tentado a ler este por causa da capa, mas agora pela tua opinião não sei se me atrai muito. diga-se que a capa engana um bocado.

    Beijo

    ResponderEliminar
  2. Olá Ricardo!

    Lá isso é verdade. A capa não se adequa minimamente ao conteúdo do livro. Eu nao desgostei, atenção! Sou interessada pelas temáticas do nazismo.

    Um beijinho grande, boas leituras!

    ResponderEliminar
  3. Sim, eu reparei que não desgostas-te, mas sabendo agora um pouco mais sobre o seu conteúdo, não me esta a puxar muito para o ler.

    Só mais uma coisa, ja vi que les-te o novo livro do John Verdon "Não abras os olhos", esta melhor do que o primeiro??

    ResponderEliminar
  4. É assim, os dois livros do Verdon são, na minha opinião, muito bons. Estão os dois ao mesmo nível. O que acontece é que eu, por uma razão pessoal (basicamente sou uma geek de matemática e adorei a teoria dos números) gostei mais do primeiro. Mas olha que este segundo está com a qualidade de sempre: complexos enigmas, crime sem pistas para resolver... so on :)

    ResponderEliminar
  5. Obrigado =D
    Já comecei a ler, o primeiro também adorei bastante. Se neste a qualidade mantens-se não tenho duvidas que também irei gostar

    ResponderEliminar