terça-feira, 25 de outubro de 2016

Julia Navarro - História de um Canalha [Opinião]


Sinopse: Menti, enganei e manipulei à vontade, sem me importar com as consequências. Destruí sonhos e reputações, traí os que me foram leais, causei dor àqueles que me quiseram ajudar. Brinquei com as esperanças dos que pensaram que poderiam mudar quem eu sou. Thomas Spencer sabe como conseguir tudo o que quer. A saúde delicada é o preço que teve de pagar pelo seu estilo de vida, embora não se arrependa. No entanto, desde o seu último episódio cardíaco apoderou-se dele um sentimento estranho e, na solidão do seu luxuoso apartamento em Brooklyn, sucedem-se as noites em que não pode deixar de se perguntar como seria a vida que conscientemente optou por não viver.
A memória dos momentos que o levaram a ter sucesso como consultor de relações-públicas e imagem, entre Londres e Nova Iorque nos anos oitenta e noventa, revela os mecanismos dúbios que os centros de poder por vezes empregam para alcançar os seus fins. Um mundo hostil governado por homens, onde as mulheres resistem a ter um papel secundário.

Opinião: Saí da minha zona de conforto para enveredar por uma obra diferente. Foram mais de 800 páginas dedicadas a Thomas Spencer, um homem desprezível, tal como o título indica. Sim, ele é um canalha. Não há como aligeirar a questão. 

Devo dizer que fiquei rendida logo nas primeiras páginas. Desde tenra idade que Thomas tem atitudes maldosas para com os familiares, prejudicando intencionalmente quem o rodeia. Fiquei particularmente surpreendida com os requintes de maldade que o protagonista mostra nas suas atitudes se tivermos em conta que é apenas uma criança.

Confesso que o meu entusiasmo começou a esmorecer à medida que Thomas foi crescendo. Muitas passagens relacionadas com o mundo do trabalho e a forma como Thomas se vai imiscuindo a personagens ligadas à política não foram tão aliciantes quanto as cenas de cariz mais pessoal. Sem dúvida que essa componente mexeu muito comigo. Não é que seja indiferente às intrigas do mundo do trabalho, mas a forma como Thomas se relaciona com as pessoas, e em particular as mulheres, é que me chocou verdadeiramente. Não falo de relações amorosas, aliás, a primeira relação que ele cria com uma mulher é com a própria mãe e tem actos verdadeiramente atrozes para com ela. Todavia, durante a sua vida adulta, ele vai conhecendo algumas personagens do sexo feminino com quem desenvolve relações obsessivas, com desfechos algo perturbadores.

Chocou-me muito aquela incapacidade de nutrir sentimentos e a naturalidade de Thomas em admiti-lo e devo dizer que me desiludiu a ausência de uma explicação para esta personalidade tão peculiar. A sua infância foi normal e não sugere que Thomas fosse propenso a ser tão maldoso. Terei que me contentar com uma explicação de acordo com a minha interpretação que será provavelmente uma sociopatia.
Outro pormenor que gostaria de salientar: em itálico, a autora narra a situação do ponto de vista moralmente correcto, excertos que, a meu ver, pouco contribuem para a história uma vez que cada um de nós agiria de forma semelhante e acaba por se rever a responder daquela forma naquelas situações. Creio que a moral é um pouco universal a cada um de nós. Dado que o livro é extenso, aquelas observações são dispensáveis, no entanto, entendo que a autora queira incutir algum espírito crítico e reflexivo ao leitor fazendo um paralelismo entre o bem e o mal.

O meu ritmo de leitura foi inconstante. Ora lia páginas a fio, impressionada com as atrocidades cometidas por Thomas, ora pousava o livro, aborrecida com as ligações laborais do protagonista. O balanço, no entanto, é positivo. Chocou-me muito a ligação de Thomas a Yoko e, mais tarde, a Olívia e a forma como o protagonista mantinha duas vidas paralelas de aparências. Acima de tudo, creio que o aspecto mais pertinente é a maneira como uma fase de ascensão aparentemente tão bem sucedida termina numa decadência como aquela. As últimas páginas mostraram algum humor negro, ingrediente que espicaçou os instantes finais de leitura.

Globalmente, gostei da obra não obstante as passagens mais paradas. Reconheço que este estilo de literatura não é, garantidamente, a minha praia. 
Todavia, apreciei conhecer pessoalmente a autora e ter trocado umas impressões com a mesma numa iniciativa organizada pela Bertrand, editora que congratulo. 


2 comentários:

  1. ...Li há vários anos a Irmandade do Santo Sudário, e A Biblia de Barro, bem como O Sangue dos Inocentes, da mesma autora e gostei bastante.... no entanto ao olhar para este livro, fico com a sensação de que não tem nada a ver com os anteriores, que o estilo literário será outro, e por isso não me apela... :(

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    1. Leitores da autora já me confirmaram que este livro é completamente diferente dos outros dela. Fico curiosa em ler os outros, parece que são melhores :)

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