Sinopse: AQUI
Opinião: Embora não seja um subgénero que abrace com frequência, admito que, pontualmente, gosto de ler romances distópicos devido ao interesse que os mesmos me despertam, permitindo-me ter um vislumbre de algumas interpretações futuristas da nossa sociedade.
Antes de mais, não concordo inteiramente com a premissa da obra pois, a meu ver, caminhamos na direcção da igualdade, ou, se quiserem, de uma paridade de géneros e não, como a autora propõe, num retrocesso da liberdade de expressão feminina. No caso em apreço Christina Dalcher dá-nos a conhecer uma sociedade repressora através da limitação da linguagem: as mulheres podem apenas proferir 100 palavras por dia.
Esta trama com enfoque numa secundarização das mulheres face aos homens,
faz-me recordar, sem sombra de dúvida A História de Uma Serva, livro da
autoria de Margaret Atwood, publicado em 1985.
A narrativa é contada sob a perspectiva da Dra. Jean McClellan, uma ex-neurolinguista.
Sendo a história narrada na primeira pessoa, o leitor conhece os conflitos emocionais que a protagonista gere, sobretudo com os homens da sua família. Ela é casada, tem quatro filhos, sendo que a mais nova, Sonia, tem uma escolaridade limitada.
Começamos a inteirar como funciona esta sociedade: a advertência sobre o uso das mais de 100 palavras é feita através do reforço negativo, um choque eléctrico através de uma pulseira. No meu íntimo, pensei que essa medida fosse a força motriz para o desenvolvimento da história, contudo, esta vai muito além das consequências desta punição.
Através da protagonista ficamos igualmente a saber que, na presente obra, a sociedade não permite que as mulheres tenham cargos profissionais, salvo raras excepções
Um aspecto positivo da obra é que esta nos faz equacionar sobre o poder da linguagem e, sobretudo, de que forma a repressão nos pode conduzir a uma sociedade apática, subserviente e desprovida de qualquer capacidade para contestar ou simplesmente para questionar, o que pode ser preocupante.
O que mais me agradou, definitivamente, foi a forma como estas temáticas fracturantes foram tratadas.
Contudo, creio que este desenvolvimento de uma história que nos dá que pensar carecia de um desfecho à sua altura. A meu ver, o clímax foi algo apressado e os acontecimentos finais sucedem-se muito rapidamente nas últimas páginas. Pessoalmente teria gostado de ler um final mais intenso e com uma explicação mais detalhada para o desfecho de algumas das personagens.
Confesso que, ainda que tenha considerado o tema bastante estimulante e o desenvolvimento da acção interessante, geralmente procuro mais suspense e mistério nas tramas, daí não ter ficado deslumbrada com Vox. Tal facto não invalidou, no entanto, que o livro tivesse mexido comigo, em vários momentos no decorrer da leitura.
Simplesmente senti-me revoltada com esta sociedade tão opressiva para as mulheres. Numa nota mais pessoal posso acrescentar que, como mulher ocidental tenho noção que a minha realidade e os meus direitos serão bastante diferentes dos das mulheres dos países muçulmanos mais fundamentalistas, por exemplo.
Em suma, Vox apresenta uma temática controversa e propensa à discussão daí, na minha opinião, achar que merece ser lido. É uma obra convidativa à reflexão, sendo inevitável fazer o paralelismo com a nossa sociedade.
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