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Opinião: Em contagem decrescente para o festival de terror, MOTELx, tem-me apetecido enveredar mais por livros deste género.
Já há muito que ouvi críticas favoráveis a esta obra, A Head Full of Ghosts, tendo equacionado lê-la em inglês. Felizmente pude ler na nossa língua e congratulo a editora TopSeller pela aposta neste lançamento.
Os leitores mais cépticos, tal como eu, poderão iniciar a leitura apreensivos pela abordagem do tema do Exorcismo, já explanada na obra O Exorcista de William Peter Blatty não obstante achar que o presente título se distancia pela forma como apresenta o ritual, sob o formato de reality show, um fenómeno mediático nos últimos anos.
Diria que este tipo de entretenimento acaba por banalizar certas situações (lembro-me de repente do formato do Casados à Primeira Vista no qual contrair um matrimónio parece uma tarefa simples e desprovida de intimidade), pelo que um exorcismo, retratado desta forma e na minha modesta opinião, aligeira o acontecimento que mexe com a psique humana e as mais profundas crenças. Portanto, desde o inicio da obra, encarei a história com uma estranha leveza que não senti de todo quando li, por exemplo, o Exorcista.
Sem sombra de dúvidas que Fantasmas da Mente vai beber à grandiosa obra de William Peter Blatty.
Claro que considerei os primeiros comportamentos de Marjorie um pouco anormais, ainda que tivesse presente que esta era adolescente e, eventualmente, poderia estar a passar por alguma crise típica da idade. Contudo, estas atitudes foram escalando e para mim, já se consubstanciavam inconcebíveis. Ainda assim, sentia-me desconfiada do eventual estado de possessão para justificar o comportamento da jovem.
A trama é narrada pela sua irmã mais nova, Merry, tornando-a um pouco mais assustadora. Esta menina tem apenas 8 anos, pelo que temos a perspectiva de uma criança sobre uma situação bizarra e tenebrosa. Decerto que caso tivesse sido narrada pelos pais, a trama não teria esta intensidade.
Devo referir um aspecto que me agradou imenso: sendo fã de cinema de terror, foi um deleite, para mim, as inúmeras referências a filme salicerçados nesta temática. Muitos deles já conhecia, o que me deixou extremamente satisfeita, porém a minha watchlist aumentou mais um pouco.
Ainda que as cenas de exorcismo não me incomodem - fruto de vários anos a assistir a filmes de terror, muitos deles com foco nessa temática - há um crescendo de atitudes e situações que são impactantes. Estabelece-se, naturalmente, um paralelismo entre Marjorie e Regan (a menina que protagoniza o Exorcista) e concluo que os sinais de possessão acabam por ser muito semelhantes - compreensível uma vez que são atitudes que desafiam claramente a religião e destinam-se a chocar a sociedade ocidental de matriz cristã. Não encontrei grandes inovações de Fantasmas da Mente se tivermos em conta às demais histórias alicerçadas nesta temática.
Diria que a grande diferença é a estrutura da narrativa, intercalada entre relatos da acção e entradas num blogue, tornando-a mais dinâmica. Acima de tudo, existe uma crítica social - a curiosidade humana é tão forte ao ponto de se tornar mórbida - presente no formato de reality show para retratar a situação. As parcas condições de vida de algumas famílias tornam-nas presas fáceis das multimilionárias produtoras de conteúdos televisivo ou audiovisual.
Um outro ponto digno de ser registado é, sem dúvida, a excelente reviravolta no final. Se até então não me sentira perturbada e até um pouco céptica com a veracidade sobre a possessão, li as páginas finais com grande desconforto. Foi então que me senti genuinamente impressionada.
Em suma, é um livro imprescindível para os fãs do género. Fantasmas da Mente tem apresenta um clímax tão perturbador que me ficará, certamente, na retina por muito tempo. Quero, decididamente, continuar a acompanhar os trabalhos do autor!
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