Opinião: Consta que esta é a obra mais pessoal do autor por tecer algumas considerações sobre a sua vida que incidem, sobretudo, sobre o editor Bernard que faleceu pois este foi o seu grande mentor. Dicker não esquece, portanto, as suas influências mais positivas e recorre com alguma frequência a episódios protagonizados por si e pelo editor, de forma a que o mesmo esteja bastante presente na trama. Este livro traduz, então, uma homenagem poderosíssima ao editor.
Creio que será consensual afirmar que uma das percepções mais imediatas que a obra desperta prende-se com a dúvida: teria ou não Dicker estado neste hotel e feito a investigação que nos relata? O escritor terá, de facto, contribuído para a resolução deste insólito caso que acaba, inevitavelmente, por nos envolver?
A juntar a esta questão há uma outra, apenas desvendada na página 417: quem terá sido morto naquele quarto? Apesar de termos conhecimento do crime cometido no quarto 622, desconhecemos a identidade do cadáver, permanecendo como um dos grandes mistérios que a trama encerra.
Estamos, por isso, perante uma obra que nos coloca várias questões logo nas páginas iniciais, contribuindo para um inevitável e imediato interesse pela trama. Pessoalmente, nos primeiros instantes de leitura senti-me bastante intrigada com a narrativa. Contudo, e à semelhança de A Verdade Sobre O Caso Harry Quebert, esta dose de mistério é diluída por uma sobrecaracterização das personagens. O intuito do autor é claro - este pretende que sintamos empatia pelas protagonistas - e devo sublinhar que Dicker cumpre este objectivo de forma exímia. É impreterível não nos enredarmos nestas personagens e nas suas histórias de vida que ele nos conta com um nível de detalhe incomum, especialmente se tivermos em conta que o presente título se encaixa no género policial.
Desta forma, devo dizer que considerei o ritmo bastante moroso ainda que nos afeiçoemos às personagens e se torne um prazer ler sobre as mesmas. Contudo, tenho um ponto de vista muito peculiar, de quem apenas lê este género - e, por conseguinte, torno-me um pouco ansiosa com a componente criminal propriamente dita - pelo que me senti algo impaciente para que começasse a verdadeira investigação do caso. Como referi, esta sucede numa fase tardia da obra pelo que a partir da página 417, a trama assume uma vertente de cariz mais policial, o que me agradou sobremaneira.
Gostei dos inúmeros episódios e memórias que o autor partilha sobre a sua vida pessoal, fazendo com que, de certa forma, o leitor se sinta mais familiarizado com Dicker. O cenário apaixonante dos Alpes suiços parecem-me ser um destino a manter debaixo de olho.
Em suma, O Enigma do Quarto 622 parece ser uma obra muito bem pensada. A subtrama relativa à investigação é instigante e apresenta contornos bastante surpreendentes. Os personagens descritos pelo autor possuem uma invulgar sensação de entranhar no leitor e as peripécias protagonizadas por Dicker tornam a obra ainda mais especial, culminando num singelo e honroso tributo ao seu editor.
Uma obra que, por estes motivos, se torna mágica e notável.
Gostei do livro. O que mais me chama a atenção positivamente no autor é sua escrita.
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