segunda-feira, 6 de julho de 2020

Mons Kallentoft & Markus Lutteman - Leão [Opinião]


Sinopse: AQUI

Opinião: Confesso que a obra em apreço residia na minha estante desde o ano passado, altura em que, por motivos vários, dei por mim a dar menos importância aos livros. Shame on me!
Acabei de me aperceber que já foi há mais de dois anos que li Zack, a obra que inicia esta nova série da autoria de Mons Kallentoft e Markus Lutteman e a verdade é nunca olvidei aquele protagonista tão atípico, com os seus problemas ligados à toxicodependência mas que, ainda assim, tenta não comprometer o seu profissionalismo.

Recordo-me de ter gostado bastante da primeira obra porém considero este título superior. Talvez esta minha percepção se prenda no facto de a narrativa se centrar em crimes cujas vítimas são crianças, o que, pessoalmente, me impressiona, assim como me impressionou também a invulgar caracterização do antagonista.
A história começa com uma breve contextualização: Zack continua a ter alguns problemas com drogas e, apesar de pertencer às forças policiais, ele conhece, por experiência própria, o submundo ligado ao tráfico e consumo de substâncias ilícitas.

Estranhamente e à semelhança do que me sucedeu com o primeiro livro, não senti uma afinidade imediata com a trama. Só a partir do momento em que surge um cadáver mutilado de uma criança, como se tivesse sido submetido a um ataque de um felino, é que a trama me prendeu. Esta adensa-se quando a polícia recebe um vídeo, de um menino, numa jaula juntamente com o seu raptor, caracterizado como um leão e ainda um relógio em contagem decrescente.

Achei verdadeiramente original a premissa da narrativa: devo dizer que já li inúmeros thrillers mas não me recordo de nenhum com um raptor que apresentásse um comportamento tão invulgar, como se de um animal selvagem se tratasse. Saliento ainda que esta série se intitula "Hercules" e pelo que me apercebi a principal fonte de inspiração para a caracterização deste antagonista, bem como a sua metodologia, terá sido a mitologia grega, designadamente o primeiro trabalho de Hércules, no qual o herói semi-divino foi encarregue pelo rei Euristeu de matar o Leão de Nemeia.
Considero que as passagens da obra dedicadas ao vilão se revelaram assaz intimidantes ao ponto de me ter questionado várias vezes sobre a natureza das suas motivações. Será o Leão um homem cujo modus operandi é baseado nalgum motivo em particular ou será ele alguém que age instintivamente, assemelhando-se assim a um animal selvagem?

É, portanto, uma obra que, à semelhança do primeiro título da série, não se coíbe nos pormenores de cariz mais gráfico. A trama que, numa primeira análise, parecia linear, toma um rumo mais complexo e intrincado, tendo como pano de fundo a realidade da sociedade escandinava actual.

Devo salientar ainda que achei interessante que fosse levantado um pouco do véu sobre a infância de Zack. Creio que o seu passado se afigura como um ponto interessante para ser esmiuçado no decorrer da série.

Em suma, a série protagonizada por Zack está a revelar-se uma verdadeira surpresa. Com o terceiro volume já na lista de espera para ler em breve, considero que as várias lendas da mitologia clássica adaptadas à literatura policial escandinava e protagonizadas por um polícia tão alternativo, poderão muito bem fazer desta série uma lufada de ar fresco ao género.


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