sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Brian Freeman - O Voyeur [Opinião]

Não é novidade que Brian Freeman tem já o seu nome destacado na literatura de suspense. Os seus livros enquadram-se num género de policial muito específico munido de uma carga constante de suspense psicológico. De facto, e tendo eu lido um livro do autor, Segredos Imorais, posso desde já adiantar que as suas obras proporcionam realmente excelentes momentos de leitura.

Neste livro, O Voyeur, regredimos ao passado de Jonathan Stride, que à semelhança que Segredos Imorais, é o protagonista da trama. Ele é confrontado com a chegada de Tish Verdure que pretende reabrir o caso de homicídio da sua amiga Laura Starr, irmã da sua falecida esposa Cindy Starr. Já se passaram trinta anos desde este trágico acidente e como tal, Jonathan está relutante em voltar a remexer neste assunto. Logo deparamo-nos com a única pergunta, força motriz para o desenvolvimento de todo o enredo: "Who killed Laura Starr?". Está cá a parecer-me que aqui há uma estranha mas subtil inspiração no famigerado David Lynch e na pergunta que ele deixou nos anos 90 "Who Killed Laura Palmer?" na série Twin Peaks. A enriquecer o enredo, o autor desenvolve uma trama secundária mas de igual importância: a presença de um voyeur que espia Mary Biggs, uma adolescente com uma limitação mental e dadas as circunstâncias, não tem qualquer consciência sobre o seu corpo, daí que ela não esteja completamente inteirada sobre o que se está a passar.

Sendo um livro que recua até às origens de Stride, este poderia ter sido perfeitamente o livro de estreia do autor. Embora eu já sentisse empatia com esta personagem, foi com esta obra que conheci o seu passado, a sua essência, aquilo que desencadeou todos os fantasmas que Stride tenta arduamente ultrapassar em Segredos Imorais. É sem dúvida um livro que envolve o leitor, graças à intensidade de sentimentos que é perfeitamente descrita através dos diários de Tish Verdure. Embora não sejam directamente sobre o ponto de vista desta personagem (o que pode originar inicialmente alguma confusão) são relatos bastante interessantes, pois permitem o leitor viajar no tempo e acompanhar "in loco" o que aconteceu nessa altura. Alguns flashbacks inteligentemente inseridos a meio da história, fazem com que o leitor tome conhecimento de acções passadas, nunca perdendo o fio à meada do tempo presente.

Se a própria construção e estrutura do livro adequam-se brilhantemente ao género do thriller, o mesmo posso dizer sobre as personagens. E é sobre estas que gostaria de dissertar. Grande parte delas são comuns aos livros do autor. Falo portanto de Jonathan Stride, Maggie Bei e Serena Dial. Se Maggie Bei era noviça, muito verdinha ainda nas lides das investigações criminais em Segredos Imorais, denotei que esta teve uma grande evolução neste livro. Simplesmente Maggie já não é aquela rapariguinha cujos diálogos davam um certo toque humorístico ao livro. Não, Maggie cresceu e é tão profissional quanto os seus colegas. Tem um papel fundamental nesta trama, sem qualquer dúvida. Mas também Stride amadureceu. Tendo Serena do seu lado, conseguiu por fim ultrapassar o trauma da morte da sua esposa Cindy. Mas eis que vem aquela personagem enigmática que é Tish Verdure. Não sabemos realmente quais são as verdadeiras intenções ao desenterrar o passado. Uma coisa é certa: irá perturbar Stride!
Mas não nos restrinjamos a estas personagens. O autor dá um toque de dramático na narrativa ao introduzir a família Biggs. Clark, embora separado de Donna, cuida da sua filha deficiente Mary. E ao longo da trama denotamos o quão este pai ama a sua filha.

Freeman caracteriza-se sobretudo por recorrer a um elemento tão íntimo e importante, a sexualidade, para dotar as personagens de alguns aspectos sejam estes ditos normais ou não. Ora vejamos, é de senso comum que uma sexualidade reprimida poderá desencadear desvios na personalidade de uma pessoa, podendo assumir proporções incontroláveis. Pois este autor explora estes limites da sexualidade (e seus desvios) para criar personagens que eventualmente podem ser chocantes, para quem partilhe uma mentalidade mais tradicionalista.

A fórmula que Brian Freeman utiliza com mestria relaciona-se fortemente pelo desvendar destes segredos, nos timings certos e das formas mais inesperadas. Se a meio da trama o leitor acha que estas pontas soltas que vão sendo deixadas são não têm qualquer resolução, no final estas são bem argumentadas. Estes constantes twists deixam qualquer leitor ansioso em descobrir o final do livro, tornando o desfolhar das páginas qualquer coisa como viciante. Devo adiantar que nada é o que parece...
Tendo lido este livro tive a confirmação de que Brian Freeman é um dos meus autores de eleição, e acompanharei de bom grado toda a saga protagonizada por Stride. Ler os outros dois livros é uma tentação, enquanto espero ansiosa pela tradução na língua portuguesa das restantes obras.

Muita acção, suspense, reviravoltas inesperadas, sexualidade à flor da pele e tensão é o que este autor tem para vos oferecer! A trama é tão real que os diálogos entre as demais personagens absorvem o leitor por inteiro e as descrições de Duluth são tão ricas, a ponto de fazer viajar até lá. Um livro que, depois de ter lido, irá continuar a pensar nele. Recomendo vivamente!

6 comentários:

  1. Tenho imensa curiosidade de ler alguma coisa deste autor... Principalmente o livro "Perseguida", pois achei a sinopse completamente magnética! Mas no meio de tanta coisa que se tem para ler há escolhas que vão ficando um pouco de lado, e como ainda não tenho nenhum livro do autor em casa, mais dificil fica... =S
    Para não variar as tuas opiniões enchem-me sempre de vontade de começar a ler o livro de imediato, mas ainda não encontrei nenhuma poção que me faça aumentar o número de horas dos dias, por isso, fico aqui a roer os ossos pela tua lista invejável. ;)

    Pode ser que para o ano me dedique mais aos policiais, mesmo a não ter muita fé nisso...

    Beijinhu**

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  2. Martinha isso é de louvar :)) mas tu já leste alguns policiais este ano, ñ foi? Eu também vou ver se começo a ler outras coisas além disto, mas está difícil. Quando compro livros, acabo por escolher o mesmo género e é este que me dá gozo ler :) Temos que fabricar essa tal poção de aumentar as horas para ler, mesmo!

    Um grande beijinho, boas leituras!

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  3. Li... Mas nada de significativo para aquilo que gostaria. =\ E nenhum que se tenha destacado do 'até é bonzito mas queria mais', se é que me entendes...
    Falhei nos históricos que estão quase ali a par com os policiais, e bem sei que já lhes vais dando também uma vista de olhos, mas não li nada.
    Mas tens de dar oportunidade a outros géneros, faz bem! Até aos policiais, pois quando voltas para eles, absorves muito mais da história porque é o que mais gostas de ler.

    Pois, quanto à poção, olha se quiseres agendar isso, eu alinho, temos é de ver de um laboratório e de uma cobaia... =P

    Bom fim de semana. ;)***

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  4. Não tem jeito! Depois desta maravilhosa resenha (em Portugal também chama-se resenha?) TENHO que comprar os livros do Briam Freeman. Parabéns!

    Beijos e Bom Final de semana.

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  5. Obrigada IsabelVeronica :D Tens que fazer um abaixo assinado aí no Brasil para publicar o autor. A resenha aqui é a crítica ou opinião :)

    Um grande beijinho, boas leituras e bom fim de semana :))

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  6. Minha amiga, você acha que vou ficar esperando publicarem aqui no Brasil? Que nada, eu vou é, mais uma vez, comprar daí de Portugal pelo site da Wook. Já comprei uma vez e deu certinho.

    Ou então...

    Ganhei em um sorteio no meu trabalho uma viagem para Espanha. Acontece que tem conexão em Lisboa e vou ficar algumas horas no aeroporto. Vamos ver se tenho sorte e consigo encontrar o Segredos Imorais em uma livraria do aeroporto. Quero começar pelo primeiro livro com o personagem Jonathan Stride.

    Beijos e aproveite bem seu fim de semana.

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