Maré de Azar é o primeiro livro da autoria de Mark Mills. Foi com a sua obra de estreia que me iniciei neste autor.
A trama inicia-se quando Conrad Labarde, um humilde pescador de Amagansett, descobre nas teias de pesca, um cadáver de uma mulher. A acção passa-se em 1947 numa aldeola chamada Amagansett. Depois de uma investigação inicial, o polícia Tom Hollis, identifica a vítima como Lilian Wallace, filha de um empresário bem sucedido. Mas o humilde pescador junta-se a Hollis para tentar descobrir o que realmente terá acontecido a Lilian? Terá sido acidental? Ou terá sido... morta?
Uma das coisas que faço menção, sempre que leio uma obra de um autor que até à data desconheço é a forma como ele escreve. E de facto Mark Mills tem uma escrita fluida, com grande pormenorização de pessoas e locais mas com uma descrição cuidada e desprovida de elementos muito violentos ou gráficos, sobre o crime em si. Até o procedimento da autópsia é brevemente descrito sem que possa eventualmente chocar o leitor.
Através de analepses na trama, o autor vai relatando as histórias de Conrad e de Lilian, intercalando-as com a narrativa corrente da investigação. Mas não é apenas esta o ponto fulcral da acção. Há uma componente histórica relevante, associada principalmente a trajecto de vida de Conrad e a forma como ele ultrapassou os períodos negros da Gripe Espanhola e da Segunda Guerra Mundial.
Esta é sem dúvida, a personagem que mais se destaca. Conrad Labarde terá tido uma infância difícil como o autor assim o conta. Dotado de uma grande humildade, o pescador basco junta-se assim ao policia para então conhecer a verdade. Não irei desvendar as razões porque o faz, induzindo o seguidor a ler o livro e descobrir por si próprio. Tendo já alguns traumas de guerra, ele mostra-se bem sucedido apesar da árdua tarefa que vem aí. Por outro lado, temos outro herói, Tom Hollis, magoado pelo recente divórcio. A personagem evolui ao longo do livro, muito por causa de Mary. Mas ao fim e ao cabo, Hollis amadurece, e ultrapassa, dentro do possível, a sua luta interior.
Se estes de destacam pelo envolvimento positivo na trama, considero os restantes personagens como suspeitos. Falo portanto da família de Lilian, em que todos agem de uma forma estranha face à morte dela. Sem dúvida que, apesar da acção se passar nos anos 30, já é notório o poder da ambição sobre assuntos monetários e corrupção associada. E assente nesta base, há uma desconfiança inicial e muito natural sobre os elementos da família da rapariga assassinada. Sobre esta vamos conhecendo a personagem nos vários flashbacks existentes no livro, em que nos é relatado algumas situações por ela vividas.
Assim, não posso afirmar que o ritmo do livro é acelerado, antes pelo contrário, entre a história de vida de Conrad, a própria investigação do crime, a vida romântica de Hollis e algumas descrições sobre a fauna e flora da praia, o livro mantém uma dose de mistério aliada ao interesse dos factos históricos. No sentido da investigação, a trama desenrola-se lentamente mas contempla alguns picos de acção com maior intensidade, como a cena final.
De facto, o autor faz um extenso role de descrições no que concerne sobretudo a paisagens marítimas, com uma especial ênfase em pescas. Sim, se nunca pescou na vida, com este livro terá oportunidade em conhecer a par e passo a pesca de um atum, por exemplo. Isto para não falar da própria história local da aldeola, onde há toda uma abordagem sobre os mitos e os costumes populares de Amagansett.
Maré de Azar mistura harmoniosamente as temáticas do policial com história folclore, relações de amor proibidas, segredos no seio da família Wallace e mistério numa história que mantém o leitor curioso especialmente sobre o mote do crime. Além disto, é notável o toque dramático através das vivências em guerra por parte de um dos protagonistas.
Posto isto, e dada a natureza diversificada do livro, penso que este agradará a públicos que não sejam apenas aficionados aos policiais. É um bom livro que certamente irá gostar.
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