Nunca tinha lido nada de Claudia Piñeiro. Mas se na capa é dito que "Hitchcock é uma senhora e vive em Buenos Aires", então decididamente teria que ler uma obra da autora. E Tua foi a escolhida.
Tua conta a história de Inés Pereyra, uma mulher que após alguns anos de casamento, descobre que o marido, Ernesto, a anda a enganar. E agora perguntam vocês: e o thriller, onde está? Parece uma história banal. Mas não, não é... acontece que há efectivamente uma morte, ainda que acidental, e há todo um plano de apagar as pistas e afastar suspeitas. E eis que o enredo toma caminhos inesperados... A completar esta corrente de emoções fortes, Lali, a filha de Inés e Ernesto, de apenas 17 anos, está com um dilema. O namorado recusa ajudá-la, bem como os pais, focados na intriga, mas parcos na realidade com a própria filha. E Lali terá que resolver a situação contando apenas consigo própria.
O que à partida se assemelha a um ensaio sobre a deterioração de relações matrimoniais devido essencialmente à rotina, rapidamente toma proporções gigantescas a partir do momento em que Alicia morre... Há uns quantos twists que tornam a narrativa completamente inesperada!
O enredo tem um arranque rápido e aliciante e os capítulos curtos e empolgantes, conduzem o leitor à leitura integral do livro. Um livro que, devido ao seu reduzido número de páginas (cerca de 160), se lê num par de horas, sendo difícil de pousar o mesmo, conferindo momentos de leitura compulsiva.
Depois o livro é dotado de uma estrutura deveras interessante. Por um lado é narrado sob a primeira pessoa, sob o ponto de vista de Inés, intercalando com momentos de divagação sobre o crime e diálogos envolventes entre Lali e uma amiga. Neste último ponto subentende-se a falta de comunicação que se gerou entre mãe e filha. Os diálogos de Lali com a amiga, ou com um estranho lá mais para a frente constituem a forma de conhecer esta personagem de uma forma tão íntima como o leitor se sente em relação a Inés.
O que depreendo é que, em modo geral, a autora preocupa-se com o enfoque dos factos narrados, dissimulando mais as emoções. Ora pergunto-lhe a si meu caro seguidor, se soubesse que o seu conjugue tem um caso extra matrimonial, o que faria? Não iria rebentar de raiva? A sério que permitia o que se passava e compactuava com a aceitação do modo de vida mais promíscuo do seu conjugue? Tentaria, por ele, ocultar provas à Justiça? Pois é isto a que me refiro! Penso que Inés é demasiado contida... será da cultura argentina? Ou da própria educação que, tal como ela argumenta, fruto de uma mãe igualmente passiva?
No entanto, Piñeiro constrói as suas personagens com bastante realismo. Inés, a mulher passiva, torna-se mais forte e determinada em prol da traição de Ernesto! A todo custo tenta ilibar o marido mas este, mostra ser asqueroso desde o início do livro até ao final. A filha deles, vive sob pressão dado a sua condição. Mas eis que detecto aqui uma vulnerabilidade. Os pais não serão demasiado desprendidos com esta única filha? Não se aperceberão que a mesma tem um problema? Vendo neste ponto de vista, penso que a história poderia estar mais fundamentada. Talvez a autora não o tenha feito para não se desviar muito da linha do thriller. Contudo, teria sido realista assistir a uma interacção mais íntima entre mãe e filha.
Muitíssimo bem escrito, Tua é um livro que confere momentos agradáveis de leitura. Com um enredo simples mas cativante, é um livro que se lê rapidamente! E a adaptação cinematográfica estava a ser levada a cabo quando subitamente o realizador morreu. É um daqueles livros que dará que pensar... Recomendo vivamente!
Querida, faça o favor de "pegar" na tag que deixei nas miradas pa ti ok =P
ResponderEliminarBjocas