quarta-feira, 31 de julho de 2013

Gianrico Carofiglio - As Perfeições Provisórias [Opinião]


Sinopse: Tudo começou com um estranho telefonema a anunciar um caso mais adequado a Marlowe do que ao advogado de defesa Guido Guerrieri. Seria ele capaz de encontrar novas provas que obrigassem a Polícia a reabrir o processo de investigação acerca do desaparecimento da jovem Manuela, filha de um casal abastado de Bari?
À medida que as suas pesquisas avançam, Guido vai combatendo a solidão e a melancolia que lhe são inerentes, partilhando ideias com o velho saco de boxe que tem pendurado no meio da sala de estar e calcorreando as ruas silenciosas da Bari noturna, por vezes frequentando o excêntrico bar de uma antiga cliente e ex-prostituta. Os depoimentos dos colegas de faculdade de Manuela são demasiado vagos e parecem não bater certo, e Guido ver-se-á obrigado a enfrentar uma juventude que, por mais que lhe custe, nada tem a ver consigo, enquanto uma convicção se lhe impõe no meio do caos: a de que a resposta jaz nos não-ditos, no silêncio e no vazio da noite.

Opinião: Apesar de As Perfeições Provisórias ser o quarto livro da saga protagonizada por Guido Guerrieri, é um livro que se lê bem sem ter contacto com as obras prévias do autor. Guido relata um pouco da sua história debruçando-se sobre memórias na faculdade e como se afastou das lides judiciais, dando um panorama que à priori estaria descrito nos livros anteriores e ajudando o leitor a ligar-se ao protagonista. 

Ainda que este livro esteja categorizado como um thriller jurídico, desengane-se quem acha que esta é uma obra do estilo de Michael Connolly (autor de Nos Meandros da Lei, O Veredicto e Reviravolta). O cenário em tribunal é diminuto, debruçando-se a acção sobre o desaparecimento de Manuela. Aliás, o único aspecto relacionado com o género é o facto de Guido ser advogado e ter como caso secundário, um cliente acusado de corrupção.

Esta é sem dúvida, uma história muito melancólica com contornos noir, retratando um pouco do submundo de Bari. Confesso que nunca foi oportuno viajar até Itália, no entanto o autor descreve as belas cidades mediterrânicas a tal ponto que o leitor se sente lá.  

A trama é morosa e na minha opinião, o crime não é a essência do livro, sendo substituída pelas personagens e as suas vidas. A trama é despendida entre as reflexões pessoais de Guido, ciente da efemeridade do seu romance com Caterina, e as divagações sobre filmes antigos com os amigos no bar são frequentes. A outra componente directamente relacionada com o thriller é a investigação que assume uma via muito unilateral cingindo-se aos reportórios dos conhecidos de Manuela. Este conjunto de personagens, no mínimo intrigantes, testemunha e relata a relação que a jovem tinha antes do desaparecimento e rapidamente concluímos que Manuela não é a inocente que os pais pintam e surgem os contornos do que realmente lhe terá acontecido.

Em suma, embora As Perfeições Provisórias não ter sido um romance policial que me tenha cativado tanto como os recentes O Verão dos Brinquedos Mortos e Lobo Vermelho, publicados pela Porto Editora, foi um livro que me manteve em expectativa. Achei-o interessante e fiquei curiosa em ler os livros anteriores de Gianrico Carofiglio, que consegui em inglês para ler um dia no Kobo.

Para mais informações sobre o livro As Perfeições Provisórias, clique aqui.


1 comentário:

  1. Concordo com o que disseste é mais um livro sobre a vida e crises de meia idade de Guido, onde há passagens muito boas como as conversas com Nadia, em que há também um crime, ultrapassa o género puramente policial, para mim foi um gosto ler, o autor tem muita qualidade literária!

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