Opinião: Ler um livro do Nuno Nepomuceno é constatar automaticamente que existe excelente ficção policial em Portugal. É com imenso agrado que verifico que, dentro deste género, cada vez mais, os escritores portugueses dão cartas, ombreando com consagrados autores estrangeiros.
Antes de escrever o meu parecer sobre Pecados Santos, quero alertar-vos, meus caros leitores, que embora me seja muito difícil dissociar o autor da obra, cingir-me-ei apenas à trama e personagens sem que me deixe influenciar por qualquer sentimento mais pessoal.
Conhecer o autor pessoalmente e nutrir por ele, um grande sentimento de admiração e amizade poderia, à primeira vista, enviesar os meus juízos relativamente à obra.
Lembro-me de, ao ler a trilogia Freelancer, me render devagarinho. Note-se que nunca fui grande fã do subgénero de Espionagem (confesso até que nunca vi nenhum filme protagonizado pelo famigerado espião britânico James Bond), porém é praticamente impossível não apreciar aquela trilogia. Especialmente porque a escrita do autor contribuiu para uma aproximação invulgar entre o leitor e o protagonista, André Marques-Smith.
Pecados Santos aproxima-se mais dos meus gostos. O autor bem que me avisara. A dita componente de Espionagem escasseia, dando origem a um thriller policial, daqueles que eu gosto. Os crimes, descritos de forma gráfica, reportam-se a episódios bíblicos, sendo este o único ponto em que me sinto impelida a fazer um reparo. Não sou, é certo, uma conhecedora nata sobre o livro sagrado, no entanto, verifiquei que há um lapso concernente ao episódio de Abel e Caim. Abel era pastor e Caim lavrador e não o contrário como é referido na presente obra.
Descurando esta pequena imprecisão, o autor revelou um domínio de diversos conteúdos sobre religião, estabelecendo um interessante paralelismo entre Judaísmo e Cristianismo. A exposição dos temas é feita sob uma forma interessante. O primeiro impacto surge logo no início da obra, numa aula leccionada pelo professor. Creio ter-me sentido tão fascinada quanto os caloiros universitários que assistiam à palestra.
O Islamismo fora uma religião esmiuçada no livro anterior, A Célula Adormecida.
Apesar de termos personagens que migraram dessa mesma obra, como é o caso flagrante do Professor Afonso Catalão, não creio que haja uma necessidade em ler as obras como série. Os principais acontecimentos do livro antecessor são sucintamente reportados para que o leitor não perca o fio à meada. Agradou-me particularmente ver o protagonista enredado numa situação ligada ao seu passado enquanto se debatia com a trama actual. Senti que o autor nos oferecia dois mistérios: um de cariz mais pessoal e o outro, o caso de investigação criminal.
Devo salientar novamente o poder descritivo da escrita do Nuno. Senti-me a deambular, uma vez mais, pelas ruas de Lisboa ao lado do Professor Catalão.
Na eminência de se deslindar o passado do professor, bem como a identidade do vilão a narrativa torna-se cada vez mais empolgante. O autor tirou-me o chão nas páginas finais. Senti-me simplesmente destroçada. Nos livros futuros protagonizados por Catalão, prevejo algumas alterações na dinâmica familiar. Além disso, para mim, que engendro uma série de teorias, o whodunnit foi imprevisível.
Além de ter ficado saciada com a resolução do crime, por outro lado começa a instalar-se uma nostalgia que só se apagará aquando o lançamento de um próximo livro.
Em suma, um livro inteligente e brilhantemente escrito que não poderei deixar de recomendar não só aos ávidos pelo crime bem como aos curiosos por Teologia ou Estudos Bíblicos.
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