Opinião: Sendo uma leitura voraz no género policial, foi com bastante interesse que li a obra de estreia de Elsa Guilherme. Um romance escrito em jeito de thriller, em que o suspense recai sobre uma misteriosa casa.
Luísa, agente imobiliária de Lisboa, desloca-se a Vilar de Fraga com o intuito de vender uma imponente casa. Há contudo uma particularidade: consta que a habitação está assombrada.
Antes de mais, As Casas Também Morrem é um livro muitíssimo bem escrito. A autora tem o condão de transportar, efectivamente, o leitor para o vilarejo onde decorre a acção, tal é a riqueza de elementos etnográficos do Nordeste do país. Este sentimento tomou conta de mim num capítulo em particular, A Festa, com passagens alusivas à romaria local.
Assim, diria que se cria uma afinidade com os habitantes de Vilar de Fraga. O leitor sente uma familiaridade com estes. Gostei, igualmente, de respirar esta atmosfera rural, longe do rebuliço citadino, tendo considerado igualmente verosímil a narrativa que se desenrola neste ambiente bucólico na medida em que encontramos uma teia de intrigas e segredos entre os populares, um facto que é transversal a quase todas as aldeias. A gastronomia local é igualmente rica, algo que nos abre constantemente o apetite. Saliento ainda as crenças religiosas que se fazem sentir de uma forma muito mais intensa do que nas cidades.
Alguns factos históricos que remontam às Invasões Francesas tornam a trama mais rica e interessante, sobretudo com a inclusão de trechos referentes ao século XIX que nos mostram como é que estas povoações mais isoladas, longe das principais cidades e desprovidas de meios de comunicação, lidaram com a passagem dos exércitos de Napoleão.
O mistério que a autora nos propõe é de carácter dúbio: será a componente sobrenatural quem rege este suspense ou os factos alusivos à casa terão uma explicação lógica? O mistério adensa-se quando uma das personagens morre em circunstâncias duvidosas.
A força motriz da trama é, sem dúvida, a protagonista, Luísa. Considero que o leitor criará facilmente uma ligação com a protagonista, uma vez que esta se debate com um drama familiar: o seu filho, Afonso, sofre de uma perturbação no Espectro do Autismo, obrigando-a a conciliar a vida familiar com o trabalho na procura de um equilíbrio que nem sempre é possível. Vamos pois observando como é que esta personagem se desdobra entre os seus afazeres profissionais e de mãe, sendo ainda enredada na presente trama, algo que desperta, no leitor, um sentimento de piedade.
Em jeito de conclusão, devo lamentar que não insisto quanto gostaria nos autores lusófonos. As Casas Também Morrem é uma trama bem engendrada, com recurso a factos históricos, folclore regional e personagens familiares. Ainda que o mistério assuma proporções secundárias, é uma trama cativante devido aos aspectos que ressalvei.
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