Selvagens de Don Winslow é o novíssimo livro a integrar a colecção Alta Tensão da Porto Editora. A sua adaptação cinematográfica estreia agora dia 6 de Setembro nas salas de cinema portuguesas.
Mais uma vez o livro alia-se ao marketing alusivo ao filme e "veste" a capa com o cartaz do mesmo. Apesar de ser grande fã do actor Benicio Del Toro, e consequentemente estar satisfeita que este esteja presente na capa, não posso deixar de confessar que, ao tirar a sobrecapa, encontrei uma muito mais apelativa!
Esta foi a minha estreia nos romances de Don Winslow e se há algo que estes devem ter é realismo. Winslow foi um detective e há de ter astúcia e conhecimento sobre o submundo do tráfico de droga. Daí que esta trama, embora fictícia, poderá ser similar à realidade que circunscrita o mundo dos cartéis de droga, onde impera a ilegalidade e imoralidade.
A trama gira sobre as personagens Ben e Chon, dois amigos que dirigem um negócio de plantação de marijuana, e Ophelia, mais conhecida por O, amante dos dois. Dada a rentabilidade deste negócio, Ben e Chon são chantageados pelo Cartel de droga de Baja, o núcleo do narcotráfico mexicano e para os pressionar, os responsáveis do Cartel raptam O. Caberá aos amigos a decisão de ceder à chantagem resgatar O ou pagar vinte milhões de dólares.
Embora me dedique à leitura de policiais mais convencionais estou consciente que a gama deste estilo ainda é extensa e vai desde as tramas com investigações criminais, até às de conspiração, não deixando de abordar aquelas que são mais originais incidindo em temáticas de substâncias ilícitas que culminam nos mais vários crimes, desde a rapto até à agravante de homicídio.
É precisamente sobre esta última a que o livro se insere.
Penso que a apresentação das personagens está um pouco confusa, desrespeitando qualquer linha cronológica. O autor menciona episódios aleatórios, incidindo sobre aqueles em que as personagens tiveram uma prestação pouco ética. Diga-se episódios relacionados maioritariamente com sexo, experiências com droga ou relações com os demais.
Uma dos assuntos que o autor explora é a relação de O com a mãe, fora dos contornos usuais. Para terem uma noção, a senhora tem uma alcunha, Paqu (cujo sinónimo podeis encontrar no livro) e tem uma relação distante com a filha, assimilando-se a uma relação de amigas talvez na idade da adolescência. A própria da O também é uma personagem invulgar. Ninfomaníaca e viciada em compras, nutre um amor muito próprio por Chon e por Ben, apoiando a ideia de promiscuidade, ainda que dentro de um triângulo amoroso.
Em relação a Ben (ambientalista) e a Chon (ex marcenário), dois personagens de carácter quase oposto, têm como paixão a menina O, bem como as suas plantinhas.
Penso que neste ponto o autor esteve muito bem, pois capta a essência de personagens que enveredam pela toxicodependência, embora de um modo pouco assumido (acima de tudo estas dedicam-se à plantação de marijuana, consumindo de vez em quando pois claro, para efeitos de teste do produto).
Por outro lado, para melhor descrever a atitude destas, a narrativa torna-se muito morosa, sendo que começa a surtir efeitos mais emocionantes lá para a página 120 (altura em que O é raptada).
Se existe uma abordagem a temas tão polémicos, o autor adaptou a linguagem para tal. Há um sobre-uso de calão, aliado a um humor negro ou uma ironia muito acentuada, que se reflectem nos episódios sarcásticos sobre a sociedade americana (achei brilhante a forma como o autor encara talkshows como o da Oprah, Ellen deGeneres ou Dr Phil).
Posto isto, há quem se possa sentir desconfortável pelo teor descrito em certas passagens. Quase que me sinto à vontade para dar um requisito fundamental para esta leitura: seja open-minded e não censure as sensações do amor livre entre Chon, Ben e O sob o efeito de drogas ou não.
No entanto os capítulos são muito pequenos, e para dar o exemplo, o primeiro é apenas uma frase. Há desta forma uma dicotomia: a dificuldade em assimilar a temática e a rudeza da linguagem face à facilidade de leitura dado a extensão dos capítulos.
Em suma, Selvagens é uma trama que recomendo aos amantes de temáticas pesadas. É um livro, acima de tudo diferente.
Apesar de Selvagens não se inserir no meu género favorito, não posso deixar de reconhecer o talento do autor face à escrita e a produção de uma trama obscura dentro de um mote até bastante simples. No entanto, estou curiosa em saber como Oliver Stone adaptou este enredo à tela cinematográfica.
Mais uma vez o livro alia-se ao marketing alusivo ao filme e "veste" a capa com o cartaz do mesmo. Apesar de ser grande fã do actor Benicio Del Toro, e consequentemente estar satisfeita que este esteja presente na capa, não posso deixar de confessar que, ao tirar a sobrecapa, encontrei uma muito mais apelativa!
Esta foi a minha estreia nos romances de Don Winslow e se há algo que estes devem ter é realismo. Winslow foi um detective e há de ter astúcia e conhecimento sobre o submundo do tráfico de droga. Daí que esta trama, embora fictícia, poderá ser similar à realidade que circunscrita o mundo dos cartéis de droga, onde impera a ilegalidade e imoralidade.
A trama gira sobre as personagens Ben e Chon, dois amigos que dirigem um negócio de plantação de marijuana, e Ophelia, mais conhecida por O, amante dos dois. Dada a rentabilidade deste negócio, Ben e Chon são chantageados pelo Cartel de droga de Baja, o núcleo do narcotráfico mexicano e para os pressionar, os responsáveis do Cartel raptam O. Caberá aos amigos a decisão de ceder à chantagem resgatar O ou pagar vinte milhões de dólares.
Embora me dedique à leitura de policiais mais convencionais estou consciente que a gama deste estilo ainda é extensa e vai desde as tramas com investigações criminais, até às de conspiração, não deixando de abordar aquelas que são mais originais incidindo em temáticas de substâncias ilícitas que culminam nos mais vários crimes, desde a rapto até à agravante de homicídio.
É precisamente sobre esta última a que o livro se insere.
Penso que a apresentação das personagens está um pouco confusa, desrespeitando qualquer linha cronológica. O autor menciona episódios aleatórios, incidindo sobre aqueles em que as personagens tiveram uma prestação pouco ética. Diga-se episódios relacionados maioritariamente com sexo, experiências com droga ou relações com os demais.
Uma dos assuntos que o autor explora é a relação de O com a mãe, fora dos contornos usuais. Para terem uma noção, a senhora tem uma alcunha, Paqu (cujo sinónimo podeis encontrar no livro) e tem uma relação distante com a filha, assimilando-se a uma relação de amigas talvez na idade da adolescência. A própria da O também é uma personagem invulgar. Ninfomaníaca e viciada em compras, nutre um amor muito próprio por Chon e por Ben, apoiando a ideia de promiscuidade, ainda que dentro de um triângulo amoroso.
Em relação a Ben (ambientalista) e a Chon (ex marcenário), dois personagens de carácter quase oposto, têm como paixão a menina O, bem como as suas plantinhas.
Penso que neste ponto o autor esteve muito bem, pois capta a essência de personagens que enveredam pela toxicodependência, embora de um modo pouco assumido (acima de tudo estas dedicam-se à plantação de marijuana, consumindo de vez em quando pois claro, para efeitos de teste do produto).
Por outro lado, para melhor descrever a atitude destas, a narrativa torna-se muito morosa, sendo que começa a surtir efeitos mais emocionantes lá para a página 120 (altura em que O é raptada).
Se existe uma abordagem a temas tão polémicos, o autor adaptou a linguagem para tal. Há um sobre-uso de calão, aliado a um humor negro ou uma ironia muito acentuada, que se reflectem nos episódios sarcásticos sobre a sociedade americana (achei brilhante a forma como o autor encara talkshows como o da Oprah, Ellen deGeneres ou Dr Phil).
Posto isto, há quem se possa sentir desconfortável pelo teor descrito em certas passagens. Quase que me sinto à vontade para dar um requisito fundamental para esta leitura: seja open-minded e não censure as sensações do amor livre entre Chon, Ben e O sob o efeito de drogas ou não.
No entanto os capítulos são muito pequenos, e para dar o exemplo, o primeiro é apenas uma frase. Há desta forma uma dicotomia: a dificuldade em assimilar a temática e a rudeza da linguagem face à facilidade de leitura dado a extensão dos capítulos.
Em suma, Selvagens é uma trama que recomendo aos amantes de temáticas pesadas. É um livro, acima de tudo diferente.
Apesar de Selvagens não se inserir no meu género favorito, não posso deixar de reconhecer o talento do autor face à escrita e a produção de uma trama obscura dentro de um mote até bastante simples. No entanto, estou curiosa em saber como Oliver Stone adaptou este enredo à tela cinematográfica.
Deste escritor li apenas "Power Of The Dog", embora a temática não varie muito em relação a "Selvagens". Nessa obra há cenas realmente brutais, mas confesso que também não é um dos meus géneros preferidos.
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