Sinopse: AQUI
Opinião: Diário de Uma Obsessão é a estreia auspiciosa de Claire Kendal.
Com um ambiente sufocante e simultaneamente cativante, este livro é uma incursão à mente de um stalker, um homem que insiste numa relação quando os sentimentos não são recíprocos e se torna, como o próprio título indica, uma obsessão. Inerente a uma obsessão, surgem naturalmente, comportamentos que vão muito para além da racionalidade.
Apesar de achar que a capa está extremamente bem conseguida (sendo inclusivé foto de capa da página de facebook da autora), tenho que salientar que não gostei da rotulagem do livro, pois creio que a presente trama não é comparável a Gone Girl. O único aspecto que considerei comum às obras foi o tom sombrio da narrativa, bem como a referência a um diário da protagonista. Quanto ao resto da trama, a mesma afasta-se de Gone Girl pelas temáticas abordadas, como o assédio sexual e o disturbio obsessivo compulsivo.
Penso que grande parte das mulheres já experienciou alguma atenção,
ainda que indesejada, por parte de indivíduos estranhos. Ora o Diário de Uma
Obsessão amplifica até ao extremo essa experiência, explorando os limites da invasão de
privacidade e os comportamentos compulsivos. Penso que é consensual que esta
é uma atitude capaz de perturbar o mais seráfico dos mortais.
Posto isto, e como referi, senti algum desconforto interior no decorrer da leitura deste livro, o que, por estranho que pareça, é um aspecto que considero positivo, pois aprecio quando estas sensações do protagonista sejam transpostas para o leitor. Creio também que, a par das personagens (em particular Rafe), a sensação esmagadora de tensão reside muito na estrutura da narrativa. A trama que nos é narrada de forma omnipresente é intercalada com excertos do diário da vítima, Clarissa, cujas sensações de medo são bastante palpáveis, pois tratando-se de um diário, muitas das passagens são extremamente cruas e angustiantes, o que confere grande verosimilhança à narrativa.
Simultaneamente é-nos dado a conhecer o lado profissional de Clarissa. No tribunal, ela é jurada de um caso algo semelhante ao seu. Uma rapariga, Carlotta Lockyer, que terá sido abusada por um grupo de homens. À medida que os contornos deste caso vão sendo desvendados, vão sendo cada vez mais os paralelismos que podemos estabelecer entre a jovem e a protagonista. Confesso que, inicialmente, até fiquei um pouco confusa por achar os casos tão similares.
Achei que, dadas as circunstâncias, muito do carácter de Clarissa está condicionado pela situação actual e também pelo rescaldo de uma situação anterior, uma vez que a protagonista dá a conhecer um pouco da relação que teve anteriormente e a forma como a impossibilidade de engravidar a tornou mais frágil. A presente situação pela qual se tornou um alvo da obsessão de Rafe só veio a expor mais a sua fragilidade emocional.
As personagens estão muito bem caracterizadas, com especial enfoque no vilão, Rafe. Não querendo entrar em detalhes da história, acho que este antagonista se encontra caracterizado com mestria. Se me perguntarem se acho as atitudes dele exageradas? Direi que pessoalmente não conheço uma história de assédio assim tão vincada mas penso que a mente humana é capaz de agir com bastante irracionalidade, sobretudo num caso de disturbio obsessivo como parece ser o caso.
Finda esta leitura, achei que a história poderá ser uma súbtil chamada de atenção para as entidades policiais que nem sempre conseguem proteger as vítimas de assédio (mulheres na sua maioria), bem como para a dificuldade em arranjar provas neste tipo de crimes.
Em síntese poder-se-á dizer que esta é uma história aterradora por saber que pode acontecer a qualquer um de nós, com especial incidência nas mulheres. É pois uma leitura que causa desconforto mas, ainda assim viciante, na medida em que nos embrenhamos cada vez mais numa espiral de actos tresloucados, sendo de todo, impossível prever o próximo passo de Rafe. Extremamente negro, angustiante e bom, muito bom!
Sem comentários:
Enviar um comentário